A ema, a cloroquina e o charlatanismo contagioso

Bernardo Mello Franco em 23/7/2020

Um estudo promovido por 55 hospitais brasileiros testou o desempenho da cloroquina no tratamento da covid-19. Os médicos acompanharam 667 pacientes em estágio leve ou moderado da doença. A conclusão foi a mesma de pesquisas já feitas no exterior: a droga é ineficaz no combate ao coronavírus. E ainda pode provocar efeitos adversos, como arritmia cardíaca.

O relatório da Coalizão covid-19 Brasil foi divulgado nesta quinta, com ampla repercussão na imprensa. Poucas horas depois, Jair Bolsonaro fez uma transmissão ao vivo no Palácio da Alvorada. Diante de milhares de seguidores, o presidente voltou a exibir uma caixinha do remédio. “Enquanto não tem um medicamento claro para atacar o problema, é válido esse aqui”, afirmou.

O capitão não foi o primeiro líder populista a fazer propaganda da cloroquina. Donald Trump lançou a moda no início da pandemia. O norte-americano chegou a anunciar que estava tomando a droga, mesmo sem ter se infectado. Aos poucos, foi deixando a encenação para seus imitadores.

Numa prova definitiva de que desistiu da farsa, o republicano anunciou a doação de dois milhões de doses ao Brasil. Bolsonaro agradeceu, sensibilizado com a generosidade. E mandou distribuir o carregamento para os estados, que não sabem o que fazer com a substância reprovada pelos cientistas.

O Capitão Corona transformou a cloroquina numa espécie de Santo Graal para seus seguidores fanáticos. No último domingo, ele caminhou até a portaria do Alvorada e ergueu uma caixa do remédio como se fosse um troféu. O gesto provocou palpitações na pequena plateia, que se aglomerava à espera de um perdigoto do grande líder.

No ar seco de Brasília, o charlatanismo se tornou contagioso. Em vídeo divulgado na quarta-feira, o comandante do Exército, Edson Pujol, exaltou a produção da substância em laboratórios militares. “Com orgulho, informo que essa pronta resposta já recuperou milhares de integrantes da nossa família verde-oliva”, discursou. E o general já foi visto como uma reserva de racionalidade nos quartéis.

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APÓS SER BICADO, BOLSONARO RESOLVE MOSTRAR CAIXA DE CLOROQUINA PARA AS EMAS DO ALVORADA
Presidente, pouco antes de conversar com apoiadores, estava alimentando as emas quando, de repente, sacou uma caixa do medicamento do bolso e exibiu para os animais. “Psicotécnico urgente”, ironizou deputada.

Via Revista Fórum em 23/7/2020

Fervoroso defensor da cloroquina, o presidente Jair Bolsonaro, que quase diariamente faz propaganda da substância, resolveu na quinta-feira [23/7] exibir a droga até mesmo para as emas que vivem no Palácio da Alvorada. A relação de Bolsonaro com os bichos não é lá das melhores: ele já foi bicado por eles por mais de uma vez.

Pouco antes de se aproximar do cercadinho onde ficam seus apoiadores, o presidente foi visto alimentando os animais com pão. De repente, o capitão da reserva tirou uma caixa de cloroquina do bolso e apontou para uma das emas.

Diferentemente do que fez no domingo [19/7], quando levantou uma caixa de cloroquina com as mãos para que seus apoiadores pudessem “saudá-la”, desta vez Bolsonaro apontou o medicamento na direção das emas, olhando para o chão.

A cena foi captada pela transmissão ao vivo da CNN Brasil e também pelo fotógrafo Sérgio Lima, do Poder 360. Confira em detalhes aqui.

Nas redes sociais, diante do gesto peculiar, já há quem esteja colocando em dúvida a saúde mental do presidente. “Bolsonaro anda mostrando caixa de cloroquina até pra Ema do Alvorada. Psicotécnico urgente”, tuitou a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB).

Diagnosticado com covid-19 no começo do mês, Bolsonaro afirma que está se tratando com a cloroquina e defende o uso da droga, mesmo diante do fato e que inúmeros estudos apontam que a substância não tem eficácia comprovada contra o coronavírus, e seu uso no tratamento de covid-19 foi desaconselhado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Mais cedo, Bolsonaro passeou de moto pelo Alvorada e conversou com profissionais de limpeza sem utilizar máscara de proteção.

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