Flávio Gomes, via Facebook e lido no Viomundo em 27/1/2016
A manchete da Folha hoje [27/1] grita, em corpo (tamanho de letra) usado somente em casos muito especiais (atentados terroristas, acidentes aéreos, grandes tragédias): “SP registra menor taxa de homicídios em 20 anos”.
Faltou colocar um ponto de exclamação, e tenho certeza que alguém lá quase fez isso. Os métodos do governo Alckmin são exaltados e o tom das matérias é de comemoração. Me senti vivendo em Genebra, ou numa pequena vila do interior austríaco.
Aí, perdido no texto, explica-se que na esquisita – esse “esquisita” é por minha conta – metodologia usada pela Secretaria de Segurança do Estado uma chacina, por exemplo, é considerada UMA morte para efeitos estatísticos, ainda que ela mate cinco, oito, dez pessoas.
Por esse método, oito mortos se transformam em… UM!
A taxa também é calculada sem considerar casos de latrocínio (não são homicídios, incrível…) e assassinatos cometidos pela PM (igualmente tratados como… como o quê, mesmo?).
Graças a essa metodologia, digamos, muito peculiar – em que latrocínios e assassinatos cometidos pela PM não são considerados “homicídios dolosos” –, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes caiu para 8,73 em nosso simpático e pacífico Estado.
Fossem levados em conta os números estranhamente ignorados – de novo: latrocínios e assassinatos cometidos pela PM –, essa taxa subiria para 11,7 para cada 100 mil habitantes. Acima de 10, a taxa é considerada “epidêmica” por organismos internacionais, como a ONU.
Mas em São Paulo, 8 vira 1, PM não mata e roubo seguido de morte não conta. E vira manchete.
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