
Então ministro do STF, Joaquim Barbosa, ao lado do prisioneiro José Maria Marin, segurou processo contra ex-presidente da CBF, em 2005. Momento seria oportuno para explicar os reais motivos da “suspeição”.
Helena Sthephanowitz, via RBA em 2/6/2015
Em 2005, o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol Ricardo Teixeira entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF), o Agravo de Instrumento (AI) 566892, em que tentava um recurso contra “quebra de sigilo bancário em investigação” e “trancamento de Ação Penal” que corria contra ele no Tribunal Regional Federal da 2ª Região (Rio de Janeiro), movida pelo Ministério Público Federal.
Em 1º de agosto daquele ano, o processo foi distribuído para o então ministro Joaquim Barbosa relatar. Barbosa deu andamento, entregando o processo para vistas ao procurador-geral da República (PGR), que o devolveu quatro meses depois, em 2 de dezembro. Seguiu-se o recesso do Judiciário e, em meados de fevereiro, Teixeira juntou uma petição.
Porém, em 9 de março de 2006, Joaquim Barbosa declarou-se suspeito e pediu à então presidenta do STF, Ellen Gracie, para redistribuir para outro relator. Isso depois de conduzir a relatoria por sete meses sem se ver em suspeição.
O juiz pode ser declarado suspeito nos casos mencionados no artigo 135 do Código de Processo Civil:
1) amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer das partes;
2) alguma das partes for credora ou devedora do juiz, de seu cônjuge ou de parentes destes, em linha reta ou na colateral até o terceiro grau;
3) herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de alguma das partes;
4) receber dádivas antes ou depois de iniciado o processo; aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa, ou subministrar meios para atender às despesas do litígio;
5) interessado no julgamento da causa em favor de uma das partes.
Parágrafo único. Poderá ainda o juiz declarar-se suspeito por motivo íntimo.

Entre processo chegar a Barbosa e este declarar-se “suspeito”, passaram-se mais sete meses de impunidades.
O Agravo de Instrumento de Ricardo Teixeira foi redistribuído para o ex-ministro Cezar Peluso que, 15 meses depois, decidiu contra o recurso. O julgamento pela 2ª Turma, por unanimidade, seguiu o relator.
Mas esta derrota pontual de Teixeira no STF não trouxe, até hoje, nenhum efeito prático contra ele. Teixeira conseguiu trancar ou arquivar em outros tribunais a maioria dos processos e investigações que o Ministério Público Federal abriu contra ele desde 2002, após a CPI do Futebol realizada em 2001.
No momento em que o escândalo de corrupção na CBF e na Fifa ganha as manchetes mundiais e toda a nação pergunta perplexa por que os cartolas brasileiros se safam na Justiça daqui há tantos anos e só vieram a ser pegos pelo FBI estadunidense, Joaquim Barbosa deveria explicar quais foram os motivos que o levaram a se sentir impedido de relatar o processo em relação a Ricardo Teixeira.
Uma proximidade com a cartolagem pôde ser notada na abertura da Copa do Mundo de 2014 na Arena Corinthians. Então presidente do STF, Joaquim Barbosa fez questão de assistir ao jogo ao lado do então presidente da CBF, José Maria Marin, hoje preso na Suíça e aguardando processo de deportação para os Estados Unidos, acusado de receber propinas de empresas de marketing em cima de contratos tais como da venda de direitos de transmissão para tevês.
Barbosa prestigiar Marin nesta época foi providencial para o cartola de CBF, de quem Dilma Rousseff guardava distância, mantendo-o longe de seu camarote neste jogo. Só o presidente da Fifa, Joseph Blatter, pôde ficar ao lado da presidenta. As desavenças de Dilma com Marin não eram só pelo passado de agente político da ditadura, mas também pela própria resistência da CBF contra mudanças moralizadoras nas estruturas do futebol brasileiro. Tanto é que a presidenta recebeu na época uma comitiva de jogadores do movimento Bom Senso Futebol Clube, que se opunham à corrupção e à má gestão dos cartolas no futebol.
As propostas do Bom Senso FC foram acatadas pela presidenta Dilma e deram origem à Medida Provisória do Futebol (MP 671/15) encaminhada ao Congresso. A CBF faz pressão sobre os parlamentares da “bancada da bola” para modificar a MP de acordo com os interesses da cartolagem atual, interesses estes que só tem sido bom para o bolso dos cartolas, dos donos de tevês e outros empresários agora encalacrados com o FBI, mas péssimo para o futebol brasileiro, levando-o ao fundo do poço, simbolizado na derrota por 7 a 1, em casa, diante da seleção da Alemanha.
A luta agora é para preservar as mudanças positivas da MP que está em tramitação. Coisa nada fácil com a atual composição do Congresso Nacional.
Leia também:
● Luciano Martins Costa: Futebol e o ninho de ratazanas
● Acordo com ditadura possibilitou eleição de Havelange à Fifa
● A Receita Federal tem medo de falar na Globo?
● Ricardo Teixeira é o homem-bomba que a Globo não quer ver denunciado
● A CBF e a cara do Brasil
● Paulo Moreira Leite: A síndrome de Pelé
● Fifa: Saiba por que o silêncio de Ronaldo e Pelé está ligado a J.Hawilla e aos EUA
● Como os editores escolhem a capa da Veja
● Por uma lei que obrigue os candidatos a usarem a logomarca de seus patrocinadores
● Globo silencia sobre a corrupção em seu quintal
● De dono do futebol brasileiro a delator: A ascensão e queda de J.Hawilla
● Por que a Polícia Federal se sentou em cima das fraudes da CBF nestes anos todos?
● Corrupção na Fifa: Quais são os negócios do réu confesso com a Globo
● Como o homem que tentou eleger Marina Silva virou escudo de Del Nero na CBF
● Especialista de Harvard alerta sobre interesses dos EUA em crise na Fifa
● Leão vai pra cima dos sonegadores do futebol
● Fifa: Globo esconde que J.Hawilla é sócio de filho de João Roberto Marinho
● Golpe imperialista: EUA pedem cancelamento da Copa na Rússia e o afastamento de Blatter
● Será que tem alguém que ainda quer alguma coisa padrão Fifa?
● Prender Dirceu e Genoíno é fácil. Difícil, no Brasil, é prender Marin
● O escândalo da Fifa “é só o começo”, diz polícia norte-americana
● Recordar é viver: Marin e Aécio Neves, uma tabelinha impagável
● Vídeo: A prisão de José Maria Marin e a compra de resultados no futebol
● Recordar é viver: Dilma quer Marin fora da CBF
● O jornalista que expôs a corrupção da CBF
● Jornalista que investigou Ricardo Teixeira é condenado sem conhecer acusação
● É intolerável ver Marin na abertura da Copa 2014, diz filho de Herzog
● Futebol e ditadura: Filho de Vladimir Herzog cria petição online para tirar Marin da CBF
● Após denúncias, Marin, presidente da CBF, garante R$100 mil por mês a Teixeira
● Comissão da Verdade pode citar José Maria Marin pela morte de Herzog
● José Maria Marin foi o responsável pela prisão de Herzog
● CBF: Alguém explique pra Globo a diferença entre comissão e propina
● CBF: A Globo está envolvida no suborno de Havelange e Ricardo Teixeira
● Tremei TV Globo: João Havelange e Ricardo Teixeira recebiam propina
● Depois das denúncias vindas da Suíça, a Globo vai blindar Havelange e Teixeira?
● Globo não revela seus codinomes no relatório da propina a Ricardo Teixeira
● Allianz Parque: O dia em que a Globo e a CBF censuraram um estádio
● O caso de sonegação da Globo e o escândalo HSBC
● PF confirma abertura de inquérito contra sonegação da Globo
● Rede Globo sonega milhões de reais em impostos
● A Globo e a ditadura militar, segundo Walter Clark
● Estarrecedor: Por sonegação, Receita Federal notificou a Globo 776 vezes em dois anos
● Rede Globo tem os bens bloqueados pela Justiça
● Ex-funcionária da Receita que sumiu com processos contra TV Globo é condenada à prisão
● Leandro Fortes: O povo não é bobo
● Série do DCM sobre a sonegação da Globo, 1ª parte: “Injusto é pagar imposto no Brasil.”
● Série do DCM sobre a sonegação da Globo, 2ª parte: Como o processo sumiu da Receita e sobreviveu no submundo do crime
● Série do DCM sobre a sonegação da Globo, 3ª parte: A história da funcionária da Receita que sumiu com o processo
● Vídeo: O documentário sobre o escândalo de sonegação da Globo
● Vazou tudo: Sonegação da Rede Globo está na web
● A sonegação da Globo, o Ministério Público e a PEC 37
● Saiba como funcionava a empresa de fachada das Organizações Globo nas Ilhas Virgens
8 de junho de 2015 às 1:17
Onde andas o JB?
6 de junho de 2015 às 21:47
corrija a legenda da foto:” Então ministro do STF, Joaquim Barbosa, ao lado do prisioneiro José Maria Marin, segurou processo contra ex-presidente da CBF, em 2005. Momento seria oportuno para explicar os reais motivos da “suspeição”. para, Então ministro do STF, Joaquim Barbosa, ao lado do presidiário José Maria Marin, segurou processo contra ex-presidente da CBF, em 2005. Momento seria oportuno para explicar os reais motivos da “suspeição”.
Prisioneiro é utilizado para soldados presos em tempo de guerra.
6 de junho de 2015 às 11:44
Quando pôde, nada fez. Pior, declarou-se impossibilitado (por ser suspeito tendo envolvimento com o acusado)!
Eita, JB!