Posts Tagged ‘Proibição’

Kassab é contra a cultura: Ele impediu a distribuição gratuita de livros no centro de São Paulo

10 de setembro de 2012

Intervenção aconteceu na noite de domingo.

“Bienal Relâmpago” aconteceria no Viaduto do Chá na segunda, dia 10. Guardas metropolitanos abordaram organização do evento na noite de domingo, dia 9.

Via G1

Uma distribuição de livros gratuita que aconteceria na manhã de segunda-feira, dia 10, na frente da Prefeitura de São Paulo, no Centro, foi abortada pela Guarda Civil Metropolitana na noite de domingo, dia 9, segundo a ONG Educa Brasil. De acordo com Devanir Amâncio, presidente do grupo, os organizadores do evento tinham acabado de descarregar a primeira caixa com os livros no Viaduto do Chá quando guardas os abordaram e afirmaram que a distribuição não poderia acontecer.

“Os guardas falaram que a ordem era de não distribuir os livros, e que eles seriam recolhidos como entulho caso insistíssemos. As pessoas que estavam descarregando ficaram com medo de continuar e saíram rápido do local”, disse Amâncio.

Segundo ele, os guardas chegaram a perguntar se o grupo tinha autorização para distribuir os livros. “Eu falei que não, pois aquilo não ia atrapalhar ninguém. Nós nem colocamos faixa, só tinha uma lona para os livros, uma lousa e duas cadeiras para pessoas mais idosas se sentarem”, comentou.

Cerca de 8 mil livros seriam distribuídos.

Ainda de acordo com ele, livros foram oferecidos para os guardas. “Um deles estendeu a mão para pegar, mas o outro falou que eles seriam punidos.” A Guarda Civil Metropolitana foi procurada pela reportagem do G1 para se posicionar sobre o caso, mas não havia respondido até as 12 horas da segunda-feira.

Ainda segundo Amâncio, cerca de 8 mil livros seriam dispostos em lonas e distribuídos a partir das 10 horas de segunda-feira como uma forma de protesto ao descaso com as bibliotecas públicas da capital paulista. A “Bienal Relâmpago”, como foi chamada, será transformada em uma “Bienal Móvel” – duas kombis percorrerão locais movimentados do centro de São Paulo oferecendo os livros aos pedestres. De acordo com Amâncio, a nova distribuição deve acontecer na manhã de sábado, dia 15.

Moradores em situação de rua

No domingo, dia 9, a GCM fez uma operação para tirar moradores em situação de rua que viviam em frente a prédios públicos do Largo São Francisco, no centro. Os moradores ainda dormiam quando foram surpreendidos pelos guardas civis. Alguns saíram de forma pacífica, mas outros resistiram e chegaram a jogar pedras contra os guardas. Houve tumulto e três pessoas foram levadas para a delegacia.

Governo de São Paulo recomenda: “Não ande de bicicleta na rua.”

13 de julho de 2012

Diário Oficial do Estado de São Paulo diz para ciclistas saírem das ruas.

Piero Locatelli, lido no Envolverde

O Diário Oficial do Estado de São Paulo de quarta-feira, dia 11, traz a manchete “Mais ciclistas, mais acidentes”. Dentro da reportagem, um especialista sugere: “Para não colocar a vida de quem pedala em risco, recomendo não usar a bike no trânsito de São Paulo. É uma opção segura de lazer em cidades menores, parques públicos e em ciclovias instaladas na capital, aos domingos.”

A reportagem, assinada pela assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde, deixa claro o tratamento dispensado à bicicleta em São Paulo. O governo do Estado não a trata como um meio de transporte, mas como uma brincadeira de fim de semana. Em vez de estimular o uso das duas rodas, o governo cria medo justamente em quem não é responsável pelos acidentes.

Um quadro de recomendações feito pela Companhia de Engenharia do Tráfego (CET) endossa a reportagem, jogando a responsabilidade dos acidentes nos ciclistas. “O aumento da velocidade implica maior risco, portanto não é uma boa prática no trânsito”, recomenda o órgão responsável pela segurança no trânsito.

O discurso do governo de São Paulo em dias normais contrasta com o do Diário Oficial de quarta-feira, dia 11. O governador Geraldo Alckmin propagandeia que integrou a bicicleta ao Metrô, com a possibilidade de carregá-la dentro dos trens. Mas só é possível fazer isso em horários restritos do fim de semana. Ou seja, a bicicleta continua sendo tratada como diversão de crianças que vão ao parque no final de semana e não um jeito de chegar ao trabalho.

No município de São Paulo, as atitudes também são fracas. O prefeito Gilberto Kassab prometeu construir 100 quilômetros de ciclovias na cidade em sua gestão. Há seis meses do fim de seu mandato, só entregou 18 quilômetros.

Seria ingênuo acreditar que a bicicleta sozinha solucionaria os problemas do trânsito paulistano e tornaria a cidade um lugar melhor. A cidade concentra os empregos em regiões distantes e milhões de pessoas a atravessam todos os dias. Não é possível pedir que alguém saia de bairros dormitórios na Zona Leste para trabalhar no centro de bicicleta, percorrendo mais de 30 quilômetros.

De qualquer forma, o Estado deveria estimular o uso de um transporte que traz benefícios à cidade. Em vez de criar uma cultura do medo e mandar o ciclista ficar em casa, deveria tornar a vida deles mais fácil.

Moradores de rua protestam contra proibição do sopão em São Paulo

29 de junho de 2012

Convite no Facebook para o “sopão da gente diferenciada” na Praça da Sé,
região central de São Paulo, no dia 6 de julho.

Larissa Leiros Baroni

A fila se forma antes mesmo de a van chegar. Alguns esperam ansiosos pela única refeição do dia; outros, mesmo que tenham almoçado, marcam presença como prevenção, já que não sabem o que os espera no dia seguinte. Há ainda aqueles que buscam um alimento quente para a noite fria da capital paulista, característica do inverno. Às 20h30 – em ponto –, os voluntários da Turma da Sopa chegam ao viaduto Condessa de São Joaquim, no centro de São Paulo, para servir cerca de 300 moradores de ruas.

As duas panelas de 50 litros demoraram menos de 40 minutos para acabar. Carne, abobrinha e batata eram alguns dos ingredientes da sopa de legumes, que transbordava seu cheiro por todo o quarteirão. Muitos pegaram a fila mais de uma vez. Teve até moradores que garantiram a marmita do dia seguinte – seja em um pote plástico ou em uma garrafa pet cortada ao meio.

A ação se repete sagradamente das segundas às quintas-feiras há aproximadamente 19 anos, conforme informou o voluntário Fernando Arruda, que coordenou a distribuição nos trabalhos da quinta-feira, dia 28.

Mas essa tradição pode estar ameaçada. A Secretaria Municipal de Segurança Urbana planeja acabar com o sopão nas ruas de São Paulo.

Segundo reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, a distribuição de sopas realizada por 48 instituições nas ruas do centro deverá ser proibida em um prazo de 30 dias. O sopão, de acordo com a proposta, passará a ser distribuído exclusivamente em uma das nove tendas da Prefeitura, conhecidas como espaços de convivência social, que atendem pessoas sem teto na capital.

A notícia, além de ter gerado protestos nas redes sociais e inspirado um “sopaço”, também causou alvoroço entre os moradores de rua. Ao identificarem a presença de nossa equipe no local, muitos – com o prato de sopa na mão – gritavam: “Fora Kassab”. Um deles até compôs uma música em forma de protesto: “Kassab vai para lá; não fica mais cá; em outro vamos ‘votá’“.

Para a aposentada Cecília Pereira dos Santos, 74 anos, o fim do sopão ou mesmo a transferência de sua distribuição seria “uma tragédia”. Ela sai diariamente do Butantã – onde mora sozinha e com apenas um salário mínimo e meio no bolso por mês – para ter direito a sua única refeição “robusta” diária. “Como a sopa e guardo o pão que eles oferecem de complemento para o café da manhã do dia seguinte”, conta ela, que lamenta ao se recordar que a ONG não atua três dias por semana. “Nesses dias? Tento me virar como posso.”

Cecília diz desconhecer o endereço das nove tendas da prefeitura, mas afirma que essa possível transferência deixará muitas pessoas, além de desabrigadas, com fome. “Se for muito longe, para mim vai ser inviável.”

A mesma indignação foi expressa por Priscila dos Santos, 19 anos, que mora na rua há cerca de um ano. “Além de não darem comida para a gente, querem proibir os outros de nos ajudarem?”, questiona ela, que diz comer no Bom Prato quando consegue juntar algum dinheiro, mas “quando estou dura o sopão é que me salva”.

O secretário de Segurança Urbana, Edsom Ortega, segundo publicação da Folha de S.Paulo, afirmou querer atrair os moradores de rua para os abrigos, que chegam a ter 2.800 vagas ociosas em alguns períodos do ano. Ao ser informada desta explicação, Priscila soltou uma gargalhada e disse: “Muitas vezes já fui procurar vaga em um albergue e ouvi dizer que o local estava cheio, mesmo sabendo de pessoas de dentro que estava vazio”, relata a moradora de rua.

Posição da prefeitura

Na quinta-feira, dia 28, depois da repercussão negativa da iniciativa, a Prefeitura divulgou uma nota na qual afirmou que a distribuição de alimentos não será proibida, apenas restrita.


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