A FÚRIA DOS QUE SAÍRAM DO ARMÁRIO
Eric Nepomuceno, via Carta Maior em 23/12/2015
O que mais impressiona – e preocupa – na agressão verbal que um grupo de garotões cuja profissão principal é ser filho de pai rico lançou contra Chico Buarque na noite da segunda-feira, 21 de dezembro? Três coisas. Primeiro, a extrema fúria dessa direita desgarrada que acaba de sair do armário embutido. Segundo, a facilidade com que repetem o que dizem os grandes meios de comunicação. E terceiro, a incapacidade para qualquer gesto minimamente civilizado.
Chico saía de um jantar com amigos quando, ao buscar um táxi, passou a ser chamado de “petista”. Ouviu a repetição de clichês idiotas repetidos à exaustão pelos meios de incomunicação e pelos deformadores de opinião. A um dos garotões ele respondeu com humor. Dizia o valentão que defender o PT quando se mora em Paris é fácil. “Você mora em Paris?”, perguntou Chico. E o rapaz respondeu: “Não, quem mora em Paris é você!”. Chico, então, perguntou: “Você andou lendo a Veja?”. A ironia continua sendo uma válvula de escape. Mas para ter ironia é preciso inteligência, artigo definitivamente raro na praça.
Não foi a primeira nem a décima agressão verbal que ele e seus amigos ouvem, todas relacionadas ao PT, a Lula e a Dilma. O mais recomendável é, sempre, fazer ouvidos moucos. Mas também essa regra tem suas exceções. O episódio de segunda-feira foi inevitável: Chico estava no meio da rua, é pessoa pública, reconhecível a milhas marítimas de distância.
Mais grave é saber que não foi a primeira nem a decima ocasião, e também não terá sido a última. O país está polarizado como poucas vezes esteve nos últimos 50 ou 60 anos. O grau de agressividade, de furiosa intransigência dessa direita recém-saída de um imenso armário – certamente embutido – é o que mais chama a atenção. E preocupa. Muito. Dizer na cara de alguém “Você é um merda” pode ter consequências sérias. Chico sabia e sabe que qualquer reação à altura não faria outra coisa que atiçar ainda mais a fúria dessa direita desembestada, fartamente alimentada pela grande imprensa. Até nisso a direita recém assumida em sua verdadeira essência é covarde. Até quando?
O país se acostumou às tristes cenas de violência entre torcidas organizadas no futebol. Elas pelo menos têm a decência de se uniformizar, ou seja, é fácil identificar o adversário à distância.
Essa direita troglodita, não. Ataca à traição. E sabe que figuras públicas como as que foram atacadas à sorrelfa não costumam reagir, para não alimentar a sede mesquinha dos escrevedores de intrigas.
Há poucos registros, que eu me lembre, de alguém que tenha saído do armário com tanta sede de ação. Cuidado com eles: tantas ganas reprimidas, quando subitamente liberadas, desconhecem limites.
Eric Nepomuceno é jornalista, escritor e tradutor.
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BARRA PESADA
Não é fácil ouvir alguém chamar um brasileiro como Chico Buarque de “merda”, sem que o sangue lhe suba à cabeça.
Cacá Diegues em sua coluna em 27/12/2015
Esta é minha última crônica de 2015. Vou tirar umas férias de escrever e só volto a publicar outro artigo no último domingo de janeiro, dia 31. Nada como encerrar alguma coisa, mesmo que temporariamente. A gente fica com uma sensação de missão cumprida, mesmo que nos falte confiança em que a missão seja mesmo essa, que o que produzimos prestou para alguma coisa.
Só para ficar nas desgraças domésticas, 2015 foi um ano maldito na lembrança de muita gente (as desgraças internacionais também bateram recordes de horror, mas deixa pra lá). Não estou falando apenas das más notícias do mundo concreto, da inflação e do desemprego, da Petrobras e da Odebrecht, da lama mineira e do fogo amazônico, mas também dos incômodos políticos que dividiram o país. No momento, o impeachment da presidente é o mais grave deles.
Já disse aqui e repito que sou totalmente contra o impeachment, ele é injusto e inconsequente. Injusto porque, independente de sua administração ser boa ou má, não vejo a presidente tendo cometido nenhum crime previsto na Constituição que justifique seu impedimento. Inconsequente porque não vejo no horizonte uma sucessão que seja capaz de melhorar o país. Temer? Cunha? Renan? Cruzes!
A acusação de “estelionato eleitoral”, de que Dilma Rousseff teria mentido durante a campanha e feito, neste primeiro ano de seu segundo mandato, o contrário do que prometera, já virou uma constante cada vez que elegemos novo governo. Não porque Fernando Henrique, Lula e Dilma tenham decidido conscientemente mentir durante suas campanhas; mas porque preferiram ouvir seus marqueteiros, a discutir e seguir os programas de seus partidos.
A propaganda montada pelos marqueteiros políticos, para “vender” os candidatos que os contrataram, é que está se tornando um “estelionato eleitoral” sistemático, onde não se discute nada antes de uma consulta aos institutos de pesquisa. Não se crê um segundo que um discurso sincero e correto possa mudar os índices obtidos por esses institutos. Duda Mendonça, Renato Pereira ou João Santana se tornaram sumidades programáticas, muito mais importantes do que qualquer ideólogo respeitável de cada partido. A política no Brasil está se tornando um sistema de venda de imagens e não de ideias.
Não é assim que está evoluindo a política por aí, na França ou na Espanha, mesmo na Grécia ou em Portugal, onde forças novas ocupam seu lugar junto às aspirações do povo, sem ter que vender uma imagem superficial. Uma aliança de centro-esquerda não derrotou a direita da Frente Nacional francesa pela força de ilusões; o Podemos e o cidadãos não se impuseram nas urnas espanholas através de velhas mensagens que os marqueteiros repetem.
Não acho que o Brasil esteja bem de vida, muito menos que este seja o melhor governo possível. Mas é preciso reconhecer que Dilma Rousseff não fez um só gesto, nem emitiu uma só frase que enfraquecesse o processo democrático no país. No meio da grave crise política e econômica que vivemos, podemos nos orgulhar da estabilidade de nossa democracia.
Uma democracia que está sendo ameaçada por setores radicalizados da população. Alguma coisa na crise que vivemos, ocasionada talvez pelo resultado apertado das últimas eleições, fez com que, desta vez, o país se dividisse radicalmente em dois, sem racionalidade e sem respeito pela opinião alheia, um puro exercício de ódio. O país está perigosamente dividido em clãs políticos que não admitem respirar o mesmo ar que o “inimigo”.
Chico Buarque foi, esta semana, vítima dessa intolerância burra. Saindo de um jantar com amigos, ele teve que ouvir, vindos do outro lado da rua, gritos hostis e grosseiros de jovens que estavam no restaurante em frente. A quase uníssona acusação era a de sua preferência partidária, uma escolha pessoal e cívica de cada cidadão livre. Gentilmente, com a cordialidade que o caracteriza, Chico atravessou a rua e foi tentar conversar com os rapazes. Mas eles não queriam ouvir argumentos ou discutir ideias, apenas desqualificavam o interlocutor que não pensava como eles, uma censura tipicamente autoritária ao pensamento do outro. O mínimo que ele ouviu foi ser chamado de “seu merda”. Não é fácil ouvir alguém chamar um brasileiro como Chico Buarque de “merda”, sem que o sangue lhe suba à cabeça.
Não sou pessimista, não acho que as coisas vão sempre dar necessariamente errado. Nem acho que vamos precisar de muitos anos para nos recuperarmos da crise que nos assola. Se alguns princípios básicos da convivência democrática forem respeitados, se conseguirmos que o ódio seja substituído pela consciência de que o outro tem direito de ter outra opinião, se aprendermos a pegar leve na barra pesada, sairemos dela mais rápido do que imaginamos, sem a falsidade histriônica de uma “unidade nacional”. De um lado e do outro, vamos precisar da grandeza de muitos Chico Buarque para cumprir essa meta.
Cacá Diegues é cineasta.
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29 de dezembro de 2015 às 0:12
Todos em defesa de CHICO BUARQUE, grande cidadão brasileiro..
28 de dezembro de 2015 às 22:16
Chico Buraco de Holanda é,hoje,o musical do crime;”vai trabalhar Vagabundo”,”Você vai me seguir a onde quer que eu vá”,Abanda do governo,faz acreditar que toca pra democracia.Bolsa família;comeu arroz com feijão como se fosse um príncipe.Tragou a dor e engoliu a labuta.Quem anda sussurrando pelas alcovas? O bêbado e a equilibrista,pedindo brilhos a estrela fria,um brilho de aluguel! E no mata-borrão do céu,que sufoco,morra a esperança democrática,mas o show de Dilam deve continuar? Afasta de mim esse cálice, de vinho tinto de sangue! Cale-se!!! Assista no you tube as confissões de chico:”Chico Buarque roubava carros,por robe.