Posts Tagged ‘Reforma política’

Antonio Lassance: Hora de mandar o presidente da Câmara para o espaço

31 de dezembro de 2013
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Henrique Alves: A favor de tudo, só que não.

Henrique Alves parece bastante treinado para a tarefa de astronauta, à medida que a noção de gravidade já não faz mais efeito sobre as coisas que faz e fala.

Antonio Lassance, via Carta Maior

Desde que o primeiro astronauta brasileiro se aposentou, já passou da hora de arranjarmos um substituto. Minha sugestão é o atual presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves. Ele já parece bastante treinado para a tarefa, à medida que a noção de gravidade já não faz mais efeito sobre as coisas que faz e fala.

Na semana em que o Brasil se despedia de 2013, Alves fez um pronunciamento em rede nacional de rádio e tevê para falar do que a Câmara fez e do que pretende fazer em 2014. Em seu pacote de Natal, Alves colocou como prioridade a sua reforma política.

Quem diria? Em ano eleitoral, com esforço concentrado e recesso prolongado para que os parlamentares façam campanha, Alves fez uma aposta ousadíssima. A reforma anunciada tem como pontos prioritários:

– o financiamento das campanhas;

– a reeleição do Executivo;

– o fim do voto obrigatório.

No pronunciamento, essas questões vieram empacotadas sob o slogan “o poder dos brasileiros”, possivelmente para aproveitar o período natalino, quando as pessoas ficam um pouco mais propensas a acreditar em Papai Noel.

O financiamento de campanha de Alves é a defesa intransigente e apaixonada de que os políticos continuem autorizados a receber grandes somas de dinheiro vindas de empresas.

Tanto Henrique Eduardo Alves quanto Renan Calheiros, outro que gosta de voar e também poderia ser posto na fila de nosso programa espacial, indignaram-se com o fato de o Supremo Tribunal Federal (STF) estar prestes a proibir o financiamento de empresas a campanhas políticas. Dos 11 ministros do Supremo, quatro já encaminharam a favor da proibição. A decisão final do STF pode ter um grande impacto na sorte (ou azar) de muitos candidatos. Tomara.

O tópico que pretende proibir a reeleição para cargos do Poder Executivo (presidente da República, governadores e prefeitos), deixa a pergunta no ar: e por que não para o Legislativo? A reeleição no Executivo é limitada a uma única vez consecutiva. Nem isso o Legislativo cogita para si próprio?

Será que esse bloqueio mental do presidente da Câmara para uma proposta dessa natureza tem algo a ver com o fato de ser ele deputado federal há quatro décadas (desde 1971), ininterruptamente? Se houvesse limitação aos mandatos parlamentares, o grau de renovação congressual seria maior. Contribuiria em parte com o desejo de muitos brasileiros de mandar uma parte da política tradicional para outros planetas – nem que fosse por um intervalo de quatro anos.

A defesa do voto facultativo virou o atalho pelo qual os políticos mais tradicionais querem transformar a revolta popular em apatia, trocando manifestação nas ruas por abstenção eleitoral.

Enfim, o fato é que vem aí um pacotão de reforma política, a ser levado a plenário entre março e abril de 2014. Prepare o seu coração. O pacotão preparado sob a batuta da pior presidência da Câmara desde Severino Cavalcante coloca a política na contramão do bom senso e tende a torná-la menos participativa e ainda mais dependente do poder do dinheiro do que já é.

A única defesa contra o rolo compressor que vem por aí depende de se levar a disputa na Câmara às últimas consequências. Significa manter a Casa, sob a presidência de Alves, como tem sido nos últimos meses, tal e qual uma mula empacada.

Dilma usou, para isso, o poder que a presidência da República tem de pedir urgência na tramitação parlamentar de projetos do Executivo. É o caso do projeto do marco civil da internet. Sem acordo, o projeto empaca as votações do Congresso. É ruim, pois questões importantes, a começar da própria regulamentação da internet no Brasil, ficam sem decisão. Mas é melhor do que projetos que piorem o que já não está bom. Até as eleições, a presidência vai ter que se virar mais com decretos do que com medidas provisórias e projetos de lei. A não ser para sinalizar sua agenda, mas deixando tudo para votar, com segurança, em 2015, com uma nova correlação de forças. Essa agenda também funcionaria como parte do próprio programa eleitoral de Dilma.

Sobre reforma política, uma grande responsabilidade recai sobre o PT, que é o maior partido da Câmara. O PT precisaria fazer maioria para derrotar a pauta-bomba de Alves ou, pelo menos, mobilizar outros partidos e rachar o PMDB para obstruir votações. Teria que começar enquadrando seus parlamentares, como Cândido Vaccarezza (PT/SP), que preside de bom grado a comissão que é a menina dos olhos do presidente da Câmara. De bem com Alves e às turras com o PT, Vaccarezza é justamente o encarregado de embrulhar o pacotão do presidente da Câmara.

Ou seja, o ano começa de cabeça para baixo. O PT, que tem no PMDB seu principal aliado e passou 2013 reclamando do STF, terá que derrotar o PMDB na Câmara, sem dó nem piedade, e defender o STF, com unhas e dentes, por fazer aquilo que o Legislativo se mostrou incapaz: colocar fim ao enrosco de gafieira em que se meteram os partidos e seus políticos, em seus ternos engomados, com as empreiteiras, os bancos e as grandes empresas concessionárias de serviço público, que usam minissaias convidativas, espartilhos cheios de dinheiro e desfilam de salto alto pelos corredores e lobbies do poder.

Reforma política: Entidades querem fim de doações privadas, mas Câmara e Senado, não

20 de setembro de 2013

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Najla Passos, via Carta Maior

Entidades da sociedade civil entregaram na terça-feira, dia 10, ao presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB/RN), projeto de reforma política de iniciativa popular que propõe o fim do financiamento privado das campanhas eleitorais, limita o valor das doações de pessoas físicas para os partidos e estabelece dois turnos para as eleições legislativas, com a primeira votação em legendas e somente a segunda em candidatos.

Construída por entidades como Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Central Única dos Trabalhadores (CUT), União Nacional dos Estudantes (UNE), Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a proposta captura os anseios dos movimentos organizados que, desde junho, têm ganhado às ruas para pedir mudanças no sistema político.

Mas, apesar de contar com o apoio de 100 deputados, não conquistou Alves, que prometeu apenas que irá submetê-la à apreciação do grupo de trabalho criado pela casa para discutir a reforma política. Segundo o presidente, o projeto, ainda em construção, será votado entre os dias 23 e 27 deste mês. Para valer nas próximas eleições, terá que ser aprovada também pelo Senado até 5 de outubro.

Mesmo com a pressão popular e do relógio, tudo que os deputados definiram até agora é que irão sugerir o fim da reeleição para prefeitos, governadores e presidentes, além da coincidência de todas as eleições a cada quatro anos. E só. Desde a criação do grupo, seu coordenador, o deputado Cândido Vaccarezza (PT/SP), vem defendendo que as mudanças não possam valer para as próximas eleições.

Já o Senado saiu na frente e aprovou, também nesta terça, em votação terminativa da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), uma minirreforma eleitoral que reduz os gastos nas campanhas, mas mantém as doações das empresas, rechaçadas pelos movimentos populares. A proposta também perpetua as polêmicas contratações de cabos eleitorais, que estrangulam a militância partidária espontânea.

“Estamos aqui discutindo cosméticos, tamanho de placas. Isso não vai alterar a estrutura do sistema político. Enquanto aceitarmos o financiamento privado, vamos ter corrupção. Sou cético se vamos avançar muito, se no Plenário vamos avançar alguma coisa, se a Câmara vai votar alguma coisa, e assim vamos”, disse o senador Randolfe Rodrigues (PSOL/AP) à Agência Senado.

Embora a minirreforma tenha sido aprovada em votação terminativa, o autor da proposta, senador Romero Jucá (PMDB/RR) apresentou recurso para que o projeto seja chancelado pelo plenário da casa. A previsão é que a matéria entre em pauta ainda em setembro. Assim como a proposta da Câmara, para valer nas eleições de 2014, terá de ser aprovada em ambas as casas até 5 de outubro.

Só na CCJ, o substitutivo que foi à votação, de autoria do senador Valdir Raupp (PMDB/RO), recebeu 78 emendas, das quais 22 foram acatadas. Uma delas foi a de autoria da senadora Ana Rita (PT/ES), que proíbe a utilização de recursos do Fundo Partidário para o pagamento de multas por irregularidades na propaganda eleitoral, como propunha Raupp. Mecanismo que, conforme os críticos, permitiria que as penalidades fosse custeadas por dinheiro público, e não com o dos partidos.

Breno Altman: Deputado petista puxa faca contra plebiscito

19 de julho de 2013
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Cândido Vaccarezza afronta a presidenta Dilma e seu partido.
Ficará por isso mesmo?

Breno Altman, via Brasil 247

A presidente Dilma Rousseff discursava no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Marcante em sua intervenção era a defesa do plebiscito pela reforma política. Poucas horas antes, um deputado de seu partido, Cândido Vaccarezza (SP), apresentava-se como o coveiro da consulta popular e decretava que nenhuma mudança seria válida antes de 2016 ou 2018.

O parlamentar paulista, coordenador do grupo de trabalho sobre sistema eleitoral, não afrontou apenas a convocação da chefe de Estado. Violou abertamente resolução da própria agremiação a que pertence desde sua fundação.

Indicado para a função atual pelo presidente da Câmara dos Deputados, o peemedebista Henrique Eduardo Alves (RN), Vaccarezza atua como um franco-atirador e se associa aos setores mais conservadores do parlamento. Nunca escondeu que, em termos gerais, é um apoiador das regras atuais do jogo político-eleitoral. Essa talvez tenha sido sua principal credencial para o papel que lhe outorgaram. É o homem certo para mudar alguma coisa e deixar tudo como está.

Mas o pior não são suas ideias sobre o funcionamento da democracia. Está no seu direito ter as posições que bem entender e escolher as companhias que preferir. O mal maior que sua atitude produz é contribuir para a desmoralização dos partidos políticos, prato tão ao gosto do reacionarismo pátrio.

Ao formar na troika contra o plebiscito e a reforma política, ladeado por Alves e Eduardo Cunha (PMDB/RJ), o deputado constrange o PT e o faz ficar parecido com as demais legendas. Não é segredo para ninguém que, exceção normalmente feita aos partidos de esquerda, o restante das organizações é regido pela agregação de interesses pessoais e corporativos, cumprindo apenas a missão de legenda eleitoral.

O Partido dos Trabalhadores sempre foi muito cioso de sua disciplina interna, ciente que não há outro caminho para a disputa programática, o combate pela direção do Estado e a construção de hegemonia político-ideológica na sociedade.

Nos primeiros anos de vida, desligou três de seus sete parlamentares de então, em 1985, porque José Eudes, Bete Mendes e Airton Soares anunciaram que, contrariamente à decisão partidária, iriam ao Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo Neves presidente por via indireta. O PT sequer esperou a consumação da indisciplina, para evitar cair na vala comum.

A mesma norma valeu para a ex-prefeita de São Paulo, Luíza Erundina, quando decidiu, por conta e risco, ingressar no governo Itamar Franco, à revelia do que tinham deliberado as instâncias de seu partido. A única diferença é que teve sua filiação suspensa e acabou por se retirar do PT, retornando em seguida e saindo novamente.

No início do governo Lula, houve novo exemplo de seriedade com a concepção de que um partido não é amontoado de pessoas que agem por conta própria. A senadora Heloísa Helena e outros dois parlamentares receberam cartão vermelho por quebrarem a democracia partidária no curso dos debates sobre reforma da previdência.

O caso atual tem igual gravidade, ou até maior, que as demais situações citadas. Pode um parlamentar do mesmo partido fazer o serviço dos que buscam travar a proposta da presidente em um momento de crise tão aguda? É cabível um deputado rasgar a orientação de sua agremiação e se compor com os que querem derrotá-la?

A seu favor, Vaccarezza tem uma questão técnica. Não houve fechamento de questão, no diretório nacional do PT e na bancada, em torno da consulta popular, da Constituinte e da reforma política. Esse é o instrumento estatutário para que sejam impostas as devidas sanções.

Bom aprendiz das afirmativas e negativas que marcam o cretinismo parlamentar, o deputado deu uma no cravo e outra na ferradura. Declarou, em entrevista ao jornalista Paulo Henrique Amorim, serem “duas coisas diferentes”, que não se contrapõem, a sua posição sobre a reforma política e o plebiscito proposto pelo PT e a presidente. Tentou evitar, assim, uma trombada de frente, para comer pelas bordas.

De toda maneira, é triste ver a relação promíscua de ramos petistas com a rosca oligárquica que controla o parlamento. Faz parte dos problemas que arranham a reputação do partido nas ruas. O PT deveria ser capaz de convencer seus parlamentares a andarem na linha. Ou oferecer a porta da rua como serventia da casa. O retorno a uma conduta exemplar faria bem enorme à democracia.

Breno Altman é diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samuel.

***

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Reforma política: Petistas criticam indicação de Vaccarezza para presidência da comissão

Reforma política: Petistas criticam indicação de Vaccarezza para presidência da comissão

19 de julho de 2013
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Cândido Vaccarezza: Com deputados como ele, Dilma não precisa de inimigos.

Marco Aurélio Weissheimer, via Carta Maior

Um grupo de 27 deputados federais do PT divulgou nota na quinta-feira, dia 19, criticando a designação pela presidência da Câmara, do deputado Cândido Vaccarezza (PT/SP) para presidir a nova comissão criada para propor uma reforma política ou, para empregar a expressão usada por Vaccarezza, uma “minirreforma eleitoral”. A nota critica a reação conservadora no Congresso à ideia do plebiscito apresenta pela presidenta Dilma Rousseff e manifesta solidariedade ao deputado Henrique Fontana, que havia sido indicado pela bancada para presidir a referida comissão. Confira a íntegra da nota:

As manifestações da juventude brasileira, nas jornadas de junho de 2013, deram um inequívoco recado ao nosso sistema político: é necessário reformá-lo profundamente, combatendo vícios arraigados, dos quais o mais grave é a corrupção, que se assenta nos mecanismos de financiamento privado das campanhas eleitorais no Brasil.

Nosso partido defende há muitos anos uma ampla Reforma Política que afaste a influência do poder econômico, ao mesmo tempo em que reforça o caráter partidário das disputas eleitorais.

Há 15 anos tentamos aprovar no parlamento mudanças no sistema político, sem sucesso. As reformas esbarram nas forças conservadores que prevalecem no Congresso Nacional.

Ouvindo a voz das ruas, a Presidenta Dilma Rousseff deu uma resposta avançada aos anseios populares. Propôs cinco pactos, dentre os quais, um plebiscito pela Reforma Política. Essa ideia contou imediatamente com enorme apoio da opinião pública e passou a ser combatida pelos mesmos setores que empatam a transformação de nosso sistema eleitoral.

Uma das respostas conservadoras, patrocinada pela atual Presidência da Câmara dos Deputados, além da rejeição à ideia do plebiscito, foi a constituição de mais uma comissão para propor uma reforma política em marcos muito mais tímidos do que inicialmente proposto pela Presidenta Dilma.

O caráter regressivo desse ato foi reafirmado por interferência externa na indicação do membro da bancada do PT para coordenar os seus trabalhos. Indicamos por unanimidade o deputado Henrique Fontana, relator há dois anos e meio da comissão anteriormente incumbida para propor a Reforma Política. Para a surpresa da bancada, a Presidência da Câmara designou o Deputado Cândido Vaccarezza como coordenador da nova comissão. Mais do que uma escolha pessoal, este gesto é um claro movimento para impor à bancada do PT preferências políticas que não são as suas. Tal atitude antecipa um antagonismo às posições que o PT defende na reforma política.

O PT foi construído como partido democrático a partir de relações de confiança e de respeito às decisões tomadas em seus fóruns legítimos. O episódio aqui referido é um grave precedente que viola a nossa cultura política e afronta nossos princípios.

Somos inteiramente solidários ao companheiro Henrique Fontana e estaremos ao seu lado na luta por uma reforma política para valer.

À Presidenta Dilma, nosso total apoio, lealdade e confiança. Conte conosco na defesa, mobilização e articulação do Plebiscito.

Assinam esta nota:

1. Deputado Federal Afonso Florence

2. Deputado Federal Alessandro Molon

3. Deputado Federal Arthur Bruno

4. Deputado Federal Bohn Gass

5. Deputado Federal Cláudio Puti

6. Deputado Federal Dr. Rosinha

7. Deputado Federal Francisco Praciano

8. Deputada Federal Janete Pietá

9. Deputado Federal Jesus Rodrigues

10. Deputado Federal João Paulo Lima

11. Deputado Federal Luiz Couto

12. Deputada Federal Margarida Salomão

13. Deputado Federal Nazareno Fonteles

14. Deputado Federal Padre Ton

15. Deputado Federal Paulo Pimenta

16. Deputado Federal Paulo Teixeira

17. Deputado Federal Ronaldo Zulke

18. Deputado Federal Jorge Bittar

19. Deputado Federal Leonardo Monteiro

20. Deputada Federal Iriny Lopes

21. Deputada Federal Erika Kokay

22. Deputado Federal Marcon

23. Deputado Federal Eudes Xavier

24. Deputado Federal Pedro Uczai

25. Deputado Federal Domingos Dutra

26. Deputado Federal Waldenor Pereira

27. Deputado Federal Reginaldo Lopes

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Nota da Frente Parlamentar pela Reforma Política com Participação Popular

“A Frente Parlamentar pela Reforma Política com Participação Popular considera seu dever manifestar, publicamente, repúdio ao Projeto de Lei 5.735/13, denominado “Minirreforma Eleitoral”.

Referido projeto de lei é fruto do grupo de trabalho, coordenado pelo deputado Cândido Vaccarezza, com a atribuição de propor alterações, já para as eleições de 2014, na legislação eleitoral (Código Eleitoral, Lei dos Partidos Políticos e Lei das Eleições).

Conforme já alertado pela frente, esse grupo trabalhou sem a transparência e participação devidas, reproduzindo uma prática política há muito questionada e também motivo dos protestos de rua.

O projeto, no seu todo, tem um viés autoritário, centralizador e antiético, atentando, assim, contra a Lei da Ficha Limpa e em descompasso com os anseios populares expressos nas ruas. Reduz os mecanismos de controle sobre o processo eleitoral; é tolerante com a corrupção; compromete a transparência do processo e favorece o abuso do poder econômico.

Essa proposta não contribui para corrigir as graves distorções do nosso sistema político, além de agravar mais ainda a deterioração da imagem do sistema representativo em nosso País, comprovada pelas mensagens dos cartazes espalhados pelas ruas e que dizem: “Você não me representa”.

Assim, espera-se que a Câmara dos Deputados suspenda a tramitação desse inaceitável projeto e que seja submetido a amplo debate com a participação da sociedade civil, no sentido de ter legitimidade e, de fato, contribuir para o aperfeiçoamento e democratização do processo eleitoral.”

Um Poder Legislativo onde tudo está à venda

12 de julho de 2013

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Ao rejeitar fim do senador suplente, Congresso reafirma compromisso com práticas como “venda” de mandatos e boca de aluguel. Para faxina, Constituinte pode ser saída.

Maria Inês Nassif, no GGN

A votação de terça-feira, dia 9, no Senado, que derrubou projeto que eliminaria a figura do segundo suplente de senador e proibiria a escolha de parentes do candidato titular para a primeira suplência, e a articulação rápida dos partidos aliados na Câmara para derrubar o plebiscito sobre a reforma política, mostram que não era absurda a proposta da presidente Dilma Rousseff, de convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte exclusiva para fazer a reforma política. O erro foi tático – ter anunciado a proposta sem articulá-la antes com as forças que a apoiam e depois retirá-la quase que imediatamente. Mas foi uma boa visão estratégica. Os parlamentares que lidam com as questões relativas a mudanças nas regras atuais para as eleições de deputados e senadores sabem que as propostas encontram obstáculos intransponíveis num Congresso eleito por elas.

Um referendo que não seja antecedido de um plebiscito sobre os temas a serem abordados pela reforma é a melhor garantia para os atuais parlamentares de que nada vai ser mudado. Se, como no caso dos suplentes dos senadores, o Congresso se recusar a derrubar as coligações partidárias para as eleições proporcionais e manter inalterado o financiamento de campanha, nada poderá ser submetido a referendo porque nada foi mudado. Será a melhor forma de tudo permanecer exatamente como está.

No caso da suplência dos senadores, o projeto do Senado não caiu simplesmente porque chovem suplentes no plenário do Senado. A suplência é a forma mais eficiente de garantia de financiamento da campanha do senador titular. A primeira e a segunda suplência podem ser incluídas nos acordos com financiadores de campanha mais abonados para incluir representantes mais diretos de seus interesses, ou os próprios financiadores, sem que a eles seja pedido nenhum voto – basta que fiquem escondidos atrás da campanha do titular financiado pelo seu dinheiro.

Na Câmara, uma matéria de interesse direto para depurar o plenário dos políticos de negócios deve ter o mesmo destino. A bancada de deputados federais formada por um partido define quanto dinheiro ele vai dispor do Fundo Partidário e o tempo a que terá direito no horário eleitoral gratuito. Essa é a base da ambição dos chamados partidos de aluguel, aqueles que conseguem um registro definitivo e aparecem apenas na hora de negociar novamente o seu horário eleitoral com um candidato majoritário forte.

O pequeno partido “aluga” a sua parcela no horário eleitoral gratuito para um grande partido obrigando a legenda que terá o candidato na eleição majoritária (para presidente ou governador) a se coligar com ele nas eleições proporcionais; ou ainda “vendendo” (muitas vezes literalmente) seu horário para falar bem do candidato com quem negociou, ou mal do adversário do candidato. É o que se chama, na gíria política, de “boca de aluguel”: aquele que fala do adversário aquilo que o candidato não pode falar, sob pena de perder votos. No caso simplesmente de coligação para obter mais tempo de rádio e televisão, um segundo pode não fazer diferença para um candidato, mas a soma de minutos e segundos de vários partidecos podem dar a ele uma vantagem sobre o adversário principal que, em regra, nenhum deles despreza em sã consciência. É a origem daquela lista interminável de partidos que os candidatos devem declinar no horário eleitoral e que, para economizar tempo, o locutor fala muito depressa.

Quando aluga (às vezes também literalmente) o seu horário e faz a coligação proporcional, o pequeno partido passa a figurar na mesma lista partidária que os demais coligados. Com isso, escapa da única regra existente para limitar a existência de partidos que não tenham representação mínima na sociedade (uma cláusula de barreira, segundo a terminologia legal), que é o quociente partidário. Por lei, se um partido não obtém o quociente partidário, produto de uma complexa equação entre voto e eleitorado, ele não elege nenhum representante. Numa coligação proporcional, o quórum é definido pela soma dos votos dados a todos os partidos aliados. O quórum real do partido nanico simplesmente some no meio de uma imensidão de votos que não são seus.

Se o partido nanico sobreviveu graças a esse expediente, se perpetuará no quadro partidário, ganhando Fundo Partidário e horário eleitoral para vendê-los ou alugá-los na eleição seguinte, graças a outro benefício que têm com a coligação proporcional. Quando se coligam, passam a integrar uma mesma lista partidária para eleger seus deputados e senadores. Todos os votos de todos os partidos coligados vão para a mesma conta – e passam a fazer jus a uma porcentagem das cadeiras de deputados federais (ou estaduais, ou vereadores) a que a coligação tem direito. Se a coligação tiver direito a 30 deputados, eles serão eleitos pela ordem de votação – um deputado que tenha um milhão de votos até o trigésimo da lista, que pode ter apenas algumas centenas de eleitores. Nas últimas semanas, no horário partidário, um pequeno partido chamava para a legenda pessoas interessadas em se candidatar – e como vantagem apontava o fato de o partido ter elegido parlamentares com o menor número de votos do Brasil.

Com isso, os partidos nanicos, mesmo que não tenham representação, ao se coligarem a partidos fortes, acabam com grandes chances de eleger deputados federais. Garantindo uma bancada federal, continuam a ter direito a Fundo Partidário e ao horário eleitoral gratuito. E assim, mesmo sem ter nenhuma representatividade, acabam dando suas cartas nas eleições e depois no Legislativo – graças ao Supremo Tribunal Federal, eles têm garantido direito a liderança e participação nas comissões do Congresso e negociam seus votos dentro do Legislativo com o governo (normalmente são governistas) como qualquer outro da base aliada. De mordida em mordida, mantêm um sistema distorcido em sua representação.

Essa distorção foi tolerada durante algum tempo porque esses partidos são mais maleáveis a negociações rápidas, pois elas não dependem de definições doutrinárias. E também como um gesto de reconhecimento aos partidos que eram exceção à regra, como os comunistas e socialistas, que não tinham número de votos suficientes para sobreviver sozinhos, mas tinham uma representação ideológica na sociedade que a democracia não deveria desprezar.

Esses partidos pequenos, porém ideológicos, conseguiram vida própria nesses 28 anos de democracia, mas ainda assim essa é uma questão que, por interesses vários, inclusive dos pequenos, não anda. Se prevalecer a ideia de um referendo, sem que seja antecedido por um plebiscito, e a lei continuar a mesma, vale para as regras de coligações proporcionais a mesma coisa do que para a suplência do Senado: o que o eleitor vai referendar? Uma mudança que não aconteceu?

***

Senadores que votaram contra o fim dos suplente

Alfredo Nascimento (PR/AM)

Antônio Carlos Rodrigues (PR/SP) – Suplente

Ataídes Oliveira (PSDB/TO) – Suplente

Blairo Maggi (PR/MT)

Clésio Andrade (PMDB/MG) – Suplente

Eduardo Lopes (PRB/RJ) – Suplente

Epitácio Cafeteira (PTB/MA)

Gim Argello (PTB/DF) – Suplente

Ivo Cassol (PP/RO)

Jader Barbalho (PMDB/PA)

Jayme Campos (DEM/MT)

João Vicente Claudino (PTB/PI)

Roberto Requião (PMDB/PR)

Ruben Figueró (PSDB/MS) – Suplente

Sérgio Petecão (PSD/AC)

Wilder Morais (DEM/GO) – Suplente

Zezé Perrella (PDT/MG) – Suplente

Sérgio Souza (PMDB/PR) – Abstenção – Suplente

Dilma põe Temer na linha e ele diz que reforma política pode valer para 2014

4 de julho de 2013
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Temer, que de manhã esteve com Cardozo (esq.) e Ideli, voltou atrás na versão inicial. Foto de Antônio Cruz/Agência Brasil.

Horas depois de afirmar que regras seriam aprovadas no próximo ano para entrar em vigor em 2016, vice-presidente da República emite nota declarando apoio à proposta de Dilma de realizar plebiscito.

Via Rede Brasil Atual

O vice-presidente da República, Michel Temer, recuou na tarde de quinta-feira, dia 4, sobre a declaração dada pela manhã de que o plebiscito para a reforma política seria realizado apenas no próximo ano e que as mudanças aprovadas valeriam para as eleições municipais de 2016. Em nota, o peemedebista disse que as declarações dadas após reunião com ministros no Palácio do Jaburu refletem a opinião de alguns líderes da base governista tomando como fundamento a visão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de que é preciso 70 dias para organizar a consulta popular.

“Embora reconheça as dificuldades impostas pelo calendário, reafirmo que o governo mantém a posição de que o ideal é a realização do plebiscito em data que altere o sistema político-eleitoral já nas eleições de 2014”, disse Temer em comunicado, no qual afirmou que tem o compromisso de apoiar a proposta da presidenta Dilma Rousseff, anunciada durante reunião no dia 24 de junho com governadores e prefeitos de todas as capitais, de realizar a votação.

“Na reunião de hoje, foi unânime entre as lideranças dos partidos políticos o apoio a esta tese”, acrescentou, no momento em que o PMDB sinaliza com dificuldades para aprovar no Congresso a realização do plebiscito. O presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), trabalhou nos dois últimos dias com a versão de que sejam simplesmente aprovadas as propostas que estão na fila do Legislativo, sem consulta à população.

“Na próxima semana será realizada reunião com os líderes da base no Senado para reafirmação do apoio à tese e discussão da elaboração do decreto legislativo convocando o plebiscito”, finaliza Temer.

Mais cedo, a versão dele era outra: “Não há mais condições de fazer qualquer consulta antes de outubro e, não havendo condições temporais, qualquer reforma que venha, só se aplicará para as próximas eleições”, afirmou depois de conversar com os ministros Ideli Salvatti (Relações Institucionais), Aloizio Mercadante (Educação) e José Eduardo Cardozo (Justiça). “O que é inexorável tem que ser aceito.”

Sem conhecer a nova versão de Temer, o deputado federal Henrique Fontana (PT-RS), relator da proposta de reforma política que tramitou nos últimos anos, sem sucesso, pela Câmara, discordou da visão do peemedebista. “Talvez haja um mal-entendido. Se não for um mal-entendido eu expresso aqui minha opinião que é diferente do vice-presidente. Postergar o plebiscito para a eleição do ano que vem significa jogar um balde de água fria na reforma política. Eu tenho convicção de que o nosso governo, a presidenta Dilma querem fazer o plebiscito o quanto antes.”

O petista também lamentou a sugestão feita durante a reunião no Jaburu de que a consulta seja feita em paralelo ao segundo turno das eleições presidenciais de 2014. “A ideia de colocar o plebiscito junto com a eleição do ano que vem é a pior de todas. Porque é misturar um conjunto de perguntas que precisam de atenção da população, que os líderes políticos e jornalistas abram espaço para esclarecer a população. O melhor momento é neste ano, em setembro, outubro, novembro ou dezembro.”

Para que as regras fossem aplicadas em 2014, o plebiscito sobre a reforma política e o projeto modificando as normas eleitorais tinham de ser aprovadas até o dia 5 de outubro. A três meses para o fim do prazo, os parlamentares consideraram improvável fazer a consulta e aplicar as mudanças.

Hoje, em Salvador, Dilma Rousseff aproveitou discurso para agricultores para pedir envolvimento da população e disse que a questão agora está nas mãos do Congresso. “Desejo que nós, juntos, sejamos capazes de estar à altura do desafio que temos pela frente. Porque nós temos uma oportunidade de transformar de forma acelerada o nosso país. É agora que nós temos de fazer”, afirmou. “Tenta e força, tenta e força e teima, e acaba conseguindo.”

Em Brasília, o dia foi de declarações divergentes entre integrantes do governo, especialmente entre PT e PMDB. Calheiros voltou a citar dificuldades políticas em garantir a aprovação da proposta de Dilma: “Se ficar demonstrado que o plebiscito vai ter dificuldade de caminhar na Câmara, então todos temos que encontrar uma alternativa. Talvez a de fazer uma reforma a toque de caixa e submetermos à população, mas o fundamental, nessa circunstância, é ouvir a sociedade.”

Para o petista Henrique Fontana, discutir prazos neste momento não é correto e colocar em dúvida a necessidade de realizar a consulta popular não deve sequer ser debatido. “Eu acho que adianta e muito. Se estamos esperando há 18 anos, o que puder ser aprovado para 2014 é ótimo, e o que for aprovado para valer em 2016 é muito bom. O ruim mesmo é não votar nada, não fazer plebiscito e não mudar a política brasileira. A hora é de fazer a reforma.”


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