Temporariamente, o jornal da “ditabranda” está a serviço da democracia.
Carlos Fernandes em 28/6/2020
Poucas coisas na vida são tão caricatas quanto um hipócrita golpista fingindo ser um defensor da democracia.
A Folha de S. Paulo, cujo papel na ditadura militar fala por si próprio, acabou por tornar sua particular caricatura ainda mais obscena.
Sentindo na pele os efeitos nefastos do governo autoritário e absolutista que ajudou conscientemente a ascender ao poder, agora se contorce nas próprias contradições em busca de um pingo de suspiro nos escassos ares ditos democráticos.
Mas como todo bom representante da burguesia nacional, o que o jornal da ditadura realmente defende é a permanência ad infinitum de seus próprios privilégios ora momentaneamente em declínio.
Já em relação a todo o bojo das políticas econômicas recessivas, entreguistas e excludentes desse mesmo governo, nesse quesito seu apoio continua de forma incondicional e inquebrantável.
E, com isso, muito nos revela sobre o caráter puramente oportunista que tem levado parte considerável da esquerda brasileira a embarcar numa verdadeira farsa de ocasião cujo falso pano de fundo é uma suposta defesa da democracia que ilustres partícipes da direita tão avidamente ajudaram a destruir.
A completa falta de diretrizes e de uma propositura sólida contra o presidente Jair Bolsonaro e seu imediato afastamento só demonstram que a “direita civilizada” desse país está disposta a fazer de um tudo para não fazer nada.
Sem objetivos realmente claros e definidos, o que esse amontoado de golpistas na verdade faz é tentar lavar suas mãos manchadas de sangue pelo genocídio que o irresponsável que apoiaram à presidência está causando em todo o território nacional.
E entre um e outro discurso raso e genérico, avançam com todas as suas forças contra o patrimônio nacional ao ponto de privatizarem um bem vital para a vida humana como a água.
Tasso Jereissati, Cid Gomes, Kátia Abreu e demais luminares da direita venal brasileira que o digam.
Deveria ser um truísmo falar isso, mas absolutamente ninguém com um pingo de capacidade intelectual para analisar a atual conjuntura política, social e econômica desse país deveria acreditar que gente como FHC, José Anibal, Marina Silva, Roberto Freire, Mônica de Bolle, Bruno Araújo e et caterva estejam de alguma forma dispostos a reverterem minimamente o mal que de forma deliberada vem cometendo ininterruptamente no Brasil.
Mas se mesmos os mais fortes sinais estão sendo incapazes de fazer a esquerda cirandeira enxergar a armadilha na qual adentram alegremente, que o novo slogan “temporariamente” adotado pela Folha de S. Paulo sirva de declaração inconteste de suas reais intenções.
O jornal da ditadura, é preciso reconhecer, nesse momento não mente a ninguém.
Deixa absolutamente claro que seu “serviço” à democracia é limitado, temporário e com data definida: até as próximas eleições quando novamente não medirão esforços para elegerem o projeto de ditador da vez.
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“UM JORNAL A SERVIÇO DA DEMOCRACIA”, DIZ O NOVO SLOGAN DA FOLHA.
Luis Felipe Miguel em 28/6/2020
É o jornal que apoiou o golpe de 1964 e não fez nem a autocrítica hipócrita que a Rede Globo fez.
É o jornal que cedia seus furgões para que a Operação Bandeirantes levasse prisioneiros para os porões da ditadura, mas que até hoje finge que isso não ocorreu.
É o jornal cujo pranteado publisher dizia que no Brasil não teve ditadura: foi uma “ditabranda”, que prendeu, exilou, torturou e matou tão pouquinha gente.
É o jornal que apoiou o golpe de 2016 e não permite que, nas suas páginas, se diga que o golpe foi golpe.
O jornal que fez coro a todos os outros na defesa da Lava-Jato e de suas arbitrariedades, do lawfare contra o ex-presidente Lula, da criminalização da esquerda.
O jornal que bateu na tecla de que PT e Bolsonaro eram radicalismos simétricos, como forma de favorecer o apoio envergonhado da direita que se deseja civilizada a um projeto com nítidos tons neofascistas.
O jornal que é defensor infatigável da retirada de direitos da classe trabalhadora, da redução do Estado e da desnacionalização da economia. E que age, de forma deliberada e cuidadosa, com o objetivo de estreitar o debate público sobre todas essas questões.
Fiel a seu espírito megalômano, a Folha se coloca agora no papel de timoneira da luta pela democracia.
Decidiu até fazer uma exortação para que todos usem amarelo. É, obviamente, mais uma tentativa de reforçar o paralelo mentiroso com a campanha das diretas.
A Folha quer derrubar Bolsonaro – acho ótimo. Fico feliz, de verdade. Quanto mais gente, melhor.
Mas, aliada na luta contra Bolsonaro, a Folha não o é na luta pela democracia. O que ela quer nos vender como democracia está longe até da encarnação mais pálida do ideal democrático.
Não merece seu nome uma “democracia” em que o campo popular tem papel fixo – o papel de derrotado, já que, quando há o risco de ele obter alguma vitória, os poderosos têm a alternativa de virar a mesa.
Não merece seu nome uma “democracia” que quer tirar Bolsonaro, mas blindar Guedes (ou, pelo menos, suas políticas).
Antes de dar lições de democracia, a Folha tem de estar disposta a abrir mão de seu golpismo.
REDES SOCIAIS
1 de julho de 2020 às 12:44
Todos que colaboraram e ainda estão colaborando com a farsa do golpe 2016 até a eleição do inepto bozo, deveriam ser responsabilizados criminalmente.
29 de junho de 2020 às 21:18
AGORA ESTÃO COM O C.. NA MÃO??