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São Paulo: Protesto contra a Copa tem mais policiais que manifestantes

14 de março de 2014
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#VaiTerCopa: Número de coxinhas foi inferior ao de policiais.

Cristiane Agostine e Letícia Casado, via Valor Econômico

“A ditadura militar ainda não acabou. A polícia está aí para nos lembrar disso”. O estudante universitário Felipe Chagas, de 20 anos, foi abordado na quinta-feira, dia 13, pela Polícia Militar, na saída de uma estação de Metrô, antes mesmo de chegar ao terceiro protesto contra a Copa do Mundo, realizado no Largo da Batata, zona oeste da capital paulista. A presença da PM, ostensiva, fez com que houvesse um policial para cada manifestante. “Existe um sentimento alarmista de que a ditadura vai voltar, de que se as pessoas forem às ruas vai ter golpe. Mas não vai”, afirmou o estudante de letras da USP.

Cinquenta anos depois do discurso histórico do então presidente João Goulart na Central do Brasil, que antecedeu o golpe militar, a defesa de mais democracia e de mais investimentos sociais, em transporte, saúde e educação – e menos recursos para estádios – uniu estudantes, movimentos sociais, militantes partidários e Black Blocs. Embora com bandeiras diferentes, manifestantes também se uniram nas críticas à repressão e à ação da polícia.

Segundo o tenente coronel Eduardo Almeida, 1,7 mil policiais foram escalados para garantir a “ordem” e a preservação do “patrimônio público e privado” e acompanhar os cerca de 1,5 mil manifestantes, segundo a PM. No comício de Jango, há 50 anos, foram 2,5 mil homens do Exército para cerca de 100 mil manifestantes.

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12 de março de 2014

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Ministro da Defesa diz que País precisa estar preparado para tudo durante a Copa. Segundo ele, tropas da Força de Contingência poderão ser acionadas em casos de emergência grave.

Paulo Moreira Leite, via IstoÉ

Na divisão de trabalhos para a Copa do Mundo, o ministro da Defesa, Celso Amorim, 72 anos, ficou com a parte mais dura. Coube aos comandantes militares, que lhe devem obediência, selecionar, treinar e organizar as tropas da Força de Contingência, que ficarão de prontidão nos Estados, para serem acionadas em casos de emergência grave – se assim entender a presidenta Dilma Rousseff. Chanceler em dois governos – Itamar Franco e Luiz Inácio Lula da Silva –, ministro da Defesa desde agosto de 2011, Amorim espera o melhor em termos de segurança, mas prepara-se para o pior, num cenário que, além de protestos previstos, inclui possíveis atos de terrorismo. Amorim recorda que o Brasil não é alvo, mas, segundo ele, “é preciso tomar precauções” num trabalho que envolve essencialmente segurança eletrônica.

Um dos principais incentivadores da criação de um Centro de Defesa Cibernética, lançado por Dilma em 2012, um ano antes da descoberta dos grampos eletrônicos da National Security Agency (NSA), Amorim gera polêmica, recebe críticas e exibe uma conhecida capacidade de enxergar um pouco mais longe. Cinéfilo aplicado, Amorim era presidente da Embrafilme quando a empresa patrocinou “Pra Frente Brasil”, filme pioneiro na denúncia da tortura sob o regime militar. Em 2010, Amorim acompanhou Lula no esforço para um acordo nuclear com o Irã, ensaio para negociação posterior, com a participação de Estados Unidos, Rússia, China, França e Inglaterra.

IstoÉ – Como o Ministério da Defesa vai atuar na Copa?
Celso Amorim – Estamos trabalhando sob a coordenação da Casa Civil, num grande entendimento com o Ministério da Justiça e, naturalmente, também com as secretarias estaduais de Segurança Pública. O princípio é que todos têm que saber de tudo. A Defesa tem dois papéis. Um, mais específico, é a defesa do espaço aéreo e, quando for o caso, defesa da área marítima. Isso inclui o antiterrorismo. Teremos também uma Força de Contingência, que pode ser acionada em caso de necessidade.

IstoÉ – Quem vai decidir quando essa Força pode ser necessária?
Celso Amorim – A Presidência, a partir de um pedido do governador do Estado, que será assessorado por um grupo reunindo a segurança estadual, o Ministério da Justiça e da Defesa, representada pelo comandante militar da área. Esse grupo vai avaliar se em determinado lugar a situação ficou difícil, por um motivo ou outro, explicando que isso pode exigir a mobilização da Força de Contingência. Mas quem dá a palavra final é a presidenta.

IstoÉ – Como será a atuação dessa tropa?
Celso Amorim – Podemos imaginar uma atuação semelhante a que ocorreu durante a visita do papa. Ocorreu ali uma situação típica. Devido à mudança de Guaratiba para Copacabana, foi preciso delimitar a área que empregaríamos a Força. Havia um certo nível de esgotamento da polícia também.

IstoÉ – O governo espera alguma ameaça terrorista?
Celso Amorim – Não esperamos. O Brasil não é um alvo do terrorismo. Mas temos que pensar no pior e tomar precauções em relação a isso. Grande parte desse trabalho envolve segurança eletrônica.

IstoÉ – A compra de caças suecos e a construção de um cabo submarino que vem da Europa sem passar pelos Estados Unidos mostram um afastamento da influência norte-americana?
Celso Amorim – É melhor deixar cada um com sua conclusão. Eu acho que a comunicação direta permitida pelo novo cabo submarino oferece mais segurança do que se você tiver de passar por um outro País, seja ele qual for. A questão da espionagem despertou preocupação não só no Brasil, mas também na Alemanha, e é objeto de discussão na Europa. Mesmo falando de países amigos, próximos dos EUA, é uma coisa obviamente preocupante. Não vou entrar na parte diplomática, não é comigo, mas há duas questões importantes. Uma é a proteção da privacidade, que é importantíssima, e foi objeto de uma resolução das Nações Unidas. Brasil e Alemanha capitanearam esse esforço, o Itamaraty está conduzindo e nós acompanhamos, porque nos interessa.

IstoÉ – Como um País como o Brasil se defende nesta nova situação?
Celso Amorim – Primeiro a gente tem de entender que o passo inicial para uma boa defesa é a consciência da vulnerabilidade. Eu acho que fui uma das primeiras autoridades a reconhecer uma vulnerabilidade, o que levou, em 2012, por um decreto da presidenta Dilma Rousseff, à criação do Centro de Defesa Cibernético. Ele tem funcionado para situações especiais, como foi a Rio+20 e a Copa das Confederações. É preciso fazer justiça a meus antecessores, porém. A criação do centro estava prevista desde 2008. Em 2010, ele foi estabelecido de maneira informal.

IstoÉ – Como o centro opera?
Celso Amorim – O centro protege o País. Temos muitos ataques de hackers. Parecem hackers privados, mas, hoje em dia, nunca se sabe. Até os privados podem estar sendo usados por alguém. Também podem ocorrer ataques massivos e ações organizadas de espionagem. Temos consciência de que a Defesa nunca terá, sozinha, capacidade para proteger tudo no Brasil. Cada órgão importante precisa fazer sua parte. A Petrobras tem de ter sua defesa, Itaipu também. Nossa missão primordial, na Defesa, é defender os próprios instrumentos de defesa, os programas estratégicos da área militar. A primeira função é proteger a si própria. Não se pode permitir, como aconteceu naquele conflito entre Egito e Israel, que os aviões sejam destruídos antes de sair do solo.

IstoÉ – Quem deve fornecer os equipamentos para isso?
Celso Amorim – Temos consciência que temos que fazer isso, na medida do possível, com instrumentos nacionais. Claro que a gente não tem capacidade de produzir tudo. Mas, quando se trata de um software importado, é importante que o código seja aberto, para que possa ser modificado. Se não, estamos entregues, totalmente entregues.

IstoÉ – O País tem conseguido avançar?
Celso Amorim – Os softwares usados na Rio+20 foram desenvolvidos no Brasil, por empresas brasileiras. Temos projeto junto com a Finep para desenvolver empresas nesse setor, isso também envolve desenvolvimento do conjunto do governo. Você tem empresas brasileiras que querem começar, mas, se elas não tiverem escala de produção, não vão competir e serão compradas por empresas estrangeiras. Então temos que criar a escala. Não sei se as Forças Armadas sozinhas são suficientes para criar essa escala. É preciso que essa consciência seja difundida. O conjunto do governo cria escala. Sem ela, uma empresa de ponta pode ser comprada por uma empresa estrangeira só para ser fechada.

IstoÉ – Algum caso para ser mencionado?
Celso Amorim – Tivemos uma empresa ligada à Petrobras, à Petroflex, que produzia um tipo de combustível fundamental, um propelente para nosso lançador de satélite. A empresa foi comprada por uma concorrente alemã, que transferiu a produção para a Alemanha e, quando fomos tentar comprar o propelente, não podia ser adquirido porque estava em uma lista de produtos proibidos.

IstoÉ – O Brasil vai ser vigiado por um Grande Irmão, como no romance 1984?
Celso Amorim – Não. Não queremos isso.

IstoÉ – Como o senhor analisa o movimento pelo lançamento da candidatura do general Heleno a presidente?
Celso Amorim – O general Heleno é um militar da reserva. É um civil, portanto, nessa condição, tem todo direito de ser candidato. O general foi um excelente comandante da Minustah, a tropa que atua sob comando brasileiro no Haiti. Caberá a outros julgar o que ele está fazendo agora. É claro que essas figuras são importantes, mas os partidos políticos também são fundamentais para consolidar a democracia.

IstoÉ – Por que tantos estudiosos dizem que a democratização não chegou à formação de nossos militares, que têm currículos do tempo da ditadura e da luta contra o comunismo…
Celso Amorim – É preciso distinguir as coisas. Eu mudei bastante o manual ligado à aplicação da garantia da lei da ordem. Mas o vocabulário é militar, com termos empregados para qualquer situação. Continuam a aparecer expressões como “forças oponentes”, por exemplo, mas o sentido é outro. Não se refere a movimentos sociais, nem esses movimentos são vistos como adversários do Estado brasileiro. Isso eu garanto.

IstoÉ – Quais mudanças foram feitas?
Celso Amorim – Por exemplo, foram incluídos currículos sobre direitos humanos em todas as escolas militares, em todos os níveis.

IstoÉ – Há condenações à tortura?
Celso Amorim – Além de nossas leis, ensina-se tudo que as convenções internacionais sobre direitos humanos dizem. O Brasil firmou e ratificou as convenções contra a tortura e isso é estudado. Também estudamos direito internacional humanitário, que é importante para os combates. Eu acho que a gente tem um probleminha ainda na área de currículo de ensino médio. Há uns livros obrigatórios e alguns facultativos, que às vezes envolvem conceitos que não entram nesses aspectos. Mas eu acho que é preciso dar tempo ao tempo.

IstoÉ – O que mudou no pensamento militar?
Celso Amorim – Não estou na cabeça de cada militar. Mas minha impressão geral é que o ponto de vista dominante, hoje, é que eles trabalham de uma forma profissional e querem seguir assim. Não querem tutelar o País. Eu diria que o fato de as honras militares para o presidente João Goulart terem sido prestadas não só em Brasília, mas também no Rio Grande do Sul, faz parte disso.

IstoÉ – Como está a relação com a Comissão da Verdade?
Celso Amorim – Excelente. Todos compreenderam que não se quer investigar o Exército de hoje, mas fatos que ocorreram há 40 anos. Os membros da Comissão já nos agradeceram cooperação.

IstoÉ – O senhor presidia a Embrafilme quando ela produziu Pra Frente Brasil, o primeiro filme a denunciar a tortura no regime militar. Como foi aquilo?
Celso Amorim – Estávamos no governo João Figueiredo e é claro que eu sabia que seria demitido depois de fazer isso. Mas achava que era minha obrigação, até porque o estatuto da Embrafilme dizia que ela deveria zelar pela liberdade de expressão. O filme levou três anos para ficar pronto. Tinha imagens fortes e chocantes, como uma cena em que o Reginaldo Farias ficava no pau de arara. Aquilo saiu na Manchete e foi um escândalo. O filme foi proibido antes da estreia em grande circuito, logo depois de ser exibido e aplaudido no Festival de Gramado. Mas acabou liberado meses depois, num reflexo da luta pela democratização do Brasil. Eu já estava demitido, mas até fiz uma brincadeira na época. Havia uma propaganda de uma máquina de escrever norte-americana que dizia que ela estava “um pouquinho à frente do nosso tempo”. Era como eu me sentia.

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Paulo Moreira Leite: Torcida do contra perdeu de novo

9 de maio de 2013
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Na edição do dia 7, data da eleição de Azevêdo ao cargo de diretor-geral da OMC, o jornal de “seu Frias” apresentava o pensamento geral da mídia golpista.

A recepção que Roberto Azevêdo recebeu de tantos observadores e comentaristas brasileiros é uma advertência importante.

Paulo Moreira Leite em seu blog

Com o primeiro brasileiro a ocupar um posto internacional tão relevante como a direção da Organização Mundial do Comércio, o governo nem teve tempo de levantar a taça para um brinde antes que fosse possível ouvir críticas, advertências e profecias negativas quanto a sua atuação.

Não faltou quem lembrasse que, apesar da mais importante vitória diplomática desde a independência, o Brasil ainda não conseguiu uma meta maior, que é garantir um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. É verdade.

O Brasil luta por essa cadeira desde a criação da ONU, no pós-Guerra. Mas o debate sobre uma reforma da instituição saiu da pauta nos últimos anos e isso não depende apenas do Brasil. Falar em assento permanente é como cobrar a conquista da Copa do Mundo, quando a Copa não está no calendário. E é uma forma, claro, de minimizar a importância do que ocorreu ontem [7/5].

Também se procura jogar nas costas sequer empossadas de Azevêdo um possível fracasso na próxima rodada ministerial de Doha, onde se tentará retomar negociações de comércio internacional, tão combalidas após o colapso de 2008, que abriu essa recessão mundial que não quer terminar. É ridículo – onde está a trégua de 100 dias devida aos recém-eleitos? –, mas não tem importância. A baixa política, o esforço para desgastar de qualquer maneira não conhece tréguas. Torcer contra é uma opção ideológica, que não descansa.

Há uma questão cultural e política neste caso concreto. Muitos observadores se mantêm amarrados a dogmas coloniais. Conservam um comportamento subordinado aos países desenvolvidos, considerando um disparate demagógico todo esforço de qualquer governo fora do eixo Paris-Londres-Nova Iorque para consolidar seu espaço e firmar uma liderança altiva.

Riram do esforço do Itamaraty de conquistar um assento no Conselho de Segurança quando o debate era real. Fizeram pouco caso do crescimento da candidatura de Azevêdo até que, aos 44 minutos do segundo tempo, perceberam que ela podia dar certo e correram para evitar um vexame maior.

Mesmo assim, quando a notícia já corria mundo, havia quem recomendasse cautela, torcendo até o último minuto por uma reviravolta. Triste, não?

A escolha de Azevedo é uma vitória dele próprio, do ministro Antônio Patriota e da presidente Dilma. Mas, sem querer exagerar nem diminuir as coisas, é difícil explicar o que ocorreu sem levar em consideração as mudanças de nossa diplomacia na última década.

Falando com clareza: foi a partir do governo Lula que o Brasil parou de priorizar de modo absoluto as relações com os países desenvolvidos e começou a investir pesado em países abaixo do Equador. O chanceler Celso Amorim seguiu ridicularizado mesmo depois que seu prestígio internacional era reconhecido em toda parte.

Falava-se de nossa diplomacia cabocla, terceiro-mundista, anacrônica, pré-histórica e assim por diante. Não por acaso, quando EUA e Europa firmaram um protocolo comercial ainda em fase muito preliminar, nossos críticos voltaram sua zanga sempre alerta contra o Brasil e o Mercosul. Como se mais uma vez a culpa fosse do Itamaraty, é claro. Mas foram estes votos, de países que buscam uma nova relação de forças na cena internacional, com direitos menos desiguais, que permitiram a vitória brasileira.

Hoje [8/5], basta ler os jornais, mesmo aqueles “de direita”, como disse Joaquim Barbosa, para comprovar a importância da postura multilateral nessa decisão.

Talentos particulares à parte – e parece que Roberto Azevêdo tem muitos – a candidatura derrotada veio do México, o mais norte-americano dos países latino-americanos, não é mesmo?

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8 de maio de 2013
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Azevêdo, negociador hábil, foi um nome bem escolhido pela diplomacia brasileira.

Avaliação é de que eleição de Roberto Azevêdo, primeiro americano a comandar organização, e reflete fortalecimento do Brasil iniciado no governo Lula, com pressão para romper barreira EUA-Europa.

Nicolau Soares, Rede Brasil Atual

A eleição do diplomata Roberto Azevêdo como diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) é uma vitória da política internacional adotada pelo Brasil a partir de 2003. O novo diretor da OMC foi escolhido mediante consulta aos 159 países membros da organização. Nove candidatos se apresentaram para a sucessão do francês Pascal Lamy, restando na etapa final apenas Azevêdo e o mexicano Hermínio Blanco.

A presidenta Dilma Rousseff emitiu nota em que agradece o apoio recebido pelo candidato do país de governos de todo o mundo nas três rodadas de votação. “Ainda sofrendo os efeitos da crise mundial iniciada em 2008, caberá à OMC nos próximos anos dar um novo, equilibrado e vigoroso impulso ao comércio mundial, fundamental para que a economia global entre em novo período de crescimento e justiça social”, diz o comunicado. “Ao apresentar o nome do embaixador Azevêdo para esta alta função, o Brasil tinha claro que, por sua experiência e compromisso, ele poderia conduzir a Organização na direção de um ordenamento econômico mundial mais dinâmico e justo. […] Essa não é uma vitória do Brasil, nem de um grupo de países, mas da Organização Mundial do Comércio.”

“Toda a estratégia implementada desde 2003 pelos governos de Lula e Dilma visava colar a imagem do Brasil numa política mais ampla de reforma das instituições multilaterais, com foco no desenvolvimento dos países”, lembra o professor Giorgio Romano Schutte, coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC). Ele destaca que posições fortes defendidas pela diplomacia brasileira no período deram lastro à candidatura, como a proposta de incluir na pauta da OMC a intensa desvalorização cambial que vem sendo praticada por vários países do mundo como forma de enfrentar a crise internacional. “Não foi um país com uma candidatura em cima do muro. Teve posições fortes e, ao contrário do que se falava aqui, ganhou respeito e confiança, principalmente dos países em desenvolvimento”, diz.

Um dos primeiros passos nessa direção ocorreu já em 2003, durante reunião da OMC em Cancún para dar continuidade à Rodada de Doha, processo de negociação que visa a derrubar barreiras e promover o comércio internacional. “Normalmente, o acordo era feito entre Estados Unidos, Europa e Japão, eles vinham com o pacote pronto. Nessa ocasião, o Brasil e outros países articularam o grupo, que ficou conhecido como G20 Comercial, e reunia países que não necessariamente tinham as mesmas visões, mas queriam quebrar a hegemonia desse grupo pequeno de países-membros”, lembra Romano. O Brasil manteve postura firme nas negociações cobrando o fim das barreiras e subsídios agrícolas praticados pelos países desenvolvidos. “Isso emperrou a negociação. Articulou conjuntamente com a Índia e chegou perto de acordo, mas impasse continua”, afirma.

No sentido da redistribuição de forças, a eleição de Azevêdo também é simbólica porque atraiu todos os votos dos Brics, bloco formado pelas economias emergentes Rússia, Índia, China e África do Sul, além do Brasil. O diplomata será o primeiro americano a comandar a OMC.

A especialista em comércio exterior Marília Castañon Pena Valle, ex-coordenadora-geral do Departamento de Defesa Comercial, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, afirmou à Agência Brasil que a vitória deve ser observada como resultado de uma atuação “séria e correta”. “É muito importante o significado para o Brasil do embaixador Azevêdo [na direção-geral da OMC]. É o primeiro latino-americano, brasileiro, e que tem uma longa trajetória nas negociações comerciais internacionais”, destacou. “Ele terá pela frente um grande desafio: destravar as negociações que estão paralisadas, principalmente devido às crises econômicas.”

Neymar

A indicação de Roberto Azevêdo como candidato também foi um fator relevante. Diplomata de carreira especializado em assuntos econômicos, desde 2008 ele é o representante do Brasil na OMC e um dos principais negociadores do conjunto dos países em desenvolvimento. Antes, ocupou diversos cargos relacionados a assuntos econômicos no Ministério das Relações Exteriores, tendo atuado em contenciosos como os casos de subsídios ao algodão (iniciado pelo Brasil contra os Estados Unidos), subsídios à exportação de açúcar (iniciado pelo Brasil contra as Comunidades Europeias) bloqueios à importação de pneus reformados (litígio iniciado pelas Comunidades Europeias), além de chefiar a delegação brasileira na Rodada de Doha.

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“Ele está há muitos anos liderando a representação brasileira em Genebra. Não é alguém que inventaram para ficar encostado, mas o negociador que o Brasil entende ser o melhor nessa área. Escalaram o Neymar em campo”, brinca Romano. Em coletiva, o chanceler Antônio Patriota também recorreu a uma metáfora futebolística para elogiar o eleito. “Um dos aspectos que influenciou o apoio ao embaixador Roberto de Azevêdo foi o sentimento que ele não precisava ser treinado para o cargo: estava treinando para o jogo e para chutar ao gol”, disse. “É um resultado muito importante que reflete uma ordem internacional em transformação, que é de países emergentes que demonstram uma liderança.”

Em funcionamento desde 1995, quando substituiu o Gatt (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio, na sigla em inglês), a OMC é responsável por mediar as transações comerciais em todo o mundo. É um dos principais organismos internacionais, ao lado do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial e da própria Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo Romano, a OMC se destaca por ter poder de intervenção de fato. “É uma instituição com dentes. Suas decisões são vinculantes, criam jurisprudência que se soma aos acordos internacionais existentes. Ela tem poder de permitir retaliação, como fez na recente vitória do Brasil sobre os EUA no caso do algodão”, explica o professor.

Empresários

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) declarou em nota receber com “entusiasmo” a vitória do brasileiro e afirma ter contribuído decisivamente para a escolha, “ao defender junto a diversas delegações internacionais a candidatura de Azevêdo como hábil negociador”. “Além de fortalecer ainda mais o sistema multilateral de comércio, a eleição de Roberto Azevêdo é prova da importância crescente que o Brasil vem assumindo no cenário internacional”, afirma o presidente da Fiesp, Paulo Skaf. “É motivo de orgulho para o país ter um brasileiro no comando de uma organização tão importante como a OMC.”

Também em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que se trata de um reconhecimento da qualidade da diplomacia brasileira. A CNI informou ter expectativa de que Azevêdo “resgate a relevância do principal órgão de administração do comércio internacional”. “O fortalecimento da OMC é importante para a construção de regras claras que deem estabilidade jurídica para os fluxos comerciais, atendam aos compromissos assumidos entre os países e combatam as práticas desleais como subsídios à exportação e dumping”, diz o comunicado.

Para Amorim, instalação de bases dos EUA no Paraguai é esdrúxula

12 de julho de 2012

Via Vermelho

O ministro da Defesa, Celso Amorim, classificou de “esdrúxula” a possibilidade de instalação de uma base militar dos Estados Unidos no Paraguai. Segundo ele, isso resultaria num isolamento ainda maior do país em relação aos seus vizinhos do Mercosul. As declarações foram feitas no Rio nesta segunda-feira (9).

“Eu não sou ministro das Relações Exteriores, mas seria uma coisa tão esdrúxula que resultaria no isolamento a tão longo prazo do Paraguai que acho que não vale a pena. Não creio que ocorrerá”, afirmou Amorim, que participou na segunda-feira, dia 9, da solenidade de transmissão do controle do Exército para a Polícia Militar estadual do policiamento dos complexos pacificados do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio.

A possibilidade de construção de uma base dos EUA no Chaco, na região de fronteira próxima à Bolívia, foi anunciada na sexta-feira, dia 6, pelo deputado José Lopez Chavez, presidente da Comissão de Defesa da Câmara dos Deputados do Paraguai.

Lopez Chavez afirmou que negociou a instalação da base com generais das forças armadas norte-americanas, que visitaram o Paraguai dias após o golpe que destituiu presidente legitimamente eleito, Fernando Lugo da presidência.


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