
Marco Damiani, via Brasil 247
Fernando Haddad (PT) é o novo prefeito de São Paulo. O petista foi empossado pouco antes das 16 horas da terça-feira, dia 1º, na Câmara Municipal e seguiu para a Prefeitura, onde assinou o livro como prefeito às 16h37. Logo na chegada à Prefeitura, o petista deve ter percebido a responsabilidade de administrar a maior capital do País. “Haddad, por que você veio de carro?”, gritavam cicloativistas, provavelmente inspirados pelo novo prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT), que prometeu assumir de bicicleta.
Ao discursar, o petista adotou o estilo paz e amor. “Inicio a gestão muito bem acompanhado”, disse um bem-humorado Haddad, referindo-se a sua mulher, Ana Estela, à vice, Nádia Campeão, e ao fato de ter cinco secretárias municipais mulheres. Logo na abertura do discurso, ele lembrou que houve uma manifestação na Praça Roosevelt três dias antes do 2º turno cujo “tema me tocou bastante: existe amor em São Paulo”. Haddad lembrou que aquele ato não foi partidário, nem queria angariar votos, mas disse muito “sobre o que a cidade espera de nós”.
O petista deu ainda sua definição de cidade. “Cada projeto individual nesta cidade pertence ao projeto coletivo. Se pensarmos no significado desse engenho humano, seremos por excelência um local de altruísmo”, disse. Haddad citou também a questão da moradia. “Neste momento, cinco edifícios estão ocupados por integrante do movimento sem-teto, inclusive um deles bem diante da prefeitura”, disse.
“Não irei desperdiçar um único centavo destinado ao povo paulistano”, prometeu o petista, que, dirigindo-se ao governador Geraldo Alckmin, sentado ao seu lado, fez outra promessa: “Serei seu parceiro, governador. É preciso haver uma mudança de postura dentro da classe política, para haver mais colaboração”.
Ao final do discurso, Haddad se dirigiu aos manifestantes concentrados do lado de fora da Prefeitura. “Vocês têm muito a contribuir, inclusive criticando. Não vamos acertar sempre, mas se tivermos tranquilidade, humildade e pudermos manter esse corpo a corpo, esse olho no olho, vamos garantir o nosso povo mais feliz”, disse. “Não podemos nos assustar num primeiro momento com os problemas que se apresentam”, completou. “Não vamos nos dispersar”, pediu aos manifestantes.
Cerimônia
Estavam presente à cerimônia o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o cardeal Dom Odilo Scherer e os presidentes do PT, Rui Falcão, e do PCdoB, Renato Rabelo, mas o primeiro a discursar foi Geraldo Alckmin. “Governar São Paulo é um grande desafio, e muito extenuante”, disse o governador de São Paulo. “Os interesses de São Paulo não conhecem interesses partidários”, completou.
Em seu discurso, o agora ex-prefeito Gilberto Kassab se emocionou ao fazer um balanço de sua gestão. “Eles passarão, eu passarinho, e vou cantar em outra freguesia”, disse o presidente nacional do PSD. Não haverá monotonia. O trabalho é muito estimulante”, acrescentou, destacando que deixou um programa de moradia que beneficiou meio milhão de pessoas.
“Estaremos próximos, trabalhando pelo Brasil, no governo ou fora dele”, disse que assim demonstrou não ter definido a posição de seu PSD em relação ao governo Dilma Rousseff. “Avançamos com Fernando Henrique, avançamos decididamente com Lula e Dilma”, comparou, em seguida, Kassab.
Desafios
O Fernando Haddad que assumiu na terça-feira, dia 1º, a Prefeitura de São Paulo terá pela frente problemas proporcionais ao tamanho da maior cidade da América Latina para resolver. E um dos primeiros que já bate à sua porta é político. Na ponta contrária do Viaduto do Chá, onde fica o gabinete do prefeito, cerca de 500 integrantes de dois movimentos por moradia – um ligado ao MST e outro à igreja católica – ocuparam nos últimos dias, desde o Natal, pelo menos cinco edifícios vazios, cujos processos de desapropriação ainda não se concluíram. Localizados nas ruas Marconi, Xavier de Toledo e imediações, os prédios são reivindicados há anos pelos militantes sem teto.
Com o objetivo de fazer pressão sobre Haddad, para que dê prioridade a uma de suas bandeiras de campanha e promova a ocupação organizada de edifícios centrais praticamente abandonados, os sem-teto não demonstraram ter a menor paciência para esperar a posse do novo prefeito – e o fato consumado das primeiras invasões deverá suscitar uma primeira grande tomada de decisão do novo prefeito. Proprietários antigos de imóveis em prédios invadidos no centro de São Paulo se acostumaram a ganhar ações de reintegração de posse, cumpridas pela Justiça sempre com o apoio da Guarda Civil Metropolitana e da Polícia Militar. O que os sem teto querem saber é se esses procedimentos irão prosseguir na gestão Haddad ou se haverá abertura de negociações, diálogo e, finalmente, um processo organizado de ocupação.
A relação do novo prefeito com seu partido também já é delicada. Dirigentes e militantes dos diretórios de bairros não se viram contemplados nas nomeações para os comandos das subprefeituras. Anunciados por último, depois da nomeação de todo o secretariado, os subprefeitos escolhidos são essencialmente técnicos, com formação em engenharia. Em reuniões partidárias, o recado da administração, dado por integrantes do primeiro time de Haddad como o presidente municipal do PT Antônio Donato, é o de que o partido poderá, a tempo certo, indicar quadros para ocuparem os terceiros e quartos escalões das subprefeituras. Essa promessa, é claro, não agradou as bases do partido. À medida que houver mais dificuldades para nomeações, novas pressões em encontros partidários irão ser feitas na direção do prefeito.
As chuvas que costumam afundar boa parte de São Paulo nesta época do ano, especialmente, já são vistas como o maior adversário natural do início da gestão. Sem condições de realizar nada de estrutural imediatamente, o novo prefeito se reuniu com os subprefeitos para fazer soar um alerta máximo a favor de ações emergenciais.
Uma radical transformação no sistema de inspeção veicular, que irá terminar com a obrigatoriedade de vistoria para veículos com até cinco anos de fabricação, além da extinção da taxa de R$44,00, é a maior bondade que o prefeito fará, de imediato, para a classe média.
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Dívida de R$50 bilhões é gravíssima, diz Haddad
Está estimada em nada menos que R$50 bilhões a dívida do município de São Paulo, o maior do País, com a União. A conta é do novo prefeito Fernando Haddad. Até a posse, na terça-feira, dia 1º, ele procurou ser discreto quanto as finanças da cidade. Evitou falar em números e até mesmo elogiou o comportamento na fase de transição do antecessor Gilberto Kassab. Mas bastou a cerimônia de transmissão de cargo para o próprio Kassab classificar como “delicada” a situação do caixa municipal. Haddad, por sua vez, disse que a dívida com a União compromete “200 por cento da arrecadação municipal” e, por isso, inviabiliza investimentos. Ele só vê uma saída para esse quadro: o socorro de Brasília.
Uma audiência de trabalho com o ministro Guido Mantega, da Fazenda, já foi solicitada para o quanto antes – antes mesmo das férias programadas pelo ministro. “Estou só aguardando um telefonema dele”, disse Haddad, pronto para decolar para a capital do País, abrindo, assim, a temporada de renegociação das bilionárias dívidas municipais.
“Ele me assegurou que vai me receber antes das suas férias”, acrescentou Haddad, para quem o problema do caixa de São Paulo não será novidade para Mantega. “Já tivemos algumas reuniões e ainda esta semana teremos um novo encontro”. O prefeito acredita que não apenas para Mantega, mas também para a presidente Dilma Rousseff “há uma percepção de que a situação ficou insustentável”.
“No caso dos Estados, a situação é grave e no de São Paulo é gravíssima, incomum”, completou. Mesmo sem a repactuação, Haddad afirmou que irá começar o seu governo com os recursos orçamentários de custeio, o suficiente para um mês, e com as parcerias dos governos estadual e federal. “Não temos recursos para o que foi divulgado na campanha, mas já havíamos dito que vamos buscar os recursos que são de São Paulo, tanto do governo federal, quanto do estadual”, concluiu.
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Haddad lança pacote contra enchentes
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, elegeu como uma das prioridades desse início de gestão o combate às enchentes na capital e anunciou 16 medidas emergenciais para evitar problemas em decorrência das chuvas. Será firmado um contrato com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) da USP para o monitoramento diário de áreas de risco na época de chuvas.
A parceria é discutida na Prefeitura há mais de um ano e o valor do monitoramento seria R$400 mil. O IPT foi o órgão responsável por fazer um estudo sobre as áreas de risco da capital durante a gestão Gilberto Kassab (PSD).
Segundo Haddad, existem quatro níveis de risco: R1, R2, R3 e R4, sendo o último o mais alto. Atualmente, 28 áreas têm nível R4 e, somadas às áreas de nível R3, seriam cerca de 100 as mais delicadas que teriam acompanhamento do IPT. No total, a cidade tem 417 áreas de risco, e as demais seriam monitoradas pelas subprefeituras e por cidadãos treinados pela Defesa Civil para observar sinais de potenciais deslizamentos e outros problemas, e alertar a prefeitura sobre eles.
O petista anunciou também uma reestruturação da Defesa Civil. Em algumas subprefeituras esse órgão conta com apenas um profissional e o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), que até agora estava alocado na Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb), vai ser realocado na Defesa Civil.
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Secretariado de Fernando Haddad
Governo Municipal – Antônio Donato, 52, é formado em administração. Ele foi coordenador da campanha do prefeito eleito Fernando Haddad (PT) e foi reeleito em 2012 para seu terceiro mandado como vereador. Também foi secretário das Subprefeituras na gestão Marta Suplicy (2001–2004) e assessor especial do gabinete da prefeita.
Desenvolvimento Urbano – O arquiteto Fernando de Mello Franco, 48, é curador do Urbem (Instituto de Urbanismo e Estudos para a Metrópole) e sócio-diretor do escritório MMBB arquitetos. Foi professor da USP São Carlos e professor visitante na Universidade de Harvard.
Transportes – Jilmar Tatto, 47, foi eleito duas vezes deputado federal e é o líder da bancada do PT na Câmara. Também foi deputado estadual (1998–2002) e secretário dos Transportes na gestão Marta Suplicy.
Saúde – O deputado federal José de Filippi Jr. (PT), 55, foi deputado estadual e três vezes prefeito de Diadema. Também foi tesoureiro das campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva (2006) e Dilma Rousseff (2010) à Presidência da República. É formado em Engenharia pela USP e fez pós-graduação em Harvard.
Planejamento – Leda Maria Paulani, 58, é professora titular do Departamento de Economia e da pós-graduação em Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA). Foi assessora da Secretaria de Finanças entre 2001 e 2003.
Negócios Jurídicos – Professor da Faculdade de Direito da USP, Luís Antônio Massonetto foi chefe de gabinete do Ministério da Educação entre 2006 e 2008, quando Haddad era o ministro. Na gestão Marta, Massonetto foi chefe de gabinete da Secretaria de Negócios Jurídicos, entre 2003 e 2004.
Subprefeituras – Vereador pelo PT de 2008 a 2012, Chico Macena (PT), 47, foi tesoureiro da campanha de Haddad e presidiu a CET na gestão Marta Suplicy (PT).
Desenvolvimento Econômico – Presidente municipal do PSB, o vereador Eliseu Gabriel foi indicado pelo prefeito eleito de São Paulo Fernando Haddad para a secretaria de Desenvolvimento Econômico. O vereador é também professor de Física pela USP.
Igualdade Racial – Netinho de Paula (PCdoB), vereador reeleito em 2012, foi pré-candidato a prefeito de São Paulo, mas abriu mão da candidatura para que o PCdoB pudesse indicar a vice na chapa de Haddad, Nádia Campeão.
Assistência Social – A advogada Luciana Temer é filha do vice-presidente Michel Temer (PMDB). Ela foi secretária estadual da Juventude, Esporte e Lazer, de 2001 a 2002, na gestão do governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Relações Institucionais – O deputado estadual João Antônio (PT) é advogado e foi líder da prefeita Marta Suplicy (PT) na Câmara de Vereadores nos anos de 2003 e 2004. João Antônio integra o PT desde sua fundação e é atualmente secretário de Organização do partido em São Paulo.
Finanças – O economista Marcos Cruz, 37, é sócio da empresa de consultoria McKinsey e foi indicado para o cargo pelo empresário Jorge Gerdau, que participa do Movimento Brasil Competitivo, iniciativa que oferece programas a prefeituras, Estados e também União para tornar a máquina pública mais eficiente.
Pessoa com deficiência e mobilidade reduzida – A médica Mariana Pinotti foi candidata a vice-prefeita na chapa encabeçada por Gabriel Chalita (PMDB). Ela é filha do ex-deputado José Aristodemo Pinotti (1934–2009).
Esportes – Celso Jatene (PTB) é vereador desde 2001, advogado e delegado licenciado. Foi assessor da Secretaria de Esportes e Turismo do Estado.
Educação – Cesar Callegari é sociólogo, ex-deputado estadual, foi secretário de Educação de Taboão da Serra (Grande São Paulo). Antes de aceitar o convite do prefeito eleito, Fernando Haddad (PT), era secretário de Educação Básica do Ministério da Educação. É filiado ao PSB.
Cultura – Juca Ferreira é sociólogo e ex-ministro da Cultura (2008–2011). Antes de aceitar o convite para integrar a equipe de Haddad, coordenava, pela Secretaria Geral Ibero-Americana, a realização do Ano Internacional dos Afrodescendente.
Direitos Humanos e Participação Social – Rogério Sottili é secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República. Ele já foi secretário-adjunto da Secretaria de Direitos Humanos na gestão do ministro Paulo Vannuchi.
Controle Urbano – Paula Motta Lara é formada em arquitetura e urbanismo pela Universidade de São Paulo. Ela foi secretária do Patrimônio da União, diretora do departamento de Controle Urbano da Prefeitura de Santo André (SP) e diretora do Aprov (Departamento de Aprovação de Edificações) durante a gestão da ex-prefeita Marta Suplicy (2001–2004).
Relações Internacionais – Leonardo Osvaldo Barchini Rosa trabalhou com Fernando Haddad no Ministério da Educação, quando o petista foi o titular da Pasta. Foi chefe de gabinete e assessor internacional.
Verde e Meio Ambiente – O vereador Ricardo Teixeira (PV) nasceu na cidade de Santos (SP) e é engenheiro formado na FEI. Foi gerente de operações nas marginais e da Central de Operações da CET, trabalhou também na EMTU, na Dersa e no DER.
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