Dilma precisa ler a Carta de Intenções que Aécio assinou em Londres em 2004

Aecio_BushPai01Em 2004, durante encontro com a elite financeira internacional em Londres, o ex-presidente dos EUA, George Bush, afirmou: “Este será o próximo presidente do Brasil”, referindo-se a Aécio.

Marco Aurélio Carone, via Viomundo em 21/4/2015

“A história acontece primeiro como tragédia, depois se repete como farsa.”

A frase acima é de Karl Marx na sua obra O 18 Brumário de Luís Bonaparte. Referia-se à sucessão de dois Bonaparte à frente de governos de exceção na França. O primeiro, Napoleão, foi uma tragédia. O segundo, Luís, uma farsa.

O momento em que vivemos no Brasil nos obriga a refletir sobre o passado em busca de respostas para entender o presente. É preciso remontar ao início do século 20. Nessa época, reinava absoluta a política “café com leite”, que vinha desde o governo Campos Sales (1898-1902), seguido por Rodrigues Alves (1902-1906) e Afonso Pena (1906-1909). Café com leite significava a alternância na Presidência da República entre os políticos de São Paulo e de Minas Gerais.

A primeira quebra deste acordo ocorreu no quatriênio presidido pelo marechal Hermes da Fonseca (1910-1914), embora alguns historiadores afirmem o contrário. O movimento denominado Civilista decidiu defender a candidatura de um civil em oposição à de um militar, o Marechal Hermes da Fonseca, candidato apoiado pelo então presidente da República.

O intelectual Rui Barbosa foi o escolhido pelos civilistas para disputar o cargo. Ele percorreu o Brasil, realizando discursos e comícios, em busca de apoio popular, fato até então inédito na vida republicana brasileira. Foi a primeira campanha presidencial moderna realizada no país. Mesmo assim, Hermes da Fonseca foi eleito presidente.

O período de 1918-1922 seria do paulista Rodrigues Alves, mas, devido a sua morte, foi ocupado, excepcionalmente, pelo paraibano Epitácio Pessoa. A política “café com leite” gerava, claro, descontentamento entre as oligarquias dos demais estados, provocando eventos como a chamada Reação Republicana, surgida em 1922, quando da sucessão de Epitácio Pessoa.

A Reação Republicana era formada pelos estados de Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Ela ocorreu em resposta ao veto feito pelo governador Borges de Medeiros, do Rio Grande do Sul, à candidatura de Artur Bernardes.

Para o dirigente gaúcho, a candidatura de Bernardes, significava a garantia da valorização do café, “quando a nação carecia de equilibrar todo o seu sistema financeiro”. Atentem ao o que as oligarquias já alegavam em 1922.

A Reação Republicana apresentou como candidatos a presidente e a vice-presidente da República, respectivamente, Nilo Peçanha, do estado do Rio de Janeiro, e J.J. Seabra, da Bahia.

A insatisfação referida por Borges de Medeiros fez brotar entre setores outros da sociedade, principalmente nos mais jovens, a convicção da necessidade imperiosa de total e completa reformulação na conduta política, fazendo-a condizente com os processos de governo efetivamente democrático.

Como acontece agora, a crise financeira mundial de 1929 atingiu em cheio a economia do Brasil, muito dependente das exportações de um produto, o café. Mais do que gerar dificuldades econômicas, o crash, que completa 86 anos, provocou uma mudança no foco de poder no país, acabando com a política “café com leite”. Um pacto político interno que já durava mais de 30 anos.

A crise arruinou a oligarquia cafeeira, que já sofria pressões e contestações dos diferentes grupos urbanos e das oligarquias dissidentes de outros Estados, que almejavam o controle político do Brasil.

Aproveitando a crise internacional que fragilizara a economia do País e diante do rompimento pelos paulistas da tradicional política “café com leite”, os políticos mineiros resolveram reativar a Reação Republicana e o foco do poder no país foi deslocado para o gaúcho Getulio Vargas, que se tornou presidente da República após o golpe de 1930.

Do ponto de vista político e das elites, a crise foi importante porque desviou o foco do poder para Getulio Vargas e para um projeto de industrialização.

O golpe de Estado, denominado pelos historiadores de Revolução de 1930, e o papel desempenhado por políticos de então inspiram os que hoje tentam derrubar a presidenta Dilma Rousseff.

Naquela época, os perdedores da eleição presidencial arguiram ilegitimidade do pleito, embora fossem os autores da legislação e regras eleitorais. E, aproveitando-se da crise econômica e das divergências políticas regionais, derrubaram o presidente eleito.

Esse movimento levou o País a uma ditadura selvagem de 15 anos. Os motivos alegados para o golpe era o de estabelecer uma nova ordem constitucional. Porém, ocorreu o contrário. Vieram a dissolução do Congresso Nacional e a intervenção federal nos governos estaduais, dando início à denominada “Era Vargas”.

A deposição de Getulio Vargas e o término do “Estado Novo” só ocorreram em 1945, com a posterior redemocratização do país e adoção de uma nova Constituição em 1946, marcando em definitivo o fim da “Era Vargas”. Teve início, então, o período conhecido como “Quarta República Brasileira”.

Saltando para os dias atuais. É inegável a existência de uma crise de representatividade. Ela demonstra que o modelo de Democracia Representativa esgotou-se e deve ser aprimorado com a introdução gradual da Democracia Participativa, modelo que as atuais lideranças políticas fogem como o diabo foge da cruz.

Uma das razões pelas quais a presidenta Dilma está sendo ferozmente combatida é justamente porque deu início a essas mudanças, propondo a adoção do Plebiscito e Referendo, institutos da Democracia Participativa.

As eleições de Eduardo Cunha, para a presidência da Câmara dos Deputados, e a de Renan Calheiros, para comandar o Senado, demonstram claramente o medo dos parlamentares dessa transformação.

É inegável que a crise de representação não está no Executivo, e sim no Legislativo, embora a mídia insista em afirmar o contrário. Todas as medidas encaminhadas pela presidente Dilma ao Congresso têm sido rejeitadas, numa clara atitude de quanto pior melhor.

Aproveitando-se do receio de seus colegas congressistas, o senador Aécio Neves (PSDB/MG) busca a repetição do golpe de 1930. Ele tenta se colocar como principal ator, representando o empoeirado roteiro.

Só que existe um detalhe. Aécio não tem liderança nem o necessário conhecimento e vivência política para exercer tal posição por ser fruto de milionárias campanhas publicitárias.

Sua liderança existe apenas nos noticiários de jornais, rádios e tevê, pois não tem sequer território político. Ele só nasceu em Minas. Foi criado no Rio de Janeiro. E mesmo como governador, ele morou na cidade do Rio de Janeiro.

Aécio conhece o Estado de Minas Gerais apenas por cima, quando de avião dirige-se a Brasília. Procedimento idêntico tomou toda sua equipe de governo e família, após as eleições de 2014.

Aécio tornou-se um bufão, adotando técnicas semelhantes às do excelente apresentador Sílvio Santos no quadro: “Quem quer dinheiro”. Evidente que seu auditório composto pela grande imprensa o aplaude na espera dos “aviõezinhos”.

A sua atitude pode parecer inocente, mas infelizmente não é. O bufão não sabe o que está fazendo, mas seus patrocinadores sabem. Eles querem conseguir audiência e apoio popular para atingir seus interesses nas águas turvas.

O senador precisa saber que perdeu a última eleição para ele mesmo, foi derrotado no Estado que ditatorialmente governou.

Quem conhece a política mineira sabe que a origem de Aécio está intimamente ligada à defesa e à representação do capital financeiro internacional.

Isso desde os anos 30, quando seu avô Tancredo Neves era extremamente próximo ao norte-americano Percival Farquhar, que ocupou a presidência da Itabira Iron Ore Company. Na época, era dono do que hoje é conhecido como Companhia Vale do Rio Doce.

Com a saída de cena de Farquhar – devido à nacionalização do setor de mineração para cumprir um acordo de fornecimento de minério aos EUA durante a Segunda Guerra e à fundação em junho de 1942 da Vale do Rio Doce – os interesses multinacionais até então representados no País por Percival foram transferidos para Moreira Salles, banqueiro igualmente próximo de Tancredo.

Posteriormente, no governo de Juscelino Kubitschek, de 1956 a 1958, Tancredo ocupou a Carteira de Redescontos do Banco do Brasil, implantando os alicerces do Banco Central. Uma antiga exigência do capital internacional, que lhe foi demandada quando era ministro da Justiça no governo de Getulio Vargas (de 26 de junho de 1953 a 24 de agosto de 1954, quando o presidente se suicidou).

A presidenta Dilma ocupa legitimamente a Presidência da República, pois foi eleita pelo voto popular para o mais alto cargo político do País.

Só que, no meu entender, ela necessita identificar com quem e a serviço de quais interesses a classe política nacional articula.

A presidenta precisa entender – e só ela, pois grande parte dos integrantes do seu governo oriundos de outras siglas partidárias já entende – que lidar com o mundo político é o mesmo que participar de um baile de máscaras, onde a fisionomia não identifica quem a usa. Muito menos sua “alma”.

Infelizmente, para a esquerda e felizmente para a direita, os primeiros sempre imaginam ser capazes de cooptar os segundos, enquanto os segundos só lidam com os primeiros já cooptados.

Nesse contexto, gostaria de dar uma sugestão: Presidenta Dilma, solicite ao Itamaraty informações sobre a existência de uma autorização legislativa ou dispositivo constitucional para que o então governador de Minas Gerais, Aécio Neves, celebrasse uma “Carta de Intenções”, durante encontro com a elite financeira internacional na Spencer House, em Londres. A carta foi assinada em 16 de maio de 2004.

Na ocasião, portanto dez anos atrás, George Bush, ex-presidente do EUA, afirmou: “Este será o próximo presidente do Brasil”, referindo-se a Aécio.

Seria igualmente importante que o Senado solicitasse cópia dessa mesma carta, pois um de seus membros, na condição de governador do Estado, talvez tenha cometido um crime de lesa-pátria.

Crime de lesa-pátria é qualquer aliança política, traiçoeira, que cause prejuízos ao País, acabando com a Democracia, Soberania e Liberdade de seu povo. Assim como, desviando fraudulentamente recursos dos cofres públicos, impondo regime autoritário fundamentado na esquerda ou direita, radical ou não, aparelhando o Estado e subjugando e enganando o povo em busca de poder.

Nos anos 30, o ocorrido foi uma tragédia. Sua repetição agora será uma farsa.

Marco Aurélio Carone é ex-presidente do Jornal de Minas e do Diário de Minas. É o responsável pelo site mineiro Novojornal, retirado duas vezes do ar por decisão judicial. Preso sem qualquer condenação por dez meses em penitenciária de segurança máxima sob a alegação de garantia da ordem pública. Só que, verdade, a prisão foi para evitar que suas matérias interferissem nas eleições presidenciais de 2014.

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Uma resposta to “Dilma precisa ler a Carta de Intenções que Aécio assinou em Londres em 2004”

  1. pintobasto Says:

    A carta de intenções que Aécio assinou em Londres nunca foi mencionada por Dilma durante sua campanha eleitoral e deveria ter sido muito explorada para mostrar o estilo do vendilhão que continua esperneando por aí, arranjando mais sarna para se coçar.

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