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Apoio da Globo ao golpe de 1964 foi comercial, não ideológico

3 de setembro de 2013

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Em 1964, quando João Goulart foi deposto pelos militares, a Globo noticiou o golpe que lançou o Brasil nas trevas como a restauração da democracia. Quase 50 anos depois, os Marinho pedem desculpas, como se aquele tivesse sido um erro meramente editorial. Na verdade, foi uma aposta comercial, que permitiu à Globo se transformar num dos maiores grupos de mídia do mundo, mesmo passando por cima da lei, como no acordo Time-Life. Atualmente, cada um dos irmãos Marinho possui uma fortuna estimada em mais de US$7 bilhões. O arrependimento pode até fazer bem à alma, mas o certo seria devolver à sociedade todos os benefícios gerados pela relação promíscua com os militares

Via Brasil 247

O fato político mais importante do fim de semana passado, sem dúvida, foi o histórico mea culpa das Organizações Globo, em relação ao regime militar de 1964. Em editorial do jornal O Globo, publicado no sábado, dia 31/8, a família Marinho reconheceu como erro seu apoio à ditadura que mergulhou o Brasil nas trevas, um dia depois de a emissora ter sido alvo de um inusitado protesto, quando manifestantes jogaram esterco na sede da emissora em São Paulo.

No texto de O Globo, no entanto, a empresa da família Marinho aponta o apoio ao golpe – noticiado pelo O Globo, em 1964, como a restauração da democracia – como um “erro editorial”. Uma questão de ideologia, talvez.

Na verdade, essa é uma desculpa canhestra. A adesão de Roberto Marinho aos militares foi, antes de tudo, uma opção comercial, que permitiu à Globo se transformar num dos mais poderosos grupos de e mídia do mundo – hoje, seus três filhos (Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto) têm fortunas estimadas em US$7 bilhões para cada um deles.

Chegar até lá envolveu competência, qualificação técnica, mas também uma série de privilégios, como no polêmico acordo da Globo com a Time-Life, que deu ao empresário Roberto Marinho condições de lançar sua televisão, que tomou o lugar da Tupi e ajudou a afundar o império de Assis Chateaubriand.

Abaixo, um resumo do que foi o acordo O Globo-Time-Life, segundo o Museu da Corrupção:

A inauguração da TV Globo ocorreu em 26 de abril de 1965. Dois meses depois, Carlos Lacerda denunciou como ilegais as relações da emissora com o grupo norte-americano Time-Life. Três anos antes, um acordo polêmico assinado entre Time-Life e as Organizações Globo, permitiu à empresa brasileiro acesso a um capital em torno de 6 milhões de dólares, o que lhe garantiu recursos para comprar equipamentos e montar sua infraestrutura. Em troca, o Time-Life teria participação em 30% de todos os lucros aferidos pelo funcionamento da TV Globo. O acordo foi considerado ilegal, pois a Constituição Brasileira naquela época proibia que qualquer pessoa ou empresa estrangeira possuísse participação em uma empresa brasileira de comunicação.

A questão foi levada ao conhecimento do Contel (Conselho Nacional de Telecomunicações), que em junho de 1965 abriu um processo para investigar o caso. Paralelamente, em outubro do mesmo ano, o deputado Eurico de Oliveira apresentou um requerimento à Câmara pedindo a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito.

No dia 20 de abril de 1966, o presidente da empresa, Roberto Marinho (na foto acima com a esposa, Lili de Carvalho, durante a posse na ABL) depôs e explicou aos congressistas que dois contratos haviam sido firmados com o Time-Life, um contrato de assistência técnica e uma conta de participação. Como uma tentativa de legalizar o acordo, mencionava-se claramente nos termos deste acordo que a Time-Life ou Time Inc. não tinha o direito de participar ou de interferir na administração da Globo.

Na prática, Time-Life possuía grande influência dentro da Globo: Joseph Wallach, o ex-diretor da Time-Life na Califórnia, se tornou de fato um diretor executivo dentro da Globo.

Os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito terminaram em setembro de 1966, com um parecer desfavorável à Globo. Os parlamentares consideraram que os contratos firmados com o Time-Life feriam a Constituição, alegando que a empresa norte-americana estaria participando da orientação intelectual e administrativa da emissora.

Em fevereiro de 1967, o governo federal mudou a legislação sobre concessões de telecomunicações, criando efetivas restrições aos empréstimos de origem externa e à contratação de assistência técnica do exterior. Contudo, tratava-se de um dispositivo legal sem efeito retroativo, e os contratos do Time-Life com a TV Globo eram de 1962 e 1965.

Em outubro de 1967, o consultor-geral da República Adroaldo Mesquita da Costa emitiu um parecer sobre o caso Globo/Time-Life. Ele considerou que não havia uma sociedade entre as duas empresas e assim a situação da TV Globo ficou oficialmente legalizada.

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Leia a seguir o editorial assinado por Roberto Marinho, em O Globo, na edição de 7 de outubro de 1984. Eles mudam muito de opinião.

Globo_Jornal_Golpe64***

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Globo se desculpa pelo passado. Mas e o presente?

2 de setembro de 2013

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Em editorial histórico, jornal O Globo reconhece que errou ao apoiar o golpe militar de 1964, mas diz que outros veículos de comunicação, como Folha e Estado, fizeram o mesmo. O mea culpa acontece um dia depois de a emissora ser alvo de um protesto violento, que atiraram esterco na emissora. Ao longo de sua história, Roberto Marinho andou de mãos dadas com os generais, como na foto com João Batista Figueiredo. Será mesmo que a Globo se arrependeu ou são lobos que se vestem de cordeiros para aplacar a fúria das ruas?

Via Brasil 247

Quase meio século depois do golpe militar de 1964, a poderosa Globo fez um mea culpa histórico. Reconheceu que errou ao apoiar a ditadura, mas disse que seu erro foi compartilhado por outros meios de comunicação, como Folha e O Estado de S.Paulo.

O reconhecimento ocorre um dia depois de a Globo ser alvo de um protesto violento, em São Paulo, quando um grupo atirou esterco na sede da emissora. “À luz da História, contudo, não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editoriais do período que decorreram desse desacerto original”, diz o texto, divulgado hoje pelo grupo editorial da família Marinho.

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Manifestantes jogam mer.., quer dizer, esterco no fachada da TV Globo, em São Paulo.

No mesmo texto, a Globo afirma que a democracia “é um valor absoluto”. Mas será que a Globo de hoje, de fato, respeita a soberania popular ou continua combatendo, com a mesma ênfase de sempre, governos trabalhistas, como fez com João Goulart, antes de 1964, Leonel Brizola, no Rio de Janeiro, e, agora, com o projeto Lula-Dilma?

Terá mesmo a Globo se arrependido ou são lobos que se vestem de cordeiros para aplacar a fúria das ruas?

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Golpe de 1964: A Globo devolverá o dinheiro que ganhou com ele?

2 de setembro de 2013

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Fernando Brito, via Tijolaço

Na tarde de sábado, dia 31/8, O Globo divulgou um comunicado, em que reconhece que seu apoio ao golpe de 1964 foi um erro.

“Desde as manifestações de junho, um coro voltou às ruas: ‘A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura’. De fato, trata-se de uma verdade e, também de fato, de uma verdade dura.

Já há muitos anos, em discussões internas, as Organizações Globo reconhecem que, à luz da História, esse apoio foi um erro.”

Não foi um erro, não.

Foi um crime e deste crime as Organizações Globo beneficiaram-se lautamente, ao ponto de fazer com que a fortuna dos três herdeiros do capo Roberto Marinho constitua-se na maior do Brasil e uma das maiores do mundo. Nenhum militar dos que tenham feito e servido à ditadura tem sequer um milésimo do que o regime deu aos Marinho.

Portanto, comecemos assim, chamando as coisas pelo que elas são. Não erro, não “equívoco”.

Crime. Contra a democracia, contra o voto popular, contra a vida de milhares de cidadãos mortos pela ditadura que a Globo ajudou a fazer e a sustentar, e ganhando muito, muito, muitíssimo dinheiro com isso.

Esse dinheiro, certamente, a Globo não considera um “erro”, pois não? Pois seu império nasceu ali, junto com a ditadura, com um negócio ilegal que o regime ditatorial tolerou e acobertou: a associação com o grupo Time e as fartas verbas que os EUA destinavam a evitar o “perigo comunista”, colocando a nascente e poderosa mídia, a televisão, nas mãos amigas de “gente confiável”.

A Globo usou esse poder. Em condições ilegais perante o Código Brasileiro de Telecomunicações que proibia a concentração de emissoras em todo o País nas mãos de um só grupo empresarial, comprou televisões em todo o Brasil, dissimulando-as na condição de “afiliadas”, quando são verdadeiras sucursais do grupo, presas inteiramente a seu comando e estratégia de negócios.

Para isso, lambeu as botas da ditadura e serviu-lhe de instrumento despudorado de propaganda.

O que seu editorial de sábado, dia 31/8, diz, ao procurar desvincular-se do horror da tortura e da morte, ao falar de como Roberto Marinho protegia “seus comunistas” é de uma indignidade sem par. Ou vamos entender que aquele que não era seu empregado poderia bem morrer sob seu silêncio, ou vamos entender que aqueles profissionais, que trabalhavam e contribuíam para o sucesso da empresa, merecem ser exibidos como “gatinhos de estimação”, gordos e protegidos, e “livres da carrocinha” que laçava outros pelas ruas deste país.

A Globo nunca teve vergonha de, nas palavras de seu Füher, “usar o poder” de que dispunha em benefício dos políticos e governantes de sua predileção, durante e depois do período militar.

Patrocinou a Proconsult contra Brizola. Manipulou o debate de 1989 em favor de Collor e contra Lula. Apoiou desavergonhadamente a eleição de Fernando Henrique Cardoso, encobrindo-lhe a escapada conjugal desastrada, somando-se à manipulação eleitoral da nova moeda, promovendo a dilapidação das empresas pertencentes ao povo brasileiro, apoiando e dando legitimidade à vergonhosa corrupção que envolveu a aprovação da proposta de reeleição em causa própria.

Quem quiser provas disso, leia O Príncipe da Privataria, de Palmério Dória, que chegou no final de agosto às livrarias.

A autocrítica, que nos homens de bem é uma virtude e um momento a ser louvado, na Globo é apenas o que ela é: interesse em dinheiro transformado em sabujice.

Percebeu que o projeto Lula-Dilma não pode ser derrotado, malgrado todas as suas tentativas, e lança estes mea culpa fajutos para se habilitar – ainda mais, ainda mais! – aos dinheiros públicos do governo, vício incorrigível de seu ventre dilatado e enxundioso.

Tudo na Globo é falso, como tive a honra de escrever há quase 20 anos para Leonel Brizola em seu famoso “direito de resposta” à Globo.

Nem o coro que diz que “voltou às ruas” – ele nunca saiu! – não é esse: é “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”. Porque o povo, que não é bobo, pode perdoar aqueles que erraram e mudaram sinceramente de atitude ao perceber seu erro.

A Globo, não.

Comeu cada côdea do rico pão que o regime lhe deu e só mudou de lado quando as ruas, inundadas pelas “Diretas-Já” tornaram o regime uma sombra em ruínas.

Seus jovens executivos, que planejaram este ato de contrição fajuto, com todos as suas melosidades e senões, são apenas pequenos maquiadores deste monstro que acanalhou a vida brasileira e que vai ter um fim mais rápido e ruidoso do que muitos imaginam.

Porque o povo não é bobo, sabe que a Globo é um cancro que precisa ser extirpado da vida brasileira.

E é por isso que grita o que a Globo não pode confessar:

Abaixo a Rede Globo!

Se tiver estômago forte, clique aqui para ler o editorial do jornal da famiglia Marinho.

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EUA espionaram milhões de e-mails e ligações de brasileiros

6 de julho de 2013
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O ex-técnico da CIA Edward Snowden, que denunciou um gigantesco esquema de espionagem liderado pela Agência Nacional de Segurança dos EUA.

Brasil aparece como alvo na vigilância de dados e é o mais monitorado na América Latina.

Via O Globo

Na última década, pessoas residentes ou em trânsito no Brasil, assim como empresas instaladas no País, se tornaram alvos de espionagem da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (National Security Agency – NSA, na sigla em inglês). Não há números precisos, mas em janeiro passado o Brasil ficou pouco atrás dos Estados Unidos, que teve 2,3 bilhões de telefonemas e mensagens espionados.

Eles foram coletados por Edward Joseph Snowden, técnico em redes de computação que nos últimos quatro anos trabalhou em programas da NSA entre cerca de 54 mil funcionários de empresas privadas subcontratadas – como a Booz Allen Hamilton e a Dell Corporation.

No mês passado, esse norte-americano da Carolina do Norte decidiu delatar as operações de vigilância de comunicações realizadas pela NSA dentro e fora dos Estados Unidos. Snowden se tornou responsável por um dos maiores vazamentos de segredos da História norte-americana, que abalou a credibilidade do governo Barack Obama.

Os documentos da NSA são eloquentes. O Brasil, com extensas redes públicas e privadas digitalizadas, operadas por grandes companhias de telecomunicações e de internet, aparece destacado em mapas da agência norte-americana como alvo prioritário no tráfego de telefonia e dados (origem e destino), ao lado de nações como China, Rússia, Irã e Paquistão. É incerto o número de pessoas e empresas espionadas no Brasil. Mas há evidências de que o volume de dados capturados pelo sistema de filtragem nas redes locais de telefonia e internet é constante e em grande escala.

Criada há 61 anos, na Guerra Fria, a NSA tem como tarefa espionar comunicações de outros países, decifrando códigos governamentais. Dedica-se, também, a desenvolver sistemas de criptografia para o governo.

A agência passou por transformações na era George W. Bush, sobretudo depois dos ataques terroristas em Nova Iorque e Washington, em setembro de 2001. Tornou-se líder em tecnologia de inteligência aplicada em radares e satélites para coleta de dados em sistemas de telecomunicações, na internet pública e em redes digitais privadas.

O governo Obama optou por reforçá-la. Multiplicou-lhe o orçamento, que é secreto como os de outras 14 agências norte-americanas de espionagem. Juntas, elas gastaram US$75 bilhões no ano passado, estima a Federação dos Cientistas Norte-americanos, organização não governamental especializada em assuntos de segurança.

Outro programa amplia ação

A NSA tem 35,2 mil funcionários, segundo documentos. Eles informam também que a agência mantém “parcerias estratégicas” para “apoiar missões” com mais de 80 das “maiores corporações globais” (nos setores de telecomunicações, provedores de internet, infraestrutura de redes, equipamentos, sistemas operacionais e aplicativos, entre outros).

Para facilitar sua ação global, a agência mantém parcerias com as maiores empresas de internet norte-americanas. No último 6 de junho, o jornal The Guardian informou que o software Prism permite à NSA acesso aos e-mails, conversas online e chamadas de voz de clientes de empresas como Facebook, Google, Microsoft e YouTube.

No entanto, esse programa não permite o acesso da agência a todo o universo de comunicações. Grandes volumes de tráfego de telefonemas e de dados na internet ocorrem fora do alcance da NSA e seus parceiros no uso do Prism. Para ampliar seu raio de ação, e construir o sistema de espionagem global que deseja, a agência desenvolveu outros programas com parceiros corporativos capazes de lhe fornecer acesso às comunicações internacionais.

Um deles é o Fairview, que viabilizou a coleta de dados em redes de comunicação no mundo todo. É usado pela NSA, numa parceria com uma grande empresa de telefonia dos EUA. Ela, por sua vez, mantém relações de negócios com outros serviços de telecomunicações, no Brasil e no mundo. Como resultado de suas relações com empresas não norte-americanas, essa operadora dos EUA tem acesso às redes de comunicações locais, incluindo as brasileiras.

Ou seja, por meio de uma aliança corporativa, a NSA acaba tendo acesso aos sistemas de comunicação fora das fronteiras norte-americanas. O documento descreve o sistema da seguinte forma: “Os parceiros operam nos EUA, mas não têm acesso a informações que transitam nas redes de uma nação, e, por relacionamentos corporativos, fornecem acesso exclusivo às outras [empresas de telecomunicações e provedores de serviços de internet].”

Companhias de telecomunicações no Brasil têm esta parceria que dá acesso à empresa norte-americana. O que não fica claro é qual a empresa norte-americana que tem sido usada pela NSA como uma espécie de “ponte”. Também não está claro se as empresas brasileiras estão cientes de como sua parceria com a empresa dos EUA vem sendo utilizada.

Certo mesmo é que a NSA usa o programa Fairview para acessar diretamente o sistema brasileiro de telecomunicações. E é este acesso que lhe permite recolher registros detalhados de telefonemas e e-mails de milhões de pessoas, empresas e instituições.

Para espionar comunicações de um residente ou uma empresa instalada nos Estados Unidos, a NSA precisa de autorização judicial emitida por um tribunal especial (a Corte de Vigilância de Inteligência Estrangeira), composto de 11 juízes que se reúnem em segredo. Foi nessa instância, por exemplo, que a agência obteve autorização para acesso durante 90 dias aos registros telefônicos de quase 100 milhões de usuários da Verizon, a maior operadora de telefonia do país. Houve uma extensão do pedido a todas as operadoras norte-americanas – com renovação permanente.

Fora das fronteiras norte-americanas, o jogo é diferente. Vigiar pessoas, empresas e instituições estrangeiras é missão da NSA, definida em ordem presidencial (número 12333) há três décadas.

Na prática, as fronteiras políticas e jurídicas acabam relativizadas pelos sistemas de coleta, processamento, armazenamento e distribuição das informações. São os mesmos aplicados tanto nos EUA quanto no resto do mundo.

Todo tipo de informação armazenada

Desde 2008, por exemplo, o governo monitora com autorização judicial hábitos de navegação na internet dentro do território norte-americano. Para tanto, exibiu com êxito um argumento no tribunal especial: o estudo da rotina online de “alvos” domésticos proporcionaria vigilância privilegiada sobre a prática online cotidiana de estrangeiros. Assim, uma pessoa ou empresa “de interesse” residente no Brasil pode ter todas suas ligações telefônicas e correspondências eletrônicas – enviadas ou recebidas – sob vigilância constante. A agência armazena todo tipo de registros (número discado, tronco e ramal usados, duração, data, hora, local, endereço do remetente e do destinatário, bem como endereços de IP – assim como sites visitados). E faz o mesmo com quem estiver na outra ponta da linha, ou em outra tela de computador.

Começa aí a vigilância progressiva pela rede de relacionamento de cada interlocutor telefônico ou destinatário da correspondência eletrônica (e-mail, fax, SMS, vídeos, podcasts etc.). A interferência é sempre imperceptível: “Servimos em silêncio”, explica a inscrição numa placa de mármore exposta na sede da NSA em Washington.

Espionagem nesse nível, e em escala global, era apenas uma suspeita até o mês passado, quando começaram a ser divulgados os milhares de documentos internos da agência coletados por Snowden dentro da NSA. Desde então, convive-se com a reafirmação de algumas certezas. Uma delas é a do fim da era da privacidade, em qualquer tempo e em qualquer lugar. Principalmente em países como o Brasil, onde o “grampo” já foi até política de Estado na ditadura militar.

Como o “Estadão” fez sumir sua chantagem contra Aécio

20 de maio de 2013

Aecio_CanudoEduardo Guimarães em seu Blog da Cidadania

Em fevereiro de 2010, uma guerra fratricida foi desencadeada no PSDB. O segundo mandato de Lula chegava ao fim e ele não podia ser candidato à própria sucessão. Os tucanos e a mídia, sua aliada, estavam céticos quanto às possibilidades do “poste” que achavam que Dilma era e, assim, acreditavam que, fosse quem fosse o candidato deles, seria eleito.

Dois pré-candidatos disputavam a indicação do PSDB para a “barbada” eleitoral que a direita brasileira acreditava que se avizinhava: derrotar uma mulher sem o carisma de Lula e que jamais disputara uma eleição na vida. José Serra e Aécio Neves, então, digladiavam-se pela primazia de enfrentar Dilma.

A imprensa atucanada de São Paulo e do Rio de Janeiro (leia-se Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e O Globo) estava muito irritada com Aécio. Apesar de esses veículos e o PSDB acreditarem que Dilma, então praticamente estagnada nas pesquisas, seria mera sparring de dois políticos profissionais como Aécio e Serra, preferia o segundo.

No caso da imprensa paulista, até por Serra ser paulista também – sem falar na maior identificação ideológica com ele –, essa “imprensa” fustigou o PSDB por meses até que Aécio fosse preterido.

Serra estava melhor nas pesquisas e esses veículos, que há mais de uma década demonstram que não entendem a política brasileira, não acreditavam que alguém pudesse começar uma campanha eleitoral com percentuais de intenção de voto tão baixos quanto Dilma e o próprio Aécio tinham e chegar a vencer a eleição.

Nesse jogo, o jornal O Estado de S.Paulo fez o movimento mais ousado: chantageou Aécio com um texto literalmente criminoso, escrito por seu ex-editorialista e ex-colunista Mauro Chaves, que faleceria um ano depois.

No auge dessa disputa entre Serra e Aécio, o Estadão publicou artigo de Chaves contendo uma chantagem contra o então governador de Minas Gerais, conhecido por sua vida de “playboy” e sobre quem circulam, há anos, boatos sobre ser usuário de cocaína.

O título do artigo que Chaves escreveu e que foi publicado pelo Estadão em 28 de fevereiro de 2010 já dispensaria o resto do texto: “Pó pará, governador”. Confira, abaixo, a íntegra do artigo.

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Chaves era um homem bastante erudito. Seu texto era escorreito. Por que usar um título como esse? Por que não “Pode parar, governador”? Ora, porque estava mandando um recado de que os boatos sobre Aécio ser usuário de “pó” (cocaína) viriam à tona caso insistisse em criar dificuldades à candidatura Serra.

O artigo causou grande alvoroço e, pouco depois, Serra foi sagrado candidato para a “barbada” que a mídia ligada ao PSDB e o próprio partido acreditavam que seria a disputa contra o “poste de Lula”.

Faltara, entretanto, combinar com os “russos”, ou seja, com o povo.

Voltemos ao presente. Escrevendo um post sobre os ataques de Aécio ao PT durante a convenção do PSDB do sábado, dia 18, na qual o hoje senador por Minas Gerais foi eleito presidente do partido, abordei o artigo chantagista em questão.

Pretendia colocar o link para ele no texto. Fazendo a busca no portal do Estadão para localizá-lo, encontro esse link. Contudo, quando tento acessá-lo não consigo – conduz a uma página em branco (clique aqui).

Cito no post, então, o fenômeno. Digo que, “estranhamente”, o link do Estadão para sua matéria conduz a lugar nenhum.

Eis que o leitor Reinaldo Luciano, intrigado como eu, usa seus conhecimentos e mostra que ninguém consegue esconder nada na internet.

O excelente trabalho de Reinaldo desvendou o mistério. Leia, abaixo, o comentário que ele colocou no post anterior, onde explica como o Estadão conseguiu fazer sumir a chantagem que fez Aécio desistir de ser o candidato do PSDB à Presidência da República em 2010 em favor de Serra.

***

Reinaldo Luciano – twitter.com/rei_lux
Comentário enviado em 20/05/2013 às 11:16
A respeito da matéria que não abre no Estadão, verifiquei a página e realmente não abria.
Usei o http://archive.org/web/web.php e localizei a dita página, que foi armazenada em cache 28 vezes desde que foi publicada.
Este é o link original, onde a matéria não abre: clique aqui.
este é o link recuperado.
Ao analisar o cache, notei que, em 26/8/2010, a matéria teve uma linha alterada ou acrescentada, como pode ser vista aqui.
O fato é que, após essa mudança (quando Serra já era candidato e Aécio não representava mais problema), a página sumiu…
Fiz um print screen da página e postei no twitter (clique aqui).
E, para ser ainda mais chato com o Estadão, fiz um videozinho de minhas andanças pelo cache. Assista abaixo.

Nota do Limpinho em 29/8/2015: A matéria acima é de maio de 2013. O Estadão tirou do ar todos os links depois de ser desmascarado.

Estadão: Se Barbosa não se vê capaz, que saia

9 de março de 2013

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Com 24 horas de atraso, jornal O Estado de S.Paulo publicou editorial reagindo à agressão sofrida por seu repórter Felipe Recondo, a quem Joaquim Barbosa chamou de “palhaço”. “Se não se sente em condições físicas e psicológicas para manter um comportamento público compatível com a dignidade dos cargos que exerce, Joaquim Barbosa deveria deles se afastar”, diz o texto.

Via Brasil 247

Com 24 horas de atraso, o jornal O Estado de S.Paulo reagiu à agressão sofrida por um de seus profissionais, o repórter Felipe Recondo, e que foi cometida justamente pelo homem que deveria zelar pela Justiça no País: o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa.

No editorial “Lamentável truculência”, o jornal afirma que o ministro, se não se sente em condições físicas e psicológicas de cumprir com suas funções e com o decoro do cargo, deveria deixá-lo, lembrando que Barbosa atribuiu a agressão que cometeu a uma dor nas costas. Segundo o Estadão, Barbosa ainda não se desculpou de forma adequada e coloca em risco sua própria imagem.

O texto, no entanto, transita numa linha tênue entre a crítica ao estilo de Barbosa e os elogios a sua conduta do ministro na Ação Penal 470. “Barbosa foi transformado no Torquemada do PT pela mídia”, avalia o jornalista, professor e militante político Emiliano José. “Depois de endeusá-lo, fica difícil criticá-lo.”

Eis a dificuldade do Estadão e de praticamente todos os veículos que cultuaram a figura de Joaquim Barbosa: como ele foi transformado em herói por ter cumprido uma função politica e ter sido o algoz dos réus do processo do chamado “mensalão”, a crítica se torna mais delicada e cuidadosa.

Até agora, além de ter chamado o jornalista de “palhaço” e de tê-lo acusado de “chafurdar no lixo”, justamente porque apurava uma reportagem sobre o excesso de gastos e mordomias no STF, o ministro Barbosa também se nega a responder a críticas de associações que representam 100% dos juízes brasileiros, que o acusam de ser superficial, preconceituoso, desrespeitoso e “dono da verdade”. Barbosa, chefe do Judiciário, acusou seus pares de terem uma mentalidade pró-impunidade.

Se tiver estômago forte, clique aqui para ler  o editorial

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Joaquim Barbosa, por meio do secretário de imprensa do STF, pede desculpas. Protocolares, claro, e parece que a famiglia Mesquita e a “grande mídia” aceitaram.

Em nome do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ministro Joaquim Barbosa, peço desculpas aos profissionais de imprensa pelo episódio ocorrido hoje, quando após uma longa sessão do Conselho Nacional de Justiça, o presidente, tomado pelo cansaço e por fortes dores, respondeu de forma ríspida à abordagem feita por um repórter. Trata-se de episódio isolado que não condiz com o histórico de relacionamento do Ministro com a imprensa.

O ministro Joaquim reafirma sua crença no importante papel desempenhado pela imprensa em uma democracia. Seu apego à liberdade de opinião está expresso em seu permanente diálogo com profissionais dos mais diversos veículos. Seu respeito pelos profissionais de imprensa traduz-se em iniciativas como o diálogo que iniciará no próximo dia 7 de março, quando receberá em audiência o Sr. Carlos Lauria, representante do Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ), ONG com sede em Nova Iorque.

Wellington Geraldo Silva

Secretário de Comunicação Social – SCO

Supremo Tribunal Federal


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