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Daniel Quoist: A isenção falha do Datafolha

11 de abril de 2014

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A pesquisa Datafolha é um primor de “dirigismo”: como ela mostraria isenção se os cenários levados a campo favorecem claramente o “Brasil que não dá certo”?

Daniel Quoist, via Carta Maior

A pesquisa Datafolha resultante do trabalho de campo feito nos dias 2 e 3 de abril de 2014 é um primor de “dirigismo” e deixa várias pontas soltas em seu arrazoado defensivo de que a pesquisa não induz os entrevistados a serem anti-Dilma, anti-PT, anti-Reeleição.

Os próprios resultados mostram discrepâncias internas gritantes.

  1. As pesquisas Datafolha dos últimos meses são quase sempre marcadas por um desejo incontido dos entrevistados por mudanças, sendo este pleito um daqueles “pró-mudança” no Palácio do Planalto;
  2. As mesmas pesquisas Datafolha costumam identificar que o “a mudança desejada” na condução do Brasil não é quanto ao perfil partidário-ideológico do presidente da República, resultando invariavelmente em baixos índices de intenções de voto nos candidatos oposicionistas, Aécio Neves e Eduardo Campos e uma hipotética variação em que Marina Silva assumiria a cabeça da chapa do PSB;
  3. Não precisa ser laureado com um improvável Nobel duplo reunindo Estatística e Ciência Política para perceber que tais fulgurantes inconsistências – qual seja, o brasileiro deseja mudança, mas esta tem que ser com Dilma, Lula e o PT no governo – pode ser muito mais resultado direto da forma como é idealizada os formulários com o conteúdo das questões levadas aos entrevistados. Essas questões pisam e repisam em questões que realçam o mal-estar do brasileiro mediano com a iminência do retorno da inflação, o aumento da criminalidade nos centros urbanos, os protestos populares de junho de 2013 claramente identificados pela grande imprensa como sendo antigoverno, anti-Dilma, anti-PT, anti-reeleição;
  4. Premidos contra um cenário onde tudo desmorona, onde o futuro parece ser roubado do Brasil, onde são gritantes os sinais de falência do jeito petista de governar e onde o clima de corrupção e suspeição se alternam no noticiário nacional a cada novas 24 horas, fica evidente as técnicas de indução para “fazer a cabeça” dos entrevistados a tornar o pleito 2014 como francamente de oposição e não de continuidade;
  5. Concluindo, temos diante dos resultados da última pesquisa Datafolha uma sociedade brasileira bipolar, indecisa, incoerente, insurgente e rebelada contra a atual estabilidade institucional que reina no país: quer porque quer mudar o Governo e quer porque quer continuar com o mesmo governo por novos quatro anos.

De duas, uma. O povo, no final das contas, não é bobo: aceita o “encaminhamento” racional levado a ele pelos pesquisadores do Datafolha, rejeita tudo o que é ruim e mal para o Brasil, mas conclui de acordo com suas reais intenções, suas mais sinceras intenções. E estas apontam para um Brasil que vem reescrevendo sua história, fazendo das políticas de inclusão (e justiça) social sua principal bandeira e plataforma política. E tendo na criação de empregos o mais forte contraponto à visão catastrofista há muito esposada pelos mais tradicionais meios de comunicação do país. Por isso, querem desesperadamente mudar tudo para assim manter o mesmíssimo governo, com as mesmas visões, ideais, plataformas e políticas públicas.

Nos últimos dias vemos um esforço do grupo Folha de S.Paulo, à frente o seu Datafolha, para justificar lisura procedimental na aplicação de pesquisas de intenção de votos, avaliação do governo e outros temas de interesse nacional.

Acontece que as explicações oferecidas estão muito longe de convencer.

Como uma pesquisa mostraria isenção se os cenários levados a campo favorecem claramente o Brasil que não dá certo e, por conseguinte, os candidatos da oposição a Dilma Rousseff?

Como fazer de conta que os questionários aplicados pelo Datafolha são nada mais nada menos que um extensão de sua política editorial, seguida à risca por seu noticiário geral e pelos muitos colunistas que – raríssimas exceções – tendem sempre a desgastar a imagem da presidenta, associar seu nome a coisas muito díspares.

Tais associações multidisciplinares associam claramente Rousseff ao ocaso do governo carioca de Sérgio Cabral, à possibilidade de apagões resultantes de escassez de chuvas a abastecer as principais represas do país, à morte de operários na construção do estádio paulista em Itaquera.

E martelam em diversos editoriais que a principal culpada pela compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras, era a presidente, pois em 2006 era a presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Deixam de lado, estrategicamente e também corporativamente seus pares no referido Conselho – gente graúda como o peso-pesado da indústria Jorge Gerdau, Fabio Barbosa, presidente do Grupo Abril, que não por acaso edita a revista Veja, antiga ponta-de-lança instrumentalizada pelo conservadorismo para desalojar o Partido dos Trabalhadores do Palácio do Planalto.

A propósito, é sintomático constatar que o jornalismo-embromação continua se “fazendo de morto” ao tomar conhecimento dessas singelas declarações sobre o affair Petrobras-Pasadena e nada fazendo para levar tais declarações ao conhecimento do grande público:

  1. Fábio Barbosa, presidente da Editora Abril, que integrava o Conselho de Administração da Petrobras quando a compra da refinaria no Texas foi aprovada por unanimidade. Disse Barbosa: “A proposta de compra de Pasadena submetida ao Conselho em fevereiro de 2006, da qual eu fazia parte, estava inteiramente alinhada com o plano estratégico vigente para a empresa, e o valor da operação estava dentro dos parâmetros do mercado, conforme atestou então um grande banco norte-americano, contratado para esse fim. A operação foi aprovada naquela reunião nos termos do relatório executivo apresentado.”
  2. Claudio Luiz Haddad, economista e empresário, afirma que a diretoria da estatal fez apresentação consistente do negócio e recomendou sua aprovação. Haddad também lembrou que as negociações foram assessoradas pelo Citibank, que deu aval às condições de compra da refinaria. “O Citibank apresentou um fairness opinion (recomendação de uma instituição financeira) que comparava preços e mostrava que o investimento fazia sentido, além de estar em consonância com os objetivos estratégicos da Petrobras dadas as condições de mercado da época”, disse.
  3. Jorge Gerdau Johannpeter, do grupo Gerdau, que ainda mantém cadeira no Conselho de Administração da Petrobras, afirmou que o negócio foi decidido com base em “avaliações técnicas de consultorias com reconhecida experiência internacional, cujos pareceres apontavam para a validade e a oportunidade do negócio.” Gerdau assevera que ele, ao aprovar em 2006 a operação de compra e 50% de participação na refinaria Pasadena “não tinha conhecimento, como os demais conselheiros, das cláusulas put option e Marlim do contrato”. A primeira dessas cláusulas obrigou a Petrobras, posteriormente, a comprar 100% a refinaria, o que trouxe prejuízos à estatal.

Para mostrar independência editorial e apartidarismo político não custava à Folha de S.Paulo abrir suas páginas para abrigar longas entrevistas com o trio Barbosa, Haddad e Gerdau. Seria um gesto condizente com seu discurso de “só ter rabo preso com o leitor”, como clamava sua publicidade institucional em décadas passadas.

Depois disso, fica bem mais fácil acreditar no diabo quando declara ser muito chegado no uso diário de água benta que acreditar em um instituto de pesquisa que deixa tantos fios desencapados e espalhados, mas sempre, cuidadosamente, apontando para essa esquisita tendência bipolar da sociedade brasileira.

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7 de abril de 2014

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A Folha reteve por 24 horas o dado capaz de relativizar esmagadoramente a queda de seis pontos nas intenções de votos na presidenta Dilma.

Saul Leblon, via Carta Maior

Por que o Datafolha não inclui em suas enquetes algumas perguntas destinadas a decifrar o modelo de desenvolvimento intrínseco à aspiração mudancista majoritária na sociedade brasileira, segundo o próprio Instituo?

Por que o Datafolha não pergunta claramente a esse clamor se ele inclui em seu escopo de mudanças um retorno às prioridades e políticas vigentes quando o país era governado pelo PSDB, com a agenda que o dispositivo midiático tenta restaurar com o lubrificante do alarmismo noticioso?

Não se trata de introduzir proselitismo nos questionários de sondagem. É mais transparente do que parece. E de pertinência jornalística tão óbvia que até espanta que ainda não tenha sido feito.

Por exemplo, por que o Datafolha não promove uma simulação que incluiria Fernando Henrique Cardoso e Lula como candidatos teóricos e assim avalia as preferências entre os modelos e ênfases de desenvolvimento que eles historicamente encarnam?

Por que o Datafolha não pergunta claramente ao leitor se prefere a Petrobras – e o pré-sal, que é disso que se trata, sejamos honestos – em mãos brasileiras ou fatiada e privatizada?

Por que o Datafolha não investiga quais políticas e decisões estão associadas à preferência pelo petista que há 12 anos está sob bombardeio ininterrupto da mídia e, ainda assim, conserva 52% das intenções de voto num país seviciado pelo monopólio midiático?

Por que o jornal que é dono da pesquisa – em mais de um sentido – não explicita em suas análises as relações (ostensivas) entre a resistência heroica do recall desfrutado por Lula; o desejo majoritário de mudança na sociedade e o vexaminoso arrastar dos pés-de-chumbo do conservadorismo, Aécio e Campos?

Por que a Folha reteve por 24 horas o dado capaz de relativizar esmagadoramente o impacto da queda de seis pontos que teria marcado as intenções de votos na presidenta Dilma –mas que ainda assim vence com folga (38%) seus dois principais oponentes juntos (26% de Aécio e Campos)?

O dado em questão não é singelo.

Só divulgado nesta noite de domingo –sem espaço na manchete e sequer registro na primeira página do diário dos Frias! – ele tem caibre para dissolver em partículas quânticas tudo o que foi dito no final de semana sobre a derrocada do governo na eleição para 2014.

Qual seja, a opinião de Lula – colheu o Datafolha – é uma referência positiva de impacto avassalador sobre as urnas de outubro: seu peso ordena e hierarquiza a definição de voto de nada menos que 60% do eleitorado brasileiro. Seis em cada dez eleitores tem em Lula uma baliza do que farão na cabine eleitoral.

Segundo o Datafolha, 37% deles votariam com certeza em um candidato indicado pelo petista; e 23% talvez referendassem essa mesma indicação.

Note-se que os estragos que isso deixa pelo caminho não são triviais e de registro adiável.

Se divulgados junto com a pesquisa das intenções de voto, esmagariam, repita-se, o esforço do tipo “vamos lá, pessoal”, que os comodoros do conservadorismo tentaram injetar na esquadra de velas esfarrapadas de Campos e Neves.

Vejamos: ao contrário do que acontece com o cabo eleitoral de Dilma, 41% dos eleitores rejeitariam esfericamente um nome apoiado por Marina Silva – Eduardo Campos encontra-se nessa alça de mira contagiosa, ou não?

Já a rejeição a um candidato apoiado por FC é de magníficos 57%.

Colosso. Sim, quase 2/3 do eleitorado, proporção só três pontos inferior à influência exercida por Lula, foge como o diabo da cruz da benção dada pelo ex-presidente tucano a um candidato; apenas 23% cogitariam sufragar um nome apoiado por ele.

Esse, o empolgante futuro reservado ao presidenciável Aécio Neves, ou será que a partir de agora ele imitará seus antecessores de dificuldades e esconderá o personagem que o imaginário brasileiro identifica ao saldo deixado pelo PSDB na economia e na política do país?

O fato é que a virada antipetista, ou antigovernista, ou ainda antidilmista que o dispositivo midiático tenta vender – e o fez com notável sofreguidão neste final de semana, guarda constrangedoramente pouca aderência com a realidade.

Exceto se tomarmos por realidade as redações da emissão conservadora, a zona sul do Rio ou o perímetro compreendido entre os bairros de Higienópolis, Morumbi e Vila Olímpia, em São Paulo, a disputa é uma pouco mais difícil.

Não significa edulcorar os desafios e gargalos reais enfrentados pelo país.

Mas na esmagadora superfície habitada por 60% da população brasileira o jogo pesado da eleição de 2014 envolve outras referências que não apenas a crispação do noticiário antipetista em torno desses problemas.

Por certo envolve entender quem é quem e o que propõe cada projeto em disputa na dura transição de ciclo econômico em curso – e nessa luta ideológica pela conquista e o esclarecimento de corações e mentes, o governo Dilma e o PT estão em débito com a sociedade.

Sobretudo, o que os dados mais recentes indicam é que a verdadeira disputa de projetos precisa de mais luz e mais desassombro por parte dos alvos midiáticos.

Os institutos de pesquisas, a exemplo do Datafolha, em grande medida avaliam o alcance do seu eco quase solitário.

Bombardeia-se a Petrobras para em seguida mensurar o estrago que os obuses causaram na resistência adversária. Idem, com o tomate, a standard & Poor’s etc. etc. etc.

Ao largo das manchete do Brasil aos cacos, porém, seis em cada dez brasileiros aguardam o que tem a dizer aqueles que se tornaram uma referência confiável pelo que fizeram para a construção da democracia social nos últimos anos.

É aí que Lula entra. E o PT deve cuidar para que entre não apenas rememorando o passado, do qual já é uma síntese histórica.

Mas que coloque essa credibilidade a serviço de uma indispensável repactuação política do futuro, contra o roteiro conservador do caos que lubrifica a rendição ao mercadismo.

Dizer que Dilma perdeu seis pontos e retardar a divulgação do que fariam 60% dos eleitores diante de um apelo de Lula, é uma evidência do temor que essa agenda e esse cabo eleitoral causam no palanque de patas moles que a mídia, sofregamente, carrega nas costas.

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5 de abril de 2014

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Presidente recua para 38% das intenções de voto, mas seus adversários não se beneficiam; tucano Aécio Neves tem 16%, enquanto o pernambucano Eduardo Campos ostenta 10%; reeleição de Dilma seria obtida no primeiro turno, com relativa facilidade, segundo os números do Datafolha, que acabam de ser divulgados

Via Brasil 247

Nova “pesquisa” do Datafolha saiu no sábado, dia 5. A presidente Dilma Rousseff caiu a 38%, mas seus adversários não se beneficiaram. Aécio Neves tem 16%, enquanto Eduardo Campos ostenta 10%. Neste quadro, Dilma venceria com facilidade no 1º turno.

Leia, abaixo, a análise de Fernando Rodrigues, publicada em seu blog:

Aécio Neves é o candidato tucano com pior desempenho desde 2002

A pesquisa Datafolha realizada nos dias 2 a 3 de abril traz dois fatos políticos mais relevantes. Primeiro, que a intenção de votos de Dilma Rousseff cai em relação a fevereiro. Segundo, que nenhum dos candidatos de oposição se beneficiam disso neste momento.

Em resumo, Dilma está mais frágil. Mas há também fragilidade dos nomes da oposição, sobretudo o que está em segundo lugar.

Agora, no cenário com todos os possíveis candidatos, Dilma Rousseff (PT) tem 38%. O segundo colocado, Aécio Neves (PSDB), está com 16%. E Eduardo Campos (PSB) registra 10%. É importante dizer que a petista ainda venceria nesse cenário no primeiro turno. O percentual de votos nulos, em branco, indecisos e dos que dizem não saber quem escolher foi de 29%.

Na pesquisa dos dias 19 e 20 de fevereiro, Dilma tinha (também no cenário com todos os candidatos que se apresentaram até agora) 44% das intenções de voto. Aécio, 16%. Eduardo Campos,9%. Os votos nulos, brancos, indecisos “não sabe” eram de 26%.

Como se observa, apesar de a petista enfrentar um desgaste no momento, os 6% dos eleitores que se desgarraram de Dilma parecem apenas estar fazendo um “pit stop” na categoria do “não voto” – ou distribuindo-se de maneira pulverizada até entre nanicos. A oposição se beneficia pouco da atual conjuntura.

O fato mais alarmante para os adversários do PT é protagonizado pelo senador Aécio Neves (PSDB/MG): ele tem o pior desempenho de um segundo colocado desde 2002. O tucano continua com uma pontuação nesta época da campanha inferior à que tiveram outros colegas de seu partido em pleitos anteriores num mês de abril do ano eleitoral.

Em 2002, José Serra tinha 22% no Datafolha de abril daquele ano (Lula, do PT, liderava com 32%). Em 2006, Geraldo Alckmin neste mês estava com 23%. E em 2010, Serra estava ainda liderando as pesquisas, com 40%.

Eduardo Campos (PSB) está em terceiro lugar, com uma pontuação modesta de 10%. Mas esse desempenho é compatível com outros que estiveram como terceiros colocados em disputas passadas. E o político pernambucano é o menos conhecido entre os que estão na corrida pelo Planalto: 42% dizem ainda não conhecê-lo.

Aécio Neves e outros políticos de oposição costumam falar que no momento é muito difícil crescer nas pesquisas porque: 1) os eleitores não estão pensando nesse assunto; e 2) a presidente Dilma Rousseff está diariamente exposta (de forma direta) no noticiário televisivo ou (indiretamente) com obras do governo sendo mostradas em propagandas.

Tudo isso é verdade. Mas esse tipo de cenário também existia em eleições anteriores. Mesmo assim, os segundos colocados nas eleições passadas sempre estiveram mais bem posicionados do que Aécio Neves está hoje.

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4 de abril de 2014

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Questionário do instituto do Grupo Folha, de Otávio Frias Filho, traz uma série de perguntas sobre insegurança, Pasadena e risco de apagão. A estrutura das perguntas tende a criar um certo mal-estar no entrevistado e, por isso, deve apontar índices menores da presidente Dilma Rousseff e maiores dos oposicionistas Aécio Neves e Eduardo Campos. O resultado sai no sábado, dia 5, mas a especulação já corre solta na Bovespa, onde as estatais registraram fortes altas.

Via Brasil 247, em 3/4/2014

A pesquisa Datafolha que será divulgada no sábado, dia 5, deve apontar queda da presidente Dilma Rousseff e alta dos oposicionistas Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos, do PSB. O motivo para isso é a própria estrutura do questionário preparado pelo Datafolha, que foi obtido pelo 247. Uma análise linguística demonstra que o questionário gera uma percepção de mal-estar nos entrevistados, segundo análise do site Mudamais.com.

A intenção de voto para presidente da República é abordada em oito questões. No entanto, antes disso, são colocadas quatro sobre a percepção do governo Dilma, três sobre a percepção do país atual, sete sobre a percepção da economia, quatro sobre violência, duas sobre a Copa do Mundo, uma sobre os protestos de junto, cinco sobre a questão da refinaria de Pasadena, comprada pela Petrobras, cinco sobre a percepção de emprego e três sobre a falta de chuvas e o abastecimento de água e energia – neste caso, com um detalhe: embora São Paulo esteja à beira de um racionamento de água, o problema é apresentado como federal, capaz de produzir apagões.

Segundo o professor Dioney Moreira Gomes, do Departamento de Linguística da Universidade de Brasília, a sequência e os termos usados na pesquisa do instituto Dataolha, de Otávio Frias Filho, demonstração tendenciosidade e o desejo de produzir um resultado: queda da presidente Dilma, alta dos oposicionistas.

A pesquisa começa pela percepção sobre alta dos alimentos:

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O verbo notar já pressupõe alteração, ou seja, traz carga de indução. Em seguida, vem violência:

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A palavra agressão é um termo bem abrangente do que assalto ou roubo. Serve até para uma briga de trânsito ou uma discussão no trabalho. No entanto, a resposta positiva pode ampliar a percepção sobre violência.

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Depois disso, vem a Copa:

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Aqui começa a se revelar a importância da sequência das perguntas. Após ser aproximado de uma realidade de violência em três momentos (perguntas 24, 25 e 26), o entrevistado ouve uma pergunta sobre Copa do Mundo. E a percepção positiva de um evento festivo nem chega perto da associação de ideias. A tendência de resposta vai ser negativa, contrária ao evento.

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“Por trazer duas impressões distintas, a impressão pessoal e a coletiva, essa pergunta permite respostas contraditórias. Se você for fanático por futebol, eis a brecha para dizer que a Copa vai ser positiva – e ainda pode dizer que o evento vai ser negativo para o resto do Brasil”.

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Na sequência de oito perguntas anteriores, o entrevistado foi levado a pensar em insegurança, violência, alta de preços e Copa do Mundo realizada em momento inapropriado. Esta pergunta fala de protestos. Ainda que o entrevistado não tenha ouvido falar em protesto nenhum, ele vai inferir que, se há protesto, é porque algo está errado. Eis o motivo pelo qual uma única pergunta sobre protestos é mais que suficiente neste questionário Datafolha.

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Mais uma vez, destaca. Em seguida, depois de dez questões que o induziram a pensar em caos, o entrevistador quer saber do entrevistado suas impressões a respeito da questão da compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras.

Outro detalhe: “Tomar conhecimento” significa estar por dentro dos fatos; “não tomar conhecimento” é estar por fora. A tendência de resposta do entrevistado é de que sim, tomou conhecimento – ainda que nem saiba do que se trata. Mas isso não é motivo para preocupação, pois o Datafolha induzirá as próximas respostas. Acompanhe.

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Segundo o professor da UnB, o leitor é induzido a responder a segunda opção. Com um raciocínio simples: “ainda que eu não tenha ouvido falar em nada, se algo aconteceu de errado tem a ver com maracutaia, corrupção”, explica Dioney.

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Na sequência, o questionário Datafolha chegou à pergunta que, para Dioney, equivale à que foi feita a respeito do ex-presidente Lula à época do mensalão. A intenção aqui é imputar a culpa na presidente. E as perguntas seguintes ajudam a sacramentar no entrevistado a ideia de que algo muito errado se passa na Petrobras.

Depois disso, vêm as chuvas, capazes de produzir um racionamento de energia, mas não a falta de água em São Paulo.

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O Datafolha trará as respostas a todas essas indagações no próximo fim de semana, quando serão divulgados os resultados da pesquisa registrada no TSE sob número PO 813739.

Mas o resultado já é previsível. Tanto que a especulação corre solta na Bovespa, onde, na quarta-feira, dia 2, as ações de estatais dispararam – diante da perspectiva de queda da presidente Dilma.

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Datafolha: Brasileiro quer mudança em 2014, mas com Lula e Dilma

26 de fevereiro de 2014
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Dilma e Lula, sempre no topo da preferência dos brasileiros.

Artigo do insuspeito Fernando Rodrigues, publicado na Folha de S.Paulo e lido no Blog do Esmael Morais.

Segundo pesquisa Datafolha, os brasileiros querem aprofundar as mudanças com os petistas no comando do país; Lula (28%) e Dilma (19%) encabeçam a lista da preferência dos eleitores ouvidos pelo instituto; ou seja, petistas têm preferência de 47% para fazer as mudanças, enquanto a oposição junta soma 40% assim distribuída: Barbosa 14%, Marina 11%, Aécio 10% e Campos 5%; de acordo com a mesma sondagem, realizada nos dias 19 e 20 de fevereiro, aumentou o otimismo dos brasileiros em relação à economia; em outubro era de 47% achavam que haveria melhora nos próximos meses agora é de 49%.

Os brasileiros seguem desejando mudança, uma tendência captada nas pesquisas recentes do Datafolha. Agora, 67% dizem desejar que o próximo presidente adote ações diferentes da atual administração.

Desta vez, o Datafolha foi além no levantamento dos dias 19 e 20 e indagou aos entrevistados qual dos pré-candidatos a presidente estaria mais preparado para adotar as tais mudanças no jeito de governar o país.

Encabeça a lista o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apontado por 28% como o melhor agente para promover mudanças no Brasil. Em segundo lugar está a atual ocupante do Palácio do Planalto, Dilma Rousseff, com 19%. Ou seja, os dois petistas somam 47% das preferências.

Em seguida aparecem como aptos a operar mudanças no país Joaquim Barbosa (14%), Marina Silva (11%), Aécio Neves (10%) e Eduardo Campos (5%). Essa pergunta foi estimulada pelo Datafolha, mostrando os nomes dos políticos. Os entrevistados só podiam escolher uma das opções apresentadas.

O resultado dessa sondagem corrobora a tese segundo a qual os candidatos de oposição até o momento foram incapazes de incorporar o papel de representantes das mudanças desejadas pelo eleitorado.

Embora esse sentimento a favor de mudanças seja sempre alto, não se trata de algo homogêneo. A taxa é de 60% em cidades pequenas (até 50 mil habitantes) e sobe para 75% nas metrópoles (mais de 500 mil habitantes). No Sudeste, 71% desejam ações diferentes do próximo governo. No Nordeste, o percentual desce para 64%. No Centro-Oeste e no Norte, é de 58%.

Entre os jovens de 16 a 24 anos, a taxa de mudancistas vai a 70%. Na faixa dos que têm 60 anos ou mais, o percentual cai para 59%.

Eduardo Campos é o mais jovem pré-candidato a presidente, com 48 anos. Segundo o Datafolha, entre os que declaram voto no candidato do PSB, 91% pedem mudanças no próximo governo.

Economia

De novembro para cá, o Datafolha apurou que os brasileiros ficaram menos otimistas com a situação econômica pessoal. O percentual dos que acham que haverá melhora nos próximos meses caiu de 56% para 49%.

Esses 49% ficam próximos dos 47% de outubro passado, indicando que a sensação de bem-estar, natural no final do ano, dissipou-se. Esse é um fenômeno comum.

Os assalariados tendem a ficar mais otimistas quando o final do ano se aproxima, há o pagamento do 13º salário e muitos saem em férias. Quando chega janeiro, há a volta ao trabalho, o pagamento de impostos (IPTU, IPVA e outros) e o mau humor retorna sobre as perspectivas econômicas.

Essa sazonalidade também aparece quando o Datafolha pergunta a respeito do aumento do poder de compra dos salários. Para 32%, isso vai ocorrer nos próximos meses. Esse é um patamar próximo aos 30% de outubro. Em novembro, a taxa estava mais alta, em 38%.

Quem está mais otimista sobre o aumento do poder de compra dos salários são os moradores das regiões Norte e Centro-Oeste (41%). Entre os mais pessimistas sobre os salários estão os que têm ensino superior (42%) e os moradores do Sudeste (37%).

As preocupações com a inflação e o desemprego se mantiveram em patamares altos nesta pesquisa Datafolha, porém estáveis. As taxas estão inalteradas ou variando no limite da margem de erro da pesquisa, que é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

No caso da alta dos preços, 59% dos brasileiros acham que isso vai acontecer nos próximos meses. Essa taxa é igual à apurada em novembro passado. Ocorre que esse é o nível mais alto já registrado durante a administração de Dilma Rousseff.

No caso do desemprego, houve uma variação do percentual dentro do limite máximo da margem de erro. Hoje, 39% dos brasileiros acham que haverá mais desemprego nos próximos meses. Em novembro, a taxa era de 43%.

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A ideologia dos brasileiros, segundo a Folha

22 de outubro de 2013

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Miguel do Rosário, via Tijolaço

“No Brasil, há uma quantidade bem maior de eleitores identificados com valores de direita do que de esquerda. O primeiro grupo reúne 49% da população, enquanto os esquerdistas são 30%.”

Assim tem início reportagem da Folha publicada há alguns dias, comentado o resultado de uma pesquisa do Datafolha (clique aqui) sobre o perfil ideológico dos brasileiros. Purowishful thinking, o que em bom português significa auto-enganação ou tomar seus próprios desejos por realidade.

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É evidente que os resultados são polêmicos e urge que as universidades intervenham nesse debate, oferecendo parâmetros mais consistentes do que os usados pelo Datafolha. O instituto admite que está usando o paradigma norte-americano, do Instituto Pew, o que é, obviamente, questionável.

No caso do Brasil, os números do Datafolha apresentam inúmeras contradições. Os eleitores de esquerda, em sua maioria (56%), são eleitores de Dilma, segundo o instituto. O mesmo Datafolha, em outra pesquisa divulgada semana passada, informa que é na esquerda que Dilma obtém os melhores índices de aprovação (47% de ótimo/bom).

IdeologiaBR02

Ainda segundo o mesmo Datafolha, o PT é o partido, de longe, preferido pelos brasileiros que admitem alguma preferência partidária: 18% dos entrevistados preferem o PT, contra 6% PSDB, e 0% DEM.

Me parece claro que os parâmetros usados para definir o “direitismo” dos brasileiros são um tanto artificiais. O artificialismo ganha ares de farsa quando aplicados indistintamente a diferentes classes sociais e a pessoas com níveis de instrução muito distintos.

As questões oferecidas na pesquisa foram as seguintes:

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A distorção é gritante, para dar só um exemplo, na pergunta: “Acreditar em Deus torna as pessoas melhores”. Segundo o parâmetro do Datafolha, quem responde sim é de direita, quem responde não, é de esquerda. Isso não tem sentido. Eu mesmo, que me considero de esquerda, poderia responder sim a esta pergunta, após uma tarde relendo Espinoza, para quem Deus é um princípio filosófico fundamental, ligado à própria vontade humana.

Revendo os detalhes da pesquisa, na verdade, eu chegaria a conclusão oposta: a grande maioria dos brasileiros é de esquerda. Veja essa pergunta:

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68% dos entrevistados apoiam a vinda de trabalhadores pobres de outros países e Estados, contra apenas 25% que acham isso um problema. Isso é uma posição de esquerda.

Além disso, o questionário oferece respostas binárias que, além de não alcançar a complexidade dos temas, sequer estabelecem uma polarização coerente. Por exemplo, a pergunta sobre sindicatos:

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47% de apoio aos sindicatos é um índice fenomenal. Quanto aos 48% que acham que sindicatos “servem mais para fazer política”, temos uma confusão semântica na própria pergunta. Por acaso, “fazer política” é negativo? Considerando que o sindicato é o único meio pelo qual um trabalhador tem chances de conquistar uma posição política, não tem sentido considerar “fazer política” uma coisa negativa.

Para mim, o melhor critério para se identificar a preferência do eleitor é o voto. Primeiro porque é universal. Não são 2.000 pessoas entrevistadas, mas 150 milhões de eleitores. Segundo porque não implica em abstrações filosóficas ou morais altamente complexas. Nesse sentido, a polarização nas últimas eleições tem sido saudável e cristalina como água: a maioria dos brasileiros votou na esquerda.


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