
Ala jovem tucana.
Luis Nassif, via Advivo
Em entrevista a Gabriel Manzano, do Estadão, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso rechaça o discurso da renovação do PSDB com um sofisma: são necessárias ideias novas; e pessoas mais novas não têm necessariamente ideias mais novas. O Conselheiro Acácio não faria afirmação melhor.
Reformulando, então, a proposta: o PSDB precisa de ideias novas, ainda que vindas de pessoas idosas, que substituam as ideias velhas de velhos de todas as idades que dominam o partido.
Delfim Netto é mais velho que FHC. E tem sido fonte permanente de ideias, de bom senso, cumprindo à risca função essencial para o País: a dos velhos sábios referenciais orientando o novo.
No caso do PSDB, o novo não nasce porque o partido se submeteu a uma gerontocracia que nem pensa o novo, nem permite o novo nascimento do novo. Simples assim.
O partido não dispõe de um conselho de pensamento estratégico, o Instituto Teotônio Villela não cria novas ideias, não existem fóruns para a troca de experiências regionais. Como não existe democracia interna, os caciques estaduais impedem a todo momento o aparecimento do novo local. E não é necessariamente o novo de fora, mas simplesmente abrir espaço para quadros que, esse tempo todo, ficaram em segundo plano.
O modelo do PC chinês
Tome-se o exemplo do PC chinês. Não existe democracia formal no país. Mas há um modelo de meritocracia que induz ao revigoramento permanente do partido. Governadores de províncias, com experiências bem-sucedidas, galgam na hierarquia e influenciam as políticas públicas.
Mesmo sendo uma autocracia, a China tem conseguido caminhar com enorme vitalidade entre os movimentos pendulares da economia, ora radicalizando medidas de mercado, ora voltando-se para o mercado interno e o bem-estar da população.
No PSDB isso não existe. E talvez nem existisse no PT, não fosse o comando de Lula.
Em 2010, no plano nacional, o novo era Aécio Neves, o velho era José Serra. O velho se impôs. Tivesse dado lugar ao novo, no dia seguinte ao da eleição de Dilma Rousseff, Aécio seria o político polarizador das forças de oposição, como lembra o cientista social Antônio Carlos Almeida. Agora, cedeu lugar a Eduardo Campos.
Em Minas, Aécio era o velho, Anastasia o novo. O velho não deixou o novo de alçar voo próprio e impediu o aparecimento de novos políticos tucanos mineiros capazes de revitalizar o partido.
Agora, como prognosticou Marcos Nobre, no Brasilianas de segunda-feira, dia 29, a única dobradinha possível – para o caso de aliança PSB-PSDB – seria Eduardo Campos-Anastasia, representando o velho Aécio. Este terá de se candidatar a governador de Minas, porque Anastasia não poderá concorrer à reeleição e Aécio não poderá ficar sem Minas Gerais. E não existe o novo para sucedê-los.
O mesmo ocorre em São Paulo. Quem será o sucessor de Geraldo Alckmin? Provavelmente Alckmin Geraldo. O candidato com maior potencial, Gabriel Chalita, foi defenestrado.
Os erros quadrianuais
Nas últimas eleições municipais, era óbvio, para qualquer analista minimamente antenado, a impossibilidade de vitória de Serra. Seria a hora de lançar o candidato tucano que, mesmo derrotado, ganhasse visibilidade para novos voos. Perdeu-se a oportunidade.
Ocorre que as oportunidades aparecem a cada quatro anos. Cada perda de oportunidade significa quatro anos de atraso.
Lembro-me até hoje de uma frase de Geraldo Alckmin, na campanha de 2006: “Como dizia o Covas, todo final de semana você tem de sair na rua e conviver com o povo. Esse pessoal nunca amassou barro.”
Alckmin tem a percepção da necessidade de ouvir o povo, mas o PSDB paulista perdeu os intelectuais capazes de definir os modelos de participação popular e mesmo o discurso inclusivo. E, assim como Aécio, parece não ter a mínima disposição de levantar a bola de correligionários com potencial político.
É assim que os partidos vão envelhecendo., envelhecendo, até desaparecerem.
O PSDB exigiria uma reforma ampla, uma reorganização que instituísse a democracia partidária e permitisse sua revitalização. Mas não há uma governança capaz de implementá-la.
FHC poderia ter sido o construtor do novo partido, mas, assim como no exercício da Presidência da República, faltaram-lhe vontade, ideias e desprendimento. Ao contrário de grandes construtores de partidos, como Lula, Montoro, Covas, Tancredo, Ulisses, FHC nunca pensou no interesse partidário. Para ele, o PSDB foi apenas uma escada para realização pessoal, assim como para os economistas que usaram o PSDB enquanto foi de seu interesse.
Sem FHC, quem vai pensar o novo? Aécio, Alckmin, claro que não. Na ausência de novas ideias, chega-se a esse fundo de poço, do discurso predominante de Serra e seus Malafaias.
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