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Minas Gerais: O abominável homem dos Neves, a censura e a guerrilha nas redes sociais

3 de fevereiro de 2014

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Se você achava que Serra era capaz de tudo… Pedro Guadalupe, brucutu pró-Aécio, que dizia que o senador impunha censura à imprensa em Minas, está prestes a entrar na campanha do tucano. O que o dinheiro não faz… E mais: Pedro não assume o que fala e tira texto do ar.

Fernando Brito, via Tijolaço e lido no Viomundo

A Folha, hoje [2/2], anuncia que começou a “guerrilha virtual” entre PT e PSDB para as eleições. O que descreve, em geral, são simples acompanhamentos de menções em redes sociais, o que é feito por softwares, automaticamente, e não exige mais que um analista ou dois para interpretar as menções e os contextos onde elas se dão. Coisa simples, mas que seus “iniciados” dizem ser complicada, porque ganham mais por isso.

Guerra, mesmo, só do novo brucutu digital de Aécio Neves, o ex-serrista e fernandista Xico Graziano, que acusa, claro, os blogs que mostram o lado playboy de Aécio Neves de “estarem no bolso do PT”.

Como eu não estou e mostro, gostaria de que Graziano especificasse os blogs, se tiver coragem, porque ando precisando de dinheiro e gostaria de ganhar algum dele na Justiça.

Mas, à parte disso, a matéria traz lá no pé a notícia de que um cidadão chamado Pedro Guadalupe, que se define como “gênio” das redes sociais, “está entre os mais cotados para integrar a equipe de Aécio”.

Guadalupe, na linha brucutu, abriu o site “Dilma Mente” para atacar a presidenta da República, diz ele que “em alto nível”.

A matéria menciona que Guadalupe teria trabalhado para João Santana, a serviço do PT, contra o candidato de Aécio à Prefeitura, Marcio Lacerda. Aí eu fui pesquisar sobre o gajo.

É um guri traquinas, que gosta de fama e de dinheiro – não necessariamente nessa ordem –, está sendo processado pela família de Renato Russo por uso de suas músicas e disse, há dias, que fora contratado por Andréa Neves para “tocar fogo” nas redes sociais.

E eis que senão quando me deparo com um de seus furiosos artigos no site de sua propriedade o BHAZ – Belo Horizonte da A a Z.

Transcrevo título e trechos:

O abominável homem dos Neves e as pesquisas eleitorais!

13/09/2012 – Pedro Guadalupe

Você conhece uma das principais artimanhas da família Neves para ganhar eleições? A censura que o clã impõe à imprensa de Minas Gerais é conhecida em todo o país. Se você vive no Estado, é provável que nunca tenha ouvido falar sobre isso, justamente porque o esforço dos Neves para só divulgar as informações que lhes interessa funciona… e muito. Mas você há de concordar que os principais meios de comunicação mineiros nunca publicam nenhuma notícia que possa sujar a imagem de Aécio Neves. […]

Na época das eleições, esse esforço dos Neves para manipular a opinião pública é ainda maior. Você não deve se lembrar, mas, em 2006, há menos de 15 dias para as eleições, o DataFolha lançou uma pesquisa dizendo que Aécio Neves liderava as intenções de voto com 73% dos eleitores, enquanto o concorrente Nilmario teria apenas 12% (confira aqui). Quando abriram as urnas, Nilmário teve quase o dobro dos votos: 22%.” […]

Quer dizer que Guadalupe, o homem do “Dilma Mente” mentia em 2012 quando informava que Aécio subjugava a imprensa ou mente agora, quando diz que Dilma mente? É com este tipo de ação mercenária que o PSDB vem falar de “blogueiros no bolso do PT”? Está nos confundindo com esta turma que você contratam a peso de outro, como aquele guru indiano do Serra, que acabou indo pra o xilindró?

Aguardem, meus amigos. Se você achava que Serra era capaz de tudo, vai sofrer uma decepção. A campanha de Aécio será mais suja ainda.

PS do Viomundo: Um leitor diz, nos comentários, que a TV Brasil deixará de ser retransmitida em Minas, dando lugar à TV Cultura de São Paulo. Especula que Aécio estaria fechando todos os canais de comunicação sobre os quais não tem controle visando a disputa estadual e sua campanha ao Planalto. Faz sentido.

Por outro lado, também gostaríamos que Graziano desse nomes aos bois para ter a possibilidade de acioná-lo na Justiça, se fossemos listados…

***

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Urinou pra trás: Print de @jaimeramos21 com o texto original.

Na noite de domingo, dia 2, a página no site do “gênio” Pedro Guadalupe a que Fernando Brito se refere havia sido substituída pelo texto abaixo, mas a data e o título continuaram os mesmos. O Pedro é um bundão. Não assume o que fala.

O abominável homem dos Neves e as pesquisas eleitorais

13/09/2012 – Pedro Guadalupe

Ideologia? Eu não quero uma pra viver

Cazuza dizia que seus inimigos estavam no poder. E que ele queria uma ideologia para viver.

Com todo respeito ao Cazuza, de quem até gosto (mais prefiro os Mamonas Assassinas), eu não quero. Obrigado, mas não sou ideológico. Vivo bem assim. Sou uma “metamorfose ambulante”, uma pessoa em constante estado de evolução.

Eu sou profissional. E, modéstia à parte, dos bons. Sou bom no que faço. E muito dessa expertise se deve ao fato de meu trabalho não ser movido por questões ideológicas, por paixões políticas, por gostar mais do azul que do vermelho.

Para continuar na música, eu faço muito mais o estilo tribalista. “Eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também”. Desde que me paguem, é claro. Mercenário? Não, nem de longe. Sou profissional, como já disse. Estabeleço um preço por meu trabalho e, quando o acordo é celebrado, me dedico de corpo e alma para atingir meus objetivos.

Mas é preciso um porém. Desafio qualquer um, de que lado estiver, a mostrar um desvio de conduta de meu trabalho como marqueteiro político. Até meus desafetos – e eles estão por aí, às dúzias – são obrigados a reconhecer que meu trabalho sempre explorou a verdade. Ela é plenamente suficiente para desenvolver qualquer estratégia de comunicação política, seja na situação, seja na oposição.

Não tenho inimigos na política. Elaine Matozinhos, coitada, não conta. É café com leite. Tenho aliados e tenho adversários. A todos, sempre tratei com cordialidade e respeito. Em 2012, por exemplo, trabalhei tanto para o PT quanto para o DEM. Já foram tantos partidos; PP, PMDB, DEM, PT, PEN, PSDB…. Ou vocês acham que se eu fosse um “brucutu”, como querem insinuar, eu seria cotado a trabalhar com PSDB, após a campanha que fiz para o Patrus?

Agora os blogueiros financiados pelo governo federal resolveram me atacar. Só que todos sabem que eu não sou o alvo deles, mas o senador Aécio Neves. A quem querem imputar a pecha de fazer uma campanha suja. Calma, gente. A brincadeira ainda está só começando. Nenhum petista aloprado soltou um dossiê qualquer, como costumam fazer. A militância ainda está meio perdida com rolezinhos, doações para os mensaleiros, movimentos contra a Copa e a troca na cúpula da comunicação.

Estou pronto para o combate. Apesar de novo, minha pele é curtida e minha casca é grossa. Será uma campanha dura, árdua e de muita labuta. Da minha parte, garanto a hombridade e a ética que devem pautar qualquer tipo de atividade, não apenas na política. Como falei na Folha, Dilma é presidente e merece respeito, aqui meus amigos o nível é alto . É pena que nem todos possam dizer o mesmo. Aliás, pena nada. Isso apenas facilita o meu trabalho.

E não se esqueçam que eu sou mágico. Isso mesmo. Mágico profissional. Já tentaram enganar algum mágico alguma vez?

***

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Por que Aécio Neves está censurando seus perfis fakes nas redes sociais

1 de dezembro de 2013
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Essa página ainda está no ar.

Kiko Nogueira, via Diário do Centro do Mundo

Aécio Neves entrou na Justiça contra perfis nas redes sociais que, em tese, o ridicularizam. Seus advogados querem identificar os usuários que estão criando as páginas. Uma das baixas foi o “Aécio Boladasso”, inspirado na “Dilma Bolada”, que é uma sátira a favor da presidente. “Aécio Boladão” e “Aécio Bolagato” continuavam na ativa.

A ação afirma que “todos os perfis e páginas foram criados recentemente, em datas muito próximas, e possuem conteúdo muito similar, o que denota a criação seriada de perfis ilícitos, os quais, inclusive, foram altamente difundidos nas mídias digitais”.

Nem Twitter nem Facebook teriam fornecido, por enquanto, informações sobre os criadores das contas. Segundo a assessoria do pessedebista, a iniciativa foi inspirada na das ministras Gleisi Hoffmann e Maria do Rosário. O senador é “pessoa pública e respeita os perfis de humor ou que trazem críticas a suas atividades ou posições políticas, mas vem sendo vítima de campanha de calúnia na internet por parte de pessoas que violam a legislação do País e as regras de funcionamento das redes sociais, com a utilização de técnicas proibidas e conteúdos considerados ilegais”.

Por que ele está partindo para cima dos perfis fake?

Porque é assim que ele opera. Em setembro, Aécio incorporou à minirreforma eleitoral a penalização de quem postar conteúdos agressivos ou ofensivos. Na sua proposta, o autor responderá criminalmente e a Justiça Eleitoral será acionada para retirá-la da Internet.

De acordo com um especialista em informações ouvido pelo DCM, é intimidação pura e simples. “A ideia é criar uma prática incriminadora da opinião do cidadão comum, considerado adversário”, diz. “Foi o que aconteceu, por exemplo, em Goiás, onde o governador Marconi Perillo processou jornalistas e blogueiros de oposição. Um deles foi condenado a pagar R$200 mil por causa de uma frase que era, na verdade, de um agente da Polícia Federal”.

Ele prossegue: “Interpelam-se os gestores das redes sociais, alegando-se supostos ‘crimes de opinião’. Com a confirmação do IP dado pela empresa, começa o inferno da pessoa. Processos, ameaças… Ninguém está livre disso. Basta que um juiz considere a frase ou piada caluniosa”. Haveria, também, um esquema de espionagem ativo. “A espionagem acabou se tornando comum para achacar e intimidar”, disse o especialista.

Em Minas, o Novojornal teria sido submetido a escutas telefônicas. Segundo o diretor Marco Aurélio Carone, foi por causa da “linha editorial independente, não se sujeitando a determinações da censora oficial Andréa Neves”. (Andréa é irmã de Aécio, eminência parda, seu braço direito e esquerdo). O registro “.com.br” foi cassado em 2008, medida que só foi revogada quatro anos e meio depois. Andrea Neves, conta Carone, ligou para anunciantes, avisando que “eles estariam patrocinando um jornal contra o governo de Minas”.

No caso das redes, vai ser difícil sua turma controlar um ambiente tão caótico e criativo. “Aécio Boladão” já transformou, por exemplo, em “Aécio Bolado”. “Chegay Tucanada, acharam que tinham me matado né?? Nãaaaaaaaaaaao, os petralhas não me acharam”, escreveu ele no Twitter. “Se dirigir não beba, se for beber me chama”. A zoeira, ela não tem limites.

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Aécio Boladão

Mal-estar em O Globo: As manifestações chegam à redação

24 de outubro de 2013

Globo_Jornal21102013Boatos sustentam: cancelamento de assinaturas cresceu dez vezes, depois da capa que tentou criminalizar professores.

Ivson Alves, via Coleguinhas Uni-vos e lido no Outras Palavras

“Quem escreve para jornal é desocupado ou psicopata.”

A frase acima marcou o ponto mais baixo – alguém pode achar mais alto, não eu – do mal-estar interno na redação de O Globo causado pela primeira abaixo, da edição de quinta-feira, dia 17.

Tecla de retrocesso.

No meio da tarde daquele dia, o e-mail interno geral de O Globo começou a receber centenas de e-mails revoltados com a capa “retrato de bandido” acima (sim, sei qual é o endereço). A imensa maioria – talvez uns 80% – era composta de um texto padrão, educado, que dizia algo como ser inaceitável O Globo fazer uma capa daquela, e 20% eram textos próprios, muitos com impropérios (as minhas fontes não quiseram me passar nenhum, argumentando, com razão, que a vigilância interna deve estar em níveis de alerta vermelho-sangue). No mesmo dia, o cancelamento diário de assinaturas, que normalmente já não é desprezível (em torno de 10), subiu algo entre 10 e 20 vezes, segundo as fontes. A torrente de e-mails continuou até mais ou menos às 9:30 de sexta-feira, quando o sempre competente setor de tecnologia de O Globo conseguiu uma forma de bloqueá-la.

Aí o problema real começou.

Em política, há uma frase – “vaca está estranhando bezerro” – que se encaixa perfeitamente no que aconteceu na redação de O Globo após o bloqueio dos e-mails de protesto. A parte mais nova dos repórteres respondeu o e-mail da tecnologia, avisando do bloqueio das mensagens, protestando contra a censura, sob o argumento geral – comportando variações – de que não se poderia ignorar a insatisfação dos leitores, no mínimo porque eles são os clientes.

O “aquário” não gostou, claro, considerando a manifestação como uma espécie de motim, mas isso faz parte da tradição autoritária de O Globo. O que não faz – ou fazia – parte dessa tradição é que jornalistas mais velhos apoiassem o bloqueio – ou seja, o cerceamento do direito dos leitores de opinar sobre o jornal que compram – e, mais, se manifestassem contra a discussão do tema no e-mail geral da redação.

Nesse contexto é que Ilimar Franco, titular do Panorama Político, enviou a frase que iniciou esse post e define bem o abismo que separa os estamentos mais altos da redação de O Globo – incluídos aí não apenas os que habitam o “aquário” – e a “jovem guarda” da redação, que, até por dever de ofício, está mais ligada ao que ocorre nas ruas (e agora está meio em pânico com as consequências da capa “retrato de bandido” para seu dia a dia, já suficientemente perigoso ultimamente).

Num mundo menos imperfeito, a manifestação das moças e rapazes geraria não esse tipo de resposta de Ilimar, mas uma meditação dos “aquarianos” e seus aliados quanto aos caminhos que estão sendo seguidos pelo jornal. Talvez, nessa meditação, se chegasse à conclusão que as recentes manifestações no País – tirando os casos de violência gratuita, que são espetaculosos, geram medo, e, com isso, tendem a distorcer o raciocínio, mas não mudam o curso da História – apontam para uma mudança de patamar na democracia brasileira, que, como sabemos, não chega a ter nem 30 anos, como uma grande parte dos manifestantes.

Essa mudança de patamar é causada pela passagem da consciência do nível de subsistência de parte significativa da população – aquele no qual o importante é contar com energia elétrica e ter dinheiro, a fim de comprar a geladeira que permitirá guardar os alimentos por mais tempo, liberando uma parte dele, antes usado de obtê-los – para aquele em que o tal tempo ganho pela existência da geladeira fica à disposição para outras tarefas, como refletir sobre o futuro da família, especialmente a educação dos filhos, e sobre por que raios ele/ela precisa deslocar-se 100 quilômetros para a consulta com um médico que nem sempre está lá, levando um tempo enorme no trajeto devido ao péssimo transporte público.

A adaptação a esse novo tipo de racionalidade é um problema que afeta, em primeiro (e em segundo e terceiro) lugar os políticos e as diversas instâncias governamentais e suas burocracias. Outras instituições da sociedade, porém, terão que passar por esse processo e seria de bom alvitre para elas irem pensando nisso. Entre essas instituições, até pelo seu papel central na sociedade, estão os meios de comunicação.

No caso específico de O Globo, a reflexão deveria partir de sua direção de redação, já que, por sua posição no processo de produção, tem acesso privilegiado aos dados reais do problema, entre eles aqueles trazidos pela “jovem guarda”, que anda pelas ruas e enfrenta-os diretamente. Levar essas reflexões aos Marinho é dever dos “aquarianos”. Se não o cumprirem, serão cobrados lá na frente.

E quanto à “jovem guarda”? Bem, se eu tivesse menos 20 anos e fosse tão bem preparado como eles são hoje em dia, e diante desse literal mundo de oportunidades que a mídia e as indústrias criativas e de serviço oferecem, eu estaria pensando seriamente em pular fora desse barco, pois já dá para ouvir as chapas de aço rangendo e uns barulhos estranhos vindo lá da casa de máquinas, enquanto os oficiais se esbaldam no salão de baile.

Censura à imprensa mineira ganha documentário internacional

20 de maio de 2013

Via Blog Fernando Massote

A Current TV, difundida na Europa, Estados Unidos e outras partes do mundo, está distribuindo um documentário sobre a censura à imprensa mineira. O vídeo se inicia com uma entrevista com o professor Fernando Massote, que analisa e denuncia os fatos envolvendo o governo Aécio Neves. É assim que a imprensa internacional corre em ajuda aos mineiros, para compensar o silêncio da mídia local sobre tudo o que não interessa ao Palácio da “Liberdade”. Confira, abaixo, o documentário, distribuído em francês, inglês e português.

Roberto Carlos, o rei da censura

25 de abril de 2013
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O censor

Como o maior cantor popular do Brasil se transformou numa máquina de proibir livros sobre ele.

Kiko Nogueira, via Diário do Centro do Mundo

Roberto Carlos é o chamado control freak. Sempre foi, mas piorou nos últimos anos. Sua obsessão por controlar sua imagem é notória e o leva a tomar decisões absurdas, na melhor das hipóteses, ou autoritárias, na pior. Cercado de agentes e aspones que o protegem de tudo, ou tentam protegê-lo, Roberto vive num mundo de fantasia, uma casca de ovo que ele pretende inexpugnável.

A nova de RC e seu time foi a notificação extrajudicial ordenando o recolhimento de um livro chamado Jovem Guarda: moda, música e juventude, de Maíra Zimmermann. É a tese de mestrado de Maíra, professora da Faap, e fala do surgimento do, na opinião da autora, mercado consumidor adolescente nos anos de 1960. Tiragem: mil exemplares. Mil.

Os advogados do cantor alegam que ele traz detalhes sobre a trajetória de sua vida e de sua intimidade e que a capa “contém caricatura do notificante e dos principais integrantes da Jovem Guarda sem que eles nem sequer fossem notificados”. Seu empresário declarou à Folha que recebe todo mês vários casos desse tipo e que “já passa direto para o escritório jurídico”.

Roberto se especializou no papel de censor. Não adianta o empresário dizer que “a lei nos protege” (o artigo 5º da Constituição veda a violação da intimidade e da vida privada e sua “exploração indevida”).

Em 2007, ele já havia proibido a boa biografia Roberto Carlos em detalhes, de Paulo César de Araújo, com os mesmos argumentos. Roberto se cerca de gente amedrontada que segue essa omertà. Há dois anos, numa matéria para a revista Alfa, o repórter Marcelo Zorza Netto entrevistou um músico de sua banda. Durante algumas semanas, ele ligou para a redação, preocupadíssimo com o que havia contado sobre Roberto (uma história sobre uma manifestação do TOC, o transtorno obsessivo compulsivo, de que RC sofre).

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A capa do livro censurado.

Para Roberto, a amputação de sua perna, na altura da canela direita, aos 6 anos, é um tabu que ganhou dimensões gigantescas. Em sua melhor fase, meados dos anos 1970, ele mesmo abordou esse drama na canção O Divã. O roteiro de seu famoso cruzeiro leva sua condição em consideração. Os shows precisam acontecer em águas calmas para que ele não se desequilibre. Mas isso não pode ser dito (aliás, foi dito numa reportagem da Viagem e Turismo. A antiga assessora de imprensa passou também alguns dias telefonando).

Por isso as entrevistas de Roberto são sempre insossas. Sua participação no documentário Uma noite em 67, sobre um festival da Record, é frustrante. Ele não sabia de nada, ele não tem nada a dizer que não seja protocolar. Faz uma piada sobre o fato de que havia uma turma organizada para vaiá-lo quando defendeu sua música, Maria, Carnaval e Cinzas, dando sua clássica risada. Só. Existe um acerto anterior de não se tocar em qualquer assunto que não seja de seu agrado. Não é que ele seja recluso ou avesso à mídia. Ele aparece bastante na Caras ou na Contigo, mas sempre do jeito que quer.

Você já deve ter lido ótimos livros, e outros nem tanto, sobre Frank Sinatra, John Lennon, Billie Holiday, Keith Richards etc. No ano passado, os Stones completaram 50 anos de carreira. Houve uma enxurrada de biografias. Uma delas, a de Mick Jagger, escrita pelo bom crítico Philip Norman, dava um excelente panorama dos anos de 1960 e 1970 e dissecava, claro, o vocalista dos Stones: suas mulheres, a prisão por posse de drogas e por aí vai. Não houve nenhum movimento do escritório de Jagger para proibi-la ou tirá-la de circulação (continua sendo vendida na Amazon, aliás).

Você pode achar que Roberto Carlos, bem, quem se importa com Roberto Carlos? Isso é uma questão. Outra, bem diferente, é como o maior cantor popular do Brasil virou um campeão da censura. Ele afirma que está preparando sua biografia. Maravilha, bicho. Uma coisa é certa: de tudo o que ele não vai dizer, suas proibições maníacas a livros não serão encontradas em página alguma.

“Estadão” censura artigo e faz de José Serra intocável

20 de abril de 2013

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Na condição de colunista do jornal da família Mesquita, ex-governador pode bater duro em quem e no que achar que deve. Mas não se admite naquele círculo liberal o direito de resposta de quem se considerar atingido pelas diatribes de José Serra. Aconteceu com o deputado Henrique Fontana (PT/RS). Artigo enviado como resposta a texto de Serra que classificava seu projeto de reforma política como “golpe”, “golpista”, “pior que o ruim” foi censurado na publicação de Ruy Mesquita e Francisco Mesquita Neto.

Via Brasil 247

“Faça o que eu digo, não faça o que eu faço.” O que o jornal O Estado de S.Paulo ensina para seus focas, nos cursos doutrinários para iniciantes no jornalismo, na suntuosa sede do bairro da Casa Verde, não é mais o que o mesmo Estadão pratica em suas páginas por meio de seus veteranos profissionais. A mais nobre e, ao mesmo tempo, elementar regra do jornalismo, professada para os jovens, acaba de ser rasgada dentro da redação que tem Francisco Mesquita Neto como diretor presidente e Ruy Mesquita como diretor de opinião. Fica a dúvida se o direito de resposta – essa pedra basal do jornalismo – algum dia voltará a valer no centenário matutino. O Estadão, em resumo, censurou.

No centro do episódio, José Serra. Na qualidade de colunista semanal do Estadão, ele classificou de “golpe” a proposta de reforma política apresentada no Congresso, após inúmeras discussões entre parlamentares de diferentes partidos, pelo deputado Henrique Fontana (PT/RS).

“O ruim – o modelo que temos – ainda é melhor do que o pior, representado pela proposta que o PT pretendia enfiar goela abaixo do País, já que não houve debate a respeito”, cravou Serra logo às primeiras linhas. Mais adiante, afirmou que a proposta escondia, na verdade, uma “patranha”, uma vez que destinava recursos públicos para o financiamento de campanhas políticas proporcionalmente aos partidos mais votados nas eleições anteriores: “Fator que beneficiaria, é evidente, o PT”, calculou Serra.

O autor da proposta atacada por Serra em seu espaço permanente no Estadão não gostou, “é evidente”, do que leu. Sentiu-se comparado a um golpista, apesar de ter feito toda a sua carreira política pelo voto popular. E queria expor seus argumentos contrários à demolição promovida por Serra, entre eles o que o projeto havia sido discutido “civilizadamente” inclusive com políticos tucanos tais quais Serra é hoje (ele está de saída para o MD, mas essa é outra história). Nada mais normal que pedir um direito de réplica a uma publicação e por ela ser atendido.

O deputado Fontana, então, enviou seu artigo de resposta a Serra para o Estadão, solicitando publicação – e nem mesmo queria o mesmo espaço dado ao ex-governador, mas simplesmente constar nas páginas da publicação dos Mesquita. Iria alimentar o debate, colocar seu ponto de vista. Simples assim. Nada de pedidos judiciais, brigas homéricas, xingamentos. Não. Apenas um artigo de réplica.

Os juízes do Estadão dos Mesquita, porém, avisaram ao deputado que não iriam publicar sua resposta. Mais que elevar, na prática, Serra à condição de colunista intocável ali dentro, o jornal mostrou que a pluralidade de ideias é uma palavra morta naquela mídia tradicional. Censurou.

A seguir, o artigo de José Serra, publicado no Estadão, com a opinião dele sobre o projeto de reforma política do deputado Henrique Fontana e, em seguida, a réplica enviada pelo parlamentar ao Estadão e não publicada pelo mesmo jornal dos Mesquita.

Reforma ou golpe?
José Serra

Ainda bem que a Câmara dos Deputados parece ter sepultado a proposta de reforma política petista, cujo relator era o deputado Henrique Fontana (PT-RS). O ruim – o modelo que temos – ainda é melhor do que o pior, representado pela proposta que o PT pretendia enfiar goela abaixo do País, já que não houve debate a respeito. Reforma política? Era mesmo isso o que se pretendia?

Há distinções claras entre revolução, reforma e golpe. A primeira convulsiona a sociedade, conquista a maioria dos que padecem sob a ordem vigente, lança no imaginário coletivo amanhãs redentores e faz novos vencedores. Nas revoluções virtuosas, os oprimidos de antes não se tornam os opressores do novo regime, mas os libertadores das potencialidades do futuro. Penso, por exemplo, na Revolução Americana.

Golpe, em qualquer lugar e em qualquer tempo, é uma reação dos que se veem ameaçados pela emergência de novos atores na cena política ou buscam perpetuar-se no poder eliminando os adversários. O golpe é sempre reacionário – seja o de 1964 no Brasil, o de 1973 no Chile ou os de 1966 e 1976 na Argentina. Ou o que matou César.

E a reforma? É uma tentativa de mudança pacífica, que procura não fazer nem vitoriosos nem derrotados. Não se trata de virar a mesa ou de banir da cena os adversários tornados inimigos. Uma reforma não privilegia grupos, mas busca o bem-estar coletivo – ainda que eu saiba que esse espírito anda em baixa nestes dias. Nos últimos anos o Brasil tem vivido sob a égide das “reformas”, sempre necessárias, mas jamais levadas a efeito. Uma das que mais mobilizam as consciências é a “reforma política”, que, na versão do PT, foi sepultada na noite de terça-feira. De fato, os petistas não queriam uma reforma, mas um golpe.

O PT queria aprovar, por exemplo, o financiamento público exclusivo de campanha, que tem seduzido muitos incautos. Segundo o relatório do deputado Fontana, as campanhas eleitorais seriam pagas na sua totalidade com o dinheiro dos contribuintes, por meio do Tesouro Nacional. O TSE estabeleceria o montante, mas o Congresso e o Executivo tomariam a decisão final na aprovação do orçamento.

A direção do PT, partido que levou o uso do caixa 2 ao paroxismo na vida pública brasileira, apresenta a solução do financiamento público para combater o… caixa 2! Pretende assim, diante da opinião pública e de sua militância menos informada, maquiar a própria história. Mas isso é só uma patranha. O golpe estava em outro lugar.

No projeto, a distribuição dos recursos para o financiamento público levaria em conta a representação na Câmara dos Deputados e, principalmente, o volume de votos obtidos na eleição anterior, fator que beneficiaria, é evidente, o PT. Até o PMDB, que tem uma grande bancada, mas não o maior número de votos dos eleitores, seria condenado a uma progressiva inanição, que só beneficiaria o partido que está no centro do poder de fato, o PT, que domina a máquina pública federal e controla as estatais e seus fundos de pensão.

Com essa proposta, aos cartórios já existentes, do Fundo Partidário e do tempo de TV, se somaria um terceiro, pantagruélico, gigantesco, faminto: o do fundo público de financiamento de campanhas eleitorais. Não custa lembrar que no sistema atual os partidos já recebem quase R$300 milhões por ano do Fundo Partidário. A essa montanha de dinheiro se soma a renúncia fiscal, pela qual o Tesouro Nacional remunera as emissoras de rádio e televisão pelo horário eleitoral, que de gratuito não tem nada – na eleição do ano passado custou R$600 milhões. Tudo isso é, insisto, dinheiro público, já distribuído segundo o tamanho das bancadas.

Em essência, o projeto do PT era continuísta e buscava fortalecer apenas a si mesmo, golpeando, assim, as possibilidades de alternância de poder. Imaginem se um projeto como esse fosse apresentado quando o partido tinha apenas oito deputados. Seus militantes sairiam às ruas gritando… “golpe!”. No entanto, como eles tiveram em 2010 o maior volume de votos para deputado federal, seus dirigentes chamam de verdadeira revolução o que não era nem sequer uma reforma.

O leitor de boa vontade, enfarado com os desmandos e a roubalheira, poderia ver-se seduzido pela proposta: “E o caixa 2? Não é bom eliminá-lo?”. Claro que sim. Mas o projeto não tinha esse condão, pois a legislação atual já o proíbe. Ora, se com as doações privadas permitidas já existem os “recursos não contabilizados”, o que aconteceria se elas fossem proibidas? Haveria uma verdadeira inundação de dinheiro ilegal na campanha.

É também falaciosa a tese de que o financiamento exclusivamente público evitaria compromissos espúrios entre financiadores de campanha e políticos. Ora, hoje em dia, ao menos uma virtude há: os doadores são conhecidos. Caso se instituísse o caixa 2 como princípio de fato – esse seria o efeito deletério e fatal do que propõe o PT –, nem mesmo tal controle existiria. As eleições seriam ainda menos transparentes.

Os demais partidos teriam de suportar limites estreitos, de cujos efeitos, no entanto, o PT conseguiria desviar-se. Pesaria ainda mais, por exemplo, a importância do “caixa 3″, representado pela mobilização de recursos de entidades-satélites do partido, como ONGs, sindicatos, centrais sindicais, que fazem campanha para a legenda e seus candidatos sem ter de prestar contas à Justiça Eleitoral.

Uma reforma política de verdade procuraria aperfeiçoar o mecanismo de representação, aproximando mais o eleito do eleitor. A sociedade seria chamada a debater, entre outros temas relevantes, o voto distrital – um poderoso fator de aperfeiçoamento da democracia e de drástica redução de custos das campanhas. Em vez disso, depois de perder três eleições e vencer outras três com o financiamento privado, o PT empenhou-se em criar um mecanismo que tornasse a sua derrota, se não impossível, muito difícil. A Câmara disse “não”, em boa hora, ao projeto que não era reforma, mas golpe.

A inadiável reforma política
Henrique Fontana

José Serra cultiva com frequência uma forma peculiar de debater ideias em nosso sistema político: do seu lado estão os valores da “verdadeira democracia”; do outro, os golpistas que querem eliminar os adversários. Acredito que a linguagem maniqueísta não é adequada para debater ideias em um ambiente democrático, aliás, não foi desta forma desrespeitosa e arrogante que fui recebido nas inúmeras reuniões que fizemos com a bancada do PSDB na Câmara dos Deputados, sempre muito civilizadas.

O debate político ganharia muito se todos aqueles que estão realmente interessados em aperfeiçoar nosso sistema político se debruçassem sobre um fato inegável da democracia brasileira: o avassalador crescimento do peso do poder econômico nas campanhas eleitorais. Em 2002, os gastos declarados por partidos e candidatos nas campanhas para Deputado Federal alcançaram R$189,6 milhões; em 2010, esse valor chegou ao montante de R$908,2 milhões, um crescimento de 479% em oito anos. Com maior intensidade, os gastos declarados nas campanhas presidenciais passaram de R$94 milhões, em 2002, para R$590 milhões, em 2010, um crescimento de 628% em oito anos.

Como economista, Serra deveria esclarecer a população de que hoje ela já paga por cada centavo das campanhas bilionárias que meu projeto visa baratear.

Ou alguém pensa que quando uma empreiteira coloca 50 milhões na eleição ela não embute esse valor no preço das obras que são pagas com os recursos do contribuinte? Seria preciso ser muito ingênuo para acreditar que esses generosos doadores não exigirão dos candidatos que criteriosamente escolheram financiar algum tipo de contrapartida para o apoio conferido nas campanhas eleitorais, na forma de relações privilegiadas, podendo chegar a contratos superfaturados ou desvios de todo tipo nas relações com o Estado. O custo das campanhas eleitorais é como um imposto: quem paga é sempre o cidadão.

Nesse sistema, apenas os candidatos que contarem com generoso aporte dos recursos dos financiadores privados – as 72 grandes empresas que contribuíram com um bilhão de reais nas eleições de 2010 – terão chances efetivas de vencer uma eleição. Assim, muitas vocações de autênticos líderes e representantes populares não poderão aflorar, pois terão suas carreiras políticas ceifadas na origem, pela ausência de recursos para financiarem suas campanhas e defenderem os legítimos interesses da população que mais necessita da ação estatal na forma de bens públicos. É essa a democracia que convém ao nosso país?

Os dados das últimas eleições nacionais são muito claros nesse sentido: dos 513 deputados federais eleitos em 2010, 369 foram os que mais gastaram nos seus estados, o que representa 71,93% da Câmara. Foi para enfrentar essa realidade que, nas últimas legislaturas, diversos partidos, em sintonia com as posições defendidas por expressivos setores da sociedade civil (OAB, CNBB, Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral e outras organizações sociais) se debruçaram em torno da elaboração de diversas propostas de financiamento público das campanhas eleitorais. Será que essas entidades também podem ser tachadas de golpistas?

Esse debate, que não é propriedade de nenhum partido, não se encerrará em função da decisão momentânea dos que optaram por continuar com as distorções do modelo atual. Os problemas de nosso modelo de financiamento aparecerão com força revigorada nas eleições de 2014, se nada for mudado. Se, em vez de desqualificar seus opositores, o autor estudasse a fundo a proposta reconheceria que no sistema atual os maiores partidos são os que mais arrecadam dos financiadores privados, o que gera grande desigualdade entre os concorrentes.

Não consegui encontrar ao longo do texto de José Serra os argumentos para defender o sistema de financiamento privado que temos hoje no Brasil.

Faltaram as frases para explicar por que seria positivo que empreiteiras, bancos e outras grandes empresas possam usar seu poder econômico para definir livremente quem querem financiar. Ou a sustentação de que esses financiamentos não têm trazido problema algum para a democracia brasileira, isto é, nenhum caso de corrupção que o país vivenciou nas últimas décadas teria qualquer relação com o financiamento privado das campanhas eleitorais.

Em seu artigo, Serra repete uma velha fórmula de fazer política em nosso país: critica fortemente a proposta de seu adversário para sepultá-la o mais rápido possível, ainda que tenha pouco para contribuir com a melhoria do sistema atual. Somente no último parágrafo, depois de defender ao longo do texto a continuidade do financiamento da democracia brasileira por empreiteiras, bancos e outras grandes empresas, ele apresenta sua única proposta de reforma política: o voto distrital.

Em nossa opinião, além da desproporcionalidade entre os votos e as cadeiras conquistadas pelos partidos e da “paroquialização” da disputa política, o sistema distrital produzirá entre nós aguda concentração de poder em torno de duas ou três grandes agremiações, como já ocorre no Reino Unido e nos Estados Unidos, em função do voto útil, típico das disputas majoritárias. Talvez o modelo de democracia ideal defendido por Serra seja um sistema com três grandes partidos (o PT, o PMDB e o PSDB), o que considero inviável no Brasil. Nosso partido soube crescer e elegeu por três vezes o Presidente da República no contexto das regras vigentes, mas queremos mudá-las porque acreditamos que estas não são as mais justas e democráticas.

Em função dos agudos problemas do sistema vigente, o debate sobre o financiamento das campanhas veio para ficar em nosso país. Alguns atores defendem a proibição das doações de Pessoas Jurídicas, o que já seria um avanço, outros se mobilizam para estabelecer um teto para os gastos de cada campanha, previsto pela legislação eleitoral, mas nunca regulamentado pelo Congresso. Nas inúmeras reuniões com vários partidos, percebo a preocupação crescente com a influência desmesurada do poder econômico no campo político. Ao contrário de José Serra, que prefere o status quo, tenho certeza de que encontraremos o modelo mais adequado para financiar as campanhas eleitorais no país”.

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