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É guerra: Veja manda recado cifrado ao PT

2 de dezembro de 2013

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Via Brasil 247

Está oficialmente aberta a disputa eleitoral de 2014 e os exércitos começam a se posicionar. Neste fim de semana, a revista Veja, que tradicionalmente se alinha ao PSDB, desferiu seu primeiro ataque ao grupo que deverá atuar na campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff. Mais precisamente, ao jornalista Leandro Fortes, que deixou a revista CartaCapital e foi contratado como consultor da agência Pepper, que atua no marketing político.

Na reportagem “A alma do negócio”, não assinada, Veja ataca tanto a agência como o jornalista, que, segundo a publicação, teria sido contratado para comandar uma guerra suja na internet. Termina assim o texto:

“O PT reservou R$10 milhões para financiar a guerra suja na internet. A primeira aquisição da Pepper com vistas a 2014, fechada recentemente, foi, como era de esperar, a contratação de um conhecido e experimentado especialista em difamação – de adversários e até de aliados que atrapalhem os planos da turma”.

Embora não dê o nome do profissional, Veja se refere claramente a Leandro Fortes – a única contratação relevante da Pepper, fechada recentemente. Abaixo, texto do Comunique-se a respeito:

Leandro Fortes deixa CartaCapital para ser consultor de agência digital

Após oito anos na CartaCapital, o jornalista Leandro Fortes deixa a reportagem da revista nesta sexta-feira, 1º. A partir da próxima semana, ele prestará consultoria sobre produção de conteúdo para internet à Pepper Interativa, agência de comunicação digital com sede em Brasília.

Pelo Facebook, o repórter anunciou o novo projeto. Segundo ele, o trabalho servirá de base para, no futuro, lançar uma agência de notícias na rede pautada em “honestidade intelectual e verdade factual”.

Ontem, antes mesmo da chegada de Veja às bancas, o jornalista Augusto Nunes, que apresenta o programa Roda Viva e é colunista de Veja.com, antecipou a reportagem, que, segundo ele, envolveria ainda uma disputa entre a Pepper e o ex-ministro Franklin Martins. Leia abaixo:

Reportagem de Veja expõe as sombras que envolvem a disputa entre a agência do PT e a tropa de Franklin Martins

Por que será que a Pepper, depois que se tornou a agência do PT para a internet, conseguiu tantos clientes no governo e em estatais? Será que o PT está usando verbas do Estado para remunerar sua agência, cujo faturamento não para de engordar? Na edição que logo estará nas mãos dos assinantes e nas bancas, Veja mostra que, além dessas perguntas à espera de respostas imediatas, há alguns mistérios a desvendar.

Um dos mais intrigantes é a disputa entre a Pepper e o ex-ministro Franklin Martins pelo comando da guerra suja nas redes sociais que o PT pretende travar contra os adversários. Franklin não aceitou trabalhar em parceria com a Pepper. O que ele quer é chefiar sem interferências o exército das trevas recrutado para agir na internet. A posição intransigente sugere que Franklin está decidido a usar como achar melhor a tropa liberticida? Até para combater a candidatura de Dilma Rousseff?

Franklin Martins é da tribo que acha que os fins justificam os meios. Nada do que vem de figuras assim é surpreendente. São incapazes capazes de tudo ─ menos de fazer a coisa certa. Confira a reportagem de Veja.

Leandro Fortes ainda não se pronunciou sobre a reportagem de Veja. Quando saiu de CartaCapital, fez uma despedida pública. Clique aqui para lê-la.

A Veja vendida a preço de banana mostra a agonia das revistas no Brasil

20 de novembro de 2013
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Quem quer comprar? Argh!

Paulo Nogueira, via Diário do Centro do Mundo

Depois dos rojões do lançamento de uma revista, vem o duro contato com a realidade das vendas. Sabemos todos o que está acontecendo com as revistas. A segunda maior revista de informações do mundo, a Newsweek, está no cemitério, morta por falta de leitores e de anunciantes.

A maior de todas, a Time, aliás a inventora do gênero, foi recentemente desprezada pelo mercado quando seus donos do grupo Time Warner tentaram vendê-la. Ninguém quis comprá-la, simplesmente.

Na era da internet, ninguém lê revistas ou jornais. Ponto. Repare: quando você vê alguém com uma revista ou um jornal na mão, é um idoso ou uma idosa que preferiu não abdicar de um hábito vencido pelo tempo.

Tudo isso posto, poucas coisas mostram mais esse panorama desolador das revistas no Brasil do que uma foto enviada ao DCM por Marcelo, nosso leitor.

A Veja, ignorada pelo público, estava sendo vendida ao chamado preço de banana numa banca no Largo da Carioca, no centro do Rio. Importante: não no meio ou no final da semana, quando está chegando uma nova edição. No começo, quando a revista está tão quente quanto poderia estar no mundo digital.

Lembro, em meus anos de Abril, o esforço épico, e caríssimo, feito para sustentar a carteira de assinantes da Veja na casa de 1 milhão. Jairo Mendes Leal, meu colega de Exame e depois superintendente da Veja, operava milagres para tentar segurar uma carteira que, deixada a si própria, despencaria espetacularmente. (A real carteira, hoje, deve estar entre 100 mil e 200 mil exemplares.)

O objetivo disso era duplo: primeiro, manter a imagem de revista de grande circulação. Segundo, captar anunciantes, a R$70 mil a página ou coisa parecida, por causa da carteira inflada. Quem de nós não conhece alguém que, mesmo sem ter renovado a assinatura, continua a receber a Veja?

São também comuns ações beneficentes feitas com dinheiro público por prefeitos e governadores amigos: eles compram lotes de assinaturas e enviam para escolas estaduais e municipais, onde alunos conectados à internet simplesmente ignoram a revista, logo arremessada intocada à reciclagem.

Com todo o malabarismo, repare que a circulação no final da década de 1980 era a mesma de hoje – com a diferença de que era real.

Maus editores contribuem para o declínio, é verdade, e aí o destaque é, inegavelmente, Eurípides Alcântara, que conseguiu piorar uma revista que já era muito ruim sob seu antecessor, Tales Alvarenga. Mas ainda que a revista fosse tocada por jornalistas como Mino Carta ou J.R. Guzzo, os que a levaram aos dias de glória, mesmo assim a internet faria seu trabalho assassino.

Quando a posteridade estudar a morte das revistas no Brasil, e particularmente a da Veja, que há 30 anos fez época no jornalismo brasileiro, a imagem acima dirá mais do que qualquer coisa.

Novo rei da Veja deve R$55 mil de IPTU

8 de novembro de 2013

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Fernando Brito, via Tijolaço

Depois da entrevista em que disse que “era brincadeira” sua performance de “Rei do Camarote” e insinuou que a história havia sido montada, a Veja resolveu entregar a identidade de Alexander de Almeida.

É dono de uma firma de “zangões”, que é como chamamos aqui no Rio os “despachantes” que, de modo pouco ortodoxo, cuidam de documentação de veículos. Alguns – nem todos, claro – praticando a arte da “irrigação mãonetária”. Mas os despachantes são, em geral, pessoas de posses modestas.

Alexander não. Montou uma firma, a 3A, em abril de 2010. E já “está podendo” em três anos, comprar Ferrari e, só num dia, dois carros blindados, como disse à Veja.

Diz a revista que sua atividade é tomar automóveis de pessoas que não pagam as prestações e guardá-los para os bancos. Não vou especular sobre os métodos e os “contatos” de tal atividade. Mas vou ajudar os paulistanos, no meio desta polêmica sobre o IPTU.

É que o “Rei do Camarote”, que torra R$50 mil numa noitada, está devendo uma noite de camarote para o povo de São Paulo. Ele tem, de IPTU, cobranças que somadas, passam de R$55 mil. Está aqui, público, no Diário Oficial.

O curioso é que a dívida cobrada é por um imóvel na Almirante Calheiros, 312 (está público no Diário Oficial, repito), onde funciona uma firma de cobrança e renegociação de financiamentos de veículos. É só procurar nos sites de reclamação para ver como é boa a reputação da empresa. Eu contei 88, você pode ver.

Podem ser só inquilinos, é estranho que tenham pedido ao Google para que borrasse a imagem no Street View.

A história tem mais coisa mal contada. A empresa de Alexander, que parece um bunker na Avenida Apucarana, no Tatuapé, criou um domínio na internet… ontem [5/11].

O “Rei dos Coxinhas” é um prato feito para quem quiser fazer reportagem. O que não é o caso da Veja. Ou ela não quer ir fundo para mostrar quem é o seu “rei”?

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Leia também:

A Veja SP e o “Rei dos Coxinhas”

A Veja São Paulo e o “Rei dos Coxinhas”

6 de novembro de 2013
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Em tempos da Lei Seca, o coxinha tira foto em sua Ferrari com uma taça de champanhe.

Fernando Brito, via Tijolaço

A revista Veja, aquela que vive falando em “Custo Brasil”, salários inflacionários, rombo nas contas públicas pelo excesso de gastos populistas e que tem, como principal matéria de economia em sua edição desta semana a afirmação de que com muitos impostos “o Brasil sufoca seus empreendedores” traz, em sua edição São Paulo, uma edificante vídeo-reportagem com um – perdoem-me, não dá para evitar a palavra – babaca que merece da revista o título de “O Rei dos Camarotes”.

Mas que, certamente, ficaria melhor definido como “O Rei dos Coxinhas”, por simbolizar o vácuo mental, a mediocridade, a ostentação e o elitismo de uma camada de gente que é composta de uma meia-dúzia de ricos e algumas dezenas de milhares de pessoas que os têm como exemplo, abanado pela “mídia de celebridades”.

Alexander é a afirmação da “liberdade” (de fazer o que quiser, porque o dinheiro “é só seu”) e do sucesso, porque com ele se compra de champanhe a mulheres.

Chame seus filhos ou amigos mais jovens para ver. É mais eficiente que aquelas fotos pavorosas de maços de cigarro.

É um retrato sem retoques da Veja e dos “coxões” que ela endeusa.

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A Veja São Paulo morreu, tecnicamente, com o “sultão dos camarotes”

Paulo Nogueira, via Diário do Centro do Mundo

Um vídeo está circulando na internet freneticamente neste final de semana. É da Veja São Paulo e apresenta um “sultão” das baladas chamado Alexander de Almeida, que diz ter 39 anos.

Alexander – imagino que seja um nome fantasia derivado do prosaico Alexandre – dá seus conselhos a quem quer, como ele, ser “alguém especial” nas baladas.

Todos os conselhos cabem num só: torre seu dinheiro em camarotes nas baladas com espertalhões – homens e mulheres – que vão largar você assim que sua conta bancária inevitavelmente entrar em colapso e você não puder mais pagar o champanhe que eles tomam rindo de você e de sua monumental burrice.

Do ponto de vista jornalístico, raras vezes se viu algo que reflita tão bem a essência de uma publicação e de seus leitores.

A Veja São Paulo se dedica, com obtusa regularidade, a promover a frivolidade consumista num mundo de faz de conta em que todos riem como Alexander e depois se entopem de antidepressivos.

A Veja São Paulo não faz pensar, não provoca você a sair de sua vidinha medíocre em que o que vale são as aparências, não faz nada digno da palavra “jornalismo”.

Mesmo assim, apenas para lembrar a mamata estatal dada às empresas jornalísticas com dinheiro público, a Veja São Paulo é impressa com papel isento de imposto.

Fui um dos primeiros editores da Veja São Paulo, em meados da década de 1980, aos 26 ou 27 anos. Eu era na época subeditor de Economia da Veja, mas a direção da revista achava que já era tempo de eu ser promovido a editor.

Apareceu a oportunidade na Veja São Paulo quando a editora Selma Santa Cruz deixou a revista para se juntar a seu marido, Sérgio Mota Melo, num empreendimento jornalístico, a TV1.

Tentei fazer “jornalismo sério”. Uma de minhas primeiras capas mostrava o caso dramático de dois bebês que tinham sido trocados na maternidade. Naquela semana, desci o elevador da Abril com Roberto Civita. Sempre amável, sempre charmoso, sempre sorridente, ele me disse que não era exatamente aquele tipo de reportagem que ele queria na Vejinha, como era e é chamada. Eu não estava naquele cargo para descobrir as melhores histórias humanas de São Paulo, mas para encontrar os melhores cheesebúrgueres e as hostesses mais gostosas dos bares chiques paulistanos.

Me ajustei ao mundo da fantasia. Mas, em meio a tantas tolices que editei, lembro com satisfação capas como uma que trazia a escalada de um jovem editor chamado Luiz Schwarcz, que começava sua Companhia das Letras. Fiz, pessoalmente, este texto. Também fiz, eu mesmo, coisas como o perfil de um jovem jornalista que se tornara cultuado entre os jovens paulistanos no comando da Folha Ilustrada, Matinas Suzuki.

Pouco mais de um ano depois, voltei à área de Economia, da qual saíra, para ser editor executivo da Exame. Nela vivi os melhores anos de minha carreira – só igualados ou superados agora pela experiência eletrizante que é o DCM.

Dentro das limitações que um editor tem na mídia corporativa, em que a voz do dono é a que realmente vale, fiz o que pude na Vejinha para ir além do cardápio que agora foi dar em Alexander de Almeida.

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Você responde.

No terreno das curiosidades, não pude deixar de notar a semelhança física entre ele e Kassab. E então fui remetido mentalmente a uma capa da Vejinha com Kassab às vésperas das eleições municipais de 2012.

O texto defendia a administração Kassab, àquela altura extremamente impopular entre os paulistanos. “Estamos sendo muito duros com ele?” – esta era a pergunta. Kassab não conseguiu cuidar sequer das árvores de São Paulo, destruídas a cada chuva mais forte, não conseguir resolver nem o problema do excesso de pernilongos na cidade, e mesmo assim a Vejinha acusava seus leitores de serem rigorosos com o prefeito.

Como toda a mídia impressa, a Vejinha está morrendo. Cada vez menos pessoas leem revistas na era digital. E indicações de bares, restaurantes, teatro e cinema – o maior pilar da revista –, você encontra de graça, em tempo real, na internet. Mas ela poderia morrer sem a humilhação de ver seu logotipo associado a um decálogo como o de Alexander de Almeida.

Mino Carta: Uma capa resume tudo

29 de setembro de 2013

Veja_Capa_180913Veja não surpreende. Espanta quem acredita nela entre privilegiados e aspirantes ao privilégio

Mino Carta, via CartaCapital

Legenda: “Estarrece que larga porção da sociedade acredite nas interpretações de Veja e repita seus pareceres mirabolantes”

Berlusconi é o político mais bem-sucedido da Itália dos últimos 20 anos. Como se sabe, foi um desastre, e não espanta que tenha sido, com o condão de pagar agora pelas mazelas cometidas. Espanta, isto sim, que metade dos italianos tenha votado nele. Passo a falar de Brasil. A capa de Veja desta semana é o símbolo irretocável de um singular humor em que se misturam má-fé e estupidez. A revista da Abril mesmo assim não nos surpreende, já sabemos do que é capaz de longa data. Estarrece que larga porção da sociedade nativa, privilegiados e aspirantes ao privilégio, acredite nas interpretações de Veja e repita passagens dos seus pareceres mirabolantes.

O espetáculo midiático proporcionado na cobertura do chamado “mensalão” é, em geral, estarrecedor ao revelar em toda a sua evidência o atraso intelectual e cultural dos tais cidadãos a que me referi, jornalistas e seus patrões, leitores, espectadores, ouvintes. Todos unidos na demonstração de uma parvoíce movida a raiva, ódio de classe, medo, preconceito, hipocrisia, inveja, abissal ausência de espírito crítico.

A tigrada dita de classe média (média até agora não sei por quê) é, aliás, a própria, definitiva, irremediável prova da incapacidade de cumprir o papel que compete à burguesia. Aquele, digamos, de precipitar a Revolução Francesa. Pelo contrário, aí está a provar a ignorância, mau gosto, provincianismo, pavor da mudança. Dizia Lévi-Strauss ao definir os senhores paulistanos 80 anos atrás: “Eles se têm em alta conta e não sabem como são típicos”. Illo tempore, os senhores viam em Paris o umbigo do mundo. A tipicidade aumentou, e hoje, ao comporem uma categoria muito mais vasta, substituem a Ville Lumière por Miami.

Pouparei os amáveis frequentadores deste espaço das minhas considerações a respeito das gravatas amarelo-ouro ou da descoberta do vinho que alguns carregam aos restaurantes em bolsas apropriadas. De couro cru, para o desconforto de quem sonha com estes luxos e ainda não chegou lá. Citarei a leitura escassa ou mesmo nula: há mais livrarias em Buenos Aires do que no Brasil todo. O estudo precário, a péssima lida com o vernáculo, a eterna expectativa do favor dos amigos ou do arreglo por baixo do pano.

Cabe evocar tudo aquilo que certifica a mediocridade da turma. O caos arquitetônico, isento de módulos e linhas mestras, frequentemente inspirado em Gotham City, quando não entregue à imitação de modelos de outros cantos do mundo, escolhidos conforme a veneta do dia, sem excluir telhados normandos na previsão da neve. Ou mesmo a certeza, tipicamente local, de que São Paulo é capital gastronômica do planeta, alimentada por quem até ontem mastigava espaguete regado a uísque.

Vezos burgueses, amparados em tradições seculares, ou em modismos momentâneos, carecem de maior importância, está claro. Resta o fato desta ferocidade desvairada, para não dizer demente, diante de um episódio, embargos infringentes justificados pelas leis, e que tanto podem abrandar as penas dos condenados quanto agravá-las, conforme esclareceu em vão o ministro Celso de Mello. Cresce, na moldura do evento, a desinformação generalizada, o desconhecimento do código e do quem é quem.

Ocorre-me um amigo que eu chamava de samurai, Luiz Gushiken, ministro de Lula no primeiro mandato, primeira vítima do “mensalão” sem qualquer culpa em cartório, de fato aquele que percebeu o papel devastadoramente daninho do banqueiro Daniel Dantas, visceralmente envolvido no processo e tão chegado a petistas de outro naipe, como Márcio Thomaz Bastos, José Dirceu, Luiz Eduardo Greenhalgh, sem contar o atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Gushiken morreu dia 13 passado, honrado e, receio, infeliz.

Outro injustiçado é José Genoino, que, segundo Veja, gargalha com o voto de Celso de Mello. A malta não sabe que Genoino é um herói brasileiro, esperançoso e iludido até as últimas consequências, acreditou que o Araguaia seria a Sierra Maestra brasileira, e, ao lado de 80 companheiros, lutou contra 10 mil soldados da ditadura. Torturado brutalmente, ressurgido das cinzas, ainda espera que o Brasil deixe de ser o país da casa-grande e da senzala. Ao contrário do que afirmam seus inquisidores a pretendê-lo “mensaleiro”, não sabe onde cair morto, se me permitem a linguagem rasteira.

Celso de Mello: “Nunca a mídia foi tão ostensiva para subjugar um juiz.”

28 de setembro de 2013

Veja_Celso_Mello_STF01Uma semana depois de garantir aos réus da Ação Penal 470 o direito aos embargos infringentes, o juiz Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, protesta contra a postura de alguns meios de comunicação, especialmente de Veja, que ameaçou crucificá-lo caso divergisse da revista; “nunca a mídia foi tão ostensiva para subjugar um juiz”, disse ele à jornalista Mônica Bergamo e a um jornal de Tatuí (SP), sua cidade natal; esse tipo de chantagem, diz ele, é “inaceitável”, porque coloca em risco “liberdades individuais” garantidas pela Constituição; tiro disparado da Marginal Pinheiros contra o decano saiu pela culatra.

Via Brasil 247

O juiz Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal, continua com um assunto entalado na garganta: a chantagem exercida por alguns meios de comunicação – especialmente a revista Veja – em relação ao julgamento da Ação Penal 470.

De acordo com o decano, “nunca a mídia foi tão ostensiva para subjugar um juiz”. No fim de semana que antecedeu a votação decisiva sobre os embargos infringentes, a revista Veja, da Editora Abril, produziu uma capa em que ameaçou crucificar o ministro Celso de Mello, caso ele não votasse em linha com os interesses da revista da família Civita (leia mais aqui).

O tiro disparado da Marginal Pinheiros, sede da Abril, em São Paulo, contra o STF, no entanto, saiu pela culatra. “Essa tentativa de subjugação midiática da consciência crítica do juiz mostra-se extremamente grave e por isso mesmo insólita”, disse ele à jornalista Mônica Bergamo, da Folha, numa entrevista que também foi reproduzida pelo jornal Integração, de Tatuí (SP), sua cidade natal (leia a entrevista a Mônica Bergamo aqui).

“Há alguns que ainda insistem em dizer que não fui exposto a uma brutal pressão midiática. Basta ler, no entanto, os artigos e editoriais publicados em diversos meios de comunicação social (os mass media) para se concluir diversamente! É de registrar-se que essa pressão, além de inadequada e insólita, resultou absolutamente inútil”, afirmou ele, que também falou à própria Folha para confirmar o teor da entrevista.

“Eu imaginava que isso [pressão da mídia para que votasse contra o pedido dos réus] pudesse ocorrer e não me senti pressionado. Mas foi insólito esse comportamento. Nada impede que você critique ou expresse o seu pensamento. O que não tem sentido é pressionar o juiz.” “Foi algo incomum”, segue. “Eu honestamente, em 45 anos de atuação na área jurídica, como membro do Ministério Público e juiz do STF, nunca presenciei um comportamento tão ostensivo dos meios de comunicação sociais buscando, na verdade, pressionar e virtualmente subjugar a consciência de um juiz.”

Segundo o decano, a postura de alguns meios de comunicação colocou em risco a própria democracia e a preservação de direitos individuais. “Essa tentativa de subjugação midiática da consciência crítica do juiz mostra-se extremamente grave e por isso mesmo insólita”, afirma. “É muito perigoso qualquer ensaio que busque subjugar o magistrado, sob pena de frustração das liberdades fundamentais reconhecidas pela Constituição. É inaceitável, parta de onde partir. Sem magistrados independentes jamais haverá cidadãos livres.”

O ministro também afirmou que esse tema desperta cada vez maior discussão. “É uma discussão que tem merecido atenção e reflexão no âmbito acadêmico e no plano do direito brasileiro”, disse ele. “É preciso conciliar essas grandes liberdades fundamentais, ou seja, o direito à informação e o direito a um julgamento isento.”


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