Folha propõe uma guerra civil no Brasil

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J.Carlos de Assis no Desenvolvimentistas em 14/9/2015

O editorial pornográfico da Folha de S.Paulo divulgado neste domingo [13/9], propondo entre outras aberrações cortes nos gastos orçamentários compulsórios com Previdência Social, Educação e Saúde, ultrapassa qualquer limite em termos de chantagem contra a Nação jamais praticada em nome das classes dominantes brasileiras e de seus associados internacionais. De fato, o objetivo oculto por trás da obsessão do orçamento equilibrado é atender aos interesses do setor bancário e financeiro à custa do suor e do sangue dos brasileiros.

A Folha na realidade está construindo as condições para a guerra civil no país. Ela prega a ruptura não só da Constituição, mas do que resta do pacto solidário construído no Brasil desde a Era Vargas, e que resistiu inclusive à ditadura militar, tendo sido consideravelmente ampliado na democracia. O editorial é o mais descarado apelo ao retrocesso que as classes dominantes brasileiras jamais tiveram a ousadia de propor. Não tem qualquer compromisso com os interesses reais da população brasileira. É o enxovalhamento do povo.

Em grave crise financeira, a Folha chutou o pau da barrada: perdido por um, pedido por mil. Talvez acredite que um novo governo, qualquer que seja, trate financeiramente a Grande Imprensa ainda melhor do que tem feito o atual. No seu nível de irresponsabilidade, empurra milhões de pessoas para uma revolta contra as instituições, mediante a sonegação de direitos básicos que pareciam irreversíveis. Sabemos perfeitamente que uma guerra civil não começa como guerra civil. Começa com um estado de pré-convulsão social, do tipo instigado pela Folha, vai para a convulsão, depois para os atentados, depois para a guerrilha. Só depois vem a guerra. E é quando os militares entram para pôr ordem na casa, a seu modo!

Diante desse ataque da direita radical empreendido pela Folha e em face do derretimento das instituições do Estado que ela expõe, o desafio que se coloca às forças progressistas é buscar formas concretas de fortalecer o estado solidário na base da sociedade, juntando as forças do empresariado industrial autêntico, não picareta, com as forças organizadas dos trabalhadores. O grande lance é a construção de pacto social negociado diretamente entre essas classes, e cujas proposições concretas sejam levadas ao governo para aplicação em alternativa ao sistema vigente de total subserviência ao rentismo não produtivo.

Em termos teóricos, nosso desafio é fazer a revolução burguesa-industrial e a revolução social simultaneamente. A revolução burguesa, sim, porque o sistema atual coloca a indústria como escrava de um sistema financeiro de agiotagem que estrangula a capacidade de investimento, inovação e expansão do setor industrial privado. A revolução social porque, se voltarmos ao crescimento econômico, o que é perfeitamente possível, podemos não só defender como expandir o estado de bem-estar social como base da estabilidade social e política do país.

O editorial da Folha é um acinte porque coloca a perspectiva de uma tragédia quando temos alternativas promissoras à mão. É uma estupidez econômica achar que temos de fazer superávit primário ou evitar níveis mesmo baixos de déficit. As economias norte-americana, inglesa e japonesa vivem de déficits desde 2008. A norte-americana teve déficits gigantescos de 2009 ao ano passado (até 10% do PIB), do que resultou uma firme retomada do crescimento. Nós reduzimos o superávit primário em 2009 e 2010, e tivemos crescimento especular de 7,5% em 2010.

Não é esse déficit insignificante de 30 bilhões de reais, usado pela Folha para chantagear o país e forçar o abandono do projeto social brasileiro, que constitui um desarranjo da economia. O problema da economia é a ausência de um programa de investimento público, mesmo que deficitário. O déficit público de hoje, quando bem operado para investimentos em infraestrutura, torna-se crescimento do PIB e da receita amanhã. Em outras palavras, ele se paga por si mesmo como ensina há 80 anos a boa doutrina keynesiana.

Se não conseguirmos construir um grande pacto social para superarmos a crise econômica e política, e se em lugar disso, intimidado pela Folha, o governo implementar um programa regressivo do tipo proposto por ela, já sabemos o endereço aonde os doentes sem cobertura de saúde, os idosos e aposentados despojados de direitos previdenciários, os estudantes pobres sem condições de pagar faculdades, a turma do Bolsa Família e os sem casa e tantos outros pobres devem procurar ajuda: vão todos para a porta da Folha, esperando que ela os reenvie para a proteção do sistema bancário!

J.Carlos de Assis é economista, escritor e doutor pela Coppe/UFRJ.

3 Respostas to “Folha propõe uma guerra civil no Brasil”

  1. daysens Says:

    Para muito além de interesses de um ou de outro estado-membro, está o interesse do País e de seu povo.
    Acredito na inteligência e na capacidade de governar da nossa Presidente. Acredito na sensatez e no entendimento do nosso Povo. Acredito na superação deste nosso momento.

  2. pintobasto Says:

    Uma cambada de vira-latas cheios de sarna entreguista latindo e uivando por um dono que nunca terão porque odeia cachorros sempre prontos para roubar a comida das pessoas do país onde vivem.

  3. Péricles Pegado Cortez Says:

    Sabemos que a direita está mobilizada em todos os países da America Latina, com os apoios tradicionais de várias “entidades” externas. Já vimos esse filme! Ciscaram demais no quintal deles, aí está a resposta. Utilizam o quarto poder(mídia) e a “justiça” para dar legalidade aos golpes. Tem que parecer “legal”! A Folha entre outros jornalões sempre se prestou para esse papel! Mas tem uma pergunta que não quer calar: quem lê a Folha? Os mesmos de sempre? Alguém sabe a sua tiragem real? O seu editorial influencia alguém mais do que os já influenciados? Consegue fazer a cabeça de quem? Dos coxinhas? A meu ver o problema dos políticos paulistas é que eles adoram UM GOLPE! E parece que grande parte da população também! Vejamos: Movimento separatista, derrubada do Getúlio, Jânio Quadros tenta voltar nos braços do povo, tentaram impedir que o JK tomasse posse, golpe civil (paulista)-militar de 1964 contra Jango, tentaram contra o Lula e agora tentam contra a Dilma. O golpe de FHC na compra da re-eleição! Eles tem o DNA GOLPISTA e ENTREGUISTA (FHC O PRÍNCIPE DA PRIVATARIA, “CERRA” ENTREGUISTA-MOR, CHUCHU, TEMER). TODOS OS POLÍTICOS DE “PESO” DE SP ESTÃO APOIANDO O GOLPE DO IMPITIM! MENOS O TIRIRICA! QUEREM A VOLTA DA POLÍTICA DO CAFÉ COM LEITE! NÃO CONSEGUIRÃO, MAIS UMA VEZ! O BRASIL MUDOU! ACORDA PAULICEIA DESVAIRADA! ATÉ O BICUDO DESVAIROU, POBRE VELHO! MANCHANDO A BIOGRAFIA, TRISTE! VIGIEMOS! GOLPE NUNCA MAIS!

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