Alberto Carlos Almeida em 8/6/2020
Está havendo uma grande agitação em torno da possibilidade de uma aliança política que una, além de Ciro, Marina e Fernando Henrique, outras figuras da política que não se alinham – no momento – com o governo Bolsonaro. Um recente evento midiático que colocou no mesmo debate os três políticos mencionados foi um importante impulso para aqueles que defendem esta união. Considero a iniciativa extremamente louvável, o que não impede de avaliar a força eleitoral de cada um deles.
Marina disputou três eleições presidenciais consecutivas, na primeira, em 2010, teve 19% de votos, na segunda ficou com 21% e em 2018 ela obteve apenas 1%. Isso significa que todos nós que não disputamos a última eleição presidencial tivemos apenas um ponto percentual de votos a menos do que Marina. Destaca-se também o fato de que a Rede, seu partido, elegeu somente um deputado federal, um número irrelevante quando se trata de uma casa legislativa com 513 deputados e que dá início e molda a elaboração, tramitação, votação e aprovação das leis no Brasil.
Fernando Henrique Cardoso teve desempenhos eleitorais brilhantes em 1994 e 1998, quando foi até hoje o único candidato a presidente que vencera as eleições em 1º turno. Depois disso o seu partido jamais voltou ao poder em Brasília. Ao contrário de Lula que elegeu sua sucessora em 2010, ao tentar fazer isso Fernando Henrique e o candidato apoiado por ele, José Serra, amargaram uma derrota em 2º turno de 20% de vantagem para o vencedor. Em 2018 o PSDB teve o seu pior resultado eleitoral, quando Alckmin teve 5% de votos. A soma dele com Marina totaliza apenas 6%.
Ciro disputou as eleições de 1998, 2002 e 2018 quando teve respectivamente 11%, 12% e 12,5% de votos. Se ele continuar aumentando sua votação no mesmo ritmo daqui a uns 200 anos conseguirá ir ao 2º turno. Nas três eleições, sua votação no Ceará e no Nordeste também não se alterou. Isso indica que Ciro já é, para o bem e para o mal, um velho conhecido do eleitorado. Em função disso ele tem mais de 10% de votos, porém não cresce, sua rejeição é tão sólida quanto seus votos. Somando-se seus votos com os de Marina e de Fernando Henrique obtém-se 18,5%.
Em 2018 o candidato do PT cresceu em um mês. Diferentemente de Marina e de Ciro, aquela foi a primeira eleição nacional disputada por Haddad. O candidato apoiado por Lula conseguiu 29% de votos, o que o habilitou para disputar o 2º turno. Do ponto de vista eleitoral, um Haddad vale 10% mais do que a soma de Ciro, Marina e Fernando Henrique.
Como nas democracias o mais votado é quem vence, talvez fosse o caso de considerar a força eleitoral de cada partido e líder político quando o objetivo é se opor a Bolsonaro.
Alberto Carlos Almeida é cientista político, sociólogo e pesquisador.
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