Posts Tagged ‘Pacto Nacional pela Saúde’

Paulo Moreira Leite: O extremismo dos doutores

12 de julho de 2013

Medicos13_ProgramaO mais equipado posto de saúde é apenas um hotel de luxo sem a presença de um médico. Uma simples garagem pode ser um consultório razoável se contar com um médico para atender quem precisa de seus serviços.

Paulo Moreira Leite em seu blog

No início deste ano, centenas de prefeitos – quase a metade dos municípios do País – tiveram um encontro em Brasília com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. O boletim da Frente Nacional dos Prefeitos resumiu o espírito do encontro na manchete da edição de maio: “Prefeitos cobram do ministro da Saúde ações para a contratação de médicos estrangeiros”.

Não é só. Um abaixo-assinado de apoio à contratação de médicos recebeu o autógrafo de 2.500 prefeitos, que governam quase a metade das cidades brasileiras – e só não evoluiu para um número maior porque a Frente concluiu que já havia atingido um número suficiente para uma demonstração de força.

Não é surpresa, assim, que a cerimônia de lançamento do programa Mais Médicos, ocorrida no Palácio do Planalto já tenha entrado para a história do governo Dilma Rousseff como um episódio relevante de seu mandato. O Palácio do Planalto estava cheio e em boa temperatura. Os aplausos que acompanharam diversos discursos não eram 100% ensaiados nem pura bajulação, como sempre ocorre nessas horas. Refletiam uma preocupação dos prefeitos do país, responsáveis – na ponta – pelo funcionamento de um sistema de saúde pública conhecido por ótimas intenções mas resultados nada empolgantes. Para quem ainda não entendeu como a política funciona na vida real, ali estava a demonstração dos vasos comunicantes entre as várias esferas da administração pública, indispensáveis para que um projeto de interesse universal e alcance amplo possa dar certo. Quem rastrear a história do Bolsa Família irá descobrir que este imenso programa de distribuição de renda só deixou o plano das utopias e entrou na vida real de 12 milhões de famílias depois que foi assumido pelas prefeituras.

Este antecedente indica que o Mais Médicos pode funcionar, pois responde a uma necessidade real, mas não é garantia de nada. O apoio dos prefeitos é um ótimo ponto de partida, mas o Planalto terá de aprovar sua medida provisória no Congresso, derrotando diversos adversários do plano, tanto aqueles que respondem a razões políticas e ideológicas, como aqueles que já procuram pescar nas correntezas ainda turvas da sucessão presidencial – e tentarão criar dificuldades para o governo de qualquer maneira.

Mas a necessidade óbvia de atender à saúde da população mais pobre pode criar condições para um debate bem-sucedido, capaz de deixar claro para os adversários que o desgaste pela oposição ao projeto causará um prejuízo nada compensador aos olhos da maioria do eleitorado.

Não tenho formação nem condições de entrar num debate detalhado sobre as mudanças anunciadas pelo governo, ontem. Como linha geral, elas representam uma tentativa de dar novas prioridades na formação e tratamento dos médicos brasileiros. Além de poucos médicos em relação ao número de brasileiros, o Brasil tem médicos formados de acordo com as conveniências do mercado privado de saúde, que procura especialidades mais rentáveis e mais promissoras para suas respectivas carreiras – mas que nem sempre são aquelas que atendem às necessidades da maioria da população.

Chamado a administrar imensos recursos públicos envolvidos na formação de um médico – o cálculo é de R$800.000 per capta – o governo coloca-se no direito de definir para onde vai encaminhar seus doutores e suas prioridades. Você acha errado?

Eu não acho. Em nosso sistema, os governantes são eleitos justamente para fazer isso.

O errado seria manter aquilo que está aí.

A crítica das entidades médicas ao projeto já passou de uma postura racional. O centro de suas críticas se concentra na contratação de médicos estrangeiros, o que só seria um argumento a ser ouvido a sério se nossos doutores estivessem brigando por postos de trabalho para si ou para outros profissionais – brasileiros – fora do mercado. Poderiam ser acusados de corporativismo. Mas não. Eles não querem as vagas que o governo oferece e também não querem que elas sejam ocupadas por médicos estrangeiros.

O resultado prático de sua postura é impedir que milhões de brasileiros tenham acesso ao atendimento – mesmo precário, em muitos casos – que poderiam receber.

É uma atitude nociva, do ponto de vista social, e errada, como opção política. Eu vivia na França quando a extrema-direita de Jean-Marie Le Pen fez sua aparição na cena política. Seu movimento tinha um conteúdo racista e violento, mas é bom reconhecer que o discurso não excluía o estrangeiro. Dizia, apenas, que os franceses deveriam ter prioridade sobre os estrangeiros. Não se proibia argelinos nem marroquinos de ocupar empregos que os franceses não desejavam – em linhas de montagem na indústria, por exemplo – nem se queria impedir que tivessem acesso ao serviço social. A bandeira do Front National era pela preferência. Ele dizia: “os franceses em primeiro lugar.”

Nossos médicos têm uma postura mais extrema. Dizem “nunca” para os estrangeiros, exigindo que sejam aprovados num tipo de exame, Revalida, que contém dificuldades jamais oferecidas aos médicos brasileiros para formar-se no país.

O argumento de que não basta contratar médicos – é preciso investir em infraestrutura, medicamentos e outras melhorias – fala de uma questão real, mas de modo falacioso.

Se todos esses investimentos são bem-vindos e necessários, é óbvio que não se pode resolver todos os problemas criado por um histórico de passividade e abandono como se fosse possível tirar um coelho da cartola.

É absurdo negar que a simples presença de um médico numa localidade onde não existe um único profissional de saúde já faça uma diferença decisiva, como reconhece qualquer cidadão que já andou pelo interior do país. O mais equipado posto de saúde é apenas um hotel de luxo sem a presença de um médico. Uma simples garagem pode ser um consultório razoável se contar com um médico para atender quem precisa de seus serviços.

O debate começou.

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Governo federal lança programa para que os brasileiros tenham uma saúde de qualidade

Folha mente: Brasil continua as negociações com Cuba para contratação de médicos

11 de julho de 2013
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Alexandre Padilha lança programa para contratação de médicos estrangeiros.

Via Correio do Brasil

Não procede a informação de que o Ministério da Saúde tenha paralisado negociações com o governo cubano para a contratação de médicos formados naquele país. Segundo a assessoria de Comunicação Social do ministro Alexandre Padilha, ao Correio do Brasil, “o programa lançado na segunda-feira, dia 8, não traz qualquer alteração na política de contratação de médicos do exterior, nem em relação a Cuba ou qualquer outro país”.

O desmentido ocorre sobre uma matéria publicada no diário conservador paulistano Folha de S.Paulo, na qual a repórter Flávia Marreiro afirma que “o Brasil paralisou as negociações com Cuba” para a contratação de 6 mil médicos cubanos.

“Não sei de onde a repórter tirou essa informação. Aqui na assessoria [de imprensa] não foi, e em nenhum outro segmento do Ministério, pois o programa lançado pelo ministro na tarde desta segunda-feira está pronto e não traz, de forma alguma, essa informação”, afirmou a jornalista que conversou com a reportagem do CdB.

A Folha também afirma que “nem o Ministério da Saúde nem o Itamaraty, que havia anunciado a tratativa em maio e agora diz que ela está congelada, explicam as razões da mudança de planos”. Mas a resposta do Itamaraty foi ainda mais contundente.

“Isso é tudo invenção. A repórter já ligou com a matéria pronta. Por mais que disséssemos serem improcedentes todas as informações que ela apresentava, de nada adiantou”, afirmou a assessora do Ministério das Relações Exteriores, ao CdB.

Ainda de acordo com o Itamaraty, compete à chancelaria brasileira viabilizar os trâmites legais e as negociações entre os governos brasileiro e cubano para a contratação dos profissionais, “mas em momento algum é tarefa do Ministério das Relações Exteriores traçar a política pública de saúde do país”, acrescentou.

A informação da Folha, de que “a desistência do Brasil é um revés para Havana, que tem dito que o envio dos médicos ao exterior é sua maior fonte de divisas e deseja ampliá-lo” também foi categoricamente desmentida por alta fonte do governo cubano próxima às negociações, ouvida por telefone pela reportagem do CdB, em condição de anonimato.

“Em nenhum momento houve a suspensão das negociações com o governo cubano para o envio dos médicos ao Brasil. Aqui [em Havana], a notícia sequer repercutiu, pois os preparativos para a viagem dos profissionais que seguirão ao Brasil seguem normais, sem nenhuma intercorrência. Ao contrário do que disseram aí [no Brasil], estão todos muito felizes em poder contribuir para a saúde dos nossos irmãos brasileiros”, afirmou.

O programa de contratação de médicos estrangeiros, em curso no Ministério da Saúde, também buscará profissionais de outros países, como Espanha e Portugal.

“Não há exclusão de nenhum país, exceto aqueles que tenham uma relação médico/habitante menor do que a do Brasil. Esta é a única condição impeditiva para a contratação de profissionais de saúde de outras nacionalidades”, concluiu a assessoria do Ministério.

Governo federal lança programa para que os brasileiros tenham uma saúde de qualidade

11 de julho de 2013

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Via Blog do Planalto

A presidenta Dilma Rousseff disse na segunda-feira, dia 8, no Palácio do Planalto, ao lançar o Pacto Nacional pela Saúde, que dedicará o melhor de seus esforços para que os brasileiros tenham uma saúde de qualidade dentro do prazo mais curto possível. Entre as medidas anunciadas pela presidenta estão a criação de novas vagas nos cursos de medicina e um ciclo de dois anos para atuação na atenção básica e nos serviços de urgência e emergência. Com as medidas, o Brasil sairá de 374 mil para 600 mil médicos em 2026.

“Talvez o maior desafio de todos é suprir essa rede com profissionais em quantidade suficiente para atender com qualidade todas a população. Não apenas aos que têm a sorte de morar perto de hospitais públicos de referência, UPAS 24 horas ou de pagar pelo seu atendimento. Mas atender também os que vivem nas periferias mais desassistidas, aos que moram nas cidades pequenas, nas cidades médias, aos que moram em todas as regiões”, afirmou.

Também serão investidos R$7,4 bilhões já contratados para construção de 818 hospitais, 601 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs 24h) e de 15.977 unidades básicas; além do programa Mais Médicos, que garantirá a presença de médicos em regiões carentes, tais como os municípios do interior e as periferias das grandes cidades. Segundo Dilma, o objetivo do pacto não é trazer médico do exterior, mas sim levar mais saúde para o interior do Brasil e para a periferia das grandes cidades.

“Eu acredito no interesse dos jovens médicos brasileiros pela proposta que fizemos de trabalhar nas periferias e nas regiões mais afastadas. (…) Mas se não tivermos o número suficiente de médicos brasileiros para preencher todas as vagas disponíveis, nós buscaremos médico onde tiver bons médicos. Esse é o compromisso do meu governo. Essa é a nossa determinação. Nos interessa interiorizar e assegurar, em cada estado, em cada cidade, em cada residência, a garantia de um atendimento médico”, afirmou.

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A ampliação do número de médicos no Sistema Único de Saúde é fundamental, afirma Dilma

Via Blog do Planalto

A presidenta Dilma Rousseff, na coluna Conversa com a Presidenta de terça-feira, dia 9, detalhou o programa Mais Médicos, que faz parte do Pacto Nacional pela Saúde, e foi anunciado, em cerimônia no Palácio do Planalto. Dilma, que lembrou dos investimentos de R$12,9 bilhões na construção, reforma e compra de equipamentos para postos de saúde, Unidades de Pronto Atendimento e hospitais, afirmou que a ampliação do número de médicos do Sistema único de Saúde (SUS) é fundamental.

“Temos um grande número de médicos comprometidos atendendo pelo SUS, mas ainda em número insuficiente para garantir o atendimento adequado em toda a rede pública. Na medida em que fiquem prontas as novas unidades de saúde que estamos construindo, vamos precisar de mais médicos. Por isso, vamos ampliar a formação de médicos, inclusive especialistas. Nos dois anos e meio do meu governo, criamos 2.400 novas vagas nos cursos de Medicina e vamos continuar aumentando as oportunidades para os nossos jovens brasileiros. Vamos abrir, até 2017, mais 11 mil vagas nos cursos de graduação e 12 mil vagas na residência médica para formar especialistas que estão em falta no Brasil, como pediatras, neurologistas, ortopedistas, anestesistas, cirurgiões e cardiologistas”, explicou.

A presidenta afirmou que o programa combinará duas iniciativas, selecionando os municípios que vão receber os novos médicos e incentivando os profissionais brasileiros a trabalharem nas regiões mais afastadas do país e nas periferias das grandes cidades. Segundo Dilma, as cidades candidatas precisaram ter postos de saúde em perfeitas condições de receber os médicos imediatamente. Onde essa não for a realidade, os prefeitos terão que assumir o compromisso de acelerar a construção reforma e ampliação das unidades básicas de saúde.

“O governo federal vai pagar uma bolsa de R$10 mil por mês para o médico que participar do programa, por 40 horas semanais. O pagamento será feito pelo Ministério da Saúde, que dará, ainda, uma ajuda de custo conforme a região na qual o médico for se estabelecer. O governo federal pagará outros R$4 mil para reforçar equipes de saúde integradas por enfermeiros e técnicos de enfermagem. Caso as vagas disponíveis não sejam todas preenchidas por médicos brasileiros, vamos contratar médicos estrangeiros, bem formados, experientes, que falem e entendam a nossa língua, inclusive os médicos brasileiros que se formaram no exterior”, acrescentou.

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Padilha fala sobre programa para interiorização dos médicos

Via Blog do Planalto

No programa Bom dia, Ministro de quarta-feira, dia 10, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, falou sobre o Programa Mais Médicos, e destacou que o programa dá prioridade para participação dos médicos brasileiros. Os médicos que atuam no Brasil terão até 25 de julho para se inscrever. Após esse período, se ainda sobrarem vagas, profissionais de outros países serão convidados.

“No caso do médico que atua no país o critério é ter seu registro profissional, estar atuando no país, não ter nenhuma queixa por conta do seu histórico de trabalho e não pode estar trabalhando na atenção básica de um município. Vai poder ter a supervisão de uma universidade, vai fazer todo o processo de especialização, toda a formação que é oferecida, além de receber R$10 mil por mês e mais uma ajuda de deslocamento dependendo da região para onde ele for”, explicou.

O ministro também relembrou os critérios para que os municípios se candidatem a receber profissionais médicos pelo programa. Segundo Padilha, as capitais e as regiões metropolitanas que têm unidades de saúde na periferia, nos bairros mais pobres e os municípios do interior têm maior carência de profissionais.

“Os municípios que ficam na região de fronteira do país e os municípios que ficam no conjunto da reunião amazônica ou que têm população indígena e populações rurais, mas qualquer município pode se inscrever, e mostrar uma unidade de saúde, sobretudo na região mais pobre do município que possa ter carência de médicos”, disse.

Acompanhamento

Para garantir a qualidade do atendimento na saúde, os médicos que vierem serão recebidos por universidades públicas, que deverão avaliar a formação profissional, e checar a compatibilidade do diploma com o currículo brasileiro. A universidade terá um supervisor e um tutor que acompanharão o trabalho do médico.

Os profissionais terão um registro provisório que dá uma autorização exclusiva para atuar no Programa e responderão pelos questionamentos éticos e sobre a conduta. Poderão trabalhar até três anos dentro do programa de especialização feito pela universidade brasileira.

Segundo ciclo

O ministro também falou da importância de o Brasil estar implementando um novo ciclo no curso de Medicina, com a inclusão de dois anos de treinamento em serviço na atenção básica, urgência e emergência, como já fizeram países da Europa e em outras regiões do mundo. Segundo Padilha, existe uma preocupação com a formação dos médicos brasileiros, para que tenham uma experiência mais integral, generalista.

“Hoje o estudante de medicina faz seus dois últimos anos num hospital altamente especializado, às vezes ele vê o paciente um dia só, poucos dias, não sabe o que é tratar uma pessoa fora de um hospital. A maior parte dos problemas de saúde devem ser resolvidos fora do hospital. Queremos oferecer à população médicos mais bem formados, com a visão mais humanista, que saiba examinar uma pessoa, que não tenha medo disto, que não fique dependente só de máquinas e equipamentos.”


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