Eleição nos EUA provou que Araújo não tem condições de ser chanceler

10 de novembro de 2020
O presidente dos EUA, Donald Trump, cumprimenta o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, na Casa Branca. Imagem: Reprodução/Twitter.

Jamil Chade em 9/11/2020

Benjamin Netanyahu teve em Donald Trump um aliado fundamental. Viktor Orban, na Hungria, se apoiou no republicano para se justificar diante do mundo, assim como ocorreu com a liderança polonesa. Narendra Modi, na Índia, usou do nacionalismo para o aproximar de Trump e forjar uma relação próxima.

Mas menos de 24 horas depois do anúncio de que o presidente americano havia sido derrotado pelo voto popular, todos eles adotaram a mesma postura e saudaram a chegada de um novo chefe-de-estado nos EUA, Joe Biden.

Em cada gesto desses líderes, uma confirmação de uma velha máxima na diplomacia: países não têm amigos. Países têm interesses.

Ou como resumiria Lord Palmerston, no Parlamento em 1º de março de 1848: “Não temos aliados eternos, e não temos inimigos perpétuos. Nossos interesses são eternos e perpétuos, e é nosso dever seguir esses interesses”.

Mas um dos poucos aliados de Trump no mundo que manteve um silêncio ensurdecedor foi o Brasil, conduzido por uma diplomacia que mistura elevadas doses de ideologia, elevado grau de miopia e elevado nível de desrespeito pelos interesses nacionais.

Ernesto Araújo não tem condições de continuar na condução da política externa de uma das maiores economias do mundo e de influência decisiva na América Latina. Nunca teve. Mas, sem seu único lastro internacional, mergulha o país num caminho tão perigoso quanto irresponsável, inclusive na relação com o futuro governo americano.

Ao longo dos últimos meses, Araújo, admirador de Olavo de Carvalho, não manteve uma relação com os EUA. Mas com Trump. Antes mesmo de assumir o cargo no Itamaraty, o chanceler escreveu que o americano seria “o único” que poderia salvar o Ocidente. Ao tomar posse, promoveu uma guinada na diplomacia nacional e passou a servir, pelo mundo, como “chef de claque” de toda e qualquer política adotada pela Casa Branca.

Modificou os votos do Brasil na ONU sobre Israel e Cuba, abriu mão de uma postura de vanguarda do país em acesso a remédios, assumiu o papel vergonhoso de defender a pauta religiosa ultraconservadora ditada por Washington em questões de direitos das mulheres, atacou a capacidade de órgãos de direitos humanos de fiscalizar abusos, saiu em defesa da polícia em meio ao debate sobre a morte de George Floyd, seguiu de forma cega as ordens americanas na OMS e abriu mão da condição de país em desenvolvimento nos futuros tratados comerciais.

O chanceler que mais falou em patriotismo em décadas é, no fundo, quem mais prova como tais conceitos são manipulados.

Há poucas semanas, Araújo declarou com orgulho que, se precisasse ser pária para defender sua política, que assim o faria. Mas uma coisa é ser pária sobre os ombros de Trump. Outra coisa é ser pária e órfão.

No desespero de ver Trump reeleito, o Itamaraty abriu mão dos interesses nacionais para salvaguardar o seu próprio interesse. Um ato de traição. Aceitou barreiras comerciais contra produtos nacionais, colocou em risco a defesa nacional para emprestar seu território para servir de palco para Mike Pompeo fazer campanha eleitoral, e flertou com violações à Constituição ao defender o indefensável em matéria de direitos humanos.

A estratégia não funcionou.

Hoje, resta a pergunta: Quem pagará pelos dólares não exportados? Quem pagará pelo ensaio de traição promovida na cúpula do estado?

Ridicularizado por governos estrangeiros, ignorado por organismos internacionais, zombado até mesmo por ex-ministros do governo Bolsonaro e, acima de tudo, desprezado por seus próprios soldados, Araújo não tem a credibilidade necessária para liderar o que já foi uma das diplomacias mais respeitadas no Ocidente.

O chanceler, hoje, parece confirmar o que Alexandre Dumas uma certa vez escreveu: “A diferença entre o patriotismo e a traição é apenas uma questão de datas”.

Derrota de Trump leva Bolsonaro a perder seu amigo imaginário

10 de novembro de 2020

Leonardo Sakamoto em 8/11/2020

Jair Bolsonaro apostou no cavalo perdedor. Depois, passou a apoiar o jóquei que chegou em segundo e esperneia, sem provas, que o vencedor dopou o cavalo, sabotou a pista, subornou os juízes e corrompeu o público. O pior de tudo é que o presidente brasileiro fez a aposta com o nosso dinheiro.

A outra metáfora possível seria o sujeito que vai com a vaca da família na feira a fim de vendê-la e comprar comida e volta com meia dúzia de feijões com a promessa de que são mágicos. Depois descobre que o vendedor foi levado pela Polícia Civil por estelionato, mas fica ajoelhado na sua horta, esperando a mágica acontecer.

Aliados de Donald Trump, como os primeiros-ministros de Israel, Benjamin Netanyahu, e da Hungria, Viktor Orbán, já felicitaram o democrata. Bolsonaro segue em silêncio, sem reconhecer a vitória de Joe Biden.

Apesar de todo o amor que sente pelo futuro ex-presidente norte-americano, a estratégia do brasileiro é manter-se firme, mas só até onde for possível.

Entrega, assim, o que deseja o bolsonarismo-raiz, grupo que representa de 12% a 16% da população e tem garantido apoio incondicional a Bolsonaro. Parte dele enxerga em Trump uma espécie de semideus na luta contra a conspiração de bilionários pedófilos, intelectuais globalistas, Illuminati e cavaleiros templários.

Mas também tenta ocupar o espaço deixado pelo republicano nas redes de apoio dos movimentos internacionais da extrema direita. E seus ricos patrocinadores.

E o que Bolsonaro apostou durante a campanha norte-americana? Nossa dignidade, por exemplo.

Só para dar exemplos dos últimos meses. Em um encontro com Ernesto Araújo, em 18 de setembro, em Boa Vista (RR), o secretário de Estado Mike Pompeo usou o território brasileiro para provocar o governo da Venezuela – o que levou a oposição no Senado Federal a convocar o chanceler por ajudar a criar um factoide a fim de ser usado na campanha de Trump.

Em meio à reta final da campanha eleitoral, quando Trump precisou reforçar que contava com aliados na disputa contra o gigante asiático, Bolsonaro deu sinais de que pretendia excluir ou limitar a participação da chinesa Huawei na escolha do sistema de 5G. Sem contar os ataques à China por conta do coronavírus, ecoando o republicano.

A fim de ajudar Trump, que buscava votos nos estados produtores de milho, matéria-prima do etanol por lá, Bolsonaro dificultou a vidas dos produtores brasileiros de etanol, que estavam com estoques para gastar devido à redução do consumo na pandemia. Renovou a cota de etanol dos EUA que pode entrar aqui sem pagar imposto de importação – 62,5 milhões de litros/mês. Acima disso, o valor é a tarifa comum do Mercosul, 20%. A cota havia expirado em agosto.

Não só. Os Estados Unidos reduziram a cota de aço semiacabado que o Brasil pode vender a eles sem tarifas – o total caiu de 350 mil para 60 mil toneladas para o quatro trimestre do ano. O motivo também foi pressão da indústria dos EUA sobre o candidato à reeleição por causa da queda de demanda devido à pandemia.

Durante a campanha, Trump – que visitou vários países, menos o vassalo Brasil – chegou a usar diversas vezes o governo Bolsonaro como exemplo negativo no combate à covid-19, dizendo que os EUA poderiam estar mal, como nós, caso ele não tivesse agido corretamente. Além de ceder na economia e na geopolítica, ainda virou o paga-lanche.

É hora de cobrar Bolsonaro pela aposta que fez, indo contra o que um patrimônio de um século de diplomacia brasileira independente não o autorizava a fazer. Dobrar a pressão para que ele reverta sua política de terra-arrasada na Amazônia, lembrando que não precisa ser pelo meio ambiente, pelos povos que lá vivem ou pelo futuro da humanidade, mas pelo comércio mesmo – que deve sofrer impacto com a chegada de Joe Biden. E exigir que pare de ter amigos imaginários.

Leia também: #BolsonaroLosers: A coleção de derrotas de Jair Bolsonaro

Líderes de todo o mundo pedem que STF anule sentenças contra Lula

10 de novembro de 2020
Lula deixa a prisão e é recebido pelo povo na Vigília Lula Livre. Foto: Ricardo Stuckert.

Líderes políticos, sociais e intelectuais de quase todo o mundo assinaram manifesto pela anulação, no STF, das sentenças contra Lula. Documento será entregue a Gilmar Mendes

Via Causa Operária em 9/11/2020

Cerca de 400 lideranças políticas de entidades, associações e universidades de países da América Latina, África e Europa assinam um manifesto pedindo ao STF (Supremo Tribunal Federal) a anulação das sentenças dadas ao ex-presidente Lula.

O documento afirma que a conduta do ex-juiz Sérgio Moro e da força-tarefa da Lava-Jato no Ministério Público deixam claro a “existência de conluio”, e que o petista teve negado o seu direito a um julgamento imparcial.

Documento que será entregue na terça-feira [10/11], ao ministro Gilmar Mendes pedindo a anulação das sentenças contra o ex-presidente Lula afirma que a conduta do ex-juiz Sérgio Moro e da força-tarefa da Lava-Jato no Ministério Público deixam claro a “existência de conluio”, e que o líder petista teve negado o seu direito a um julgamento imparcial.

A iniciativa marca o primeiro ano da soltura de Lula após 580 dias encarcerado na sede da Superintendência da Polícia Federal do Paraná, em Curitiba, informa a jornalista Mônica Bergamo em sua coluna na Folha de S.Paulo.

Saiba quem são os líderes mundiais que pedem anulação de sentença contra Lula pelo STF.

A obsessão das Organizações Globo contra o Lula e o PT

10 de novembro de 2020

Assessoria de imprensa do presidente Lula em 9/11/2020

No futuro, as faculdades de jornalismo poderão estudar a reportagem do Fantástico de domingo [8/11], sobre o tema da desigualdade social no Brasil nas últimas décadas, como um exemplo de censura política.

Há de se reconhecer o esforço da Rede Globo em fazer o PT desaparecer e recontar a história do Brasil.

A invisibilidade e falta de voz impostas ao maior partido de oposição no país na realidade é uma insistente tentativa de colocar as lutas sociais na clandestinidade. Um erro pelo qual as organizações Globo disseram estar arrependidas em 2013, ao pedir desculpas pela posição vexatória em 1964. Mas essa é a tradição do maior monopólio de mídia do país. A democracia é bem vinda apenas fora de nossas fronteiras.

Mas a História não esquece. E vai cobrar as consequências e autocrítica daqueles que deram guarida à erosão da nossa frágil democracia.

A obsessão pelo PT e a censura editorial da TV Globo não vão apagar o legado do partido na vida e na consciência daqueles que viveram na pele as transformações sociais positivas que o Fantástico narrou, mas se esqueceu de dizer quem lutou e trabalhou para que elas acontecessem.

Ciro Gomes volta a falar em frente ampla para 2022, mas exclui o PT

10 de novembro de 2020

Via CartaCapital em 9/11/2020

Em São Paulo, durante ato de apoio à candidatura de Márcio França (PSB), Ciro Gomes falou da necessidade de se construir uma frente ampla de centro-esquerda para 2022.

“Nós construímos esse caminho. Há uma esquerda nova no Brasil, que reúne o PSB do Márcio, o PDT do Neto e nosso, a Marina da Rede, o PV, o nosso companheiro do PCdoB Flávio Dino, isso é um caminho. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Chega de ódio. Unir o povo. Organizar a luta. Salvar o Brasil. Márcio França prefeito, Neto vice-prefeito”, disse Ciro na segunda-feira [9/11].

“Nas grandes cidades, isso é uma tradição, há uma politização do voto. São Paulo botando Márcio França no segundo turno, a Martha Rocha no Rio de Janeiro, o nosso João Campos lá em Recife, o Sarto em Fortaleza que já está chegando ao primeiro lugar, em Belo Horizonte o Kalil já está com 65%, o que que o povo brasileiro das grandes cidades começa a indicar? É que nós queremos, além de escolher bons prefeitos, criar um caminho em que o extremismo, a confrontação odienta, que marca a divisão da nação brasileira de forma grave como nós estamos vendo numa hora tão dura, talvez esteja perto de ser encerrada”, afirmou Ciro.

Com Joe Biden, o grande sniper, volta ao poder o “Estado Profundo”

10 de novembro de 2020

Cristóvão Feil, via A Era da Idiocracia em 9/11/2020

Agora, depois da eleição, pode-se dizer: Joe Biden é um picareta de direita, se diferencia de Donald porque Donald é um bufão completo, enquanto Joe é um operador privilegiado do “Estado Profundo”.

Vocês sabem o que é “Estado Profundo”?

É a plutocracia podre de dinheiro, são as Forças Armadas e as indústrias fornecedoras do estado de guerra permanente (“permanent war” não é um mero slogan, é política de Estado dos integrantes do Deep State, uma renda fixa do capital/assalto legalizado ao budget público, é manutenção programada do sistema Imperial, são os órgãos de controle e espionagem (NSA, CIA, FBI etc. que custam 7 bilhões de dólares/ano para o contribuinte estadunidense), são os think tanks da direita (laboratórios de ideias financiados pelos plutocratas e grandes empresas globais em linha direta com as grande mídias e veiculação garantida), o sistemão bancário-financeiro e outros atores de menor porte, como algumas universidades e o ramo de energia.

As chamadas Tech Giants – Alphabet (GOOG), Amazon (AMZN), Facebook e Apple (AAPL) – trabalham diretamente com o Departamento de Estado e a NSA (que rastreia 100% das telecomunicações mundiais, exceto da China e Rússia), mas também são fornecedores de produtos/serviços ao “complexo industrial-militar” (como foi denunciado pelo ex-presidente/general Ike Eisenhower). Por esse motivo, os gorilas dos USA conseguem manobrar com cerca de 40% do orçamento público do país.

O Glenn Greenwald tinha razão ao criticar duramente Joe Biden, apenas o fez na hora errada – antes da eleição. Mas agora pode-se tirar o véu da provecta odalisca dos sultões do grande capital do USA.

Vejam que o bufão acenourado foi um rato que rugia, mas não entrou em guerra alguma, e esse foi um dos seus erros capitais, já que a indústria armamentista deixou de faturar/abocanhar parte substancial do orçamento público dos USA. Outros dois grandes erros do rato acenourado que rugia: desafiou o poder de fogo e de mobilização social dos afroamericanos e fez pouquíssimo caso da pandemia.

Sendo assim, Joe Biden deve ser o alvo permanente da esquerda mundial. A franca decadência dos USA indica que estamos frente à alegoria guasca do chamado “manotaço do afogado”, ao afundar no inexorável abismo da História, eles irão distribuir muita agressão e violência pelo mundo conhecido – onde Joe será o “sniper master”.

No Brasil, o protofascismo do tenente e seus satélites sai enfraquecido, por isso mesmo deve buscar alianças junto à direita liberal (demos, tucanos e o partido político clandestino Globo-Marinho) para recompor o atual bloco no poder.

Coisas da vida, como dizia Billy Pilgrim em “Matadouro 5”.


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