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O avanço da direita fanática no SBT

10 de fevereiro de 2014
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Propaganda do mestre numa concessão pública.

Paulo Nogueira, via DCM

O episódio Sheherazade jogou luzes sobre o tipo de jornalismo feito por Sílvio Santos no SBT. O baixo Ibope fez com que ninguém prestasse atenção à linha editorial do SBT.

Hoje, o jornalismo do SBT é uma máquina vibrante e histérica de propaganda de direita fanática. Tudo isso se faz sem que sejam questionados os limites do que você pode fazer numa concessão pública como é o caso das emissoras de televisão.

Vale tudo? É o que parece.

Sheherazade está longe de ser um caso isolado no SBT. Ela tem uma espécie de irmão gêmeo num comentarista da afiliada do SBT em Curitiba, Paulo Eduardo Martins. Ele se dedica em regime de 24 por 7 a louvar a direita e a dar cacetadas na esquerda. Num comentário, ele se referiu a Che Guevara como um “porco comunista”.

Em dois outros, ele vendeu livros de extrema direita. Um de Olavo de Carvalho, um homem de “inteligência sublime”, e outro de seu discípulo Rodrigo Constantino.

Quer dizer: uma concessão pública está sendo usada para fazer propaganda de extrema direita – sem que ninguém pelo menos debata se isso pode.

Admiradores de Martins, talvez instigados por ele mesmo, fazem pressão agora para que Sílvio Santos o coloque no SBT nacional ao lado de Sheherazade.

Circula até um abaixo assinado na internet endereçado ao chefe de jornalismo da emissora.

O jornalista Lino Bocchini, num artigo sobre Sheherazade, notou a responsabilidade do governo em não fazer nada para ao menos levantar a discussão sobre casos de incitamento ao ódio na televisão.

Alguma autoridade deveria ao menos se pronunciar sobre o caso para dizer algo do gênero: “Ei, estamos vendo isso, e não nos agrada muito.”

Lembremos que, ao fim, a pregação ultradireitista é dirigida claramente contra o PT e, por extensão, contra os brasileiros que elegeram o partido nas urnas. Com a omissão do governo, a brigada de ultradireita vai avançando na mídia corporativa.

Na Veja, foi como se Roberto Civita saísse por uma porta para que Olavo de Carvalho entrasse por outra. No SBT, Sílvio Santos não precisou sair por porta nenhuma para que o mesmo acontecesse. Certamente ele a abriu para o pensamento de extrema direita.

O avanço dos ultraconservadores é uma ameaça à democracia, como sabemos pelas trágicas lições de 1954 e 1964. Que concessões públicas sejam utilizadas para promover escancaradamente uma causa tão sinistra é algo que desafia a inteligência e o bom senso mais elementares.

O chefe da direita para dummies

8 de fevereiro de 2014
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Olavo de Carvalho, o príncipe do idiotas.

Paulo Nogueira, via Diário do Centro do Mundo

A direita brasileira está sem farol há muitos anos. Mais precisamente, desde a morte de Roberto Campos, em 2001. Não que o Brasil tenha em algum momento produzido expoentes mundiais do pensamento conservador, gente do nível de Hayek e Mises, ou mesmo de Milton Friedman.

Mas, ainda que longe de Nobéis ou coisa do gênero, o Brasil teve no século passado representantes ilustres da direita: Eugênio Gudin, Octávio Bulhões, Roberto Campos e Mario Henrique Simonsen.

Não por coincidência, todos eles ocuparam posições de destaque no comando econômico dos governos militares depois do golpe de 1964. Fizeram o que se esperava que fizessem: contribuíram poderosamente para tornar o Brasil um campeão mundial da desigualdade social. Administraram economias de ricos, por ricos e para ricos.

Terminada a ditadura, os economistas da direita perderam o poder. Mas continuaram a divulgar suas ideias na mídia, sempre generosa em conceder espaço a eles.

Com a morte do último dos conservadores notáveis, Roberto Campos, o pauperismo tomou de assalto o pensamento de direita. Não houve reposição no mesmo nível de antes.

Foi neste vazio que cresceu Olavo de Carvalho. Ele não tem o gabarito intelectual Gudin ou Simonsen, mas, talvez por isso mesmo, é mais fácil de ler. Quem não é afeito a leituras tem a alternativa de ouvi-lo em vídeos postados no YouTube.

Em consequência de tudo isso, ele acabou tendo apelo sobre pessoas de capacidade limitada de absorção de ideias mais complexas. A direita se vulgarizou com ele. Com Olavo de Carvalho tomou vulto no Brasil o que podemos definir como direita para dummies.

Olavo de Carvalho é, hoje, uma espécie de chefe de seita para a direita brasileira, incluídos aí analfabetos políticos que costumam ziguezaguear ao sabor dos ventos e dos modismos.

Uma peça importante no marketing de Olavo de Carvalho é a autocaracterização como “filósofo”, título que a rigor qualquer pessoa pode reivindicar desde que faça pose de pensador com alguma regularidade.

“Filósofo” lhe confere um ar doutoral que tem mesmeriza seus discípulos usuais. Morar nos Estados Unidos, ainda que numa cidade remota, é outro fator que ajuda na imagem dele perante sua manada.

(Ele se apresenta como correspondente nos Estados Unidos do DCI, jornal de Guilherme Afif, integrante do ministério de Dilma. É mais uma mostra da confusão ideológica do governo e dos rumos estranhos da chamada governabilidade.)

O poder de Olavo de Carvalho na nova direita brasileira se manifesta nos vários seguidores – ou ex-seguidores porque o chefe é encrenqueiro e dado a rupturas – presentes na mídia. Três deles estão na Veja: Rodrigo Constantino, Lobão e Felipe Moura Brasil. Este último compilou frases do guru e as transformou num livro lançado recentemente.

O número expressivo de aprendizes de Olavo de Carvalho na Veja faz supor que sua pregação esteja chegando à nova geração da família Civita, os irmãos Gianca e Titi. Editorialmente, a impressão que se tem é que saiu Roberto Civita e entrou Olavo de Carvalho na Veja.

Outro seguidor conspícuo dele na mídia é a comentarista de tevê Rachel Sheherazade, do SBT. Há poucos dias, em sua página no Facebook, Olavo de Carvalho conclamou sua tropa a “gostar” de um vídeo no YouTube no qual Rachel dava uma cacetada nos rolezinhos. Zeloso, ele contabilizou depois o número de aprovações registradas no vídeo de Rachel, e comemorou com os fiéis.

Há na pregação de OC um fundamentalismo que remete aos pastores evangélicos. Também isso atrai um tipo de seguidor que quer certezas definitivas sem mergulhar nas asperezas das dúvidas existenciais.

Num artigo, Euclides da Cunha definiu assim o marechal Floriano Peixoto: cresceu não porque fosse grande, mas porque acontecera uma depressão a seu redor. O mesmo vale para Olavo de Carvalho. No deserto que caracteriza o pensamento de direita no Brasil destes dias, ele acabou por se tornar a principal referência no conservadorismo.

Keynes escreveu que todo economista é filho de algum economista morto. No Brasil de hoje, todo reacionário é filho de um reacionário vivo: Olavo de Carvalho.

Os pernilongos que zumbem em defesa de Olavo de Carvalho

5 de novembro de 2013
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Nosso “filósofo”.

Paulo Nogueira, via Diário do Centro do Mundo

Uma das passagens de filosofia de que mais gosto é de Marco Aurélio, em suas Meditações. É um pequeno grande livro de cunho extremamente prático, produzido pelo imperador-filósofo em acampamentos militares no calor das guerras que os bárbaros impunham aos romanos no início da Era Cristã.

Marco Aurélio, no trecho de que falo, dava o seguinte conselho: “Jamais esqueça, ao acordar, que você vai encontrar ao longo do dia pessoas insolentes, ignorantes, maldosas.” A lista de defeitos ia adiante, e Marco Aurélio os atribuía à falta de sabedoria própria de mentes nada filosóficas.

Pensei na advertência de Marco Aurélio ao deparar, na manhã de sábado, dia 2/11, com uma quantidade imensa de fanáticos seguidores do “filósofo” Olavo de Carvalho. Inoportunos, grosseiros, indesejados, eles abarrotavam a caixa de comentários do DCM como pernilongos.

Estavam incomodados com um texto em que disse que infeliz é o país cujos “filósofos” mais conhecidos são OC e Pondé.

Por trás deles e de sua solidariedade brutal e tosca estava Olavo de Carvalho. Numa atitude nada filosófica, ele mostrou se importar terrivelmente com minha opinião sobre ele.

Grandes filósofos sempre pregaram que você deve se importar com a opinião que você tem sobre si mesmo, e ser imperturbável diante da opinião alheia.

Mas Olavo de Carvalho mostrou uma preocupação extraordinária com minha opinião sobre ele. Chegou a me desafiar para um bizarro duelo filosófico ao entardecer, como se estivéssemos no Velho Oeste. “Vamos ver se você é homem para isso”, disse ele.

Ser homem, para os filósofos, é enfrentar adversidades com serenidade e coragem. Montaigne dizia, com acerto, que nada prova mais a estatura de um homem que sua atitude perante a morte. E citava seu grande inspirador, Sêneca, que morreu consolando a mulher e os discípulos. Nero, de quem fora preceptor antes que ele enlouquecesse, mandou que Sêneca se matasse.

Mas para Olavo de Carvalho ser homem é duelar. Isso mostra seu tamanho como “filósofo”.

Tenho uma atitude dúbia em relação aos pernilongos que acompanham Olavo de Carvalho. Seu zumbido me irrita, mas ao mesmo tempo lamento por eles e reconheço sua lealdade incondicional.

Nenhum leitor do “jornalista” Reinaldo Azevedo, de quem tenho uma opinião parecida com a que guardo por Olavo Carvalho, compareceu ao DCM para defendê-lo quando trocamos estocadas. Nenhum. Os leitores de RA têm a chamada lealdade preguiçosa, ao contrário dos fundamentalistas que seguem Olavo de Carvalho.

Estes, se tivessem lido os filósofos de verdade – Montaigne, Sêneca, Marco Aurélio etc. – seriam educados, cultos, polidos, elegantes.

Não me interessa gastar tempo com Olavo de Carvalho: a vida é breve, instável, e prefiro ocupar minha mente com coisas mais interessantes.

Não saberei, porque não vou lê-lo, se ele vai melhorar na velhice. As pessoas dizem que é impossível você mudar na senectude. Mas fico com uma frase de Epicuro que cito constantemente aos que me rodeiam. “Nunca é cedo demais nem tarde demais” para aprender alguma coisa.

Em menos de 10 anos, “nova” direita ficou velha

12 de julho de 2012

“Pensadores” como o blogueiro Reinaldo Azevedo, o astrólogo Olavo de Carvalho e o filósofo Luiz Felipe Pondé arrebanham seguidores para suas teses contra o politicamente correto, contra as políticas afirmativas ou a favor do anti-esquerdismo. Agora com a companhia do senador Álvaro Dias, eles recuperam um antigo vício da direita brasileira: o apoio a golpes na América Latina.

Heberth Xavier, via Brasil 247

Há seis anos, o jornal Folha de S.Paulo publicou uma reportagem na qual mostrava a curva ascendente da chamada “nova direita” sobre o pensamento brasileiro. As palavras iniciais do texto, intitulado “Direita, volver!”, foram felizes ao resumir o zeitgeist daquele início de 2006 no Brasil:

“De repente passou a ser bacana o sujeito, numa festa ou numa mesa de bar, rodopiar a taça de vinho e desfilar frases do tipo ‘essa canalha bolchevique do PT não sabe nem falar português’, seguidas de elogios à atuação de George W. Bush no Iraque ou de incursões ‘teóricas’ das quais a principal lição a ser retirada é que só é pobre quem quer.”

O clima cultural favorecia esse grupo, logo apelidado de “nova direita” na própria matéria da Folha. Dele faziam parte o blogueiro da revista Veja, Reinaldo Azevedo; o astrólogo (autointitulado filósofo) Olavo de Carvalho; o poeta e jornalista Nelson Ascher, entre outros.

De lá para cá, passaram-se mais de seis anos. Alguns nomes de maior ou menor qualidade poderiam ser acrescentados à lista, como o filósofo Luiz Felipe Pondé, o jornalista Augusto Nunes e alguns políticos que, antes envergonhados do rótulo, hoje não se esquivam em reivindicar-se “de direita”.

Não que isso seja necessariamente ruim, pelo contrário. O que impressiona é como o “novo” rapidamente se tornou “velho”. Não foi necessária mais do que uma dezena de anos para logo essa “direita” confundir-se com o retrógrado, com a defesa de golpes, com o antirreformismo, com o flerte perigoso com tendências chauvinistas, com o desprezo a minorias, com a religião “antipoliticamente correta”, com as teorias conspiratórias e, nos casos extremos, até com opiniões grotescamente folclóricas…

E logo a “nova” direita se tornou tão velha quanto a esquerda pueril que ela tanto criticava e que reduzia realidades complexas a uma mera equação da luta de classes, da luta do bem contra o mal. Surgiram pensadores inteligentes e perspicazes nesse campo, gente como os economistas reformistas Paulo Rabello de Castro ou José Alexandre Scheinkman, mas eram apenas exceções a confirmar a regra.

O astrólogo e “filósofo” Olavo de Carvalho é um dos mais “adorados” pelos “novos” direitistas – não poucos, de fato, são novos cronologicamente falando. A turma de adoradores acompanha tudo o que Carvalho diz nas redes sociais. Dos Estados Unidos, onde mora atualmente, o astrólogo defende teses campeãs como a de que a multinacional Pepsi-Cola seria um dos instrumentos usados pelos defensores do aborto. “Tome Pepsi-Cola e se torne um abortista terceirizado”, diz o pensador da “nova velha” direita brasileira, para quem a fabricante de bebidas está usando “células de fetos abortados como adoçante nos refrigerantes” – se você não acredita, clique aqui

Outra arma da “nova velha” direita é ser contra qualquer tipo de política afirmativa. Se alguém defende cotas para mulheres nos partidos políticos, ela contra-argumenta ameaçando o indefeso interlocutor: “Daqui a pouco vão defender cota para gordos, para canhotos, para “loiras-burras”, para “ex-BBBs”… A “nova velha” direita também não gosta muito de políticas de transferência de rendas (também afirmativas, pois focalizadas) como o Bolsa Família, pois “estimuladoras da preguiça e da acomodação” – ok, alguns argumentos são mais sofisticados, mas na prática se reduzem a isso. Inútil lembrá-lo que essas políticas foram defendidas pelos liberais de Chicago, ainda nos anos de 1980, como uma forma de compensar os mais pobres pelos desvios da política chamada neoliberal.

Na economia, por sinal, a “nova velha” direita nunca foi tão velha, com o problema de, agora, abusar da repetição de clichês e bordões. No ano passado, por exemplo, quando o Banco Central reduziu a taxa básica de juros (Selic), o coro da “nova velha” direita ganhou novas vozes, como a do jornalista Carlos Alberto Sardenberg ou a do economista e articulista de Veja Maílson da Nóbrega. Aos juros menores, eles brandiam o argumento de que a inflação voltaria. À manutenção da inflação sob controle nos meses seguintes, silêncio.

Em 2009, na gênese da crise mundial que dura até hoje, o governo Lula decidiu usar os bancos públicos – Caixa e Banco do Brasil – para forçar a concorrência a reduzir as taxas na ponta. A “nova velha” direita voltou-se contra a medida, sob o argumento de que a contabilidade das duas instituições não teria como sustentar a intervenção política de Lula. Na época – como agora –, a chamada “intervenção” realmente levou os juros bancários para baixo – inclusive entre os bancos privados. No fim daquele ano, os balanços do BB e da Caixa ficaram no azul, com recorde de lucro. A “nova velha” direita silenciou novamente…

A última da “nova velha” direita brasileira é aplaudir golpes em países latino-americanos. À guisa de não repetirem antigos chavões de pouca credibilidade atual, seus representantes inauguraram novas modalidades golpistas. Em Honduras, ainda que a prisão do então presidente Manuel Zelaya, em 2009, tenha sido classificada como “golpe” pela ONU, para a “nova velha” direita brasileira não foi mais do que o cumprimento de uma decisão do Poder Judiciário. No Paraguai, teria sido legítimo o impeachment de Fernando Lugo pelo simples fato de ter sido obra do Congresso – transformaram um instrumento democrático legítimo (o impeachment) em fetiche.

Não deixa de ser ridículo – para não dizer vexatório – assistir a um senador da República, de passado contrário ao regime militar no Brasil, como é o caso do senador tucano senador Álvaro Dias, postar-se como maior defensor mundial do golpe à paraguaia. “Lugo teve oportunidade de defesa”, disse o senador, referindo-se às 18 horas concedidas a um presidente eleito para defender-se das acusações. Levantou a bola para seu rival, ex-companheiro de MDB nos tempos da ditadura militar e também senador pelo Paraná, o polêmico Roberto Requião: “Num processo de multa de trânsito, o cidadão paraguaio tem dez dias para apresentar sua defesa e mais cinco para um recurso.”


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