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Recordar é viver: Em 1997 Aécio encaminhou projeto para convocar plebiscito. Agora é contra

31 de julho de 2013

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FHC e Aécio Neves afirmaram que a proposta de plebiscito para reforma política sugerida por Dilma é absurda, digna de “regimes autoritários”. Mas os dois já propuseram o mesmo que a presidente Dilma. O PPS também já pediu apoio da OAB para proposta de plebiscito sobre reforma política.

Via Os amigos do presidente Lula

A oposição do governo Dilma está batendo cabeça. Quando a presidente sugeriu plebiscito para decidir sobre Constituinte exclusiva o tucano Fernando Henrique Cardoso ganhou espaço generoso nas páginas de jornais para criticar a Dilma: “A proposta é própria de regimes autoritários”, afirmou o ex-presidente.

Mas, Fernando Henrique Cardoso não pensava assim quando ele, em duas ocasiões durante seu mandado defendeu, em duas campanhas eleitorais, a realização de assembleias constituintes exclusivas. Em 1994, o tucano propôs o instrumento para promover uma revisão constitucional. “Seis meses são suficientes para esses trabalhos. Basta ter vontade política”, disse, em junho daquele ano. Quatro anos depois, quando concorria à reeleição, o então presidente FHC defendeu a proposta de constituinte restrita com o objetivo de acelerar a aprovação das reformas tributária, política e do Judiciário.

Outro tucano que esqueceu o que disse e escreveu é o candidato á presidência Aécio Neves. No site da Câmara Federal é possível encontrar o PDC 580/1997, de autoria do então deputado federal Aécio Neves (PSDB/MG) de 1997. O projeto de decreto legislativo tinha como objetivo convocar plebiscito sobre assembleia nacional constituinte revisora a ser instalada em fevereiro de 1999. Na época da gestão FHC, Aécio Neves era uma das principais lideranças tucanas no legislativo e estava perfeitamente sintonizado com o governo tucano e seus objetivos.

Agora, quando a presidente Dilma lançou a proposta de plebiscito popular para fazer a reforma política no país, o candidato à presidência Aécio Neves (PSDB), com os presidentes dos partidos, Agripino Maia (DEM) e Roberto Freire (PPS), divulgaram nota na qual se declaram contra a proposta. Aécio Neves afirmou que a proposta apresentada por Dilma, de se convocar um plebiscito para criar uma Constituinte exclusiva para tratar da reforma política, é uma medida “perigosa” e “desnecessária”.

Roberto Freire, presidente do PPS, talvez não lembrou quando assinou a nota. Mas em 2009 o PPS pediu apoio da OAB para proposta de plebiscito sobre reforma política. O projeto foi entregue pelo deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE) ao presidente da época da OAB, Cezar Britto. O plebiscito deveria perguntar aos eleitores se o Congresso Nacional deve realizar uma reforma política ou não. Como se nota, parece que os três presidentes dos partidos de oposição ao governo Dilma têm problema de memória. Ou, esqueceram o que eles mesmos fizeram a bem pouco tempo atrás.

O povo pediu nas ruas e a presidenta Dilma atendeu: quer consulta popular, o plebiscito para reformar a política, já que no Congresso está travado há anos. Dilma se aliou ao povo, em seus desejos de mudanças para desintoxicar a política de seus vícios.

Um Poder Legislativo onde tudo está à venda

12 de julho de 2013

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Ao rejeitar fim do senador suplente, Congresso reafirma compromisso com práticas como “venda” de mandatos e boca de aluguel. Para faxina, Constituinte pode ser saída.

Maria Inês Nassif, no GGN

A votação de terça-feira, dia 9, no Senado, que derrubou projeto que eliminaria a figura do segundo suplente de senador e proibiria a escolha de parentes do candidato titular para a primeira suplência, e a articulação rápida dos partidos aliados na Câmara para derrubar o plebiscito sobre a reforma política, mostram que não era absurda a proposta da presidente Dilma Rousseff, de convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte exclusiva para fazer a reforma política. O erro foi tático – ter anunciado a proposta sem articulá-la antes com as forças que a apoiam e depois retirá-la quase que imediatamente. Mas foi uma boa visão estratégica. Os parlamentares que lidam com as questões relativas a mudanças nas regras atuais para as eleições de deputados e senadores sabem que as propostas encontram obstáculos intransponíveis num Congresso eleito por elas.

Um referendo que não seja antecedido de um plebiscito sobre os temas a serem abordados pela reforma é a melhor garantia para os atuais parlamentares de que nada vai ser mudado. Se, como no caso dos suplentes dos senadores, o Congresso se recusar a derrubar as coligações partidárias para as eleições proporcionais e manter inalterado o financiamento de campanha, nada poderá ser submetido a referendo porque nada foi mudado. Será a melhor forma de tudo permanecer exatamente como está.

No caso da suplência dos senadores, o projeto do Senado não caiu simplesmente porque chovem suplentes no plenário do Senado. A suplência é a forma mais eficiente de garantia de financiamento da campanha do senador titular. A primeira e a segunda suplência podem ser incluídas nos acordos com financiadores de campanha mais abonados para incluir representantes mais diretos de seus interesses, ou os próprios financiadores, sem que a eles seja pedido nenhum voto – basta que fiquem escondidos atrás da campanha do titular financiado pelo seu dinheiro.

Na Câmara, uma matéria de interesse direto para depurar o plenário dos políticos de negócios deve ter o mesmo destino. A bancada de deputados federais formada por um partido define quanto dinheiro ele vai dispor do Fundo Partidário e o tempo a que terá direito no horário eleitoral gratuito. Essa é a base da ambição dos chamados partidos de aluguel, aqueles que conseguem um registro definitivo e aparecem apenas na hora de negociar novamente o seu horário eleitoral com um candidato majoritário forte.

O pequeno partido “aluga” a sua parcela no horário eleitoral gratuito para um grande partido obrigando a legenda que terá o candidato na eleição majoritária (para presidente ou governador) a se coligar com ele nas eleições proporcionais; ou ainda “vendendo” (muitas vezes literalmente) seu horário para falar bem do candidato com quem negociou, ou mal do adversário do candidato. É o que se chama, na gíria política, de “boca de aluguel”: aquele que fala do adversário aquilo que o candidato não pode falar, sob pena de perder votos. No caso simplesmente de coligação para obter mais tempo de rádio e televisão, um segundo pode não fazer diferença para um candidato, mas a soma de minutos e segundos de vários partidecos podem dar a ele uma vantagem sobre o adversário principal que, em regra, nenhum deles despreza em sã consciência. É a origem daquela lista interminável de partidos que os candidatos devem declinar no horário eleitoral e que, para economizar tempo, o locutor fala muito depressa.

Quando aluga (às vezes também literalmente) o seu horário e faz a coligação proporcional, o pequeno partido passa a figurar na mesma lista partidária que os demais coligados. Com isso, escapa da única regra existente para limitar a existência de partidos que não tenham representação mínima na sociedade (uma cláusula de barreira, segundo a terminologia legal), que é o quociente partidário. Por lei, se um partido não obtém o quociente partidário, produto de uma complexa equação entre voto e eleitorado, ele não elege nenhum representante. Numa coligação proporcional, o quórum é definido pela soma dos votos dados a todos os partidos aliados. O quórum real do partido nanico simplesmente some no meio de uma imensidão de votos que não são seus.

Se o partido nanico sobreviveu graças a esse expediente, se perpetuará no quadro partidário, ganhando Fundo Partidário e horário eleitoral para vendê-los ou alugá-los na eleição seguinte, graças a outro benefício que têm com a coligação proporcional. Quando se coligam, passam a integrar uma mesma lista partidária para eleger seus deputados e senadores. Todos os votos de todos os partidos coligados vão para a mesma conta – e passam a fazer jus a uma porcentagem das cadeiras de deputados federais (ou estaduais, ou vereadores) a que a coligação tem direito. Se a coligação tiver direito a 30 deputados, eles serão eleitos pela ordem de votação – um deputado que tenha um milhão de votos até o trigésimo da lista, que pode ter apenas algumas centenas de eleitores. Nas últimas semanas, no horário partidário, um pequeno partido chamava para a legenda pessoas interessadas em se candidatar – e como vantagem apontava o fato de o partido ter elegido parlamentares com o menor número de votos do Brasil.

Com isso, os partidos nanicos, mesmo que não tenham representação, ao se coligarem a partidos fortes, acabam com grandes chances de eleger deputados federais. Garantindo uma bancada federal, continuam a ter direito a Fundo Partidário e ao horário eleitoral gratuito. E assim, mesmo sem ter nenhuma representatividade, acabam dando suas cartas nas eleições e depois no Legislativo – graças ao Supremo Tribunal Federal, eles têm garantido direito a liderança e participação nas comissões do Congresso e negociam seus votos dentro do Legislativo com o governo (normalmente são governistas) como qualquer outro da base aliada. De mordida em mordida, mantêm um sistema distorcido em sua representação.

Essa distorção foi tolerada durante algum tempo porque esses partidos são mais maleáveis a negociações rápidas, pois elas não dependem de definições doutrinárias. E também como um gesto de reconhecimento aos partidos que eram exceção à regra, como os comunistas e socialistas, que não tinham número de votos suficientes para sobreviver sozinhos, mas tinham uma representação ideológica na sociedade que a democracia não deveria desprezar.

Esses partidos pequenos, porém ideológicos, conseguiram vida própria nesses 28 anos de democracia, mas ainda assim essa é uma questão que, por interesses vários, inclusive dos pequenos, não anda. Se prevalecer a ideia de um referendo, sem que seja antecedido por um plebiscito, e a lei continuar a mesma, vale para as regras de coligações proporcionais a mesma coisa do que para a suplência do Senado: o que o eleitor vai referendar? Uma mudança que não aconteceu?

***

Senadores que votaram contra o fim dos suplente

Alfredo Nascimento (PR/AM)

Antônio Carlos Rodrigues (PR/SP) – Suplente

Ataídes Oliveira (PSDB/TO) – Suplente

Blairo Maggi (PR/MT)

Clésio Andrade (PMDB/MG) – Suplente

Eduardo Lopes (PRB/RJ) – Suplente

Epitácio Cafeteira (PTB/MA)

Gim Argello (PTB/DF) – Suplente

Ivo Cassol (PP/RO)

Jader Barbalho (PMDB/PA)

Jayme Campos (DEM/MT)

João Vicente Claudino (PTB/PI)

Roberto Requião (PMDB/PR)

Ruben Figueró (PSDB/MS) – Suplente

Sérgio Petecão (PSD/AC)

Wilder Morais (DEM/GO) – Suplente

Zezé Perrella (PDT/MG) – Suplente

Sérgio Souza (PMDB/PR) – Abstenção – Suplente

Dilma põe Temer na linha e ele diz que reforma política pode valer para 2014

4 de julho de 2013
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Temer, que de manhã esteve com Cardozo (esq.) e Ideli, voltou atrás na versão inicial. Foto de Antônio Cruz/Agência Brasil.

Horas depois de afirmar que regras seriam aprovadas no próximo ano para entrar em vigor em 2016, vice-presidente da República emite nota declarando apoio à proposta de Dilma de realizar plebiscito.

Via Rede Brasil Atual

O vice-presidente da República, Michel Temer, recuou na tarde de quinta-feira, dia 4, sobre a declaração dada pela manhã de que o plebiscito para a reforma política seria realizado apenas no próximo ano e que as mudanças aprovadas valeriam para as eleições municipais de 2016. Em nota, o peemedebista disse que as declarações dadas após reunião com ministros no Palácio do Jaburu refletem a opinião de alguns líderes da base governista tomando como fundamento a visão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de que é preciso 70 dias para organizar a consulta popular.

“Embora reconheça as dificuldades impostas pelo calendário, reafirmo que o governo mantém a posição de que o ideal é a realização do plebiscito em data que altere o sistema político-eleitoral já nas eleições de 2014”, disse Temer em comunicado, no qual afirmou que tem o compromisso de apoiar a proposta da presidenta Dilma Rousseff, anunciada durante reunião no dia 24 de junho com governadores e prefeitos de todas as capitais, de realizar a votação.

“Na reunião de hoje, foi unânime entre as lideranças dos partidos políticos o apoio a esta tese”, acrescentou, no momento em que o PMDB sinaliza com dificuldades para aprovar no Congresso a realização do plebiscito. O presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), trabalhou nos dois últimos dias com a versão de que sejam simplesmente aprovadas as propostas que estão na fila do Legislativo, sem consulta à população.

“Na próxima semana será realizada reunião com os líderes da base no Senado para reafirmação do apoio à tese e discussão da elaboração do decreto legislativo convocando o plebiscito”, finaliza Temer.

Mais cedo, a versão dele era outra: “Não há mais condições de fazer qualquer consulta antes de outubro e, não havendo condições temporais, qualquer reforma que venha, só se aplicará para as próximas eleições”, afirmou depois de conversar com os ministros Ideli Salvatti (Relações Institucionais), Aloizio Mercadante (Educação) e José Eduardo Cardozo (Justiça). “O que é inexorável tem que ser aceito.”

Sem conhecer a nova versão de Temer, o deputado federal Henrique Fontana (PT-RS), relator da proposta de reforma política que tramitou nos últimos anos, sem sucesso, pela Câmara, discordou da visão do peemedebista. “Talvez haja um mal-entendido. Se não for um mal-entendido eu expresso aqui minha opinião que é diferente do vice-presidente. Postergar o plebiscito para a eleição do ano que vem significa jogar um balde de água fria na reforma política. Eu tenho convicção de que o nosso governo, a presidenta Dilma querem fazer o plebiscito o quanto antes.”

O petista também lamentou a sugestão feita durante a reunião no Jaburu de que a consulta seja feita em paralelo ao segundo turno das eleições presidenciais de 2014. “A ideia de colocar o plebiscito junto com a eleição do ano que vem é a pior de todas. Porque é misturar um conjunto de perguntas que precisam de atenção da população, que os líderes políticos e jornalistas abram espaço para esclarecer a população. O melhor momento é neste ano, em setembro, outubro, novembro ou dezembro.”

Para que as regras fossem aplicadas em 2014, o plebiscito sobre a reforma política e o projeto modificando as normas eleitorais tinham de ser aprovadas até o dia 5 de outubro. A três meses para o fim do prazo, os parlamentares consideraram improvável fazer a consulta e aplicar as mudanças.

Hoje, em Salvador, Dilma Rousseff aproveitou discurso para agricultores para pedir envolvimento da população e disse que a questão agora está nas mãos do Congresso. “Desejo que nós, juntos, sejamos capazes de estar à altura do desafio que temos pela frente. Porque nós temos uma oportunidade de transformar de forma acelerada o nosso país. É agora que nós temos de fazer”, afirmou. “Tenta e força, tenta e força e teima, e acaba conseguindo.”

Em Brasília, o dia foi de declarações divergentes entre integrantes do governo, especialmente entre PT e PMDB. Calheiros voltou a citar dificuldades políticas em garantir a aprovação da proposta de Dilma: “Se ficar demonstrado que o plebiscito vai ter dificuldade de caminhar na Câmara, então todos temos que encontrar uma alternativa. Talvez a de fazer uma reforma a toque de caixa e submetermos à população, mas o fundamental, nessa circunstância, é ouvir a sociedade.”

Para o petista Henrique Fontana, discutir prazos neste momento não é correto e colocar em dúvida a necessidade de realizar a consulta popular não deve sequer ser debatido. “Eu acho que adianta e muito. Se estamos esperando há 18 anos, o que puder ser aprovado para 2014 é ótimo, e o que for aprovado para valer em 2016 é muito bom. O ruim mesmo é não votar nada, não fazer plebiscito e não mudar a política brasileira. A hora é de fazer a reforma.”

Dilma lista temas do plebiscito para reforma política

3 de julho de 2013

Via Agência Brasil

O governo federal apresentou na terça-feira, dia 2, ao Congresso as sugestões de temas para a formulação do plebiscito sobre a reforma política. São elas: a forma de financiamento das campanhas, do sistema eleitoral, a possibilidade do fim da suplência de senador, a manutenção das coligações partidárias e o fim do voto secreto nas votações do Congresso.

O documento foi entregue ao presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB/AL), pelo vice-presidente da República, Michel Temer, e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Temer ressaltou que a competência para elaboração do plebiscito é do Congresso Nacional. “O que o Executivo está fazendo é uma mera sugestão. Quem vai conduzir [o processo] do início até o fim é o Congresso”, frisou Temer.

O ministro da Justiça defendeu o plebiscito como forma de o povo participar mais ativamente da elaboração das diretrizes de uma reforma política, o que não ocorreria com um referendo, como sugere os partidos de oposição.

“Acho que o plebiscito dá as diretrizes e os alicerces [da reforma]. O detalhamento quem dá é o Congresso. Acredito que o povo, ao ser consultado, tem total condições de dizer que sistema eleitoral ele quer para eleger as pessoas. Isto é de fundamental importância: que o povo participe”, disse Cardozo.

A possibilidade da consulta popular para pontos da reforma política foi uma das sugestões dadas pela presidenta Dilma Rousseff em respostas às manifestações populares das últimas semanas.

Clique aqui para ler a íntegra do documento.

Plebiscito12_Referendo

Globo veta plebiscito: “Não vale para 2014.”

3 de julho de 2013
Plebiscito11_Referendo

Surrupiado do CNN – Coxinha News Network.

Fernando Brito, via Tijolaço

São 20 horas [2/7] e a mensagem de Dilma propondo o plebiscito já caiu das principais chamadas dos sites de notícias. No lugar dela, a morte do projeto da “cura gay”.

Espero um pouco mais e vem o Jornal Nacional. Lá no fim, depois de uma imensa reportagem sobre a indústria em queda e a inflação em alta, vem a matéria sobre o plebiscito. O vice-presidente Michel temer só falta pedir desculpas por ter levado a proposta de Dilma ao Congresso. Os líderes da base “não tão aliada” querem que isso vire referendo para 2014.

Aecinho, pontificando, diz que Dilma mandou uma proposta que até ela sabe que não é possível viabilizar. Os líderes acharam tudo complicado e só vão falar isso na semana que vem.

Depois, destaque na nota do TSE de que, se o Congresso não implementar, até o início de outubro, o resultado do plebiscito “não haverá efeitos, no pleito eleitoral subsequente, o que pode ser fator de deslegitimação da chamada popular”. Claro, não houve menção ao final da nota, onde a ministra Carmen Lúcia e os 27 presidentes de TREs dizem que “o sonho do povo brasileiro é a democracia plena e eficiente. O dever do juiz é garantir o caminho do eleitor para que o sonho venha a ser contado para virar a sua realidade. O juiz não se descuida do poeta. É a sua forma de atentar ao eleitor, única razão de ser da Justiça Eleitoral”.

Dois ex-ministros do TSE aparecem para dizer que “não haverá tempo”. Resumo de tudo, nas palavras do líder do PT na Câmara, José Guimarães: “Quando se quer, dá tempo; quando não se quer, não dá.”

Alguém acha que o Congresso quer reforma? E assim, ficamos com nossa triste ordem democrática, onde o povo votar e decidir qualquer coisa diferente do interesse de suas elites é inviável.

Breno Altman: Referendo é cambalacho contra reforma política

1 de julho de 2013

Plebiscito06_LogoBreno Altman, via Brasil 247

Os principais partidos de oposição não tardaram em manifestar seu ponto de vista sobre a proposta presidencial de plebiscito. A nota assinada por PSDB, PPS e DEM propõe, ao revés, a convocação de um referendo. O parlamento resolve em suas coxias as novas regras político-eleitorais, para depois consultar, nas urnas, a cidadania.

A explicação oficializada pela direita: muito complicado submeter ao voto popular o conjunto de questões que determinam a reforma política. A conclusão desse raciocínio é que seria bem mais prático forjar um acordo entre deputados e senadores, deixando aos eleitores apenas a missão de aceitar – ou não – o pacote já fechado para embrulho.

Os oposicionistas não conseguem esconder seu desgosto com uma iniciativa que pode produzir duplo resultado. O primeiro é a radicalização da democracia, com o desmonte do sistema que garante maioria parlamentar aos grupos conservadores. O segundo: frustrar o plano de ver a presidente e seu partido enfrentando o longo desgaste de uma crise sem fim.

Manter a discussão sobre reforma política no Congresso constitui manobra para amarrar as mãos de Dilma, com o intuito de deixa-la ser fritada pela escalada de protestos e reivindicações. Afinal, não é mais possível, com a atual correlação de forças nas duas casas legislativas, avançar seriamente em medidas distributivistas, ampliação de direitos e fortalecimento do Estado (incluindo os serviços públicos justamente demandados pela cólera popular).

Vozes mais afoitas do reacionarismo, especialmente na imprensa tradicional, rechaçam o plebiscito como “bolivariano” ou “chavista”, apesar de esse instrumento estar previsto na Constituição. Além de revelarem aversão à soberania das urnas, preferindo o cambalacho dos palácios, tornam pública sua intenção de defender o sistema eleitoral que mais lhes interessa.

A preferência confessa no conservadorismo é pelo voto distrital. Se não der para emplacar, melhor deixar tudo como está. A lógica parece simples. O voto em lista aprofunda o confronto de programas, desfaz laços de clientelismo e reduz a individualização da política. Pelos cálculos da direita, esse ambiente seria claramente favorável aos partidos de esquerda, que poderiam até formar uma nova maioria.

O voto uninominal, com financiamento empresarial, tem sido bom antídoto para amenizar cenários de confronto político-ideológico. O caminho fica livre para candidatos a deputado, alavancados por fartos recursos financeiros, estabelecerem identidade de favores e providências paroquiais com seus eleitores.

Essa é uma das razões fundamentais pelas quais, apesar do PT ter elegido três vezes o presidente da República, a esquerda não representar sequer um terço do Congresso. A engenharia política vigente multiplica o peso dos parlamentares ideologicamente nanicos e dissemina a cultura do personalismo fisiológico por todas as agremiações.

O voto distrital tornaria os deputados uma espécie de vereadores servindo na capital da República. Tornaria as campanhas eventualmente mais baratas, pois limitaria a circunscrição eleitoral, mas aprofundaria a despolitização e a fragilidade dos partidos, além de deformar a proporcionalidade. Uma legenda cujos candidatos fizessem 51% em todos os distritos, por exemplo, teoricamente poderia obter 100% das cadeiras legislativas. Como já aconteceu na Inglaterra, para citar caso menos radical, agrupamentos com 15% ou 20% dos votos nacionais poderiam ficar sem representação.

Os partidos conservadores, por isso mesmo, tratam de embaralhar as cartas e pressionar os aliados mais flácidos do governo, ao lançar a proposta de referendo. O risco de mudança no sistema, potencializado por plebiscito que condicione o Congresso, amedronta os que apostam no isolamento da presidente ou investem em mantê-la sob chantagem de bancadas estrategicamente antagônicas a seu programa.

A operação da direita, nessas circunstâncias, visa emparedar a reforma política nos corredores onde se encontra travada há vinte anos. A discussão pública desse tema não é confortável para quem quer, ainda que algo mude, deixar tudo como está.

Breno Altman é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samuel.


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