“Sem Fidel, isso não seria possível. Capacidade para negociar em condições de igualdade com EUA é fruto da resistência cubana sob sua condução”, diz analista.
Vanessa Martina Silva, via Opera Mundi em 19/7/2015
Era 3 de janeiro de 1961. Pensando que o rompimento das relações entre os Estados Unidos e Cuba seria resolvido rapidamente, uma mulher dobrou cuidadosamente a bandeira cubana e a levou consigo. Passados 54 anos do anúncio de rompimento com a Ilha, feito pelo então presidente Dwight D. Eisenhower, não será essa que foi guardada por anos, mas a bandeira cubana voltará a tremular em Washington na segunda-feira, dia 20/7, como fruto da retomada das relações diplomáticas entre ambos os países.
Às vésperas do acontecimento, cubanos lembram histórias relacionadas à Ilha e à nação vizinha. Entre elas, está a viagem que o líder da Revolução Cubana fez aos Estados Unidos, meses após a vitória do levante armado. Em abril de 1959, Fidel falou com a imprensa, com estudantes, visitou pontos turísticos e até mesmo um zoológico no Bronx. Mas é uma frase dita na ocasião que tem sido rememorada.
Questionado, durante o primeiro encontro com jornalistas na embaixada cubana, se tinha ido aos Estados Unidos em busca de ajuda estrangeira, o jovem líder respondeu: “Não. Estamos orgulhosos de ser independentes e não temos a intenção de pedir nada a ninguém”. No dia seguinte, disse mais claramente ao Secretário de Estado Christian Herter: “Não viemos pedir dinheiro”.
Fidel não irá a Washington, mas para o primeiro chefe da Seção de Interesses de Cuba nos Estados Unidos, Ramón Sánchez Parodi, “o principal protagonista desta saga, do começo ao fim, é Fidel Castro. Foi ele que concebeu desde o primeiro momento a importância e a necessidade de estabelecer relações adequadas entre Cuba e os Estados Unidos. Ele ensinou e educou o povo e os líderes cubanos que nossa confrontação era e é com o imperialismo norte-americano e não com o povo dos Estados Unidos”, como disse em declarações ao site CubaDebate.
Parodi classificou esta segunda como “o dia memorável da história do direito de uma pequena nação a falar com voz própria”. Ele ocupou o cargo entre 1977 e 1989 e estará presente durante a cerimônia de abertura da embaixada.
O protagonismo do líder da Revolução Cubana foi ressaltado também por Jesus Arboleya, analista das relações Cuba-Estados Unidos. Segundo ele, “sem Fidel, nada do que está acontecendo seria possível, porque a capacidade para negociar em condições de igualdade e soberania com os Estados Unidos, algo raro no mundo atual, é fruto da resistência cubana sob sua condução”.
Sílvio Rodríguez, um dos mais importantes cantores cubanos da atualidade, também estará presente no ato desta segunda. Sobre esse passo que está sendo dado pelos governos, o artista diz ter dúvidas, mas estar otimista ao mesmo tempo.
Ele explica que “as dúvidas surgem da nossa larga história de abusos do grande contra o pequeno; da biologia; da natureza de muitas coisas. O otimismo, porque creio na razão, e, portanto, no diálogo. Os desencontros têm, acaso como nunca, a oportunidade de contatos reveladores de ambas as partes. Como quase tudo o que se propõe o homem, o que vem também é uma luta contra o escuro da natureza. É preciso crer na lucidez do espírito humano”.
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21 de julho de 2015 às 18:56
O interesse maior nesse “”reatamento””, é dos EUA, cuja intenção nada tem a ver com “amizade”, mas sim com a DETONAÇÃO do regime cubano, mesmo que demore alguns anos…