Gregório Duvivier: O certo, o justo e o imbecil

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Cunha, Temer e Renan.

Gregório Duvivier em 7/12/2015

Tem uma piada velha que começa assim: o advogado vai ao motel acompanhado da mulher do melhor amigo, também advogado. Chegando lá, encontra a própria mulher acompanhada do melhor amigo. Ao constrangimento inicial segue a dúvida.

– E agora? O que é que a gente faz?
– O certo seria a gente destrocar os casais e cada um voltar pra casa acompanhado do respectivo cônjuge.
– Sim, isso seria o certo. Mas não seria o justo.
– Por quê?
– Porque a gente tá chegando, e vocês tão saindo.

Não sabendo se o impeachment de Dilma é certo do ponto de vista jurídico, li a opinião de uns 33 “juristas renomados”. O que percebi foi que a Constituição brasileira é tipo o último episódio de “Lost”: cada um entendeu uma coisa, e alguns, como eu, não entenderam nada. Ninguém sabe se a tal pedalada fiscal configura crime de responsabilidade, embora todos concordem que, mesmo que houvesse o tal crime, ele recairia sobre o secretário do Tesouro.

Mas vamos supor que o impeachment fosse o certo e os juristas afirmassem que pedaladas justificam o impeachment. Seria justo? No governo FHC, a pedalada era uma tradição de fim de ano tão comum quanto a Simone cantando “Então É Natal”. E não só no Brasil. Nunca, em democracia alguma, um presidente caiu por causa de uma pedalada fiscal. Será que o Brasil finalmente chegou à vanguarda?

Tirar a Dilma por uma pedalada de seu secretário é, por si só, uma espécie de pedalada. Sou torcedor do Fluminense, mas nem por isso vibrei com os pontos que ele tirou da Portuguesa graças ao recurso de um advogado que descobriu que a Portuguesa tinha escalado aos 48 do segundo tempo um jogador suspenso que sequer tocou na bola.

Um impeachment orquestrado por Eduardo Cunha que beneficia Michel Temer é como um pênalti marcado pelo Eurico Miranda a favor do Vasco. Se não é certo, certamente não é justo, e menos ainda sensato. Se o pecado de Dilma foi ser conivente com roubo, qual é o sentido de trocá-la pelo ladrão? A estrutura da casa está ruindo, mas você não vai fazer uma reforma com o Sérgio Naya.

O país hoje é um avião governado por uma pilota obtusa e despreparada, mas vale lembrar que o copiloto é da Al Qaeda. E a tripulação também. Perdão pela metáfora, Al Qaeda. Não era minha intenção te comparar com o PMDB. Sim, eu sei que vocês têm princípios. Perdão.

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3 Respostas to “Gregório Duvivier: O certo, o justo e o imbecil”

  1. daysens Says:

    Também não gostei da “atribuição de conivência” à nossa Presidente.
    Dilma, historicamente falando, é uma heroína nacional, cuja nome já está inscrito, há muito tempo, na história deste País.
    Portanto, devemos respeitá-la pelo seu passado e, também, por presidir hoje o nosso País, em dois pleitos, absolutamente democráticos.

  2. Vera Sueli Urbine Miranda Says:

    Não foi conivência com Roubo, ela só pediu a cef que pagasse os compromissos sociai antes de ela fazer o aporte, que foi feito logo depois. Não gostei de escrever que foi conivente com roubo!

  3. pintobasto Says:

    O artigo do Gregório Duvivier está bom, podia fazer umas comparações mais picantes, mas mesmo assim retrata bem
    a bandalheira lá em cima.

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