Posts Tagged ‘Impeachment’

Impeachment de Gurgel chega ao Senado

14 de março de 2013

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Delegados de polícia: por que o Ministério Público não pune seus corruptos?

Via Conversa Afiada

Protocolado pedido de impeachment de Gurgel

12 de março de 2013 – 13:01

Acaba de ser protocolado, no Senado da República, pelo ex-deputado Aderson Lago, o pedido de impeachment do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. A denúncia aponta que Gurgel usou de seu poder de procurador-geral para proteger a governadora Rosana (PMDB), filha do senador José Sarney (PMDB/AP), e impedir sua punição pelo Tribunal Superior Eleitoral em dois processos, em ação de cassação de mandato, e pelo Superior Tribunal de Justiça, em processo por crime de peculato.

O pedido de impeachment relata que Gurgel requisitou para si todos os processos que envolvem Roseana Sarney, num total de três com a única finalidade de retardar a devolução, impedido, assim, que Roseana seja julgada pela Justiça. Dentre os processos contra Roseana Sarney que Gurgel retarda deliberadamente, a denúncia aponta o RCED 809 que pede a cassação do diploma de governadora por abuso de poder político e econômico. Este processo está com Gurgel há mais de sete meses e ele jamais emitiu o parecer final.

“Ademais, o Ministério Público tão preocupado em apontar as falhas das outras instituições ainda não mostrou à sociedade sua capacidade de cortar na própria carne na correção e punição transparente dos desvios de condutas de seus próprios membros. Na Polícia Federal se demite e não se aposenta aqueles que traem seu juramento institucional de servir bem a sociedade.”

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Delegados rebatem declarações do procurador-geral da República Roberto Gurgel

12 de março de 2013 – 16:30

Confira a íntegra da nota divulgada pela ADPF.

A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) lamenta a manifestação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, de que “sem investigação do MP ‘mensalão’ acabaria em pizza”. Ela é no mínimo desrespeitosa com os policiais federais, ministros do STF, jornalistas e com a opinião pública, pois ignora a contribuição de cada um para o desfecho da Ação Penal 470.

Os delegados federais esclarecem que não se conhece trabalho do Ministério Público sem uma prévia e robusta investigação policial. No caso específico das investigações que culminaram com a Ação Penal 470, do “mensalão”, o que houve foi uma atuação colaborativa, com cada instituição cumprindo com o seu papel, como deve ser feito, em prol da apuração da verdade dos fatos.

O que preocupa a ADPF é a tentativa de convencimento de que o Ministério Público seria uma instituição acima do bem e do mal, acima de qualquer falha e erro. Instituições são feitas de pessoas e os seres humanos são falhos. Até parece que diante de tanta “independência” o comando do Ministério Público ou a designação para vagas nos tribunais não são indicações dos chefes do Poder Executivo.

Por isso, o sistema processual penal brasileiro é baseado em um sistema de freios e contrapesos onde os poderes se equilibram e fiscalizam, para evitar abusos e omissões. É preciso tomar cuidado com essa tentativa de colocar o Ministério Público acima dos demais, de forma tão independente, que não seja mais preciso prestar contas de seus atos a sociedade.

Ademais, o Ministério Público tão preocupado em apontar as falhas das outras instituições ainda não mostrou à sociedade sua capacidade de cortar na própria carne na correção e punição transparente dos desvios de condutas de seus próprios membros. Na Polícia Federal se demite e não se aposenta aqueles que traem seu juramento institucional de servir bem a sociedade.

Em suas investigações, a independência da Polícia Federal se apoia na prestação de contas ao Ministério Público, à defesa, ao Judiciário e à sociedade hoje marcada por uma imprensa livre e atuante. Há prazos, há regras e procedimentos a serem cumpridos. Os resultados obtidos de maneira técnica são a garantia de um processo imparcial, fundado desde o início em provas produzidas sem nenhuma vinculação com a defesa ou com a acusação, simplesmente voltada para a apuração da verdade real.

A PEC 37 traz a grande oportunidade de discutir o modelo de investigação que o Brasil quer. Os delegados federais não defendem a exclusividade da investigação pela Polícia Judiciária, mas um trabalho colaborativo, com o princípio de o cidadão brasileiro ser investigado sem casuísmo, na forma e nos termos da lei, pelo órgão competente para fazê-lo. O Ministério Público não pode sozinho e paralelamente disciplinar quando, quem e como investigar crimes no Brasil. A investigação criminal não pode ter dono!

Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF)

Polêmica com Luiz Fux alerta Senado sobre impeachment de ministro do STF

27 de dezembro de 2012
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O ministro Luiz Fux admite périplo em busca de vaga ao STF.

Via Correio do Brasil

Ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, encontra-se na alça de mira de parlamentares tanto da oposição quanto da base aliada. Fux encontra-se sob fogo pesado, após afirmar a jornalistas que pediu a autoridades dos governos dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff para ser indicado à Corte Suprema. Segundo o ministro-chefe da Secretaria da Presidência da República, Gilberto Carvalho, em recente entrevista, “sem que ninguém o perguntasse”, Fux garantiu que “mataria no peito” o julgamento dos líderes de esquerda envolvidos na Ação Penal (AP) 470, encerrado na semana passada com todos os votos do ministro contrários aos réus.

Segundo Gilberto Carvalho, no programa É Notícia do canal aberto RedeTV, apresentado pelo jornalista Kennedy Alencar, Fux o procurou e disse que o processo do “‘mensalão’ não tinha prova nenhuma” e que “tomaria uma posição muito clara”. Antes, em entrevista ao diário conservador paulistano Folha de S.Paulo, Fux confessou que pediu apoio aos ex-ministros Palocci e Delfim Netto, ao líder sem-terra João Pedro Stédile, ao deputado Paulo Maluf (PP/SP) e ao governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio. Este último se beneficiou com a decisão de Fux de impedir que o Congresso, por meio de uma manobra técnica, votasse os vetos aos royalties do petróleo.

Sobre o assunto, o jornalista Mauricio Dias, na revista semanal de esquerda CartaCapital, questiona a decisão do ministro Fux, que beneficiou Sérgio Cabral: “Caso a Câmara aprovasse uma lei pela qual o Supremo Tribunal Federal fosse obrigado a julgar os processos na ordem cronológica de ingresso, o que aconteceria? Muito provavelmente o STF diria tratar-se de indevida intromissão em sua regulação interna. Como pode o ministro Fux intervir no regimento do Congresso ao declarar inconstitucional a aprovação do pedido de urgência para os royalties? No gabinete dele os processos são despachados por ordem de chegada? Ou será que urgência só existe para o Judiciário, não para o Legislativo e o Executivo?”.

Autoritário

Na mesma linha de Maurício Dias, o sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, classifica o ministro de “autoritário”. Em artigo também publicado na CartaCapital, ele afirmaque “o pensamento autoritário já viveu dias melhores no Brasil. Sua credibilidade já foi maior, e suas ideias, mais consistentes. Seus formuladores, mais respeitados e com maior sua influência na vida nacional. Se compararmos Oliveira Vianna, Azevedo Amaral, Alberto Torres e Francisco Campos, seus principais expoentes na República Velha e durante o Estado Novo, aos autoritários de hoje, a distância é abissal”.

“Seus sucessores contemporâneos são de dar pena. Salvo as exceções de praxe, faltam-lhes educação e estilo. Substituíram a disposição para o debate pela ofensa e a repetição de lugares-comuns. São ignorantes. O que os une aos antigos são as convicções que compartilham. A começar pelo que mais distingue o autoritarismo ideológico: a certeza de que a democracia pode ser boa no plano ideal, mas é irrealizável na prática. No mundo real, o povo seria incapaz de se governar e precisaria das elites para orientá-lo. Sem sua proteção paternal, se perderia”, acrescenta Coimbra.

Para o sociólogo, “diferentemente do passado, muitos dos autoritários da atualidade se abrigam na mídia conservadora. Sem a proteção que recebem de seus veículos para falar alto e se exibir como valentes, não existiriam. Mas há autoritários hoje no mesmo lugar em que, no passado, militaram vários: no Judiciário e cargos afins. Alberto Torres foi ministro do Supremo Tribunal Federal, Oliveira Vianna, do Tribunal de Contas da União, e Francisco Campos foi consultor geral da República”.

“O julgamento do ‘mensalão’ tem sido um momento privilegiado para conhecer o pensamento autoritário atual em maior detalhe. Seus representantes na mídia estão esfuziantes. O andamento do processo no Supremo Tribunal Federal foi melhor que a encomenda. No fundo, todos sabiam quão frágil era a denúncia montada pela Procuradoria Geral da República. A alegria de ver expoentes do ‘lulopetismo’ condenados os enche de entusiasmo. Querem revidar em compensação a tudo que os entristeceu nos últimos anos. Quantas vezes foram forçados a se desdizer? Quantas projeções furadas fizeram? Quantos amigos na oposição tiveram de consolar?”, questiona.

Coimbra lembra que “não tínhamos tido, até recentemente, a oportunidade de ver, com clareza, o autoritarismo existente no STF. Era um tribunal predominantemente discreto, que trabalhava longe dos holofotes. Vez por outra aparecia, mas para se pronunciar a respeito de questões específicas, ainda que nem sempre de maneira apropriada. Agora, não. Fez parte do pacto da mídia conservadora com a Corte a mudança radical desse padrão. As luzes foram acesas, os microfones ligados e os repórteres postos a serviço. Tudo o que os ministros dissessem seria ouvido, registrado e divulgado, com pompa e fanfarras”.

“E eles se puseram a falar. Ao longo do julgamento, à medida que liam seus votos, vimos quão parecidas são as ideias de quase todos com aquelas dos autoritários de 100 anos atrás. No mês passado, Luiz Fux aproveitou a visibilidade de orador na posse de Joaquim Barbosa na presidência do tribunal para apresentar algumas das suas. Tomemo-las como ilustração do que pensam por lá. O discurso de Fux foi extraordinário. Até no que revelou da cumplicidade que se estabeleceu entre a mídia e o tribunal. É pouco provável que fosse tão assumidamente autoritário se não se sentisse amparado pelos correligionários na mídia. Ficou famosa sua tortuosa formulação de que seria natural que o Judiciário se tornasse mais ativo, para intervir na “solução de questões socialmente controversas, como reflexo de uma nova configuração da democracia, que já não se baseia apenas no primado da maioria e do jogo político desenfreado”, acrescentou.

Para o sociólogo, “parece que Fux imagina ter feito uma descoberta. Que haveria uma ‘nova configuração da democracia’, sabe-se lá o que isso seja, que exigiria deixar de lado o ‘primado da maioria’ e o tal ‘jogo político desenfreado’. Nada há, entretanto, de original no diagnóstico e no receituário. Antes dele, outros autoritários haviam chegado ao mesmo lugar. Todos, de antes ou recentes, têm a mesma aversão à vontade das maiorias. No fundo, acreditam que o povo não está ‘preparado para a democracia’. Que exige ‘homens de bem’ para guiá-lo, livrando-o dos ‘demagogos’. Todo autoritário é antidemocrático, quer frear o ‘jogo desenfreado’. E se imagina ungido da missão de fazê-lo, pela sua auto-atribuída superioridade em relação ao cidadão comum. Talvez por desconhecer de onde vêm as ideias que professa, Fux – e os que se parecem com ele – acredita estar sendo ‘novo’. É tão velho quanto a Sé de Braga”.

Impeachment

Diante do fogo cruzado, no qual integrantes da oposição ao governo federal também questionam os últimos pronunciamentos do ministro, o jornalista Paulo Henrique Amorim, apresentador de um jornal da rede de tevê aberta Record e editor do blog Conversa Afiada, adiantou, na terça-feira, dia 25, que na volta do recesso parlamentar, o Senado deverá votar o impeachment do ministro do STF Luiz Fux.

Amorim, em texto publicado na véspera, questiona: “Os votos do ministro Fux estão irremediavelmente sob suspeita. O depoimento de Gilberto Carvalho o incrimina de forma inequívoca. Como é que um ‘candidato’ […] a ministro do Supremo visita um ministro de um governo petista e promete a este ministro petista que ‘tomaria uma posição muito clara’ num processo que ‘não tinha prova nenhuma’ e incriminava líderes? Onde é que nós estamos? Com quem mais ele fez campanha? Com o Daniel Dantas? Com o Padim Pade Cerra?”.

“Não cabe nem julgar se essa promessa de “matar o ‘mensalão’ [o do PT] no peito” foi decisiva para ser indicado. O que importa é que a “campanha” é inequivocamente espúria. Desonra o Supremo. Não importa saber se ele “não entregou” o que prometeu. E quando o PiG (Partido da imprensa Golpista) começou a votar, ele amarelou. Amarelou e ingressou de armas, bagagens e caderno telefônico nos Chico Campos (redator da “Polaca”, a constituição ditatorial de 1937). O que importa é o processo, é o meio. É a tecnologia de chegar ao mais alto posto da magistratura”, afirma.

Paulo Henrique Amorim lembra que “o Senado perdeu a histórica oportunidade – na verdade, seu presidente, José Sarney – de abrir um processo de impeachment de Gilmar Dantas (o jornalista Ricardo Noblat insiste em chamar Gilmar Mendes de Gilmar Dantas), tal qual proposto com argumentos irrefutáveis pelo dr. Piovesan. Onde estão os petistas do Senado? O Suplicy, o Pinheiro, o Vianna? Ou ali só se salvam o Collor e o Requião, que denuncia o golpismo com todas as letras? Se o Senado – o único instrumento constitucional de censura a um ministro do Supremo – se calar diante das promessas de campanha do ministro Fux estará aberto o caminho para campanhas similares preencherem as vagas do trânsfuga Ayres Britto e do decano Celso de Mello, aquele que o PiG quer transformar em mentor intelectual do presidente Joaquim Barbosa”.

“O Requião diz que o Congresso transformou-se numa ameba, porque tem o rabo preso. O Collor denunciou um procurador-geral que chama de chantagista e prevaricador, como quem pregasse no deserto. Tem o PT vermelho, do Marco Maia, que disse não ao Barbosa e, certamente, contribuiu para que a democracia caísse na cilada do Gurgel. Mas, tem também o PT amarelo, o ‘Odarelo‘. Esse PT Odarelo é o que, aparentemente, predomina no Senado. E, nesse intervalo natalino, o próximo ministro do Supremo deve estar a prometer ao Felipão, ao Faustão e ao Gilberto Carvalho que vai ‘matar os tucanos’ com um tiro no peito”, concluiu Paulo Henrique Amorim.

Presidente golpista pode sofrer impeachment no Paraguai

18 de outubro de 2012

Além de golpista, Federico Franco enriqueceu ilicitamente.

Via Página/12 e lido no Carta Maior

Senadores paraguaios estudam a possibilidade de abrir um processo de impeachment e de iniciar ações penais contra o presidente Federico Franco pelas irregularidades em sua declaração de bens e pelo aumento de 700% de sua fortuna pessoal em apenas quatro anos. Franco assumiu a presidência depois de um golpe constitucional contra Fernando Lugo, que foi destituído após um julgamento político que durou apenas 24 horas.

Franco justificou ontem o aumento de seu patrimônio nos últimos quatro anos, desde que chegou à vice-presidência, em 2008. O jornal Ultima Hora denunciou que seu patrimônio aumentou de US$150 mil, em 2008, para mais de US$1 milhão, em 2012.

“Houve um grave erro desde o ponto de vista da avaliação de meu imóvel”, disse Franco em uma coletiva de imprensa. O mandatário disse que pediu uma nova auditoria à Controladoria da Nação, o órgão encarregado dessa tarefa.

O pronunciamento dos legisladores, que ainda não foi apresentado ante o Parlamento, ocorreu logo depois da declaração de Franco à Controladoria, em agosto passado, se converter em uma verdadeira tormenta política.

O senador do Partido País Solidário, Carlos Fillizola, considerou que a descoberta do aumento do patrimônio pessoal de Franco “somada às acusações anteriores de nepotismo existentes contra ele, justificam que ele seja submetido a um julgamento político”.

Por sua parte, o senador Hugo Estigarribia, do Partido Colorado, avaliou que a Procuradoria deve investigar Franco, porque suas justificações sobre o tema “não o eximem da correspondente responsabilidade penal pelo ocorrido e ele pode ser acusado de ter prestado falsa declaração”.

Paralelamente, o procurador anticorrupção, Carlos Arregui, disse que, apesar da tentativa de Franco de “arrumar” sua declaração de bens, a Controladoria pode determinar que isso não é compatível com os fatos e, neste caso, o Ministério Público abrirá uma investigação penal.

Tradução: Katarina Peixoto

O Brasil e a mídia, 20 anos depois da queda de Collor

1 de outubro de 2012

Collor e a ex-mulher no dia de sua posse.

Paulo Nogueira em seu Diário do Centro do Mundo

A queda de Fernando Collor de Mello, há 20 anos, foi a última demonstração de força e influência da imprensa brasileira, para o bem e para o mal.

Collor, um político provinciano e oco, tagarela e bonitão, se tornou uma figura nacional graças à mídia, que viu nele uma alternativa salvadora a – sempre ele – Lula na Presidência.

Collor seria consagrado como “o caçador de marajás” por jornais e revistas. Era descrito pela mídia como o homem perfeito: combatia marajás – os funcionários públicos de altos salários – e era moderno. Este foi o primeiro empurrão em Collor e lhe permitiu chegar ao segundo turno das eleições presidenciais.

Sua plataforma era a versão tosca em português da de Margaret Thatcher, que então era tida como uma semideusa. Não haviam aparecido ainda os efeitos nefastos do thatcherismo. Hoje eles são claros, impressos que estão na grande crise econômica e financeira mundial. Mas quando Collor virou um pretendente sério à Presidência a fórmula de Thatcher – desregulamentar e privatizar — parecia funcionar.

Como um Thatcher de calças, Collor cortejou e conquistou Roberto Marinho, à época considerado amplamente o homem mais poderoso do País. Isso foi essencial para o segundo empurrão dado em Collor: a edição mal-intencionada da TV Globo do debate entre ele e Lula às vésperas da eleição.

Lula não foi bem no debate, mas na edição da Globo – vista por uma audiência gigantesca que já não existe mais para a emissora – ele foi ainda muito pior.

E então nosso Thatcher virou presidente.

Collor cometeu o erro de achar que, porque andara de avião, podia voar sozinho. Foi fatal. Não buscou alianças políticas, e não soube manter sequer o apoio da mídia que tanto contribuíra para sua vitória.

Sem apoio político, foi jogado para o abismo pela mesma mídia que o alçara ao Planalto. Foi o apogeu da imprensa como força política. Em 1964, ela participara ativamente das ações para a derrubada do presidente João Goulart, mas o papel principal coube aos militares. Em 1992, o protagonismo foi da mídia.

Passados 20 anos, o poder da imprensa é uma sombra do que foi. Em parte porque a internet foi ocupando um espaço cada vez maior. Mas também porque as grandes corporações de jornalismo não souberam captar o zeitgeist, o espírito do tempo. E isso é fatal no jornalismo.

Em 1992, por exemplo, ler a Folha era considerado coisa de gente bacana. Ela captara o espírito do tempo na campanha das Diretas Já. Hoje, na nova geração de leitores, quem se importa com a Folha? O espírito do tempo, hoje, se manifesta em coisas como a inconformidade com a iniquidade social monstruosa que varreu o mundo. Na agenda de que grande empresa de mídia se vê algum traço desse inconformismo?

A maior demonstração da crescente falta de potência está nos resultados das três últimas eleições presidenciais. Ganharam candidatos – Lula e Dilma – que jamais gozaram do apoio da mídia, para dizer o mínimo.

É bom ou ruim o enfraquecimento da mídia estabelecida para o Brasil? É difícil lamentar a perda de influência. O Brasil que as grandes empresas de jornalismo ajudaram a construir era simplesmente insustentável em sua iniquidade, na forma absurda com que era distribuído o bolo, no número abjeto de miseráveis amontoados em favelas.

No mundo perfeito, a mídia teria apontado esse drama e lutado para corrigi-lo. Não fez. Fez o oposto, na verdade: se alinhou à manutenção de privilégios. Por isso, vinte anos depois da queda de Collor, fala apenas para os privilegiados – e não todos eles, mas aqueles que em seu egoísmo sem limites ignoram e desprezam os desfavorecidos.

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Por ganhar “apenas” R$18 milhões de pensão, Rosane detona Collor

João Pedro Stédile: As mentiras paraguaias das elites brasileiras

17 de julho de 2012

O maior conflito do Paraguai é reaver a terra usurpada por fazendeiros brasileiros. O país vizinho “cedeu” a estrangeiros 25% do seu território cultivável.

João Pedro Stédile, lido no Advivo

Mal havia terminado o golpe de Estado contra o presidente Fernando Lugo e flamantes porta-vozes da burguesia brasileira saíram em coro a defender os golpistas. Seus argumentos eram os mesmos da corrupta oligarquia paraguaia, repetidos também de forma articulada por outros direitistas em todo continente. O impeachment, apesar de tão rápido, teria sido legal. Não importa se os motivos alegados eram verdadeiros ou justos.

Foram repetidos surrados argumentos paranoicos da Guerra Fria: “O Paraguai foi salvo de uma guerra civil” ou “o Paraguai foi salvo do terrorismo dos sem-terra”.

Se a sociedade paraguaia estivesse dividida e armada, certamente os defensores do presidente Lugo não aceitariam pacificamente o golpe. Curuguaty, que resultou em sete policiais e 11 sem-terras assassinados, não foi um conflito de terra tradicional. Sem que ninguém dos dois lados estivesse disposto, houve uma matança indiscriminada, claramente planejada para criar uma comoção nacional. Há indícios de que foi uma emboscada armada pela direita paraguaia para culpar o governo.

Foi o conflito o principal argumento utilizado para depor o presidente. Se esse critério fosse utilizado em todos os países latino-americanos, FHC seria deposto pelo massacre de Carajás. Ou o governador Alckmin pelo caso Pinheirinho.

O Paraguai é o país do mundo de maior concentração da terra. De seus 40 milhões de hectares, 31.086.893 são de propriedade privada. Os outros 9 milhões são ainda terras públicas no Chaco, região de baixa fertilidade e incidência de água.

Apenas 2% dos proprietários são donos de 85% de todas as terras. Entre os grandes proprietários de terras no Paraguai, os fazendeiros estrangeiros são donos de 7.889.128 hectares, 25% das fazendas.

Não há paralelo no mundo: um país que tenha “cedido” pacificamente para estrangeiros 25% de seu território cultivável. Dessa área total dos estrangeiros, 4,8 milhões de hectares pertencem brasileiros.

Na base da estrutura fundiária, há 350 mil famílias, em sua maioria pequenos camponeses e médios proprietários. Cerca de cem mil famílias são sem-terra.

O governo reconhece que desde a ditadura Stroessner (1954–1989) foram entregues a fazendeiros locais e estrangeiros ao redor de 10 milhões de hectares de terras públicas, de forma ilegal e corrupta. E é sobre essas terras que os movimentos camponeses do Paraguai exigem a revisão.

Segundo o censo paraguaio, em 2002 existiam 120 mil brasileiros no país sem cidadania. Desses, 2 mil grandes fazendeiros controlam áreas superiores a mil ha e se dedicam a produzir soja e algodão para empresas transnacionais como Monsanto, Syngenta, Dupont, Cargill, Bungue…

Há ainda um setor importante de médios proprietários, e um grande número de sem-terra brasileiros vivem como trabalhadores por lá. São esses brasileiros pobres que a imprensa e a sociologia rural apelidaram de “brasiguaios”.

O conflito maior é da sociedade paraguaia e dos camponeses paraguaios: reaver os 4,8 milhões de hectares usurpados pelos fazendeiros brasileiros. Daí a solidariedade de classe que os demais ruralistas brasileiros manifestaram imediatamente contra o governo Lugo e a favor de seus colegas usurpadores.

O mais engraçado é que as elites brasileiras nunca reclamaram de, em função de o Senado paraguaio sempre barrar todas as indicações de nomes durante os quatro anos do governo Lugo, a embaixada no Brasil ter ficado sem mandatário durante todo esse período.

João Pedro Stédile é economista e integrante da coordenação nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) e da Via Campesina Brasil.

Paraguai: Golpe de estado contra Lugo pode ser anulado

12 de julho de 2012

Suprema Corte paraguaia acata ação de inconstitucionalidade contra impeachment de Lugo. O Ministério Público terá 18 dias úteis para decidir se o processo político contra o ex-presidente pode ser anulado.

Via Opera Mundi

A Suprema Corte do Paraguai acatou a ação dos advogados de defesa do ex-presidente Fernando Lugo que alegam inconstitucionalidade no processo político estabelecido no Senado que determinou a cassação do seu mandato. O presidente da Corte, Victor Núñez, confirmou a informação e afirmou que a ação já se encontra nas mãos do Ministério Público.

O procurador do Estado responsável por analisar a ação será Javier Diaz Verón. Ele terá 18 dias úteis para dar o seu parecer. O procurador irá dar o seu parecer sobre se o processo político que destituiu o poder de Lugo será anulado ou não.

Núñez explicou que, uma vez recebida a resposta do Ministério Público, a ação deve ser transferida ao Senado, que tem o mesmo prazo para justificar o processo, já que a acusação foi feita contra a entidade. Uma vez que o Senado manifeste usa resposta, a Suprema Corte terá 30 dias para divulgar sua sentença, afirmou o procurador à rádio 650 AM do Paraguai.

Esta é a segunda ação de inconstitucionalidade que apresentam os defensores de Lugo, desta vez, contra a Câmara Alta do Parlamento. O ex-presidente foi destituído do cargo em 22 de junho pelo Congresso por intermédio de um julgamento político realizado em tempo recorde. Ele deixou a Presidência 14 meses antes de terminar seu mandato.


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