Carlos Fernandes em 18/7/2019
Na quinta [18/7] um senhor de 72 anos, membro do Movimento Sem Terra, foi brutalmente assassinado por um típico homem branco, hétero, cristão, patriota e de bem, forjado a fogo e a ferro no Estado de exceção que se transformou o Brasil.
O caso se deu no município de Valinhos, interior do grande e conservador estado de São Paulo.
Diante de uma manifestação do MST, o Ariano da América do Sul não teve dúvidas do seu inquestionável dever patriótico e avançou com sua caminhonete decorada com a bandeira nacional em direção a dezenas de pessoas completamente indefesas.
Não satisfeito, ainda ameaçou os demais com a arma que, por direito divino, portava à revelia do que possa dizer leis medíocres e mundanas como o Código de Processo Penal e a Constituição Federal.
Preso no final da tarde, mas devidamente tido sua identidade preservada, seu irmão, outro igualmente Ariano, discutia com as vítimas em frente à delegacia.
Não menos ciente que o assassino de sua legítima função de exterminar a ameaça vermelha, defendeu o ato com a tranquilidade de quem se sabe superior.
“É pra passar por cima mesmo”, esbravejou.
Não foram poucos os avisos. O que vivemos hoje no país em muito se assemelha com o período que antecedeu a Noite dos Cristais, um marco do nazismo.
Então um político populista com forte apelo à “libertação” da Alemanha, à supremacia ariana e à sobreposição dos cristãos a toda e qualquer minoria, Adolf Hitler, paulatinamente, foi convencendo o povo “de bem” alemão a apoiar a maior atrocidade já vista na história da humanidade.
Aos poucos, absurdos inimagináveis começaram a ser tratados com naturalidade.
Primeiro o preconceito, depois a segregação. Daí não se demorou para os guetos, para os fuzilamentos, para as câmaras de gás e para os crematórios. Tudo com a devida anuência do Estado, da Justiça e do Parlamento.
Engana-se quem vê exagero na comparação. Mudado o tempo, mudam-se as formas.
O sociólogo espanhol Manuel Castells já enxerga um novo tipo de fascismo em atividade no Brasil.
Sua opinião é compartilhada por muitos outros intelectuais de semelhante importância mundo afora.
Dessa forma, a morte de Luís Ferreira da Costa não pode ser considerado um fato isolado, muito menos banalizada.
O pedreiro semianalfabeto que lutava pelo direito sagrado à terra e a uma vida digna, morreu porque no Brasil já não vivemos numa democracia.
Uma família de nazistas com clara predileção a um regime monárquico-totalitário pavimentou todas as vias necessárias para uma definitiva construção de um Estado fascista.
O resultado já se apresenta com o sangue de inocentes. Sangue esse que escorre pelas mãos dos que se dizem bons, justos, nacionalistas e tementes a Deus.
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