
Fausto Pinato (PRB/SP), que foi destituído da relatoria do caso Cunha no Conselho de Ética. Foto de Pedro Ladeira / Folhapress.
Via Folha online em 11/12/2015
Destituído da relatoria do processo de cassação de Eduardo Cunha (PMDB/RJ) após manobra patrocinada pelo presidente da Câmara, o deputado federal Fausto Pinato (PRB/SP) afirmou, em entrevista à Folha, ter recebido, em três oportunidades, oferta de propina relacionada ao seu parecer.
Desde que foi escolhido como relator, Pinato já indicava que iria dar um parecer favorável à continuidade do processo de Cunha.
O parlamentar disse não conhecer as pessoas que fizeram a oferta. O deputado voltou a dizer que recebeu, de deputados aliados de Cunha, conselhos para tomar cuidado com a confecção de seu relatório. Ele não cita nomes, porém.
Folha – Quando o senhor assumiu a relatoria, foi procurado por emissários do presidente da Câmara, Eduardo Cunha?
Fausto Pinato – No começo foi assim: “olha, isso é uma bucha, cuidado”. Normal. Depois começaram aconselhamentos: “Veja bem o que você vai fazer… o Cunha é um deputado influente, com vários deputados, domina praticamente todas as comissões da Casa”. Mas até aí tudo bem, faz parte né? Tomei a cautela de não omitir nenhum tipo de opinião de mérito. Fui tirado da relatoria porque eu sou uma pessoa que estava fazendo um trabalho sério e independente.
O senhor encarou esses aconselhamentos como ameaça?
Então, por exemplo, eu fui abordado em aeroporto…
Por parlamentar?
Não, pessoas estranhas. Eu não sei nem quem era. “Você que é o Pinato? Olha, pensa bem, pode mudar sua vida [faz sinal de dinheiro com as mãos]”. E eu recebi também uns dois telefonemas. “Pensa bem na tua família”. Eu sou um cara de cidade pequena de 70 mil habitantes acostumado a falar só em rádio AM.
Ofereceram dar ajuda para sua próxima campanha?
Diretamente, não. Mas por telefone e pessoalmente no aeroporto, eu cheguei a ter propostas, sim: “Você não quer pensar na tua vida? Pensar em você?”. Mas eu não sei se era para arquivar ou para condenar. Eu já cortava e saía.
Mas o senhor sabia de onde partiam essas ofertas?
Não. No telefonema falaram para pensar na família e salvo engano umas duas vezes no aeroporto.
Proposta insinuando vantagem?
“Pensa bem, você pode arrumar tua vida, tal” [faz sinal de dinheiro com as mãos]. Umas coisas nesse sentido. Mas como eu cortava. Sempre tentei me esquivar.
Os parlamentares não chegaram a lhe oferecer dinheiro?
Não, não falaram nada. Era “pensa bem, vê o que vai fazer”. Não chegaram a ser tão incisivos, até porque alguns são até meus amigos, tinha relacionamento pessoal de sair com eles. Eu era cercado de amigos [dentro da Câmara dos Deputados] e me tornei o cara mais solitário do mundo. Mas tem um pessoal aqui que tem uma coerência, que tem uma hombridade, não tem como generalizar.
O senhor ouviu rumores de oferta de dinheiro para deputados votarem contra seu relatório?
Ouvi falar isso um monte, rádio corredor fala sempre. Tanto é que está uma discussão muito acirrada, né? Não querer nem deixar abrir o processo?
Mas o senhor testemunhou essas supostas ofertas?
Como eu virei relator e a pressão era muito forte, o que eu fiz? Eu não conversei com ninguém do Conselho [de Ética]. Eu vou fazer o que é certo e a minha parte dentro da minha consciência.
O que os aliados de Eduardo Cunha conversaram com o senhor? Eles faziam parte desse pessoal que fazia o aconselhamento?
Também, né? Porque aqui, a verdade é a seguinte: um ou outro você sabe [de que lado está], mas existe um exército camuflado. Imagine um cara igual a eu, que é de primeiro mandato, chega, não sabe se tá lá ou cá.
Houve ameaça?
Não, só aconselhamento. “Vai devagar, pensa bem, não é tudo que a mídia fala que é verdade, tem que tomar cuidado, tem que pensar aqui dentro da Casa”.
Tomar cuidado com o quê?
Pra não se queimar, e tal. Aconselhamento, entendeu?
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11 de dezembro de 2015 às 22:59
Que falta para prenderem o Cunha? Aonde estão os chefes dos 3 poderes que ainda não se reuniram para porem ordem no País? Está acontecendo uma grande fantochada em Brasília.
E o PT e Lula, aonde estão que ainda não organizaram um movimento de apoio`Presidente Dilma, exigindo a prisão de Cunha e o afastamento de Temer da vice-presidência?