
Saul Leblon, via Carta Maior
O resultado do Ibope de quinta-feira, dia 24, vai intensificar o alarido conservador que já ganhava contornos de uma operação de vida ou morte nos últimos meses.
A um ano do pleito, é cedo para quem pode comemorar a perspectiva de vitória incondicional no 1º turno, como mostram as pesquisas. Mas o cedo para a cautela é tarde para o desespero de quem uiva e ruge mas não avança. Patina. E vê a perspectiva da reeleição crescer com consistência, sem dispor sequer de um nome definido para afrontá-la. Quanto mais de um projeto crível.
A operação “vale tudo”, velha conhecida de outros pleitos, está de volta. Desta vez, com requintes de decibéis. Sintomático, em primeiro lugar, é que nenhum espaço seja poupado na arregimentação de um poder de fogo que parece não ter mais nada a perder.
Tome-se o jornal Valor Econômico, uma sociedade entre os Frias e Marinhos. O diário nunca ocultou a natureza de um veículo feito para o mercado. Pautado por eficiente carpintaria informativa, indisponível nos demais noticiosos da mesma cepa, tornar-se-ia uma ilha de credibilidade no oceano ardiloso da chamada grande imprensa.
Não é mais assim. Infelizmente. Desde que ficou clara a exaustão do linchamento petista na embutida operação AP 470, o jornalismo do Valor foi convocado a desembainhar armas.
A frequência com que o verbo “surpreendeu” passou a frequentar suas manchetes é inversamente proporcional ao acerto da recorrente extrema unção ministrada à economia brasileira em suas páginas. Se não for hoje, de amanhã não escapa.
É o que resmungam os textos às seguidas contrariedades de indicadores cujo resultado “surpreendeu os mercados”, dizem as manchetes desenxabidas.
O jornalismo novo-cristão do Valor foi o endereço do recado duro desfechado pela presidenta Dilma Rousseff contra a manipulação informativa sobre o modelo de partilha, adotado na exploração do pré-sal brasileiro.
A segunda-feira, dia 21/10, seria decisiva para o teste desse protocolo. Um fiasco no leilão de Libra poderia colocar tudo a perder. Ademais de oferecer a retroescavadeira ansiada pela oposição e pelas petroleiras internacionais para enterrar o futuro da regulação do pré-sal, poderia sepultar junto o projeto de reeleição do governo Dilma.
Manchete garrafal na edição do Valor endereçada aos investidores horas antes do certame:
“Modelo de Libra deve ser revisto”
Ora, se eu cogito investir bilhões num negócio com prazo de validade inferior ao de um pote de iogurte, melhor recuar. Melhor esperar as condições mais favoráveis aos “mercados”, veiculadas pelo Valor a partir de abalizadas inconfidências de “fontes do Planalto”.
“Não atribuam a nós uma dúvida que não existe no governo (assumam). Quem são essas fontes, por que não se mostram”, fuzilou a Presidenta depois do sucesso do leilão, que consolidaria um núcleo estatal, com 60% do consórcio (Petrobras, mais as chinesas), mas incluiria também as imprevistas (inclusive por Carta Maior) adesões da Shell e da Total, com os restantes 40%.
O episódio magnifica uma rotina que será intensificada em espirais ascendentes até a urna de 2014. O conservadorismo pressente que a alavanca política na qual já apostou a eleição de 2006 – o dito “mensalão” – não lhe dará, de novo, o passaporte da volta ao poder.
As baterias se voltam, assim, para a trincheira econômica, de onde se vislumbra um flanco histórico para ressuscitar a velha e boa receita do lacto purga ortodoxo contra os males do País. Existe algum chão firme nesse propósito.
O Brasil vive, de fato, uma transição de ciclo econômico. Como a viveu em 30, em 50, em 60 e em 2002. Decisões estruturais são cobradas para pavimentar o passo seguinte de seu desenvolvimento.
Não há receita pronta; tampouco as pedras do jogo podem ser alinhada em uma palheta bicolor. Quem reduz a luta pelo desenvolvimento às escolhas binárias acredita no fabulário clássico que trata a economia política como ciência exata.
O Brasil é o desmentido eloquente desse charlatanismo. Nos últimos 12 anos, o País não fez tudo o que poderia ter feito. Mas ampliou o investimento social do Estado; recuperou o poder de compra popular; gerou um novo ator político composto de 60 milhões de pessoas que ascenderam ao mercado de massa; retomou o papel indutor do setor público na economia; reservou entre 70% a 80% da renda da maior descoberta de petróleo do século 21 a uma redistribuição social capaz de redimir a escola pública e a saúde; afrontou a lógica da Nafta em busca de uma nova ordem internacional; fortaleceu a agenda progressista latino-americana.
Avançou.
Mas o País ainda flutua no leito de uma travessia inconclusa. Carece, agora, de um salto de investimentos que lhe forneça os trilhos, a coerência e a base sustentável à nova engrenagem em construção.
O Brasil tem no pré-sal um poderoso vetor desse processo, capaz, ademais, de renovar sua planta fabril estiolada em décadas de crise externa e desequilíbrio cambial.
Os encadeamentos intrínsecos ao modelo de partilha destinam ao mercado doméstico brasileiro ao menos 50% dos R$200 bilhões em encomendas de equipamentos e serviços requisitados apenas no caso de Libra. Os oligopólios mundiais cobiçam o apetite brasileiro.
Num planeta cujo principal problema é justamente a falta de demanda para sair da crise, há uma Nação que adicionou 60 milhões de consumidores à fila do caixa; tem plano de aceleração do crescimento que inclui 17 mil quilômetros de estradas e ferrovias, ademais da construção simultânea de portos, aeroportos e hidrelétricas e, por fim, dispõe de 100 bilhões de barris de petróleo no fundo do mar. E sabe extraí-los de lá.
Não é pouco.
A chance de abocanhar mais do que interessa ao País ceder, pressupõe ganhar uma guerra: a guerra das expectativas. O pulo do gato consiste em fazer o Brasil desacreditar da capacidade de comandar seu próprio destino. A isso se dedica com redobrada contundência o noticioso econômico nos dias que correm.
O episódio protagonizado pelo Valor é apenas a ilustração sôfrega do que vem pela frente. Os exemplo se avolumam. O desemprego em setembro oscilou de 5,3% para 5,4%, em relação a agosto. Uma diferença de 0,1%. Foi o melhor setembro do mercado de trabalho desde 2002, diz o IBGE.
A renda real do trabalhador cresceu 0,9% no mês e a indústria liderou a criação de vagas: 68 mil novos empregos. Manchete garrafal no site de O Globo na manhã de quinta-feira, dia 24:
“Taxa de desemprego sobe para 5,4%”
Não é um ponto fora da curva. A Folha esquenta as turbinas para 2014 oferecendo sua manchete principal no mesmo dia a ressuscitar as missões do FMI. Aquelas que faziam furor em suas visitas imperais a um Brasil endividado e genuflexo.
O diário dos Frias recorre à desacreditada gororoba do diagnóstico fiscal do Fundo na tentativa de ofuscar a vitória do governo no leilão de Libra. O Fundo aleijou a Europa com a mesma receita endossada aqui pela manchete da Folha. A ponto de a Espanha hoje ter um déficit fiscal que é quase o dobro daquele anterior à crise.
A austeridade ministrada decepou a receita do governo. A recessão autossustentável fez o resto. Há seis milhões de desempregados no País (26% da força de trabalho).
O principal jornal espanhol, El Pais, criou um espaço fixo para contar histórias da grande diáspora da juventude da Espanha, em busca daquilo que a austeridade lhe subtraiu: emprego, esperança e razão de viver. O conservadorismo sabe as consequências do que busca.
Elas são funcionais ao jogo de quem considera que para um país ir adiante, é preciso fazer o seu povo andar para trás. É um velho divisor da política nacional.
Convém estar atento aos campos que ele delimita, para além das aparências e divergências pontuais. Nos anos 50, um pedaço das forças progressistas só foi perceber seu lado quando o povo já estava nas ruas apedrejando os carros do jornal O Globo.
Getulio, isolado pela esquerda e esmagado pela direita, dera um cavalo de pau na história com um único tiro. Que até hoje alerta para o conflito de interesses intrínseco à luta pelo desenvolvimento brasileiro.
***
Pesquisa do ibope mostra Dilma eleita no 1º turno
Pesquisa Ibope divulgada nesta quinta-feira (24) indica que a presidente Dilma Rousseff tem 41% das intenções de voto e venceria no primeiro turno se a eleição de 2014 fosse hoje e os adversários fossem o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e o senador Aécio Neves (PSDB/MG), no cenário que atualmente seria o mais provável.
Nessa hipótese, Aécio soma 14% das intenções de voto e Campos, 10%. As opções por voto nulo ou branco acumulam 22% e outros 13% disseram que não sabem em quem votar ou não responderam.
O Ibope ouviu 2.002 eleitores entre a quinta (17) e quarta (23) em 143 municípios. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Isso quer dizer que a intenção de voto em Dilma (41%), por exemplo, pode variar na faixa entre 39% e 43%.
Outros cenários
Em todos os demais cenários, Dilma também venceria no primeiro turno.
No cenário no qual o candidato do PSB seria a ex-senadora Marina Silva, em vez do governador Eduardo Campos, o resultado seria o seguinte:
– Dilma Rousseff: 39%
– Marina Silva: 21%
– Aécio Neves: 13%
– Brancos/nulos: 16%
– Não sabe/não respondeu: 11%
No cenário em que o candidato do PSDB é o ex-governador de São Paulo José Serra e o do PSB, Eduardo Campos:
– Dilma Rousseff: 40%
– José Serra: 18%
– Eduardo Campos: 10%
– Brancos/nulos: 19%
– Não sabe/não respondeu: 12%
Com Marina como candidata do PSB e Serra como candidato do PSDB, o Ibope apurou o seguinte resultado:
– Dilma Rousseff: 39%
– Marina Silva: 21%
– José Serra: 16%
– Brancos/nulos: 15%
– Não sabe/não respondeu: 10%
Segundo turno
Nas simulações de segundo turno, Dilma venceria todos os demais adversários. Observe abaixo:
– Dilma Rousseff: 47%
– Aécio Neves: 19%
– Branco/nulo: 22%
– Não sabe/não respondeu: 11%
– Dilma Rousseff: 42%
– Marina Silva: 29%
– Branco/nulo: 18%
– Não sabe/não respondeu: 11%
– Dilma Rousseff: 45%
– Eduardo Campos: 18%
– Branco/nulo: 24%
– Não sabe/não respondeu: 14%
– Dilma Rousseff: 44%
– José Serra: 23%
– Branco/nulo: 20%
– Não sabe/não respondeu: 13%
Espontânea
Confira abaixo o resultado na parte da pesquisa em que o Ibope apurou a intenção de voto espontânea, na qual o pesquisador simplesmente pergunta em quem o eleitor votaria se a eleição fosse hoje, sem apresentar uma lista de candidatos:
– Dilma Rousseff: 21%
– Lula: 7%
– Marina Silva: 6%
– Aécio Neves: 5%
– José Serra: 4%
– Eduardo Campos: 2%
– Outros com menos de 1%: 1%
– Branco/nulo: 13%
– Não sabe/não respondeu: 40%
Rejeição
A taxa de rejeição (percentual de eleitores que disse que não votaria no candidato de jeito nenhum) está distribuída da seguinte maneira, segundo o Ibope:
– José Serra: 47%
– Aécio Neves: 40%
– Eduardo Campos: 39%
– Dilma Rousseff: 38%
– Marina Silva: 31%
Pesquisa anterior
Em pesquisa Ibope anterior, divulgada em 26 de setembro pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, Dilma aparecia com 38%. Mas, naquela ocasião, a ex-senadora Marina Silva ainda não havia se filiado ao PSB de Campos – ela cogitava concorrer pela Rede Sustentabilidade, partido cujo registro foi negado no início deste mês pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Naquela pesquisa, Marina tinha 16%, Aécio, 11%, e Campos, 4%.

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