As corporações jornalísticas ignoraram o escândalo do Supremo e prestaram um desserviço a seus leitores.
Paulo Nogueira, via Diário do Centro do Mundo
As mordomias do STF são um assunto de grande interesse público. Elas revelam como a mais alta corte do País trata o dinheiro do contribuinte. Não existe pudor, não existe parcimônia: os juízes viajam de primeira classe e podem levar acompanhante desde que julguem “necessário”. Como eles fazem as regras, é tudo legal, mas imoral e abjeto.
Essas mordomias são notícia de alta importância, naturalmente. Mas não para a mídia, excetuado o Estadão, que revelou as mamatas. E isso conta tudo sobre o farisaísmo da mídia. Notícia é o que serve a seus interesses particulares. O resto não é notícia.
Colunistas sempre rápidos em despejar sentenças moralistas vulgares sobre seus leitores simplesmente não tiveram uma palavra para o escândalo. Fui verificar o que tinha a dizer, por exemplo, Ricardo Noblat, em seu blog. Nada.
Fui verificar o que tinham a dizer os colunistas do site da Veja, Augusto Nunes, Ricardo Setti e Reinaldo Azevedo. Nada, nada a nada, respectivamente.
Um tratamento bem diferente mereceu Marilena Chauí por dizer verdades que cabem a eles todos, campeões do pensamento rasteiro da classe média. Reinaldo Azevedo, ao tratar do discurso em que Chauí criticou a classe média, fez questão de levianamente, sem dados e sem nada, invocar o dinheiro que ela ganharia por conta dos livros do MEC. Havia apenas insinuação, havia apenas maldade, havia apenas a confiança de que seu leitor é tão tapado que vai aceitar o conto do MEC sem recibo e sem comprovação.

Apenas a casa de Thatcher é avaliada em mais de US$10 milhões, mas segundo Azevedo ela “morreu pobre”.
Tratamento bem diverso teve, do mesmo Azevedo, Maggie Thatcher. Numa eulogia disparatada, Azevedo afirmou, no grande final, que Thatcher morreu pobre. Na pobreza de Thatcher estaria a prova suprema de suas virtudes de estadista.
Mais uma vez, Azevedo acreditou que é fácil engambelar seus leitores.
Porque apenas a casa de Thatcher na região mais nobre de Londres é avaliada em mais de 10 milhões de dólares.
Não é informação nova, e sim antiga.
Thatcher só não fez uma fortuna maior porque os problemas mentais logo a impediram, saída do cargo, de realizar palestras e dar consultoria a empresas como a Philip Morris.
O filho de Thatcher, Mark, amealhou uma considerável fortuna com comissões de grandes negócios feitos pelo governo da mãe com outros países.
Mas Thatcher morreu pobre no Planeta Azevedo, e Marilena, ela sim, é rica.
Moralismo, quando é seletivo, é hipocrisia mistura a cinismo. Destina-se não a corrigir desvios éticos, mas a tirar proveito da boa-fé dos chamados inocentes úteis.
O escândalo do STF, ignorado pela mídia, é apenas mais uma página de um conjunto de atitudes em que a vítima é a sociedade.