A “frente ampla” proposta por Flávio Dino tem golpistas, Globo, escravagistas… menos Lula

O governador do Maranhão é um dos políticos mais competentes da sua geração. Mas é – não importa quantas foices e martelos sua legenda ainda ostente – um político tradicional, pronto a se a adaptar ao jogo tal como ele lhe é apresentado.

Luis Felipe Miguel em 23/7/2020

A despeito da retórica vazia e algo sinuosa, o artigo de Flávio Dino acaba sendo bastante claro no que propõe:

1) Uma frente amplíssima.

2) Nela, a presença da esquerda está permitida, como o autor do texto faz questão generosamente de frisar. Mas se exige que ela faça “modulações programáticas” para alcançar o centro.

3) Feitas as tais “modulações”, a esquerda torna-se virtualmente indistinguível da direita não-bolsonarista, o que permite ao governador maranhense afirmar que o que as separa são só “disputas sobre fatos pretéritos”.

4) Trata-se, então, de abraçar o senso comum e deixar de lado tais disputas sobre o passado: “abrir portas e janelas para os ventos da Pátria varrerem mágoas”.

5) Na prática, isso significa esquecer o golpe de 2016 e tudo o que nos trouxe até aqui.

6) Curiosamente, o artigo diz antes que “o golpe como momento solene, à moda de 1964, foi substituído por um golpismo permanente”. Isso não indicaria exatamente os perigos do olvido sobre nosso passado recente? Não, porque o autor, pondo em prática o que prega, já esqueceu do golpe de 2016 e imagina uma cesura radical entre Bolsonaro e aqueles que o colocaram no poder. Golpismo é só o que Bolsonaro está fazendo. O resto ninguém deve lembrar.

7) Mandela é evocado já no título. A África do Sul pós-apartheid tem como grande, excepcional mérito ter destruído o regime do apartheid. Mas continua sendo um país pobre, extremamente desigual, violento. O preço pago pela transição foi manter a estrutura de classes intacta – apenas permeável à ascensão social de uma minoria da população negra. Parece ser a proposta do artigo para o Brasil. Mas, afinal, qual é o apartheid que nós de fato vamos destruir aqui? O texto não aponta para lugar nenhum. É nesse ponto que a retórica vaga e sinuosa de Dino se mostra mais reveladora: ela revela naquilo que oculta, pois revela quais conflitos estão sendo escamoteados.

8) Não custa lembrar, por fim, que o fiador da transição sul-africana foi um herói da envergadura de Mandela (e não cabe discutir aqui o que o levou a aceitá-la nesses termos, depois de uma vida inteira de revolucionário e socialista). O fato de que foi Mandela, e nenhum outro, que liderou a transição não é menor, não é irrelevante. Era o símbolo vivo de que as arbitrariedades legais estavam superadas. Quem seria o Mandela brasileiro? Há um nome óbvio, mas é tabu e o artigo evita cuidadosamente evocá-lo. A gloriosa jornada em defesa do Brasil que ele propõe, portanto, não apenas elude todos os conflitos reais como está pronta a se acomodar até a uma tutela expressa sobre a vigência dos direitos.

O governador do Maranhão é um dos políticos mais competentes da sua geração. Mas é – não importa quantas foices e martelos sua legenda ainda ostente – um político tradicional, pronto a se a adaptar ao jogo tal como ele lhe é apresentado.

Uma resposta to “A “frente ampla” proposta por Flávio Dino tem golpistas, Globo, escravagistas… menos Lula”

  1. Jam Cojac Says:

    FRENTE AMPLÍSSIMA MORTA. Vai eleger Bolsonaro novamente, pois sem os votos da grande massa petista nenhum outro político se elege para presidente do Brasil.
    FRENTE MORTA AMPLÍSSIMA, FMA OU FAM para lembrar uma faculdade, que cresceu mais do que o vírus covid19, em pouquíssimo tempo, e quando isso acontece com empresas novas, é porque tem dinheiro do erário vazando pelo esgoto político nacional.
    AH, DEPOIS DE PRIMEIRO TURNO, OS LÍDERES DA FAM, IRÃO DESCANSA EM PARIS, TALVEZ NO APÊ QUE O PROBO FHC COSTUMA FICAR E QUE JURA PELO SEU DEUS QUE NÃO É SEU.

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