
Marcelo Crivella (Republicanos) é acusado de manter um esquema de cerceamento ao trabalho da imprensa pago com dinheiro público.
Chico Alves em 1º/9/2020
Como se não bastasse a gestão desastrosa do prefeito do Rio em vários setores, ele conseguiu piorar a situação ainda mais. Além de o cidadão não ter um bom atendimento nas clínicas e hospitais do município, Marcelo Crivella teve a ideia estapafúrdia de criar uma tropa para impedir que os cariocas denunciem à imprensa o caos da saúde.
Teve grande repercussão a excelente reportagem exibida nos telejornais da TV Globo, que flagrou uma gangue de servidores não concursados da Prefeitura tentando atrapalhar repórteres que faziam entrevistas com pacientes que não conseguiram atendimento.
O grupo se auto-intitulava “Guardiões do Crivella”.
Assim, o clima de intimidação à imprensa sai da esfera federal, onde o presidente Bolsonaro volta e meia xinga ou ameaça um jornalista como se isso fosse muito normal, e chega ao nível paroquial.
Crivella talvez seja o primeiro ditador municipal da história da humanidade. É uma espécie de Odorico Paraguaçu da vida real.
Ele acompanhava pelo WhatsApp o resultado do trabalho dos cães de guarda.
Intimidação semelhante às milícias
Nesse ano em que tenta a reeleição, no lugar de ouvir os cidadãos que reclamam da falta de funcionários, de medicamentos e de recursos na rede municipal de saúde, o prefeito do Rio preferiu se cercar de guardiões que fazem trabalho de intimidação semelhante às milícias. Não só visando a imprensa e os pacientes, mas também os servidores da área de saúde, que não podem denunciar as péssimas condições de trabalho.
As consequências da matéria foram imediatas. O Ministério Público do Rio começou uma investigação sobre o caso, a polícia cumpriu mandados de busca e apreensão contra três integrantes do grupo e vereadores fizeram novo pedido de impeachment contra o prefeito.
O episódio revela duas coisas importantes: por trás do olhar sonolento e da voz pastosa de Crivella, que dá impressão que ele é um homem cheio de compaixão, está na verdade um espírito autoritário.
A outra revelação: quando o gestor público tenta impedir que a imprensa mostre o seu trabalho, está praticamente admitindo que sua administração é ruim. Ao botar na rua os guardiões, Crivella faz uma confissão pública de que sua gestão na área de saúde é um desastre.
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