A quem interessa desmoralizar o SUS? E quem ganha dinheiro com isso, e muito?

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Fernando Brito, via Tijolaço em 2/6/2015

Ontem [1º/6], o advogado gaúcho Marcelo Santos, no Facebook, fez um post emocionado sobre seu pai:

Esse remédio abaixo [Valcyte – cloridrato de valganciclovir] é comercializado pela bagatela de R$12.000,00 (doze mil reais), são 60 comprimidos, que custam R$200,00 cada um.

Meu pai precisou tomar esse medicamento porque adquiriu uma bactéria e teve que tomar um comprimido por dia, por 14 dias. Hoje estamos devolvendo o medicamento que poderá servir a outro paciente.

Sabem quanto ele gastou? NADA.

Ele fez todo seu tratamento gratuito: 4 anos em hemodiálise (cerca de R$6 mil por mês, que em quatro anos totaliza aproximadamente R$280.000,00 (duzentos e oitenta mil reais), um transplante de rim onde teve de ficar uma semana na UTI e 22 dias internado e agora revisões semanais em que ele faz exames toda semana na parte da manhã e ficam prontos a tarde para consulta, repito, toda semana.

Ele não teve custo algum. Sabem por quê?

Porque ele tem o melhor plano de saúde do mundo, o SUS, o Sistema Único de Saúde.

O SUS tem de melhorar, sim! Mas o SUS salva muitas vidas.

Sobre o post, o comentário do professor Nilson Lage, precioso como sempre, dar o testemunho, sem hipocrisias, de um professor de universidades públicas, aposentado, que, aos 79 anos e do reconhecimento de milhares de seus ex-alunos, não tem razão ou interesses em fazer propaganda ou falar aquilo que é o coro geral. A propósito, Lage era estudante de medicina, quando abraçou, para não largar nunca, o jornalismo, nos anos 50.

Recebo vacinas todo ano e tomo diariamente dois medicamentos fornecidos pelo SUS. Já fui atendido quatro ou cinco vezes em unidades de pronto atendimento da rede oficial – sempre de forma correta.

Tenho plano de saúde, mas pago consultas médicas, exceto nas especialidades em que as clínicas faturam adicionalmente com exames (oftalmológicas, por exemplo). A única vez que procurei atendimento de emergência pelo plano, o nível técnico foi inferior ao aceitável – e bem abaixo do oferecido na UPA.

Sei que a garantia de internação vale para doenças comuns, em prazo limitado; para coisas mais sérias, remédios caros, cirurgias complexas, males duráveis, só mesmo o SUS.

Mantenho o plano de saúde porque temo as limitações, flutuações e desvios da política instável do Brasil – que prejudicam e protelam principalmente atendimentos eletivos – e conheço os mecanismos de sabotagem desenvolvidos pelos que enriquecem com a doença dos outros.

Creio que os médicos deveriam lutar por salários decentes no setor público, em lugar de se submeter à exploração nessas clínicas privadas ou tentar enriquecer à custa da ética profissional e dos compromissos humanos de seu ofício. Renda razoável, renúncia aos desvarios do consumo, emprego estável, oportunidade de aprimoramento em uma carreira – sem os exageros da “carreira de estado” – permitem vida decente e gratificante.

Eu sei porque tive uma.

Precisamos de um bom sistema de saúde pública. Ninguém nega as deficiências do SUS e a tranquilidade de um seguro-saúde, quando se pode ter um.

Mas só o teremos quando valorizarmos o que temos de bom e ajudarmos a ser melhor, entendendo que a desmoralização do sistema público de saúde rende, aos planos privados, cerca de R$90 bilhões no Brasil, mais dinheiro do que o próprio Estado, e este dinheiro, em boa parte, também sai dos cofres públicos, via isenção de impostos)

Agora que descobri a diabetes, descobri também que diferença faz o remédio ser grátis e darem-se, também (juro que não tinha a menor ideia disso) os aparelhos, agulhas e fitas reagentes para medição caseira da glicose). São coisas caras (especialmente as fitas, que custam de R$2,00 a R$3,00, cada) que às vezes têm de ser usadas mais de uma vez por dia.

Mas, talvez, o medicamento que mais esteja em falta no Brasil seja a humanidade e o amor ao ser humano.

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