Posts Tagged ‘Renan Calheiros’

Mujica mostrou que um governante ideal não é uma utopia completa

1 de janeiro de 2014
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Pepe Mujica

Kiko Nogueira, via Diário do Centro do Mundo

O presidente uruguaio, Pepe Mujica, mostrou, entre outras coisas, que um governante ideal não precisa ser, necessariamente, uma utopia completa. Fez isso de maneira simples, com reformas corajosas e, sobretudo, seu exemplo.

Mora numa chácara a 10 quilômetros de Montevidéu com a mulher, a senadora Lucía Topolansky, e sua velha cadela. “Minha maneira de viver é consequência da evolução da minha vida. Lutei até onde é possível pela igualdade e equidade dos homens”, diz ele.

A casa tem paredes descascadas e tetos de zinco verde. Galinhas ciscam o terreno debaixo das roupas no varal. Ele tem o mesmo patrimônio de 2010, o que inclui um Fusca 87. Doa 90% de seu salário de US$12 500 a programas sociais. Chamou de “velho careta” um dirigente da ONU que xingou seu país de “pirata” por causa da legalização da maconha. Recentemente foi à posse de um ministro calçando sandálias.

Por causa do que representa e do que faz, Mujica ganhou um imenso respeito e admiração. Surgiram também mais inimigos do que já tinha (“esse velho comunista maconheiro vai ser desmascarado”) e, principalmente, anões por comparação.

No último dia de 2013, o presidente do Senado, Renan Calheiros, escreveu um artigo sobre o “programa de racionalização interna”. Diz ele que houve uma economia de R$265 milhões.

Lista seus feitos: “Foram eliminados o 14º e 15º salários dos parlamentares. Foram extintos 630 funções comissionadas (30% do total). Implementamos a jornada corrida de sete horas, evitando novas contratações. E fundimos estruturas administrativas redundantes”.

“Após as manifestações populares no meio do ano, aprovamos mais de 40 propostas em menos de 20 dias, desenferrujando as engrenagens sabidamente burocráticas do processo legislativo. Algumas ainda tramitam na Câmara dos Deputados. O crime de corrupção foi agravado e se tornou hediondo”.

Além da numeralha de difícil comprovação e do enrolation, existe aí um problema básico de falta de noção do papel de um líder como ele. Esse é o Renan Calheiros que acabou de devolver aos cofres públicos R$27 390,25 por ter pegado um voo da FAB para fazer um implante de cabelo no Recife. No registro da FAB, consta que ele utilizou a aeronave “a serviço”. Era mentira.

Renan só devolveu a quantia porque virou notícia. Em junho, já fora pilhado indo à Bahia de FAB para o casamento da filha do senador Eduardo Braga (PMDB/AM). Em outubro, o Senado suspendeu uma licitação para a compra de comida e produtos de limpeza para sua casa. Previa-se um gasto de R$98 mil por seis meses. Dez quilos de carne por dia. Renan mora com a mulher e dois filhos.

É surreal, no mínimo, que o político que anuncia “cortes de gastos” seja o mesmo que usa dinheiro público como se fosse dele — e ainda falando em “corrupção”. Não aprendeu nada com as manifestações. Não aprendeu nada com o vizinho ao sul. É como se o Uruguai ficasse num continente distante da Oceania, um lugar com costumes exóticos e chefes ruins da cabeça como aquele tiozinho barrigudo e de bigode.

Os anões de Mujica ainda vão dar muito trabalho, especialmente para si mesmos.

Novos “protestos” contra Lula e Renan são um fracasso

25 de fevereiro de 2013

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Blog do Esmael Morais

Por que a indignação de 1,6 milhão de internautas vira um protesto com apenas 100 manifestantes? No domingo, dia 24, mais uma vez, os protestos do Dia do Basta, contra o ex-presidente Lula e contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB/AL), foram decepcionantes. O que explica a discrepância entre o que ocorre na internet e no mundo real? Esmael Morais, um dos principais jornalistas do Paraná, oferece uma resposta e diz que o Brasil não aceita golpes contra instituições democráticas. Leia o texto publicado em seu blog.

Por que a indignação de 1,6 milhão de internautas vira apenas 100 manifestantes?

A maioria da sociedade rejeita golpes contra as instituições democráticas do País.

Esmael Morais

Definitivamente, a velha mídia não tem força para derrubar sequer um pardal. Embora tente driblar a história para capitalizar a queda do ex-presidente Fernando Collor, em 1992, é bom ressaltar que ela só aderiu ao movimento do impeachment quando não tinha mais como segurar o povo na rua e o presidente no Palácio do Planalto. O movimento havia iniciado em setembro de 1990, em Vitória, durante congresso da União Brasileira dos Estudantes (Ubes). Eu estava lá, participei de perto, portanto, posso relatar.

Depois de 20 anos da queda de Collor, eis que a velha mídia tenta se reinventar surfando na justa indignação de internautas. A classe média, embalada pela mídia udenista, despejou cerca de 1,6 milhão de assinaturas em abaixo-assinado para derrubar o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB/AL). Eu havia alertado que essa petição on-line não teria validade alguma e argumentei que estava em curso uma tentativa de golpe do Partido da Imprensa Golpista (PiG) contra uma instituição democrática. Minha opinião (clique aqui para relembrar), por não fazer coro ao senso comum, causou urticária nos conservadores de plantão.

É bom lembrar que a campanha pela defenestração de Calheiros começou pela velha mídia bem antes de sua eleição, no 1º de fevereiro, à presidência do Senado. Chifrado até pelos tucanos, o consórcio Veja, Estadão, Folha, Globo etc. perdeu a disputa na Câmara Alta pelo placar de 56 votos a 18. Agora tenta reeditar o golpismo contra o Senado valendo-se do “efeito manada” a partir de alguns desavisados festivos.

Pois bem, no domingo ensolarado, temperatura de 30º, cerca de 100 pessoas (sic) saíram em protesto na orla de Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro, contra Renan Calheiros. Assim como defendo a livre manifestação de Yoani Sanchez, a blogueira que mais tem liberdade no mundo, eu também creio que a moçada engabelada pela direitona raivosa também tem esse direito democrático. Mesmo que o Sol escaldante castigue os gatos-pingados, pois se trata de livre-arbítrio. O fiasco anti-Renan se repetiu no sábado, dia 23, em Curitiba.

Este é segundo teste da mídia que fracassa em se tratando de mobilização popular. O primeiro, eu gostaria de recordar, ocorreu em agosto de 1992 quando a Folha de S.Paulo, no afã de provar que as manifestações dos carapintadas eram espontâneas, convocou uma passeata no tradicional ponto de encontro das passeatas [no Vão Livre do Masp, em São Paulo]. Para decepção do jornalão, meia dúzia de desavisados compareceram. Uma semana depois a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a UBES convocaram uma passeata que reuniu mais de 100 mil estudantes. Hoje, novamente, apenas 100 compareceram ao midiático protesto no Rio.

Afinal, por que a indignação de 1,6 milhão de internautas vira apenas 100 manifestantes?

Ora bolas, carambolas! Eu já dei meu palpite há dias sobre isso. Vou repeti-lo: sem partidos políticos, sem entidades de massa, sem o povo na rua, não há conspiração que vença a democracia. É preciso formar uma maioria política na sociedade para legitimar qualquer movimento de impeachment. Sem isso, a meu ver, tudo não passa de tentativa de puxar o tapete, golpismo mesmo, que a sociedade rejeita de pronto.

No Congresso, outro “megaevento” dos revoltadinhos

20 de fevereiro de 2013

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Amadeu Leite Furtado

As ONGs Movimento 31 de Julho contra a Corrupção e a Impunidade, que no Facebook se diz apartidária (sic), e a Rio de Paz, cujo proprietário Antônio Carlos Costa levou 20 pessoas em outro protesto, entregaram na tarde de quarta-feira, dia 20, uma carta ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo que as denúncias contra o presidente do Congresso Nacional, o senador Renan Calheiros (PMDB/AL), sejam analisadas o mais rápido possível. Pelas fotos de Bruno Spada, publicadas no UOL, pode-se notar que o evento foi um retumbante fracasso.

Talvez eles quisessem que, em vez de Renan – eleito democraticamente pelo Senado em 1º de fevereiro, com 56 votos contra 18 de seu concorrente, o senador Pedro Taques (PDT/MT) –, fosse guindado ao cargo de presidente da Casa o senador tucano Aécio Neves.

Aécio, no exercício de seu mandato de governador em Minas Gerais, fez inúmeras falcatruas e, não fosse o prevaricador-geral da República, Roberto Gurgel, estaria, no mínimo, respondendo processos por apropriação indébita, estelionato e falsidade ideológica.

De acordo com a Folha de S.Paulo, compareceram 30 revoltadinhos no Congresso, mesmo com a ajuda inestimável da “grande imprensa”. Junto à carta, entregue por eles aos senadores Pedro Taques (PDT/MT), Randolfe Rodrigues (PSOL/AP), Eduardo Suplicy (PT/SP), Aloysio Nunes (PSDB/SP) e João Capiberibe (PSB/AP), estava um abaixo-assinado do Avaaz (sic) contendo 1,6 milhão (sic) de assinaturas de descontentes com a presença de Renan Calheiros na presidência do Senado. Alguma coisa está errada: 1,6 milhão de assinaturas e só compareceram 30 pessoas na manifestação?

Notícia veiculada nas rádios paulistanas dizia que as ONGs (sic) alugaram um helicóptero para que os fotógrafos pudessem fazer imagens aéreas da grande bandeira brasileira estendida em frente ao Congresso Nacional. Acho que esse foi o erro: na foto aérea só aparecem 19 “manifestantes”.

Nota do Limpinho: Este blog está longe, mas muito longe mesmo, de defender o senador Renan Calheiros. O Limpinho defende as instituições em que seus membros foram eleitos democraticamente pelo povo brasileiro. Como disse Diogo Costa em artigo replicado aqui: “O fascismo, em todos os lugares onde se instalou, foi precedido por processos políticos de condenação a priori da política e dos políticos, tidos com a verdadeira praga e enfermidades nacionais. Assim, caminhando par e passo junto à descrença e à frustração populares, os fascistas criam as condições objetivas para implementar regimes de força.”

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A faixa parece ser do PSOL.

Bob Fernandes: Renan Calheiros manda recado para os donos de mídia

13 de fevereiro de 2013

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Bob Fernandes, via Jornal da Gazeta

Corre na internet uma petição para que Renan Calheiros renuncie à presidência do Senado. Mais de 1 milhão e 360 mil internautas já teriam assinado a petição. Nenhuma consequência legal decorre desse abaixo-assinado. O valor desse movimento é político.

Política foi importantíssima mensagem enviada por Renan Calheiros às vésperas do Carnaval. Renan embutiu sua mensagem, quase sem ser notada, em meio a um artigo publicado na página 3 da Folha de S.Paulo.

Renan escreveu: “Passo relevante é a defesa de nosso modelo democrático, a fim de impedir a ameaça à liberdade de expressão, como vem ocorrendo em alguns países. O chamado inverno andino não ultrapassará nossas fronteiras.”

Renan pregou ainda: “Temos de nos inspirar, sim, nas brisas de uma primavera democrática e criar uma barreira contra os calafrios provocados pelo inverno andino”.

Por fim, Renan prometeu “criar uma trincheira sólida, se preciso legal, a fim de barrar a passagem desses ares gélidos e soturnos. Em governos democráticos, não deve haver nenhuma pretensão de se imiscuir no conteúdo dos jornais, nem na atividade dos jornalistas”.

O que Renan quis dizer com sua metáfora andina? Renan mandou uma proposta para a indústria de mídia do Brasil. Em resumo, o que ele disse sem dizê-lo foi: não mexam comigo que eu não deixarei que mexam com vocês.

Quando fala em “inverno andino”, Renan busca assustar com o Equador de Correa e a Venezuela de Hugo Chavez. Numa licença geográfica, enfia no Andes a Argentina de Cristina Kirchner e sua Lei de Meios de Comunicação.

Fatos. Certamente há no Brasil quem sonhe com censurar a imprensa. Como há quem queira, como se faz no mundo civilizado, ter leis que, na prática, impeçam monopólios na indústria da comunicação. Isso é capitalismo. É zelar pela livre concorrência, regular o mercado. Como se faz com pasta de dente, cerveja, sabão em pó…

No Brasil há também quem sequer aceite esse debate. Basta uma menção ao assunto e lá vem a ameaça: “É censura”. Só para lembrar: os EUA, com seu FCC, regulam as dimensões e regras da sua indústria de comunicação.

A Inglaterra também. Com seu OFCOM, obrigou Murdoch, barão da mídia, a abrir mão da SKY. Murdoch tinha 40% e queria comprar os outros 60%. Como seu jornal News Of the World grampeou o herdeiro do trono, e muitos outros, Murdoch perdeu a SKY. E teve de fechar o jornal.

França e Portugal, países democráticos, têm órgãos que cuidam da regulação na indústria de comunicação. São os fatos. E isso nada tem a ver com censura. Como é fato que, acuado, Renan Calheiros enviou sua proposta andina. Que significa: trégua. E não tocar em nada.

O Brasil precisa e merece debater esse tema: Comunicação. Com transparência e sem falseamentos. Com espírito democrático. Sem ameaças de quem quer que seja.

Renan, o candidato da Globo e da Veja

8 de fevereiro de 2013
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O novo presidente do Senado, Renan Calheiros, candidato preferido da grande mídia. Foto: Lia de Paula/Ag. Senado.

Helena Sthephanowitz, via Rede Brasil Atual

Não se engane com as aparências superficiais. O senador Renan Calheiros (PMDB/AL) foi eleito pela Rede Globo e pela revista Veja à presidência do Senado.

A Veja, apesar de seus blogueiros dispararem dardos contra Renan – em doses inofensivas, apenas para consumo interno de seus leitores – fez corpo mole, e não produziu nenhuma matéria com potencial para derrubar a candidatura de Renan. Tivesse empenhada de fato contra sua eleição haveria contra ele pelo menos uma grande denúncia, com destaque na capa, no último mês, como fez várias outras durante três meses, quando a revista quis derrubá-lo, em 2007.

A TV Globo também não chegou a tentar desconstruir Renan no Jornal Nacional como fez em 2007. Limitou-se a noticiar “protocolarmente” a denúncia do procurador-geral Roberto Gurgel, sem fazer juízo de valor e dando ênfase às declarações da defesa do senador de forma até respeitosa. Deu para perceber que tratou a candidatura com certa naturalidade, tentando fazer a maioria dos telespectadores absorverem-na.

Por trás desse tratamento cortês, percebem-se dois motivos.

O primeiro é a dívida da revista com Renan pela blindagem que o PMDB proporcionou ao jornalista Policarpo Jr. na CPI do Cachoeira. A TV Globo, por corporativismo ou rabo preso, também atuou nos bastidores junto ao PMDB contra as investigações sobre o bicheiro pela CPI – e ficou devendo esta ao PMDB.

O segundo motivo é que esta velha imprensa julga que Renan no comando do Senado vem a calhar para gerar embaraços desgastantes à base governista e à presidenta Dilma, favorecendo a oposição demotucana nas eleições 2014, tão querida da Globo e da Veja.

Renan sabe que se não tiver munição capaz de conter a imprensa, sua vitória de hoje será tão alegre quanto o porre do peru na véspera da ceia de natal. O chamado PIG e a oposição o deixaram ser eleito de propósito, já com o forno aceso para abatê-lo e assá-lo.

Por isso ele procurou se precaver, mostrando suas armas em seu discurso. Fez “juras de amor” à liberdade de imprensa, dando a entender que, se não for incomodado, nenhuma lei passará no Senado contra os interesses dos barões da mídia. Nas entrelinhas, passou o recado de que, se os barões da mídia não forem “seu amigo”, ele tem cartas na manga para se aliar ao PT e ao PCdoB e apoiar uma “Ley dos Médios” – como a que a Argentina tenta emplacar – contra o oligopólio de uma dúzia de magnatas donos de jornais e tevês.

Diga-se que o senador não estaria descumprindo qualquer promessa assumida em seu discurso quanto ao compromisso com as liberdades de imprensa e de expressão, pois democratizar as comunicações só aumenta estas liberdades.

Outra salvaguarda de Renan é o vice-presidente do Senado ser Jorge Vianna, do PT. Se o derrubarem, quem assume interinamente é um petista, coisa que os barões da mídia consideram pior para eles.

E o que Dilma tem a ver com isso? Nada!

Para a presidenta, como para qualquer presidente da República de qualquer democracia no mundo, o que importa é ter harmonia institucional com o Legislativo e garantir a governabilidade para cumprir o programa de governo. Sendo o Senado presidido por qualquer senador apto a ser eleito, da base governista, comprometido com o programa do governo e que não seja dado a atos impensados, nem golpista, pouco importa o nome.

Há quem diga que seria melhor se o PMDB tivesse escolhido um nome que não estivesse na linha de tiro do denuncismo. Mas Renan e o PMDB não abriram mão se sua postulação, e resolveram ir para o enfrentamento. A sorte está lançada. Resta saber até que ponto os pactos, mesmo que implícitos, de Renan com a velha mídia irão durar.

Às 5 horas da madrugada da sexta-feira, dia 1º, poucas horas antes da eleição, a revista Época – das Organizações Globo – publicou a denúncia do procurador-geral da República contra Renan. Não surtiu efeito. O candidato adversário de Renan teve apenas 18 votos, quando era esperado pela oposição entre 20 e 25. No Senado não houve discursos fortes explorando a matéria. Mesmo os discursos críticos foram suaves, de quem não queria comprar briga, nem desestabilizar a candidatura, apenas marcar posição. Se a matéria da Época fosse ou ainda vier a ser repercutida no Jornal Nacional com força, o pacto (implícito ou não) Renan–Globo estaria (ou estará) rompido.

O fator Gurgel

Antes da eleição no Senado, o senador Fernando Collor (PTB/AL) discursou abrindo fogo contra o procurador-geral da República Roberto Gurgel, chamando-o de “chantagista” e “prevaricador”. Além das acusações fortes que já vem fazendo desde o ano passado, disse algo novo: tramita no Senado um processo contra Gurgel (provavelmente devido ao “sobrestamento” da Operação Vegas da Polícia Federal, fato que paralisou as investigações sobre a organização do bicheiro Cachoeira).

É o Senado que tem poderes constitucionais tanto para processar o PGR por crimes de responsabilidade, como para exonerá-lo do cargo por maioria absoluta em votação secreta.

Sob a presidência de Sarney, parece que o processo no Senado a que Collor se referiu não teve andamento. Agora, com Renan, o que acontecerá?

Na vitória de Renan, Aécio é o maior perdedor

4 de fevereiro de 2013
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Aécio (dir.) colocou seu prestígio para apoiar Pedro Taques (esq.). E desempenho ficou abaixo do esperado. O milionário Álvaro Dias também dançou. Foto José Cuz/ABr

Liderados pelo seu pré-candidato a presidente da República, PSDB anunciou apoio integral a Pedro Taques. No entanto, nos bastidores, são dados como certos votos tucanos para a candidatura vitoriosa de Renan Calheiros.

Eduardo Militão, via Congresso em Foco

“O rio corre para o mar”, anunciava na quinta-feira, dia 31/1, um senador peemedebista pouco confortável em votar em Renan Calheiros (PMDB/AL), mas que o apoiou para evitar represálias no partido e pela falta de opções dentro da legenda. O resultado esperado se confirmou com os 56 votos obtidos por Renan na votação secreta de sexta-feira, dia 1º. Porém, havia a expectativa por um desempenho melhor do candidato independente Pedro Taques (PDT/MT), especialmente após o anúncio de que teria o apoio maciço da bancada do PSDB no Senado.

Porém, logo que os votos começaram a ser contados ficou evidente que os 11 votos prometidos pelo PSDB não apareceram nem de longe, apesar do anúncio oficial feito por Aécio Neves (PSDB/MG). O tucano, pré-candidato à Presidência da República em 2014, empenhou-se em levar o partido a um polo distante de Renan, o candidato com as bênçãos do Palácio do Planalto. Para senadores ouvidos pelo Congresso em Foco, o episódio foi uma derrota para Aécio, que mostrou uma liderança fragilizada entre seus colegas. Mas, lógico, não o suficiente para implodir seus anseios de disputar as eleições presidenciais no ano que vem.

Taques teve apenas 18 votos. A expectativa é que chegasse ao menos a 23. Somadas, as bancadas dos partidos que apoiaram o pedetista totalizam a 25 senadores. E ainda havia parlamentares independentes, como Ana Amélia (PP/RS) e Jarbas Vasconcelos (PMDB/PE), com os quais o grupo contava. Nesse cenário, os tucanos têm sido apontados como principais responsáveis pelo fiasco.

Reservadamente, o próprio Aécio confidenciou que se surpreendeu com a votação baixa. Não imaginava, é verdade, que os correligionários Flexa Ribeiro (PA) e Mário Couto (PA) apostassem suas fichas no azarão Taques em nome da ética. Flexa mirava a primeira secretaria do Senado, cargo para o qual acabou eleito. Apelidada de “prefeitura” da Casa, o órgão administra licitações, contratos e um orçamento de R$3,5 bilhões. O PMDB ameaçava não apoiá-lo no posto se houvesse 22 ou 25 votos do lado que Taques. Com a baixa votação do “anticandidato”, o senador tucano conseguiu ser escolhido, sem problemas, para o poderoso cargo.

Decepção

Mas Aécio imaginou que mais senadores negariam o voto a Renan. Daí a decepção. Ao posar para fotos junto com Taques, na quinta-feira, dia 31/1, o neto de Tancredo Neves se expôs e testou sua liderança na Casa. O termômetro não indicou um bom resultado, segundo senadores ouvidos pelo site. “Mostra que o Aécio tem fragilidade de liderar”, analisou um petista. Outro entende que o resultado único é o desgaste.

Senadores do PT faziam piada com a perplexidade de Taques com a promessa não cumprida de votos vinda do PSDB. Eles estimam que os tucanos despejaram ao menos sete votos em Renan. Dos 11 votos, só quatro teriam ficado com Taques. A estatística não está distante do que sugere a calculadora dos independentes. “Tem gente que não entregou o que havia prometido”, avaliou Randolfe Rodrigues (PSOL/AP).

Nos discursos em plenário antes da votação, 18 senadores subiram à tribuna. Entre os apoiadores de Taques, somente um tucano: o líder do partido no Senado, Álvaro Dias (PR). O PSB, por exemplo, partido da base e que decidiu ir contra Renan, viu seus quatro parlamentares discursarem a favor do pedetista e contra a eleição do peemedebista.

Peemedebistas e petistas avaliavam corretamente que o apoio tucano a Taques era um método de o PSDB marcar posição com vistas a 2014. Álvaro Dias revelava: é melhor a estratégia de apostar em alguém para dividir a base aliada que a de lançar um candidato próprio e ter todos contra si. Vitória seria ter 26 ou 27 votos contra Renan. Mas não deu certo.

Pequeno trunfo

Ao contrário, o desempenho do PSB foi considerado um pequeno trunfo para Eduardo Campos, o governador de Pernambuco que sonha com a Presidência da República em 2014. Ao colocar todos os quatro senadores para declararem votos em Taques, ficou mais uma vez marcada a posição de uma terceira via dentro da base aliada do governo Dilma. Para alguns senadores, isso mostra coerência com o discurso.

Por outro lado, os petistas ainda desconfiam dos benefícios a Eduardo Campos. Para eles, a postura dos senadores do PSB e a candidatura do deputado Júlio Delgado (MG), na Câmara, revelam certo hesitação do governador de Pernambuco. “Ora ele se apresenta como um candidato dentro da nossa base, ora como alguém aliado da oposição. A Marina Silva percebeu isso e não embarcou nessa com o PV ou com o seu futuro partido”, acredita um parlamentar.

Malandro

No PMDB, a postura do PSDB foi vista como lealdade. Para eles, acerta quem considera a eleição no Senado uma questão interna, resolvida na base das amizades e compadrios, e não numa disputa governo-oposição. O ex-líder dos tucanos rechaça as críticas. “Atribuir essas traições a nós é mais do que deselegância e injustiça, é má-fé”, disse Álvaro Dias. Ele não aceita as avaliações de lealdade com o PMDB. “Para o PSDB, é um elogio de malandro.”

A reportagem procurou Aécio, mas não obteve retorno de sua assessoria. Ele deixou o Senado antes do fim das votações, segundo seus auxiliares.

Sorrisos e choro

A votação de Renan fez os aliados se alternarem entre lágrimas e risadas. Era só sorrisos o senador Fernando Collor (PTB/AL), que teve Renan como seu líder de governo quando foi presidente da República (1990-1992). Depois de receber muitos cumprimentos, Renan observou um Gim Argello (PTB/DF) a chorar. Com cuidado, limpou os olhos do colega.

Mais tarde, Gim tornava público seu descontentamento com o presidente recém-eleito. Ele queria que Renan impedisse a escolha, no voto, do novo titular da terceira-secretaria. Gim Argello queria Magno Malta (PR), que deveria ser o preferido de acordo com a chamada proporcionalidade partidária (que impõe a divisão dos cargos da Mesa de acordo com o tamanho das bancadas), mas o PMDB havia fechado acordo para dar o cargo para Ciro Nogueira (PP/PI). No voto, deu Ciro.


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