Fernando Brito, via Tijolaço em 17/6/2015
O Brasil é um país curioso, porque o passado é lembrado ou esquecido seletivamente.
Por exemplo: quando Severino Cavalcanti elegeu Augusto Nardes – deputado pela Arena e suas sucessivas reencarnações – para uma vaga destinada à Câmara no Tribunal de Contas, o então presidente do órgão, Adylson Motta, escreveu ao presidente Lula pedindo que não sancionasse a nomeação devido “à inobservância do requisito constitucional da reputação ilibada e idoneidade moral”.
Nardes era processado – respondia ao Inquérito 1.827-9 – por crime eleitoral, peculato e concussão, doação de campanha eleitoral, segundo a publicação “No banco dos réus”, do site Congresso em Foco, pelos quais alguma alma caridosa lhe fez um “desconto” para pagar R$1 mil e fazer palestras em escolas públicas, o que, segundo a “prestigiosa” revista Veja, que publico acima, foi uma “malandragem”. Lula o nomeou, porque a vaga pertencia à Câmara e a Câmara o escolheu.
Curioso é que, nove anos depois, Nardes pegou emprestado os argumentos que usaram contra ele e, já na Presidência do TCU, ameaçou vetar a posse do senador Gim Argelo por falta de “reputação ilibada e idoneidade moral”. De novo, minha fonte é a revista Veja, onde, aliás, o moralíssimo Ricardo Setti o saudou entusiasticamente dizendo que, ainda bem, existem homens como Nardes, “com vergonha na cara”.
Agora, Nardes – redimido pela mídia – assume uma postura agressiva como jamais se viu no TCU, sob completa cumplicidade dos veículos de comunicação, sem que um único deles aponte e recorde quem é este senhor.
A Folha chega a dizer que os “Ministros temem desmoralização do TCU ao julgar contas de Dilma”. Ora, quem teme desmoralização tem um presidente da corte que foi acusado de crime eleitoral, peculato e concussão, doação de campanha eleitoral e se acertou com uma multa e algumas palestras como pena alternativa?
O Brasil virou o país onde o cinismo é virtude, a hipocrisia é a verdade e a imprensa transforma em vestais as figuras mais sombrias, desde que isso ajude a derrubar o governo que – absurdo! – foi eleito pelo voto popular.
Se para isso precisam esquecer – como disse FHC – que escreveram, pouco se lhes dá. Afinal, nessa história de ausência de reputação ilibada e idoneidade moral a mídia brasileira não é melhor que os personagens desta história.
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20 de junho de 2015 às 9:31
Na questão da moralidade, não há exceção.
Ou se é moral ou não se é moral.
E imprensa subjetiva não é imprensa.
O jornalismo é para noticiar objetivamente os fatos, sem tomar partido.
Mas no Brasil, nem sempre é assim.
Sobretudo quanto a certos veículos de comunicação, os quais o bom leitor bem sabe distinguir.