Bolsonaro virou refém da gripezinha

Ao sonegar dados sobre a pandemia, Bolsonaro atenta contra a saúde pública e repete dois crimes da ditadura: a censura e a ocultação de cadáveres.

Bernardo Mello Franco em 9/6/2020

Quase todos os líderes mundiais viram sua popularidade crescer na pandemia. Jair Bolsonaro viu a sua derreter, e agora virou refém da armadilha que montou para si.

O presidente sempre negou a gravidade da covid-19. Chamou a doença de “gripezinha”, debochou das medidas sanitárias, comprou briga com prefeitos e governadores. Em março, ele garantiu que o país não ultrapassaria as 800 mortes. Com a conta se aproximando de 40 mil, passou a manipular as estatísticas oficiais.

No domingo, o Ministério da Saúde anunciou o registro de 1.382 óbitos em 24 horas. Pouco depois, o número encolheu para 525. Em uma hora e meia, sumiram 857 vítimas. Bolsonaro escancarou o motivo da maquiagem. Por ordem sua, a pasta começou a atrasar os boletins para esconder as mortes dos telejornais.

Ao sonegar informações, o presidente atenta contra a saúde pública e repete dois crimes da ditadura: a censura e a ocultação de cadáveres. Nos anos 70, o regime militar tentou esconder uma epidemia de meningite. Não funcionou na época e não tem chance de funcionar agora, na era da comunicação instantânea.

Numa democracia, a sociedade tem mais recursos para driblar a mentira oficial. O Congresso e o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde se ofereceram para compilar os dados. Os meios de comunicação foram mais rápidos e montaram um consórcio para fornecer números confiáveis.

Os negacionistas ainda colheram outra derrota. O empresário Carlos Wizard, que prometia recontar os mortos, desistiu de assumir um cargo em Brasília. Sua campanha contra a verdade havia começado a doer no bolso. Diante da ameaça de boicote dos consumidores, o autor de “Desperte o milionário que há em você” preferiu salvar os próprios negócios.

Preso à sua estratégia desastrada, Bolsonaro começa a ficar só. Na sexta, Donald Trump se distanciou do pupilo e citou o Brasil como exemplo a não ser seguido. Ontem um coronel surgiu na TV como a nova face do Ministério da Saúde. Vestia terno de papa-defunto e broche de caveira na lapela.

***

“OCULTAR DADOS DURANTE UMA PANDEMIA É CRIME”.
Bernardo Mello Franco, via CBN em 8/6/2020

“Ocultar dados durante uma pandemia é crime”, diz Bernardo Mello Franco.

Na segunda feira [8/6], a própria OMS pediu transparência ao Brasil na divulgação destes dados.

“A transparência é um direito do cidadão. Quando se vive uma crise de saúde pública destas, manipular dados representa também um custo de vida”.

Isso porque, segundo o analista, pode-se levar gestores a tomar decisões equivocadas.

Leia também: Meningite: A vez em que a ditadura militar ousou esconder uma epidemia

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