Luiz Felipe Miguel em 15/6/2018
Durante décadas, a inflação apareceu nos cartuns como um dragão. Hoje, Jaguar a apresenta como uma boxeadora gigantesca. Mas a mensagem é sempre a mesma (e aqui é expressa com transparência invulgar): o controle da inflação é o sinal da boa condução da economia. O desemprego pode estar nas alturas, a concentração da riqueza pode ser pornográfica, a arrecadação pode estar na lona, mas se a inflação está controlada estamos no caminho certo.
É claro que o descontrole inflacionário pode ser um problema grave e no Brasil sabemos disso. Mas a redução da discussão a este indicador e a entronização da ideia de que a taxa inflacionária deve tender a zero, como um dogma que não pode ser discutido, são formas de restringir as alternativas da política econômica e empurrar uma determinada ortodoxia goela abaixo da opinião pública. Seria interessante analisar como, a partir do fim da ditadura militar, a mídia construiu essa visão. E como a temática da inflação acabou por anular a apresentação do problema em termos de “carestia”, uma palavra que saiu de circulação, mas que lidava com o mesmo fenômeno enquadrando-o pela perspectiva do poder de compra dos salários.
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