Lula e a defesa que não houve

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André Araújo, via Jornal GGN, em 13/2/2016

Conheço Lula há 35 anos, quando ele presidia o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e eu era diretor tesoureiro do Sinaees, um dos sindicatos patronais que se contrapunha ao dos trabalhadores metalúrgicos, com a diferença que o meu sindicato era nacional e o do Lula era municipal. Na grande greve do final do governo militar, sendo ministro do Trabalho Murilo Macedo, assinei pelo Grupo 14 o acordo final na Delegacia do Trabalho em Santa André, com Lula do outro lado da mesa.

Acompanhei de perto todo o processo de “acochambramento” do Lula sindicalista por um grupo da Fiesp que se posicionava como “moderno”, chefiado por Luís Eulálio Vidigal, então presidente, mais Cláudio Bardella, Paulo Francini e outros, ao que se contrapunha o grupo mais tradicionalista de Mário Amato. Era “moda” ser amigo de Lula e Mário Amato era do grupo antagônico que não acompanhava esse modismo, não era do fã clube de Lula na Fiesp, que levavam Lula para almoçar no Ca D’Oro, no Gallery, para se mostrar” olha como somos democratas e avançados”.

Gerenciei um dos comitês que trabalharam a candidatura Amato, ficava ao lado do antigo bar Pandoro, nos Jardins. Não sou, portanto, admirador de Lula e posso dar meus palpites sobre sua postura nesse último lance da operação anti-Lula.

Os ataques a Lula são destituídos de sentido lógico e Lula não está se aproveitando dessa circunstância para se defender, parece que se esconde em vez de responder diretamente e duramente a essas admoestações da mídia.

1) O caso do apartamento do Guarujá está completamente explicado. Qual o problema? Lula tinha uma cota na cooperativa que lhe dava opção de compra, por razões dele e que a ninguém mais interessa, desistiu da compra. Ponto. Foi visitar? Como potencial interessado pode ter ido várias vezes, mas depois se desinteressou, fizeram cozinha especial, elevador, é problema de quem fez e pagou, talvez interessasse ao construtor ter Lula como comprador como chamariz de marketing do empreendimento, o corretor poderia dizer aos potenciais compradores, “esse é o prédio onde mora o Lula”. A construtora investiu, mas Lula pensou de outra forma e o negócio em perspectiva foi desfeito, acontece todo dia.

Está em nome de uma construtora, sim, é normal um prédio de apartamentos estar em nome de uma construtora, ela faz para vender, qual a novidade? Tudo o mais são idas e vindas, foi ver, achou que era bom, mas depois viu que não compensava, qual o problema? Isso diz respeito à vida privada do Lula, não tem que dar explicações ao Camarotti.

2) O tal sítio de Atibaia, tem dono com matrícula em cartório, nunca foi de Lula, mas Lula frequenta, e daí? Isso diz respeito aos donos e ao Lula. Ponto. Mas empreiteiras pagaram a reforma? Se foi, até agora parece que é conversa de balconista, mas se foi o que tem de especial? Construtoras fazem reformas de casas, qual a irregularidade? A que fato se liga? Quais são os fatos? Onde está o delito? Se há, precisa provar, não basta dizer “aí tem coisa”. Quais os fatos?

Ah, mas Lula foi 111 vezes ao sítio. Mas e daí? Já não era presidente e não era mais nada, pode fazer de sua vida o que bem entender, pode ir a sítios, cassinos, bordéis, cachaçadas, pescarias, festas de São João, ninguém tem nada com isso.

Ah, mas é esquisito construtoras envolvidas na Lava-Jato fazerem reforma nesse sítio. Então quem acusa que aponte o crime praticado em construtoras fazerem reformas em sítio de terceiros que não tem nada a ver com Lava-Jato, para haver delito precisa haver prova de conexões e atos causais, é preciso haver causa e efeito, se o dono de uma empreiteira mata a mulher e a empreiteira construiu um prédio de apartamentos, os compradores desses imóveis não são cúmplices do assassinato da mulher do empreiteiro, para que haja cumplicidade é preciso haver comprovada relação de causa e efeito, não adianta simples presunção.

Não há nos casos do apartamento e do sítio qualquer fato delituoso, trata-se de vida privada de Lula ex-presidente. É absurda a presunção de que se ele frequenta o sítio é porque é dono, onde? Nas relações de amizade de pessoas já maduras há amigos que se frequentam por décadas em casas de praia, fazendas, chácaras. E daí? Não é porque frequenta que é dono, é apenas hóspede. No caso de um ex-presidente, quantos não gostariam de hospedar em fins de semana ex-presidentes, enche o ego de qualquer um, qual o problema?

Nesse clima viciado de aprendizes de detetive se cria um cenário de Hercule Poirot onde se busca uma xícara de café com batom para provar a relação do batom com a propina paga em Luxemburgo. A coisa está ficando tragicômica, ópera bufa. Sérgio Motta era considerado operador dos tucanos, FHC comprou uma fazenda de bom tamanho em sociedade com ele, ninguém achou nada demais e nem se abriu inquérito, tampouco a Veja fez um número especial sobre a fazenda Córrego da Ponte em Unaí, Minas Gerais, que evidentemente vale muito mais que sítios de Atibaia.

A banda de música da mídia engajada nessa operação não cessa de vociferar “Lula precisa se explicar”. Mas explicar exatamente o quê? Por que vai ao sítio? Por que desistiu do Guarujá? Isso é vida privada, ponto final.

Lula deveria se defender em dez minutos de papo olhando na cara da mídia e encerra o assunto, se houver prova de algum delito, que se apresente e chega de conversa de cortiço em capa de revista.

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