O vácuo
Os manifestantes contra o governo sabem o que não querem – a Dilma, o Lula, o PT no poder –, mas ainda não pensaram bem no que querem.
Luis Fernando Verisssimo em 20/8/2015
Houve um tempo em que os cachorros corriam atrás dos carros. Era uma cena comum: vira-latas perseguindo carros, latindo, como se quisessem expulsar um intruso no seu meio. Às vezes viam-se bandos de cães indignados, perseguindo carros que passavam, e dava até para imaginar que um dia conseguiriam alcançar um, dos pequenos, pará-lo, cercá-lo e… E o quê? Comê-lo? Nunca ficou claro o que os cachorros fariam se alcançassem um carro. Era uma raiva sem planejamento. (Hoje, a cena de cachorros correndo atrás de carros é rara. Os cachorros modernizaram-se. Renderam-se ao domínio do automóvel. Ou convenceram-se do seu próprio ridículo).
Os manifestantes contra o governo sabem o que não querem – a Dilma, o Lula, o PT no poder –, mas ainda não pensaram bem no que querem. Se conseguirem derrubar o governo, que cada vez mais se parece com um Fusca indefeso sitiado por cães obsoletos, o que, exatamente, pretendem fazer com o vácuo? A política econômica atual é um sonho neoliberal. Seu oposto seria uma volta à política econômica pré-Levy? Dependendo de como for impedida a Dilma, o vácuo pode ser preenchido pela ascensão do vice-presidente (tudo bem), pelo eleito num novo pleito (seja o que Deus quiser) ou pelo Eduardo Cunha (bate na madeira). O que os manifestantes preferem? A raiva precisa de um mínimo de previsão.
Uma parte dos manifestantes não tem dúvida do que quer. Da primeira grande manifestação de 2013, passando pelas duas deste ano, o que mais cresceu e apareceu foi a linha Bolsonaro, que pede a volta da ditadura militar e lamenta, abertamente, que os militares não tenham matado a Dilma quando tiveram a oportunidade. Por sinal, o Fernando Henrique talvez se lembre que o Bolsonaro disse a mesma coisa a seu respeito. Mas, enfim, as guerras fazem estranhos aliados.
Sugiro a quem se preocupa com o momento nacional que faça um pouco de arqueologia histórica para manter as coisas em perspectiva. Procure na imprensa da época a reação causada pela marcha da família com Deus pela liberdade contra a ameaça comunista. Também foi uma manifestação enorme, impressionante. E foi o preâmbulo do golpe de 64, e dos 20 anos negros que se seguiram e hoje tanta gente quer ver de novo. Pode-se argumentar que os tempos eram outros, tão distantes que os cachorros de então ainda corriam atrás de carros, e a luta era outra. Mas o triste é que ainda é a mesma luta.
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23 de agosto de 2015 às 13:23
Quem sabe o que não quer mas não sabe o quer é algo inconcebível, sob qualquer ponto de vista.
Sobretudo do ponto de vista político.
A conclusão inarredável sobre o pensamento dessa gente que foi ás RUAS sem saber o quer, é que são analfabetos políticos.
Portanto, foram às ruas por força de manipulação.
Não há outra explicação.
22 de agosto de 2015 às 14:27
Veríssimo é fera!
Mas se olharmos bem os cartazes, os discursos, esta manifestação deveria ter se desdobrado em umas 10 categorias. Cada um quer uma coisa. A única coisa em que concordam é no quesito “PIG”: Dilma, Lula, PT têm que morrer. Por quê? Não sei. Ponto final.
22 de agosto de 2015 às 9:27
Essa luta que Luis Fernando Veríssimo se refere bem que se poderia chamar A LUTA DOS IMBECIS e/ou A LUTA DOS ALINEADOS e/ou A LUTA DOS DESINFORMADOS e/ou A LUTA DA CLASSE MÉDIA HITLERIANA (AQUELA QUE ADORA CHICOTADA NO LOMBO, OU SEJA, MOVIDA À PANCADA). Depois de 20 anos de mordaça, estão implorando por mordaça eterna.