Não era moderação, era medo da polícia

Jair Bolsonaro no domingo em que ameaçou um jornalista de “porrada”. Foto: Sérgio Lima/AFP.

Bernardo Mello Franco em 25/8/2020

Jair Bolsonaro voltou a dar chilique ao ser questionado sobre os rolos da família. No domingo [24/8], um repórter de O Globo perguntou por que Fabrício Queiroz depositou R$89 mil na conta da primeira-dama. O presidente fez careta, chamou o jornalista de “safado” e ameaçou silenciá-lo na base da “porrada”. Só não quis explicar a transação suspeita.

Bolsonaro já havia apresentado uma versão capenga para os cheques de Michelle. Em dezembro de 2018, ele disse ter emprestado R$40 mil ao ex-PM. O dinheiro teria sido devolvido à primeira-dama porque o capitão, muito ocupado, não tinha tempo de ir ao banco.

No domingo, o presidente foi confrontado com mais uma história mal contada: o valor pingado na conta de Michelle foi mais que o dobro do admitido. Sem resposta, Bolsonaro agrediu o autor da pergunta. Reação típica de quem não consegue se explicar.

O capitão mirou no jornalista, mas acertou o próprio pé. Ao destratar o repórter, ele chamou mais atenção para os repasses à primeira-dama. A pergunta sobre os R$89 mil se espalhou nas redes. Milhões de brasileiros ficaram sabendo do que o presidente tentava esconder.

O novo ataque à imprensa mostra que é tolice acreditar na fantasia de um Bolsonaro moderado. Nos últimos dois meses, vendeu-se a ideia de que o presidente teria abandonado o extremismo e as ameaças de golpe. O candidato a ditador teria aprendido, enfim, a conviver com a democracia.

Não era moderação, era medo da polícia. Bolsonaro adotou a tática do silêncio quando Queiroz foi preso. Bastou o sargento sair da cadeia para o capitão voltar a ser quem sempre foi. Um político autoritário, que trabalha para implodir o sistema que o elegeu.

O presidente tenta calar a imprensa porque não tolera ser fiscalizado. Quer destruir os freios e contrapesos que limitam o exercício do poder. Sua meta é governar uma nação de bajuladores, como os que foram aplaudi-lo ontem no Planalto. Com 115 mil mortos, o governo promoveu uma cerimônia para cantar vitória sobre o coronavírus. Poderia ser Belarus, mas é o Brasil de 2020.

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