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Por que o Brasil cresce 2%?

6 de março de 2014

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Ambiente pessimista e diálogos “desalinhados” entre o governo e empresários são razões para o crescimento de 2013.

João Sicsú, via CartaCapital

Há muitos motivos. Desde o ambiente pessimista criado pela grande mídia familiar até diálogos “desalinhados” entre o governo e empresários. Deve-se, contudo, buscar identificar o principal, o secundário e o pouco relevante. Qualquer economia de mercado tem o seu crescimento explicado por fatores externos e fatores internos. Atribuir o modesto crescimento dos últimos três anos exclusivamente ao desaquecimento da economia mundial é uma análise com viés e incompleta. É viesada do ponto de vista político e incompleta do ponto vista técnico.

Sem dúvida que em 2013 o nosso crescimento foi semelhante ao crescimento mundial, excetuando o crescimento chinês que foi muito superior. Mas isto foi apenas uma coincidência. O crescimento mundial não é causa determinante do nosso crescimento e nem deve ser motivo para conformismo. Afinal, a economia brasileira conquistou certo grau de autonomia em relação à dinâmica mundial. Temos um montante bastante elevado de reservas internacionais, mas mais importante: construímos nos últimos anos um enorme mercado de consumo de massas com mais de 130 milhões de brasileiros.

Em 2009, reagimos à crise internacional apoiados no nosso mercado doméstico. A economia brasileira, em 2009, tropeçou, mas não caiu em profunda recessão tal como diversos países com economias relevantes. Portanto, o Brasil conquistou algum grau de imunidade. Então, se este argumento valeu para 2009, deveria valer para 2013.

Há influência do preço internacional de commodities e do modesto crescimento mundial sobre o desempenho da economia brasileira. Isto não pode ser descartado da análise, mas o ponto relevante está no Brasil, está na política econômica que foi adotada em 2011. Naquele ano decidiu-se derrubar a trajetória impetuosa de 2010, de crescimento de 7,5%, que assustou os economistas que optam por decisões conservadoras em nome da gestão rotulada de responsável.

Política monetária e fiscal restritivas com câmbio em valorização foi a direção adotada em 2011. A crise internacional somente emergiu no 4º trimestre daquele ano. O resultado foi uma queda da economia que ingressou na trajetória de crescimento dos 2%. A trajetória de 2007-2010, a despeito da leve recessão de 2009, estava no patamar de 4,5%. O redirecionamento de 2011 não foi responsável apenas pelo resultado de 2011, crescimento de 2,7%. O que houve foi a mudança de patamar para uma nova trajetória de crescimento (saímos da trajetória de 4,5% e ingressamos na trajetória dos 2%). O choque conservador de política econômica de 2011 desmontou o cenário de expectativas positivas que emergiu do período 2007-2010.

Quando a economia ingressou no patamar de modesto crescimento, optou-se pela política de redução de juros e isenções tributárias variadas. Buscou-se incentivar uma economia que tentava se proteger da falta de demanda esperada por seus produtos. Foi inócuo: é o mesmo que dizer para os empresários investirem somente porque o crédito está mais barato e houve aumento do volume de recursos para o autofinanciamento. A questão mais importante é que faltava motivação devido ao clima geral de desaquecimento internacional e nacional provocado pela própria política econômica de 2011.

Há condições de retomar o patamar de trajetória de crescimento do período 2007-2010. Afinal, a realidade econômica não se deteriorou – apesar da nova trajetória de crescimento modesto. O desemprego continua baixo. O investimento voltou a crescer. A inflação é moderada e está controlada. O endividamento público está em nível saudável. Basta ousadia, autonomia e responsabilidade para mudar a política econômica. A economia brasileira precisa de uma política fiscal anticíclica, uma política monetária de juros baixos e um câmbio equilibrado para que a indústria tenha produtos competitivos nos mercados doméstico e internacional. O caminho atual de uma política econômica em ziguezague, varejista, coloca os investimentos, variável-chave do crescimento continuado, em situação crítica de stop-and-go (tal como é mostrado no gráfico).

Vídeo: O diretor da Fiesp e por que o Brasil está certo ao investir em Cuba

3 de fevereiro de 2014
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Dilma e Raul Castro durante a inauguração do Porto de Mariel.

O investimento no Porto de Mariel amplia o alcance do comércio e a área de influência do Brasil.

José Antonio Lima, via CartaCapital

Causou certa indignação em determinados setores da sociedade brasileira a inauguração do porto de Mariel, em Cuba, na segunda-feira, dia 27, com a presença de Dilma Rousseff. O espanto se deu por que a obra foi erguida graças a um financiamento do BNDES, que data ainda do governo Lula. Atribui-se o investimento a uma aliança ideológica entre os governos petistas e a família Castro, responsável pela ditadura na ilha. É um equívoco ver o empréstimo desta forma. Trata-se de um ato pragmático do Brasil.

O porto de Mariel é um colosso. Ele é considerado tão sofisticado quanto os maiores terminais do Caribe, os de Kingston (Jamaica) e de Freeport (Bahamas), e terá capacidade para receber navios de carga do tipo Post-Panamax, que vão transitar pelo Canal do Panamá quando a ampliação deste estiver completa, no ano que vem. A obra, erguida pela Odebrecht em parceria com a cubana Quality, custou 957 milhões de dólares, sendo 682 milhões de dólares financiados pelo BNDES. Em contrapartida, 802 milhões de dólares investidos na obra foram gastos no Brasil, na compra de bens e serviços comprovadamente brasileiros. Pelos cálculos da Odebrecht, este valor gerou 156 mil empregos diretos, indiretos e induzidos no País.

A obra “se pagou”, mas o interesse do Brasil vai além disso. Há quatro aspectos importantes a serem analisados.

O primeiro foi exposto por Dilma no discurso feito em Cuba. O Brasil quer, afirmou ela, se tornar “parceiro econômico de primeira ordem” de Cuba. As exportações brasileiras para a ilha quadruplicaram na última década, chegando a 450 milhões de dólares, alçando o Brasil ao terceiro lugar na lista de parceiros da ilha (atrás de Venezuela e China). A tendência é de alta se a população de Cuba (de 11 milhões de pessoas), hoje alijada da economia internacional, for considerada um mercado em potencial para empresas brasileiras.

Esse mercado só será efetivado, entretanto, se a economia cubana deixar de funcionar em seu modo rudimentar atual. Como afirmou o subsecretário-geral da América do Sul do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Antonio José Ferreira Simões, o modelo econômico de Cuba precisa “de uma atualização”. O porto de Mariel é essencial para isso, pois será acompanhado de uma Zona Especial de Desenvolvimento Econômico criada nos moldes das existentes na China. Ali, ao contrário do que ocorre no resto do país, as empresas poderão ter capital 100% estrangeiro. Dono de uma relação favorável com Cuba, o Itamaraty está buscando, assim, completar uma de suas funções primordiais: mercado para as empresas brasileiras. Não é à toa, portanto, que o Brasil abriu uma nova linha de crédito, de 290 milhões de dólares, para a implantação desta Zona Especial em Mariel.

Aqui entra o terceiro ponto, a localização de Mariel. O porto está a menos de 150 quilômetros do maior mercado do mundo, o dos Estados Unidos. Ainda está em vigor o embargo norte-americano a Cuba, mas ele é insustentável a longo prazo. “O embargo não vai durar para sempre e, quando cair, Cuba será estratégica para as companhias brasileiras por conta de sua posição geográfica”, disse à Reuters uma fonte anônima do governo brasileiro. Tendo em conta que a população cubana ainda consistirá em mão de obra barata para as empresas ali instaladas, fica completo o potencial comercial de Mariel.

Há ainda um quarto ponto. Ao transformar Cuba em parceira importante, o Brasil amplia sua área de influência nas Américas em um ponto no qual os Estados Unidos não têm entrada. A administração Barack Obama é favorável ao fim do embargo, como deixou claro o presidente dos EUA em novembro passado, quando pediu uma “atualização” no relacionamento com Cuba. Ocorre que a Casa Branca não tem como derrubar o embargo atualmente diante da intensa pressão exercida no Congresso pela bancada latina, em sua maioria linha-dura. No vácuo dos EUA, cresce a influência brasileira.

Grande parte das críticas ao relacionamento entre Brasília e Cuba ataca o governo brasileiro por se relacionar com uma ditadura que não respeita direitos humanos. Tal crítica tem menos análise de política externa do que ranço ideológico, como prova o silêncio quando em destaque estão as relações comerciais do Brasil com a China, por exemplo. Não há, infelizmente, notícia de um Estado que paute suas relações exteriores pela questão de direitos humanos. Se a regra fosse essa, possivelmente o mundo não seria a lástima que é.

Soma-se a isso o fato de que manter boas relações com Cuba é uma prática do Estado brasileiro, não do governo atual. As relações Brasília-Havana foram reatadas em 1985 e têm melhorado desde então. Em 1992, no governo Fernando Collor, houve uma tentativa de trocar votos em eleições para postos em organizações internacionais. A prática, como a Folha de S.Paulo mostrou em 2011, continuou no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), sob o qual o Brasil também fechou parcerias e intercâmbios com Cuba.

De fato, em 1998 o então chanceler de FHC, Luiz Felipe Lampreia, se encontrou com um importante dissidente cubano, Elizardo Sánchez, algo que o governo brasileiro parece muito distante de fazer. Pode-se, e deve-se, criticar o fato de o Planalto sob o PT não condenar publicamente as violações de direitos humanos da ditadura castrista, mas não se pode condenar o investimento no porto de Mariel. Neste caso, prevaleceu o interesse nacional brasileiro.

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31 de janeiro de 2014

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Fernando Brito, via Tijolaço

A simples menção ao nome Cuba costuma desencadear uma onda de reações estúpidas da imprensa e da classe média idiotizada, que não consegue compreender lhufas das necessidades de uma economia como a brasileira fazer bons negócios e obter posições estratégicas nos mercados mais promissores, sem falar obrigação moral de, ao negociar, não fazer distinções entre países por “simpatia” ou “antipatias”.

No jogo do comércio mundial as relações não são baseadas no amor.

Os Estados Unidos, que proíbem a importação de produtos cubanos, num anacrônico bloqueio comercial de meio século, não se escusam de exportar para a ilha de Fidel. São a quarta maior fonte de importação do país, perdendo apenas para a China, a Espanha e, por muito pouco, para o Brasil.

E importações crescentes, que pularam de pouco mais

Ontem, a Folha se queixou, em reportagem, do abandono das nossas crescentes e vantajosas trocas comerciais com o Irã, amplamente superavitárias, como as com Cuba. É verdade, mas faltou destacar que isso foi função das pressões políticas sobre o nosso país, para afastar-se dos persas e, por outro lado, do distensionamento das relações entre o país e os Estados Unidos e a União Europeia, com o fim do governo Amahjineahd.

Alguém pode imaginar gente mais anticomunista que o General Geisel?

Pois foi em seu governo que Ítalo Zappa, via Itamaraty, fez o Brasil plantar os pés no continente, a partir dos recém libertos países de língua portuguesa, quase todos com governos esquerdistas.

É tão raro que surja uma análise lúcida sobre isso que faço questão de partilhar o comentário do jornalista Kennedy Alencar, hoje de manhã, no Jornal da CBN sugerido pelo amigo Clovis.

Kennedy explica o óbvio: que o dinheiro emprestado para as obras no excelente porto cubano de Mariel na foto, no ato de inauguração parcial, com Dilma e Raul Castro – não é “investido lá fora”, mas aqui dentro, pelo compromisso de compra de bens e serviços para a obra em nosso país.

É bom negócio sem deixar de ser solidariedade com um país latino-americano que precisa de investimentos, como nós precisamos de médicos que Cuba cede, com a devida compensação financeira por isso.

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Lucro menor da Petrobras tem nome: investimento gigante

1 de novembro de 2013

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Fernando Brito, via Tijolaço

No último final de semana, os jornais se deliciaram explorando a queda no lucro da Petrobras no terceiro trimestre. Observem bem, queda no lucro, não prejuízo. “Só” R$3,4 bilhões no trimestre, um pouco mais da metade (55%) do que lucrou no segundo trimestre.

Altos e baixos são comuns nos resultados de grandes empresas. Ninguém fez um escarcéu quando, no primeiro semestre do ano passado, o lucro da megapetroleira Chevron caiu 25%, de US$7,2 bi para US$5,4 bilhões.

Ainda assim, a Petrobras teve 30% de lucro a mais em 2013, se comparado aos nove primeiros meses de 2012.

Claro que pesou a alta do dólar e a contenção do preço da gasolina, mas o lucro poderia ter sido bem maior.

Como?

Simples, investindo menos e não o volume fabuloso de dinheiro que a empresa vem invertendo em plataformas, navios, poços, gasodutos e tudo o que é necessário para estar à altura de explorar o pré-sal.

Foram R$69,2 bilhões – bi, mesmo – nos nove primeiros meses do ano, um crescimento de 16% sobre os R$59,8 bilhões de 2012. Até o final do ano, os investimentos devem chegar perto da casa dos US$100 bilhões.

E sem se cortar um real sequer para fazer face ao que vem pela frente: o megacampo de Libra.

Compare: a Vale, em todo o ano de 2012, investiu R$36 bilhões e este ano reduziu em 7% o valor, para R$33,7 para os 12 meses.

Em 2002, o investimento da Petrobras mal chegava a R$7 bilhões por ano.

A Petrobras é a maior alavanca de desenvolvimento do Brasil. Como empresa, deve gerar lucro e reajustar seus preços de acordo com seus custos. Mas como agente do desenvolvimento brasileiro não pode fazer isso ao ritmo da gritaria histérica do mercado e de sua mídia, que hoje berra por reajustes e, daqui a tempos, quando eles ocorrerem, vai esgoelar-se contra a empresa, como responsável que fosse pela alta do dólar.

A turma do mercado quer, mesmo, é que a Petrobras invista menos e, neste investimento, gaste menos, comprando lá fora em lugar de estimular a produção e o emprego nacionais.

Mas esse tempo passou, definitivamente.

E só meia-dúzia de cegos – e algumas centenas de “espertos” – não veem que ela, além de pensar em lucro, pensa no Brasil.

Brasil se transforma no 4º maior destino de investimentos do mundo

25 de janeiro de 2013

Brasil_Investimento01Jamil Chade, de Genebra, via Blogs do Estadão

O Brasil supera todos os países europeus e se transforma no quarto maior destino de investimentos do mundo em 2012, um ano que entrará para a história como o primeiro a ver economias emergentes recebendo mais investimentos que países ricos. Os dados foram publicados hoje pela ONU, que revela uma queda brusca de 18% no fluxo de investimentos no mundo, puxados pela retração nos países ricos.

Para 2013, a ONU estima que haverá um crescimento dos investimentos da ordem de 7% a 8%, para um volume de US$1,4 trilhão. “Mas os riscos ainda são muito grandes. Por enquanto, os problemas da economia internacional foram contidos, mas não resolvidos”, declarou. Em 2014, a alta mundial será de 17%, sempre na condição de que a crise seja resolvida.

Sentados sobre US$6 trilhões, as multinacionais simplesmente fecharam suas torneiras em 2012, esperando uma definição política da crise do euro e aguardando dias melhores para a economia mundial. Com a hesitação das grandes empresas e uma queda na renda, países ricos registrara uma queda de 37% nos investimentos.

Segundo os dados da ONU, o fluxo de investimentos externos ao Brasil também caiu em comparação a 2011. Mas em apenas em 2% e bem inferior à média mundial. No total, o País recebeu US$65,3 bilhões neste ano, contra US$66 bilhões em 2011.

Apenas Estados Unidos, China e Hong Kong receberam mais investimentos que o Brasil em 2012. Em 2011, o Brasil havia sido o quinto colocado como maior destino de investimentos. Em 2010, a economia nacional ocupava a sétima posição.

Dois fatores que pesaram para a posição do Brasil. O primeiro seria o incentivo dado pelo governo, por meio de políticas industriais, que estão atraindo multinacionais. Outro fator que poderia ter pesado de forma positiva foi o esforço de empresas de saltar barreiras impostas pelo governo e conseguir um melhor acesso ao mercado doméstico nacional.

Com o resultado, o Brasil superou tradicionais destinos de investimentos, como França, Reino Unido, Alemanha e Japão.

Os resultados do Brasil ajudaram a criar uma nova realidade internacional. Segundo os dados, 52% dos fluxos de investimentos em 2012 foram direcionados aos emergentes.

A China continua sendo o segundo maior destino, recebendo em 2012 mais de US$120 bilhões. Se somado o investimento recebido pela China e por Hong Kong, a potência asiática teria recebido um volume maior de dinheiro que os Estados Unidos.

Queda

Mas se a situação entre os emergentes é relativamente estável, os dados nos países ricos mostram uma realidade considerada como preocupante pela ONU.

Com a redução global de 18%, os níveis totais de investimentos chegaram a apenas US$1,3 trilhão, próximo do ponto mais baixo dos últimos dez anos. Em 2009, o pior ano para a economia mundial desde 1929, os investimentos haviam somado apenas US$1,2 trilhão.

Só na Europa US$150 bilhões desapareceram nos investimentos, contra uma queda de US$80 bilhões nos EUA.

Na Alemanha, a entrada de investimentos caiu de US$40 bilhões para apenas US$1 bilhão. Na Itália, a redução foi de 84% nos investimentos, somando meros US$5 bilhões. O volume de investimentos que chegou na Itália é inferior ao Peru, Nigéria ou Tailândia.

Na Espanha, investimentos externos sofreram uma contração de 40%. Hoje, a economia espanhola já recebe menos capital que Indonésia ou México.

Luis Nassif: Entenda os desafios econômicos para 2013

3 de janeiro de 2013

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Luis Nassif

O ano de 2013 será decisivo para a economia brasileira. Está-se em meio ao maior conjunto de transformações econômicas desde o governo Collor.

Depois da redemocratização, o País passou por três etapas relevantes:

Etapa 1 – Da Constituinte ao primeiro ano do governo Collor. Nela, são plantadas as bases para uma nova participação da sociedade civil. Embora de forma atabalhoada, a economia é liberada do pesado arcabouço estatal do período anterior.

Etapa 2 – Governo FHC, em que se consegue a estabilidade inflacionária, mas abandona-se completamente a luta pela competitividade da economia.

Etapa 3 – Governo Lula, em que se acelera a inclusão social e se cria um mercado interno robusto, mas, ainda assim, mantendo a competitividade interna ao relento.

Sem a perna da produção interna, o mercado não se sustenta.

Em 11 de março de 2012, em entrevista exclusiva ao Advivo, Dilma assegurou que sua batalha seria a defesa da indústria brasileira.

No decorrer do ano, a estratégia ficaria clara:

1. Medidas de desestímulo aos ganhos especulativos, principalmente pela redução da taxa Selic e do fim do modelo de apreciação permanente do dólar. E também com a redução da relação dívida pública/PIB que está obrigando grandes fundos de pensão a direcionar seus investimentos para a economia real.

2. Medidas de estímulo aos investimentos produtivos, pela ampliação dos recursos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da desoneração fiscal de muitos setores, da ampliação dos contratos de concessão e do aumento da defesa comercial.

3. Atuação sobre setores que influenciam a competitividade da economia, induzindo-o a trocar as margens de lucros elevadas por ganhos de escala. A ação maior foi sobre o setor elétrico, com a MP que reduziu as contas de luz; e sobre o setor financeiro, com os bancos públicos saindo na frente na redução dos spreads.

Os 16 anos de juros elevados e de ganhos financeiros fáceis permitiram enorme poder de acumulação para o capital interno, tanto dos fundos de investimentos quanto das grandes empresas. O desafio consiste em definir um conjunto de medidas que os induza a reciclar esse capital, transferindo das operações especulativas para a economia real.

Trata-se do mais relevante processo de mudanças desde o governo Collor. Como em toda mudança, há uma defasagem entre as medidas tomadas e os resultados alcançados. Tira-se setor privado, investidores e o próprio governo da zona de conforto, obrigando-os a rever práticas seculares, planos de negócio etc.

Ao colocar a economia em movimento, após décadas de estagnação, surgem problemas típicos do crescimento, como gargalos em infraestrutura, mão de obra etc.

Ao contrário do que supõem economistas mais superficiais, não se pode ter todos os fatores sob controle para então deflagrar o processo de crescimento. É o próprio crescimento que, ao mesmo tempo em que revela as vulnerabilidades da economia, cria as condições para sua superação.

Mais do que nunca será necessário acompanhar essas mudanças sem oportunismo político, mas identificando os problemas reais e apontando-os para posterior correção.


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