Yuris Nórido, via BBC Mundo em 27/6/2015
Em Cuba, a maioria das pessoas já viu tiroteios… na televisão.
Com certeza, muitos leitores discordarão de alguns argumentos aqui expostos, mas ninguém pode desconhecer uma realidade inquestionável: comparada a outras capitais latino-americanas, Havana é uma cidade segura.
Disso sabem seus habitantes e também as centenas de milhares de turistas que visitam a urbe todos os anos. O índice de homicídios por armas de fogo, por exemplo, está entre os mais baixos do continente.
Não estamos descrevendo um paraíso. Nas últimas décadas – décadas marcadas por uma crise econômica que se tornou em certa medida uma crise de valores – fomos testemunhas de um aumento da criminalidade.
Fica difícil para o cidadão comum ver essa realidade em números: as autoridades não costumam divulgar as estatísticas e os meios de comunicação estatais não incluem normalmente em seus espaços informações sobre atos criminosos.
Mas uma coisa é clara: um assassinato não é notícia todos os dias em Cuba. Pelo menos isso não faz parte da rotina das pessoas.
Eu mesmo moro num bairro da periferia, amiúde volto tarde para casa e, no caminho, percorro um longo trecho de locais mal iluminados. Nunca tive o menor problema.
É claro que há bairros e bairros. Algumas zonas são mais perigosas que outras, as pessoas que circulam em certas horas são mais vulneráveis. Isso acontece, em maior ou menor medida, em todas as cidades grandes.
Mas, em Havana, os tiroteios, os assaltos aos comércios e aos domicílios a mão armada não são rotineiros. E fenômenos como sequestros e ações do crime organizado, que afetam outras cidades da região, são praticamente inexistentes em Havana.
Isso tem muito a ver com o fato de Cuba ter uma legislação rigorosa no que tange ao porte de armas. De fato, nenhuma pessoa física está autorizada a adquirir ou portar armas de fogo, com exceção daquelas utilizadas na caça, e mesmo estas últimas estão submetidas a um forte controle.
Apenas efetivos das forças policiais, agentes de segurança e pessoas autorizadas pela natureza de suas funções podem portar armas. Os efetivos do Exército só as podem usar em zonas militares e durante exercícios de treinamento.
As disposições contra a posse de armas brancas em lugares públicos também são rigorosas. Isso não significa, obviamente, que todos os atos de violência possam ser evitados. Mas suas consequências são quase sempre menos trágicas.
Quando em discursos e slogans se fala das conquistas da Revolução (a própria construção se tornou um lema: “As conquistas da Revolução”), faz-se referência, sobretudo, à educação e à saúde gratuitas e universais. Mas não se fala tanto na tranquilidade cidadã.
A Revolução de 1959 exterminou as organizações do crime organizado, extirpando o mal pela raiz. Havana era um dos centros internacionais da máfia: poderosos chefões passavam suas férias tranquilamente nos hotéis da capital.
O governo revolucionário, num processo paulatino, foi limitando a aquisição de armas de fogo a tal ponto que a única armaria pública que ainda resta na cidade agora é um museu.
Alguns alegarão que a proibição é um atentado contra os direitos dos cidadãos, mas o certo é que isso tem sido a garantia do sossego. O porte de armas de fogo por um adolescente na escola (dolorosa realidade em outros países) é algo que em Cuba não pode sequer ser concebido.
A maioria dos cubanos tem sido testemunha de tiroteios apenas na televisão, no cinema e durante treinos militares.
Não estamos imunes a roubos, agressões mais ou menos violentas, vigarices… E é possível que esses delitos sejam mais frequentes do que se imagina (pelo menos essa é a percepção popular, dada a reticência da mídia em divulgá-los); mas poucas famílias tiveram de chorar a perda de um de seus integrantes durante assaltos a mão a armada.
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31 de janeiro de 2016 às 11:01
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