Chico Alves em 20/7/2020
Qualquer que tenha sido o partido em que votou na última eleição, ao vestir a farda o policial tem a obrigação de esquecê-lo. Não interessa a convicção ideológica do PM que vai para a rua acompanhar um protesto. Seu dever é tratar os grupos de diferentes matizes políticos de forma igual, como manda a lei.
Quem não segue esse código de conduta está sendo um mau policial.
Pior ainda se for um oficial comandante – do batalhão ou da corporação – que manda tratar manifestantes usando dois pesos e duas medidas, a depender da posição política de quem segura as faixas e cartazes.
É justamente isso que parece estar acontecendo no Rio de Janeiro, revela a reportagem do jornalista Igor Mello, do UOL. Como se não bastasse a extensa série de denúncias de arbitrariedades cometidas pela polícia, o Ministério Público investiga agora mais essa, a de que a corporação adota práticas parecidas com a de milícia política.
Assim como no Rio, é preciso que os promotores, governadores e demais autoridades de outros estados estejam atentos: há sinais de que esse comportamento se repete em várias regiões do pais. Em São Paulo, onde policiais permitiram manifestações contra o governador que fecharam importantes vias da capital, e no Ceará, estado que assistiu um motim sem precedentes em sua PM, o risco é mais visível. O fantasma da politização das polícias, porém, ronda todo o Brasil.
A convergência de ideais, em especial os mais bárbaros, entre o presidente Jair Bolsonaro e parte dessas corporações já deveria ser motivo de alerta. Quando a afinidade com um político que exalta torturadores e defende o extermínio como estratégia de segurança passa da mera simpatia à influência no trabalho nas ruas, estamos acelerando rumo ao abismo.
Todas as instituições públicas devem ser imparciais. Por deter o monopólio do uso da força, as polícias têm ainda mais motivos para se manterem equidistantes. Se esse preceito é quebrado, ensina a história, o Estado se torna autoritário e aniquila cidadãos que deveria proteger.
Foi dessa forma, por exemplo, que surgiram o nazismo e o fascismo, regimes que tanto mal causaram à humanidade.
Antes de sair para trabalhar, todo PM deveria pensar bem no uso que faz do uniforme. Seja qual for a sua posição ideológica, lançar mão da autoridade da qual é investido para fazer prevalecer suas preferências políticas ajuda a instaurar o terror totalitário que fará mal a toda sociedade – inclusive, em algum momento, a si próprio e aos seus.
Os comentários sem assinatura não serão publicados.