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Vai ter Copa: Desmontada a farsa do texto adulterado da revista France Football

28 de fevereiro de 2014

Copa2014_France_Football

Silas Correa Leite, via Jusbrasil

Como já se sabe, membros de grupos de extrema-direita produziram uma versão criminosa do texto da revista France Football sobre a Copa do Mundo Fifa no Brasil.

A reportagem original tem um tom crítico exagerado e incorre no erro e no preconceito. Nem de longe, porém, empilha tantas inverdades, como fizeram os sabotadores virtuais.

O material fake vem sendo distribuído massivamente nas redes sociais, especialmente por grupos radicais nazistas, como OCC, MCC, Nasruas, ChangeBrazil, além de seguidores do nazifascista Olavo de Carvalho. Em alguns casos, tem sido divulgado também por simpatizantes do PSDB e de partidos da chamada extrema-esquerda.

Obviamente, atacar feroz e covardemente o Brasil e os brasileiros é estratégia destinada a influenciar as eleições de 2014.

Cabe, portanto, uma série de reparos a essa peça de banditismo, pois se sabe que dificilmente ocorrerá enquadramento policial de seus autores.

Abaixo, uma correção às principais atrocidades listadas no documento apócrifo, desonestamente atribuído à publicação francesa.

1) Não, nem todos os brasileiros são corruptos. O brasileiro, em geral, é honesto, trabalhador e realizador, mesmo sofrendo a brutal exploração das classes representadas pelos autores do documento criminoso. Não, nem tudo aqui se desenvolve à base de propinas.

2) Não, o Brasil não “obrigou” a Fifa a designá-lo sede do Mundial de 2014. Venceu um rigoroso processo seletivo ao apresentar condições de promover o torneio.

3) O Brasil elege, sim, jogadores de futebol para cargos públicos. Afinal, perante a lei, todos são cidadãos e têm garantidos seus direitos políticos. O Brasil é uma democracia, mesmo que os grupos neofascistas tentem solapá-la dia e noite.

4) Não, os brasileiros não se identificam com o analfabetismo. E estão lutando para fazer cair essas taxas, ano a ano. Em 2002, no fim da gestão de FHC, a taxa era de 12,4%. Hoje, é de 8,5%. Consideradas as pessoas com até 14 anos, no entanto, nossa taxa já é de 2%, próxima da erradicação, quando o índice é igual ou menor que 1%.

5) Na verdade, a carga tributária da França não é menor do que a do Brasil. A França tem a 26ª. Maior do mundo, o equivalente a 43,15% do PIB. O Brasil fica em 30º. Lugar, com 35,13%.

6) Não, os serviços públicos no Brasil não são semelhantes aos do Congo. Na verdade, a expectativa de vida no Congo é de apenas 53 anos. No Brasil, chegou, em 2013, a 74.6 anos. No Congo, a mortalidade infantil é de 88 crianças (de cada grupo de mil nascidas). A taxa de mortalidade infantil no Brasil caiu 75% entre 1990 e 2012, de acordo com a ONU. Se, em 1990, o país registrou 52 mortes de crianças a cada mil nascidos vivos, em 2012, a taxa foi de apenas 13 mortes a cada mil nascidos vivos. No Congo, há pelo menos 1,1 milhão de pessoas infectadas pela Aids. O Brasil conta com um dos mais eficientes programas de prevenção e tratamento do mundo. Aqui, o coquetel de medicamentos é gratuito, garantido por lei.

7) Não, o Brasil não vive um caso de amor com ditaduras. O governo venezuelano é legitimamente eleito, assim como aqueles de Bolívia, Equador, Chile, Argentina, Uruguai e Peru. O Brasil respeita o sistema de eleição de representantes em outros países, reconhecendo a soberania desses povos para definir a metodologia de escolha de seus governantes.

8) A França jamais utilizou qualquer referência a alinhamento com “ditaduras” para negar ao Brasil assento no Conselho de Segurança da ONU. Na verdade, a França defende a presença do país no órgão (clique aqui).

9) Não, a Fifa jamais afirmou que foi um “erro estratégico” escolher o Brasil como sede da Copa do Mundo. O receio da entidade é justamente a promoção de ataques violentos patrocinados por criminosos extremistas, como aqueles que já provocaram a morte de 23 pessoas desde a eclosão do levante, em junho de 2013.

10) Em nenhum momento, o governo brasileiro tentou cercear as manifestações pacíficas de 2013, tampouco a presidente Dilma Rousseff procurou restringir esse direito, como provam seus discursos da época. O governo federal não reprimiu estudantes ou trabalhadores. A ação de segurança não é atribuição do poder central, posto que a Polícia Militar é estadualizada no Brasil. Não ocorreram duas mortes neste período, mas 23. Nenhuma delas teve qualquer participação do governo federal. Tampouco há qualquer notícia acerca de dois mil feridos.

11) Não, não são os próprios brasileiros que pedem para os estrangeiros não visitarem o Brasil. Nem há “milhares” de vídeos nesse sentido. O mais comentado, produzido com esmero técnico e alto investimento, foi publicado por Carla Dauden, na mesma época em que o ChangeBrazil iniciou sua cruzada “revolucionária” de direita. O vídeo de Dauden é uma fraude. Cria números fictícios, adultera dados e subverte a realidade. Não, ao contrário do que diz a garota contratada pelos grupos interessados em desestabilizar o Brasil, nem todos os brasileiros andam bêbados ou drogados pelos logradouros públicos. Não, o Brasil tampouco é um país com ruas tomadas por hordas de famintos. Na verdade, Carla falseia dados de investimentos e subtrai a verdade por conta de sua ideologia (clique aqui).

12) Não, o governo não gastou €400 milhões para comprar armas destinadas a reprimir o povo. O Brasil gasta, quando gasta, para equipar suas PMs, que são estadualizadas. Esta, aliás, é uma reivindicação do povo. O sistema de segurança para a Copa visa a proteger o cidadão, brasileiro ou estrangeiro. Após o início do levante de direita, lojas, bancos e revendedoras de veículos têm sido metodicamente vandalizados por obra de grupos radicais.

13) Não, o movimento Bom Senso não é liderado pelo ídolo do Lyon, Juninho Pernambucano, apenas mais um participante. O principal condutor da causa é o zagueiro Paulo André, do Corinthians.

14) Não, embora a violência entre torcidas seja um fenômeno preocupante, o Brasil está longe de ser o único país maculado por esse tipo de conflito. Há mortes recentes registradas na Itália, na Inglaterra supostamente pacificada, na Turquia, em Portugal e na Espanha. Não consta do falso artigo, por exemplo, referência aos confrontos mortais recentes entre torcedores de Lazio e Roma. Tampouco há referência aos torcedores do Tottenham esfaqueados na capital italiana.

15) Não, o Brasil não é o país mais atrasado na preparação de uma Copa. Houve atraso inclusive na França, como nos estádios de Marselha e Nantes. O próprio Stade de France foi inaugurado antes da finalização das obras. Estacionamentos, por exemplo, continham toneladas de material de construção. Muitos dos elevadores não funcionavam. Na Copa da África do Sul, algumas estradas de acesso estavam sendo pavimentadas no dia anterior à cerimônia de abertura. A maior parte dos grandes estádios brasileiros está em perfeitas condições para receber o mundial.

16) É falsa a informação de que o Stade de France custou €280 milhões. Na verdade, custou €384 milhões, o equivalente a R$1,2 bilhão. Isso se considerados os valores de referência da época (1998) (clique aqui).

17) É falsa a informação de que o Olympiastadium, na Alemanha, custou apenas €140 milhões. Custou, na verdade, €247 milhões, segundo valores de 2004, o equivalente a R$812 milhões. No entanto, não estão computados aí os valores da obra inicial, de 1936, o equivalente a 46 milhões RM (clique aqui).

18) É mentira que a África do Sul tenha tido apenas cinco anos para se preparar para a Copa. Sua escolha se deu em 15 de maio de 2004, em votação realizada na sede da Fifa, em Zurique. Teve, portanto, mais de 8 anos para realizar as obras. Nem todos os trabalhos, no entanto, foram concluídos nesse período, especialmente na área de infraestrutura.

19) Não é verdade que os estádios brasileiros custem mais do que os citados acima. O Castelão, em Fortaleza, por exemplo, teve custo final de R$519 milhões. O Mineirão custou R$615 milhões. Nem mesmo os estádios de abertura e fechamento da Copa no Brasil, a Arena Corinthians e o Maracanã, tiveram obras tão caras quanto o Stade de France.

20) Não é verdade que os estádios brasileiros sejam construídos com dinheiro público. O que ocorre, como na Arena Corinthians, é um financiamento de parte do valor pelo BNDES. O clube ofereceu garantias e assumiu compromisso legal de saldar sua dívida.

21) Não, os estádios não são “ruins”, como escreve o redator da peça criminosa de sabotagem. São considerados seguros e elogiados por especialistas de todo o mundo. Basta que sejam acessadas as reportagens sobre a Copa das Confederações de 2013.

22) Não, o Engenhão, no Rio de Janeiro, não foi abandonado. Está passando por uma reforma em suas estruturas metálicas. Não foi dinheiro “jogado fora”.

23) Não, os estádios no Brasil não serão utilizados somente para jogos de futebol. Não, eles não são estruturas “vazias” e “sem utilidade”. A Arena Corinthians, por exemplo, é uma obra complexa, de caráter multiuso, com bares, restaurantes e lojas. Nesse quesito, será uma das mais modernas do mundo.

24) Não, Itaquera não é no fim do mundo. E, ao contrário do que propagam os grupos radicais, a área do estádio tem sim uma estação de metrô e um grande shopping center agregados. A população local hoje comemora os benefícios da obra e a expansão da malha viária na região.

25) Não, a construção do estádio não se deu por “ordem” do presidente Lula. O estádio do Corinthians seria construído de qualquer maneira. O clube tem comprovadamente a maior receita entre os clubes brasileiros. É o 24º clube mais rico do mundo segundo a consultoria britânica Deloitte (clique aqui).

26) Não, a Arena Corinthians não é “um dos estádios mais caros da “história da humanidade”. É mais barato, inclusive, que o Stade de France.

27) Não, o estádio nunca foi alagado. Não, o estádio não caiu. O que ocorreu foi um acidente localizado com um guindaste. Os reparos estão sendo efetuados.

28) Nunca se atrelou a realização da Copa à construção do trem-bala. Não é verdade que foram carreados 13 bilhões de Euros para a referida obra, como também é falsa a informação de que o “dinheiro desapareceu”.

29) Não, não é verdade que não existem cursos de preparação para os que vão trabalhar com a Copa do Mundo. São inúmeras as iniciativas locais, sem contar o programa do Pronatec (clique aqui).

30) Não, não é verdade que o governo esteja promovendo cursos para ensinar inglês a prostitutas destacadas para atuar na Copa do Mundo. A atividade em questão foi promovida isoladamente em Belo Horizonte (MG) por uma entidade ligada a essas profissionais. O objetivo é gerar integração social e facilitar ocupação em outras áreas.

31) Não é verdade que “ninguém” é preso no Brasil. Há 550 mil detidos no país.

32) Não, o aluguel de carros não é caríssimo. Um carro básico pode ser alugado por €43,00 por dia.

33) O trânsito em São Paulo e Rio é pesado, de fato. Mas não é o pior da “humanidade”. Os autores do texto não conhecem, por exemplo, a Índia, Itália ou grandes cidades do norte da África.

34) Não, a gasolina no Brasil não é a mais cara do mundo. Na verdade, a gasolina é mais cara na França, em 7º. lugar nesse ranking. O Brasil é apenas o 39º. A estatal petroleira do país é o maior indutor do crescimento brasileiro. Assim, é a empresa mais cobiçada pelas multinacionais estrangeiras (clique aqui).

35) Não, o presidente Fernando Henrique Cardoso não foi afastado por corrupção.

36) Não, não foi Fernando Henrique Cardoso quem comparou os carros brasileiros a carroças. Foi o presidente Fernando Collor de Mello. Fez essa observação no início da década de 1990. O carros brasileiros se modernizaram tremendamente desde então.

37) Não, a Copa não traz prejuízos ao Brasil. Pelo contrário, impulsiona o crescimento econômico. E quem atesta é a própria imprensa opositora do governo federal (clique aqui).

38) Não é verdade que a Copa elevou a taxa de inflação, que continua estável há anos. Também não é verdade que não gerou empregos para os mais humildes. Somente em funções diretas de obras, contribui com 213 mil ocupações, em diferentes setores, da construção civil e ao setor de energia.

39) Não é verdade que o Brasil muda seu sistema de tomadas elétricas a cada quatro anos.

40) Não é verdade que somente grandes empreiteiras ganharam com a Copa. Dados preliminares já apontam lucros para 41 mil micro e pequenas empresas (clique aqui).

41) Não, o sinal de telefone no Brasil não é péssimo. É melhor do que em muitas cidades europeias.

42) Não, a internet brasileira não é horrível, tampouco caríssima. Por €1,00 é possível passar-se até uma hora diante de um computador com internet numa lan house.

43) Não, não é verdade que o país está inundado de cédulas e moedas falsas.

44) Não é verdade que o Brasil não tenha universidades entre as 300 melhores do mundo. A Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, figura com prestígio nos rankings internacionais. O Conselho Superior de Investigações Científicas, credenciado pela União Europeia, e que cobre mais de 21 mil universidades e institutos de ensino superior pelo mundo, coloca a Universidade de São Paulo como a 19ª melhor do mundo e a melhor da América Latina. No ranking, mais sete instituições aparecem entre as 300 melhores (clique aqui).

45) Não é verdade que a educação superior decaiu nos últimos anos. Na verdade, cresceu vertiginosamente. Em 2001, eram 3.036.113 alunos matriculados. Em 2012, passaram a 7.037.688, crescimento de 131%. A rede pública de graduação teve crescimento de 7% e a particular de 3,5%.

46) Não, o Brasil não tem uma economia decadente. O PIB saltou de R$1,320 trilhão em 2002 para R$4,403, em 2012. Em dez anos, 37 milhões de brasileiros saíram dos bolsões da pobreza. No período foram gerados 19,5 milhões de empregos. O Brasil ganhou 1,84 milhão de novas empresas durante o ano de 2013.

Somos brasileiros, não desistimos nunca.

Vai ter copa!

***

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As polianas e os “protestos”

26 de fevereiro de 2014

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Sergio Saraiva, via Jornal GGN

Temos visto ultimamente um movimento de pretensos polianas que afirma que o governo está tentando sufocar, ou criminalizar, movimentos sociais quando reprime com a polícia ou por meio de uma legislação específica para protestos as ações dos Black Blocs que agora se travestiram de “protestos contra a Copa” e em reivindicações genéricas, tais como, “pela felicidade geral da Nação, padrão Fifa”.

Querem nos fazer crer, portanto, que tais grupos de desordeiros são pertencentes aos movimentos sociais. São tanto quanto o PCC ou o Comando Vermelho, ao seu modo, também são.

Então, um governo que dialoga com tantos movimentos sociais, dos sindicatos aos “sem”, sem-teto, sem-terra, sem floresta e que tais, não saberia dialogar com mais um? Ocorre que não se pode dialogar com o “Movimento dos Sem Diálogo”, com o “Movimento dos Sem Noção”.

Firmemos um ponto:

É um absurdo o uso da violência como forma de ação política na vigência do Estado Democrático de Direito. Logo, a reação do governo é a adequada quando cria formas de reprimir ações que são antidemocráticas porque têm fins antidemocráticos. É da defesa da democracia que estamos falando.

Vitorioso o “não vai ter Copa”, a próxima manifestação é o “não vai ter eleições”, quem ainda não percebeu isto? Os polianas aparentemente não. Não sejamos ingênuos, desde a Copa das Confederações, ano passado, quem vai a tais “protestos” sabe que vai participar de uma ação violenta, pretende isso.

A violência foi o único legado das tais “jornadas de junho”. A violência é filha do momento em que as reivindicações deixaram de ser pelos R$0,20 do MPL e passaram a ser “contra tudo isso que está aí”.

Acreditar que, hoje, existem “manifestações pacíficas” infiltradas de Black Blocs é uma forma de autoengano. Quem usa de um argumento tal como “não vai ter Copa” não está reivindicando nada, está ameaçando.

O que estamos assistindo é a surrada união tácita da extrema-esquerda com a direita no combate à esquerda democrática, no combate à social-democracia.

A extrema-esquerda só acredita na forma revolucionária de chegar ao poder. Uma esquerda que mostre ser possível fazê-lo pela via democrática é seu maior inimigo. Tira-lhe a razão de existir. Melhor, então, apoiar a tomada do poder pela direita, pois isso permitiria a retomada da luta radical. É o tal de “reforçar as incoerências do sistema para fomentar a consciência social do povo”. Também conhecida como a tática do quanto pior melhor.

Do lado da direita, a extrema-esquerda está fazendo o papel de idiota útil, criando a conturbação social que justifica as “medidas de exceção temporárias” necessárias ao “reestabelecimento da ordem”. Já vimos esse filme, durou 21 anos.

Não deverá se repetir, já que, como nos ensina Marx, “a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”. Dá-lhe razão o número ínfimo dos “manifestantes” que vêm sistematicamente incendiando nossas ruas e depredando patrimônio público e privado, criando situações de provocação e confronto que tragicamente já acabaram em morte. Assassinato seria melhor dito.

Que representatividade tais grupos têm? Nenhuma, eis porque do uso da violência. Sem ela, lhes restaria os guetos autorreferentes e carregados de ódio das redes sociais. Restariam desapercebidos pelo mais da população.

Ainda assim, seria temerário se o governo nada fizesse. O partido no governo, ainda que de esquerda, ainda que comprometido com a causa popular, não lidera passeata de protesto contra si mesmo. Ainda mais de grupos tão radicalizados e reduzidos querendo se passar por “povo”.

Só os polianas parecem não entender que nessas situações o preço da liberdade é a eterna vigilância.

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A mídia nutre relação esquizofrênica com a Copa do Mundo

17 de fevereiro de 2014
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Para desestabilizar o país, o alvo da mídia golpista é a Copa.

Desenha-se um cenário de Copa no qual, se o Brasil vencer, o bônus será dos jogadores. Se perder, o ônus ficará com o governo.

Laurindo Lalo Leal Filho, via RBA

Encerrei o artigo publicado na edição de janeiro da Revista do Brasil com a expressão “2014 promete”. Escrito em dezembro, chamava a atenção para o desespero da oposição, representada pela mídia, na busca de um candidato para as eleições presidenciais deste ano, alertando sobre o previsível “vale-tudo”. A previsão, infelizmente, começou a se confirmar antes mesmo do fim do ano, com o jornalista Elio Gaspari pedindo na Folha de S.Paulo a volta das manifestações de rua, seguido na mesma linha por vários outros comunicadores, até pelo Faustão, na Globo.

Passadas as festas, a carga prosseguiu com a GloboNews mostrando um gráfico sobre inflação que irá para os anais da manipulação jornalística brasileira (clique aqui). Por ele ficamos sabendo que a inflação de 2013, de 5,91%, é maior que as de 2010 (5,92%) e 2011 (6,50%). Disseram depois que foi “erro”, para mim só comparável ao célebre “boimate” da Veja de tempos atrás, quando a revista da Abril publicou uma nota científica sobre a descoberta da criação de um híbrido formado por boi e tomate. A diferença entre os dois “erros” está em seus objetivos. O da Veja antiga era mero sensacionalismo. Já o da GloboNews faz parte de ação política orquestrada, tendo como referência ideológica o Instituto Millenium, articulador da mídia brasileira em torno do pensamento único de raiz reacionária.

Curiosa, no entanto, é a esquizofrenia diante da Copa do Mundo. Ao mesmo tempo que a defende de acordo com os seus interesses mercadológicos, procura incentivar manifestações populares em torno dela, contra o governo, por interesses políticos. Mas pede que sejam feitos de forma “pacífica”, repetindo os chavões de junho passado. Creio até que gestores e mentores dessa mídia torçam contra a seleção brasileira, na esperança de que a derrota crie algum alento à oposição. Ainda que custem um período de relativas baixas nas receitas publicitárias advindas do ufanismo futebolístico.

Se for assim, será mesmo o derradeiro ato de desespero. Foi-se o tempo em que política e futebol contaminavam-se reciprocamente. Não estamos mais em 1950, quando candidatos aos mais diferentes cargos circulavam entre os jogadores da seleção, invencível até começar o jogo final, tentando tirar uma casquinha do prestígio por eles conquistado nos gramados até minutos antes da tragédia do Maracanã diante do Uruguai. Ou da ditadura, em seu momento mais sinistro, durante a Copa de 1970, tentando sufocar os gritos das masmorras com marchinhas do tipo “pra frente, Brasil”.

De lá para cá, o país mudou muito. Foi campeão do mundo mais duas vezes, passou dos “90 milhões em ação” para mais de 200 milhões e, na última década, tornou-se uma das mais importantes economias do mundo. Não há futebol que possa contaminar as conquistas populares como o aumento das redes de proteção social, a universalização do acesso ao ensino fundamental, a expansão do ensino superior e, principalmente, a redução do desemprego.

O “complexo de vira-lata” pregado na testa dos brasileiros pelo escritor Nelson Rodrigues, logo após a derrota de 1950, e que se aplicava não só ao futebol, mas a toda a autoestima do país, desapareceu. Mesmo as mazelas que persistem na insegurança das ruas, no trânsito caótico, na prisões medievais, nas habitações precárias deixaram de ser consideradas destinos manifestos da gente brasileira. Ao contrário, mostram-se como desafios a serem enfrentados e superados pela ação política, institucionalizada ou não.

A mídia tentará, uma vez mais, instrumentalizar essas lutas, juntando-as ao futebol, tanto em caso de vitória como de derrota na Copa. Se vencermos, o mérito será da seleção, se perdermos o ônus ficará com o governo. Serão as últimas cartadas oferecidas por ela ao seus candidatos numa tentativa de utilizar esses temas, neste ano, da mesma forma irresponsável como pôs em debate o aborto nas eleições de 2010. Como disse no artigo anterior, “2014 promete”…

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Folha mente sobre protesto do MST

16 de fevereiro de 2014

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Altamiro Borges em seu blog

O jornal Folha de S.Paulo – o mesmo que apoiou o golpe militar de 1964 para derrotar a “república sindicalista” de João Goulart e que cedeu suas peruas aos órgãos de repressão da ditadura – nunca gostou do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. O jornal já publicou vários editoriais e “reporcagens” contra o MST e acionou seus “calunistas” para atacá-lo – inclusive usando recursos públicos durante o reinado de FHC.

Na sexta-feira, dia 14, a Folha obrou mais uma calúnia contra os sem-terra. Afirmou que seus líderes incitaram a violência durante uma marcha em Brasília. As cenas exibidas na tevê, porém, mostram o inverso. A polícia provocou os manifestantes e ainda foi salva por um cordão de isolamento.

O objetivo do editorial da Folha é evidente. Visa satanizar o MST e inviabilizar a reforma agrária. Para o jornal, o movimento é uma “criança de 30 anos” que, “cada vez menos relevante, encontra nos tumultos um meio de chamar a atenção de uma sociedade voltada para outras causas”.

Na visão da decrépita famiglia Frias, o MST possui ideias “arcaicas”, “caráter arbitrário e pendor para o confronto”. Para o jornal, porta-voz do velho latifúndio e do “moderno” agronegócio, não há mais espaço para a reforma agrária no país. “O setor é um dos que mais se moderniza no Brasil, ostentando seguidos saltos de produtividade… O MST, a despeito disso, insiste numa reforma agrária utópica”.

“Talvez por causa desse sinal de irrelevância o MST considerou importante chamar a atenção por outros meios. Anteontem, em Brasília, alguns de seus integrantes ameaçaram invadir o STF e provocaram tumulto na praça dos Três Poderes. O grupo ganhou o noticiário, como decerto desejava, mas não por suas ideias ou sua pujança. A organização já não mobiliza como na década de 1990, e sua direção é cada vez mais refém do próprio movimento, vendo neste um fim em si mesmo, e não apenas um meio. Está na hora de o MST crescer, mas de nada ajuda que, um dia depois da confusão, a presidente Dilma Rousseff tenha se reunido com líderes da entidade”, conclui o rancoroso editorial.

O jornal da famiglia Frias sabe que mente sobre o “tumulto”. Até o insuspeito Jornal Nacional da TV Globo mostrou que a polícia provocou e agiu de forma desequilibrada e que os líderes do MST evitaram consequências mais graves no incidente. O ódio estampado no editorial, porém, tem outro propósito. A revolta é exatamente contra a demonstração de força do movimento, que levou mais de 15 mil camponeses a Brasília, reuniu lideranças políticas de vários partidos em seu sexto congresso nacional, promoveu uma bela exposição dos produtos da reforma agrária e definiu os próximos desafios do MST. Para coroar de êxito a iniciativa, seus líderes ainda foram recebidos em audiência pela presidenta Dilma Rousseff.

O episódio irrita a Folha, que não tem nada de “criança” – é uma velhaca reacionária, cada vez mais “irrelevante”!

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Os 30 anos de ódio ao MST nas páginas de Veja

16 de fevereiro de 2014

Veja_MST01O que os ataques e silêncios da revista sobre o maior movimento social brasileiro revelam sobre a história recente da política brasileira.

Najla Passos, via Carta Maior

O ódio da mídia ao MST acompanha os 30 anos do movimento, desde a sua fundação, em janeiro de 1984. Mas o padrão de manipulação usado para tentar fraudar a imagem do movimento muda bastante, acompanhando a conjuntura e tentando tirar proveito dela. Prova é a forma com que a maior revista do país, a Veja, teceu a trajetória do MST em suas páginas: primeiro com a tentativa de cooptação, depois com total invisibilidade, até a campanha permanente de criminalização, que oscilou da associação com o perigo comunista, herdada da ditadura, à acusação de terrorismo, no período pós 11 de setembro. Nos últimos anos, uma nova condenação ao ostracismo, acompanhada pelo conjunto da mídia, garantiu a retirada do tema reforma agrária da pauta nacional.

O MST foi fundado no bojo do mesmo desejo de democracia que levou às ruas a Campanha das Diretas Já, como um movimento pacífico de luta pela terra. Mas o esforço dos companheiros que tentavam retomar a pauta da reforma agrária, interrompida com o deposição de João Goulart em 1964, não mereceu nem mesmo uma linha nas páginas da revista. Isso só viria a acontecer em junho do ano seguinte, quando José Sarney já havia herdado de Tancredo Neves o posto de primeiro presidente civil pós-ditadura, e acabava de lançar um pacote para viabilizar uma espécie de reforma agrária que jamais sairia do papel.

Assumindo para si um papel nunca a ela delegado de mediadora do “pacto social” que Sarney propunha ao Brasil polarizado, Veja defendeu o pacote na reportagem de capa “Reforma Agrária – os fazendeiros se armam”, de 19 de junho de 1985. O MST, que não apoiava a proposta, aparecia como um movimento localizado apenas em Santa Catarina, sem respaldo suficiente para se tornar um grande interlocutor do governo em relação ao tema.

O movimento voltou a ser capa da revista quando o país já se deparava com as falsas promessas de desenvolvimento do neoliberalismo, defendido com veemência pela revista. O alagoano Fernando Collor de Mello, lançado nas famosas páginas amarelas como o Caçador de Marajás, havia ganhado a primeira eleição presidencial pós-ditadura, prometendo abertura às importações e diminuição das funções do Estado, em contraposição ao sindicalista Luiz Inácio da Silva, que defendia pautas mais sociais, como a bandeira da reforma agrária do MST.

No dia 15 de agosto de 1990, a Veja publicou sua primeira reportagem atacando frontalmente o MST. Na foto de capa, um único sem-terra, “armado” com sua foice, aterrorizava um exército de policiais armados com escudos, cassetetes e revólveres. Inaugurou ali a utilização do clássico termo “baderna”, com que até hoje descreve as ações do movimento. Depois disso, a revista se calou acerca do MST, que continuou crescendo, a ponto de se transformar no maior movimento social brasileiro.

Ostracismo midiático

Em 1994, na corrida presidencial que contrapunha o sociólogo Fernando Henrique Cardoso e novamente o operário Lula, o MST começou a ganhar espaço em outros órgãos de imprensa. A Folha de S.Paulo, em 1994, publicou 40 matérias sobre o MST. Em 1995, já com Fernando Henrique na presidência, foram 450. A Veja, porém, continuou firme no seu propósito de condenar o movimento ao ostracismo e, assim, manter longe da agenda nacional a pauta da reforma agrária. Duas grandes tragédias, porém, lançaram nova luz sobre o movimento: os massacres de Corumbiara e de Eldorado dos Carajás.

Em 9 de agosto de 1995, 355 sem-terra foram presos e torturados, 125 ficaram gravemente feridos e nove morreram, incluindo a pequena Vanessa, de 6 anos. Eles não eram ligados ao MST, mas a imprensa não fez esta distinção ao tratar do caso. O assunto ganhou repercussão internacional. Ainda assim, Veja resistiu o quanto pode. Só foi noticiar o massacre quase um mês depois, na edição de 6 de setembro. A matéria “Executados, torturados e humilhados” apresentava o tom de indignação que tomava o mundo e não fazia alusões ao MST.

Em 17 de abril de 1996, 21 sem-terra ligados ao MST foram brutalmente executados e 51 ficaram feridos, no Massacre de Eldorado dos Carajás. O crime causou comoção mundial e a Veja não pode mais ignorar o movimento. Na edição de 24 de abril, a revista era pura indignação. A própria capa já era uma denúncia contra a atrocidade, com a exibição de um trabalhador rural assassinado com um tiro na nuca.

Na reportagem, Veja trouxe pela primeira vez a menção a um Brasil arcaico e um outro moderno, a partir de uma analogia usada dias antes pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo a revista, “como um sociólogo debruçado sobre personagens de uma tese acadêmica, e não pessoas de carne e osso, com sonhos de um futuro melhor, filhos pra criar e uma vida para tocar, Fernando Henrique classificou os sem-terra e a PM de representantes do “Brasil arcaico”, em oposição ao “moderno”, do qual se considera representante, talvez condutor”. Mas se a matéria principal tecia uma das raras críticas da publicação ao presidente e se mostrava solidária aos sem-terra, o box intitulado “O Sindicato-partido do MST” fazia o oposto, ao afirmar que o movimento era armado e tinha tradição de enfrentar a polícia.

Alvo prioritário

Após 1996, durante o império do pensamento único, a Veja transformou o MST em seu alvo prioritário. De acordo com a pesquisadora Carla Silva, no livro “Veja: o indispensável partido neoliberal”, as investidas contra o movimento superaram até mesmo os ataques ao PT e a igreja combativa. “Neste caso [do MST] não há uma tentativa de cooptação ou de diálogo, como se vê em relação ao PT, a quem a revista busca em vários momentos apontar linhas de ação. Também não há uma visão despolitizada como a Renovação Carismática colocada em oposição à CNBB. No caso do MST, a crítica é permanente”, registrou ela.

Na edição de 16 de abril de 1997, “A marcha dos radicais – quem são e o que querem os sem-terra” apresentava o movimento como o retrato mais perfeito do Brasil arcaico de que falava FHC em 1995 – e que até a própria Veja condenara. Os sem-terra eram apresentados como um povo inculto e atrasado, tal como os beatos seguidores de Antônio Conselheiro que desafiaram a República a se lançar na Guerra de Canudos. “Representantes de um Brasil arcaico, descalços, dentes ruins, bicho-de-pé e pouco estudo, os sem-terra invadem propriedades, desrespeitam a lei e enfrentam a polícia. Já morreram e mataram nesses conflitos. Parecem um pouco os fanáticos do beato Antônio Conselheiro”, pregava a revista.

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Em outro momento, a reportagem acabava por revelar o porquê do seu ódio ao MST, considerado por ela a única oposição, de fato, ao governo FHC, após o que classificava de “desmoronamento da oposição sindical, da oposição de esquerda (PT e Lula) e também da de direita (o PPB de Maluf)”. E, em um terceiro momento, justificava porque precisava inverter a imagem do movimento perante a população: pesquisa do Ibope realizada no período mostrava que 83% dos brasileiros apoiavam a reforma agrária e 40% eram favoráveis, até mesmo à invasão de fazendas.

O MST e o “perigo vermelho”

As investidas da Veja contra o MST se tornaram mais agressivas nos anos seguintes. Na edição de 3 de junho de 1998, às vésperas da eleição que reconduziu FHC à presidência, a revista apresentava aos seus leitores um MST absolutamente aterrorizante. A foto de capa trazia João Pedro Stédile, umas das principais lideranças do movimento, com feições sérias, em tons vermelhos, a própria encarnação do demônio. O texto “A esquerda com raiva – inspirados por ideais zapatistas, leninistas, maoístas e cristãos, os líderes do MST pregam a implosão da democracia burguesa e sonham com um Brasil socialista” resgatava o pânico do perigo vermelho inculcado nos brasileiros pela ditadura.

Em 10 de maio de 2000, mais um exemplo: a matéria de capa “A tática da baderna – O MST usa o pretexto da reforma agrária para pregar a revolução socialista” voltava a semear o pânico. O texto da reportagem seguia a mesma linha: “Numa palavra, o MST não quer mais terra. O movimento quer toda a terra, quer tomar o poder no país por meio da revolução e, feito isso, implantar por aqui um socialismo tardio […]”. Num box com a suíte “Meu nome é Stédile, João Stédile”, uma fotomontagem apresentava o líder sem-terra vestido de smoking e portando pistola automática, no melhor estilo James Bond, o espião da série 007 que tinha licença da rainha da Inglaterra para matar.

O MST terrorista

Depois dos atentados de 11 de setembro de 2011, com o mundo estarrecido frente ao perigo terrorista, a Veja se apropriou do pânico generalizado para, mais uma vez, inovar no tratamento destinado ao MST. A etapa da tentativa de construção desse “MST terrorista” propagado pela revista começou com a publicação, em 18 de junho de 2003, quando Lula já havia assumido a presidência, da reportagem de capa em analogia direta à capa de 1998 que trazia Stédile travestido de diabo.

Nesta, o eleito para compor o quadro foi o então líder do movimento, José Rainha, estampado em foto de capa com a manchete “A esquerda delirante – Para salvar os miseráveis dos “desconfortos do capitalismo, o líder sem-terra José Rainha ameaça criar no interior de São Paulo um acampamento gigantesco como o de Canudos, instalado há um século por Antônio conselheiro no sertão da Bahia”.

Na reportagem, os mesmos estereótipos martelados na década anterior: anacronismo, atraso, radicalismo e táticas agressivas foram algumas das expressões reutilizadas. Também veio da década anterior a associação do líder sem-terra com o beato Antônio Conselheiro, tratado pela história oficial como o fanático que não aceitava os tempos modernos da república. Seguidores, pregação, beato, promessas e glorificação ideológica ajudavam a compor o texto que não poupou nem mesmo Euclides da Cunha, autor do clássico Os Sertões, que fala sobre Canudos, a ser citado na matéria para respaldar os absurdos propagados pela revista.

A partir daí, as matérias negativas contra o MST se tornaram pauta obrigatória em todas as edições da revista. Exemplo claro é o editorial “Veja avisou”, da edição de 2 de julho de 2003, que recuperava todas as críticas feitas pela revista ao movimento ao longo da década. Em 30 de julho, a matéria “Stédile declara guerra” reforçava a associação do movimento à baderna e à violência, acusando-o de misturar os “excluídos do campo e da cidade, o complexo de culpa da classe média e a falta de firmeza das autoridades com as ilegalidades praticadas”. Foi nesta toada que a Veja concluiu o primeiro ano do mandado do ex-presidente Lula.

No início de 2004, a bancada ruralista, munida das páginas de Veja, começou a colher assinaturas para a instalação da CPI da Terra. A revista continuou firme na campanha, cada vez mais ácida. Na edição de 14 de abril daquele ano, a reportagem “O abril sem lei do MST” atestava a inoperância do governo Lula para conter as “ações criminosas” do movimento: a luta pela reforma agrária. Na semana seguinte, a matéria “Como na guerra” narrava a história de um fazendeiro obrigado a fazer barricadas para se proteger dos “beligerantes” sem-terra.

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As “madraçais” do MST

No final de setembro, o deputado João Batista usou a Tribuna da Câmara para exigir que o MEC fiscalizasse as escolas mantidas com dinheiro público nos assentamentos. Com base em matéria publicada pela Veja, ele acusava as escolas de formar futuros revolucionários, extirpando “o raciocínio lógico e o senso crítico” dos futuros cidadãos brasileiros. A base da denúncia que gerou calorosos debates foi a matéria “Madraçais do MST”, publicada na edição de 8 de setembro de 2004. “Assim como os internatos muçulmanos, as escolas dos Sem-Terra ensinam o ódio e instigam a revolução. Os infiéis, no caso, somos todos nós”, bradava a revista.

Em 2005, uma nova e ousada tentativa de criminalizar o MST. Na matéria “Ligações perigosas – escuta mostra que o MST orientou a facção criminosa PCC a organizar uma manifestação”, a revista acusava, sem nenhuma base palpável, o maior movimento social de brasileiro de ter relações sólidas com o movimento criminoso que, à época, assustava o país. As ligações jamais foram comprovadas, mas a revista nunca desmentiu as acusações.

No final do ano, a tal CPI da Terra apresentou seu relatório final propondo a transformação de invasão de terra em prática terrorista. Veja apelou de novo. Na reportagem “O terror contra o saber – braço feminino do MST destrói laboratório com mais de uma década de pesquisas”. A revista, claro, omitiu que o tal laboratório, da empresa Aracruz, realizava pesquisas com sementes transgênicas que causavam imensos prejuízos à agricultura familiar e agroecológica da região.

Nesta época, o desgaste sofrido pela imagem do MST já era claramente perceptível. Uma nova pesquisa do Ibope encomendada pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA), em 2006, mostrou o efeito de uma década de propaganda de Veja contra o MST: 56% dos brasileiros achavam que as ações do MST causavam mais resultados negativos para a reforma agrária do que positivos e 53% acreditavam que o governo deveria usar a polícia para conter as invasões.

Ataques e omissões recentes

Em 2009, a Veja conseguiu, enfim, respaldar a instalação de mais uma CPI para investigar o MST, a partir da reportagem de capa “Por dentro do cofre do MST”, na qual a revista acusava o governo federal e entidades internacionais de financiar as atividades classificadas como criminosas do movimento. Era a terceira, criada em cinco anos, para investigar e desgastar o MST. Para o governo Lula, ficava cada vez mais temerário apoiar o movimento já associado ao terrorismo, mesmo que, contra eles, não se provasse nada. A causa da reforma agrária foi sendo cada vez mais minada e abandonada.

Desde então, a presença do MST nas páginas da revista foi declinando. A luta dos sem-terra pela reforma agrária nunca mais mereceu reportagem de capa, ainda que para criticá-la. A presidenta Dilma Rousseff assumiu a presidência e governou os três primeiros anos do seu mandato com o MST e a reforma agrária na mais absoluta invisibilidade. Portanto, foi mais fácil para ela registrar os piores índices de investimentos na causa: conseguiu destinar um volume de terras à reforma agrária menor do que seu adversário, FHC, e assentou um número menor de famílias do que seu antecessor, Lula. E com a benevolência da revista.

#OsAntiPira: Segundo Sebrae, pequenas empresas faturarão R$500 milhões com a Copa

12 de fevereiro de 2014

Copa2014_CopaDasCopasVia Blog do Planalto

A Copa do Mundo já rendeu cerca de R$280 milhões em negócios para micro e pequenas empresas e até o final do evento a expectativa é que o faturamento chegue a R$500 milhões, segundo levantamento realizado pelo Sebrae com base nas rodadas de negociações promovidas nas 12 cidades-sede da Copa.

“Quem mais vai faturar com a Copa são as empresas que se prepararam antes e que estão pensando no pós-evento, no legado que ele vai deixar para a competitividade dos pequenos negócios”, explica o presidente do Sebrae, Luiz Barretto.

É o caso de setores como o da construção civil, que vêm aproveitando as oportunidades geradas em obras nas arenas, ou de madeira e móveis que, além de atender às demandas dos hotéis, têm expandido suas atuações também no exterior.

“Nosso trabalho é mobilizar os empresários para aproveitar as oportunidades, não apenas identificando potenciais mercados, mas também dando todo o suporte para a adequação às exigências desses mercados”, completa Barretto.

A Fantastic Brindes de São Paulo é uma das empresas que têm apostado nessas oportunidades. A empresa aplicou 80% de seus investimentos no Kit Torcedor. Nele, itens como corneta, caneca, apitos, copo, vuvuzela, zumbina e mochila já estão levando aos fãs de futebol um diferencial na hora de torcer pelo Brasil.

Só no início deste ano, a Fantastic Brindes já fechou orçamentos de aproximadamente 100 mil kits para grandes empresas, o que equivale à venda de mais de 400 mil produtos. O faturamento que era de R$150 mil em junho de 2013 saltou para R$380 mil no final do ano passado. O empresário estima triplicar as vendas com a demanda gerada pela Copa.

“Os pequenos negócios que se prepararam e planejaram para aproveitar as oportunidades geradas pela Copa irão aumentar não só o faturamento como poderão se consolidar tanto no mercado interno quanto externo, uma vez que passarão a atender dentro dos padrões internacionais exigidos a todos que atuarem durante o mundial”, ressalta o presidente do Sebrae, Luiz Barretto.

Um exemplo é o escritório de arquitetura de interiores Saad Larcipretti, de São Paulo, que tem como meta atender o público potencial que visitará a capital paulista para assistir aos jogos da Copa do Mundo. O trabalho da Saad já pode ser encontrado nos móveis, pisos, quartos de hotéis que atenderão aos turistas brasileiros e estrangeiros durante o campeonato de futebol. Alguns móveis, contidos nas suítes dos hotéis, localizados em São Paulo e na Ilha de Comandatuba (BA), foram remodelados por meio dos projetos da empresa.

Para a diretora da rede Rosângela Larcipretti, o evento esportivo é uma oportunidade de divulgação das atividades realizadas pelos profissionais das empresas, inclusive para os estrangeiros. Prova disso é que os trabalhos da Saad Larcipretti já alcançaram visibilidade internacional: duas redes hoteleiras estrangeiras já estão em negociação com o escritório.

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