Paulo Nogueira, via DCM em 8/7/2015
Está sobrando ódio no debate político brasileiro. E, consequentemente, está faltando humor.
Por isso, é mais que bem-vinda a resposta que Lula deu ao jornalista Carlos Alberto Sardenberg a propósito de uma análise dele que atribuía a culpa da encrenca grega ao PT.
Sardenberg fez uma bizarra conexão entre encontros entre o premiê grego Tsipras com Lula e Dilma, algum tempo atrás. Tsipras teria sido induzido a acreditar que você pode enfrentar uma crise econômica sem ajuste fiscal. Daí, segundo Sardenberg, a tormenta grega e europeia.
Lula, em sua conta no Facebook, colocou uma montagem em que Sardenberg aparece culpando o PT por coisas como o frio, além, é claro, da crise grega.
A foto é brincadeira, disse Lula, mas a análise é real.
Espirituosamente, Lula lembrou os múltiplos microfones dados pela Globo a Sardenberg: GloboNews, CBN, jornal O Globo etc. etc.
É assim com quem, como Sardenberg, poderiam ter um cartão escrito assim. Profissão: atacar o PT.
Porque isso virou a melhor forma de fazer carreira na imprensa desde a ascensão de Lula: atacar o PT.
Jornalistas de trajetória mediana até o PT chegar ao Planalto cresceram brutalmente ao entender a demanda dos donos das empresas jornalísticas e oferecer seus serviços.
Sardenberg é um caso. Reinaldo Azevedo, outro. Diogo Mainardi, mais um. Até Augusto Nunes ressuscitou ao topar agredir sistematicamente Lula.
Aqui, um parêntese. Augusto consegue fazer piada com o apelido Brahma – ele que se gabava de ter conquistado o cargo de chefe de redação do Estadão ao derrotar, em mesas de bar, os Mesquitas em duelos para ver quem aguentava encher mais a cara.
Considerada a tradição dos Mesquitas neste quesito, você pode imaginar quanto Augusto era bom em beber. (Nos anos 1980, quando trabalhávamos ambos na Veja, tomei na companhia de Augusto e outros grandes fogos pós-fechamento no bar do Alemão, perto da redação. Eu até que era bom para beber, mas Augusto era simplesmente imbatível.)
Eis algo, aliás, comuníssimo entre jornalistas, o que não inibe ninguém de usar o apelido Brahma para tentar desmoralizar Lula entre leitores preconceituosos e moralistas.
Sardenberg não precisou de Lula para virar piada. Antes que Lula se manifestasse, sua análise já viralizara nas redes sociais e provocara uma mistura de gargalhadas e desprezo.
Com graça, Lula lembrou que Nobéis de Economia como Krugman defendem a estratégia de Tsipras.
Piketty, o célebre economista francês que escreveu O Capital no Século 21, um formidável tratado sobre a desigualdade – um assunto ignorado por Sardenberg e congêneres –, também.
Piketty lembrou que jamais a Alemanha pagou suas dívidas externas. Depois da 2ª Guerra Mundial, no início da década de 50, a Alemanha simplesmente não pagou o que devia aos credores internacionais por conta dos estragos nazistas.
Mas nada disso conta para Sardenberg.
Pobres ouvintes, ou espectadores, ou leitores de Sardenberg. Vão depois reproduzir as tolices que engoliram.
Talvez um dia, se despertarem, fiquem com raiva de quem os leva a um mundo paralelo. Mas torço que, caso acordem, reajam como Lula: com bom humor.
Basta deixar de ler, ouvir e ver Globo, GloboNews, Veja, CBN, Jovem Pan e por aí vai.
Quanto a Sardenberg, para encerrar, acho que agora ele faz jus ao Prêmio IgNobel de Economia – uma paródia consagrada do Nobel – pela sua fantástica teoria sobre a Grécia.
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Lula faz piada, mas comentário de Sardenberg sobre a Grécia mais parece terrorismo midiático
O ex-presidente Lula brincou publicando a montagem ao lado, mas Sardenberg usou uma concessão pública para tocar terror.
Luiz Carlos Azenha, via Viomundo em 7/7/2015
Carlos Alberto Sardenberg tem acesso diário a milhões de ouvintes e telespectadores brasileiros. É economista e, apresentado como tal, ganha automaticamente a chancela que o título lhe confere entre os leigos. Como disse o perfil do ex-presidente Lula no Facebook, é um homem de seis empregos.
Preso no trânsito, eu mesmo já ouvi dezenas de bobagens ditas por Sardenberg na CBN. Suas análises são rasas, formulaicas e basicamente repetem o que lhe diz o pessoal daquela entidade que paira sobre todas as outras, um ente quase religioso, “o mercado”.
“O mercado”, no mundo de Sardenberg, não representa interesses. Se os bancos têm lucros gigantescos mesmo numa economia desacelerada, não há nada de errado com isso. Sardenberg, se tocar no assunto, vai atribuir o fato à eficiência do setor, aos “ganhos de produtividade” – ainda que eles sejam obtidos com demissões em massa, alta dos juros e superexploração da mão-de-obra.
Em outras palavras, Sardenberg tem lado: o dos banqueiros.
Como crítico do governo, o ápice de sua carreira foi em um comentário no Jornal da Globo, quando previu o caos quando o crescimento econômico do Brasil entrou no ritmo dos 9%. Seria, disse ele então, o terror, por causa dos gargalos da infraestrutura.
Mas, agora, Sardenberg se superou. Em artigo no jornal O Globo e em comentário na rádio CBN, Sardenberg tentou responsabilizar o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma pela situação econômica calamitosa da Grécia.
Segundo Sardenberg, Lula e Dilma deram conselhos ao jovem “que nem usa gravata”, Alexis Tsipras, em dezembro de 2012, quando o líder grego visitou o Brasil: “Ouviu que políticas de austeridade só levam ao desastre e que era preciso, ao contrário, aumentar o gasto público e o consumo”.
O artigo e o comentário sugerem que Tsipras teria adotado políticas equivocadas e afundado a Grécia. Na visão de Sardenberg, seria irônico Tsipras ter feito isso justamente quando Dilma Rousseff, reeleita, adotou no Brasil a austeridade que não recomendou ao colega grego.
No Facebook, o perfil do ex-presidente Lula fez piada:
Carlos Alberto Sardenberg, analista de economia de Rede Globo, GloboNews, O Estado de S.Paulo, O Globo, G1 e CBN desenvolveu uma explicação original para a crise econômica da Grécia. Diferente de economistas de renome internacional, como Paul Krugman e Joseph Stiglitz, para ele a culpa da crise grega é de Lula e Dilma.
Ele leu no site do Instituto Lula os registros de um encontro do atual primeiro-ministro, Alex Tsipras, com o ex-presidente Lula em 2012, e concluiu que a situação no país europeu piorou graças ao “aconselhamento” do ex-presidente e da presidenta. Já Krugman e Stiglitz acham que Tsipras está no rumo certo.
A imagem [no início do texto] é uma brincadeira, mas a análise de Sardenberg sobre a Grécia foi real. Será que ele não está exagerando?
Por mais que o ex-presidente Lula pretenda não levar a sério o que diz Sardenberg, o fato é que, repetimos, ele fala e escreve para milhões de brasileiros, todos os dias.
Portanto, deveria ser desmascarado.
Para isso, basta citar um fato que Sardenberg sonegou em seu artigo e comentário radiofônico.
Alexis Tsipras tornou-se primeiro-ministro da Grécia em janeiro de 2015, quando o país JÁ enfrentava profunda crise econômica. Aliás, Tsipras só se tornou primeiro-ministro pelo fracasso de seus antecessores em enfrentar as consequências da crise para o povo grego. Uma crise que dura pelo menos cinco anos.
Ou seja, nem que quisesse seguir supostos conselhos de Lula e Dilma para gastar à vontade o primeiro ministro grego teria condições de fazê-lo. Ele já estava amarrado na camisa-de-força dos credores e tudo o que fez desde então foi tentar aliviar, aqui e ali, as condições impostas pela política de austeridade exigida em troca de socorro financeiro.
Para além disso, por força da submissão ao euro Tsipras nem teria como imprimir dinheiro e sair torrando, para atender aos desígnios de seus – segundo Sardenberg – “mentores” brasileiros.
Ou seja, para cumprir seu objetivo político, que é atacar o governo, Sardenberg distorce, omite, descontextualiza.
Além de queimar Lula e Dilma, é óbvia a intenção dele de colocar no mesmo prato a Grécia, uma economia falida e completamente dependente de negociações com agentes externos – a troika formada pelo FMI, BCE e Comissão Europeia – e o Brasil, que enfrenta uma crise infinitamente mais amena, com amplo acesso aos mercados financeiros internacionais, menor desemprego e reservas de mais de US$350 bilhões.
Há quem prefira ver como piada o que, na verdade, é mais um caso grosseiro de terrorismo midiático.
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10 de julho de 2015 às 2:53
O Sardento Brega é um esperto em economia de fundo de quintal com grande capacidade para falar sobre o aumento do preço da linguiça a metro e da estabilidade do preço das drogas nas favelas. Não me admiro nada que ele venha a conselhar o PROCOM a fiscalizar a qualidade das drogas, defendendo os interesses dos trouxas muito otários que gostam de viajar no caminhão do lixo da história. E Deus disse: “Perdoai aos burros que cagam no pasto onde comem!”