Fábio Lau e Rogério Imbuzeiro, via Conexão Jornalismo em 27/5/2015
Sobre José Maria Marin pairavam denúncias graves. Algumas até bizarras. Mas sua prisão só ocorreu no exterior. E ele foi preso com outras seis pessoas sobre quem pairam suspeitas de envolvimento na compra e manipulação de resultados de futebol. Segundo o chefe do FBI, James Comey, que deu entrevista coletiva, Marin integraria um grupo que comercializa sedes de países que querem sediar a Copa do Mundo e tevês que compram o direito de transmissão. Tudo envolveria o pagamento de propina.
O tema no Brasil não soa completamente novo. O ex-presidente da Fifa, João Havelange, e seu ex-genro, Ricardo Teixeira, foram acusados de receber propina e obrigados a renunciar à sua cadeira na instituição e também no COI para escaparem da investigação. Marin, ao assumir a presidência da CBF, era uma pessoa sobre quem recaíam denúncias graves. Participação ativa durante a ditadura militar na delação de opositores do governo. Roubo de uma medalha esportiva e até de energia elétrica. Mesmo assim foi visto com credenciais para estar à frente da CBF durante a Copa do Mundo no Brasil.
Além das Copas de 2018, na Rússia, e de 2022, no Qatar, há suspeitas também de que tenha havido corrupção na escolha da África do Sul como sede da Copa de 2010. Não se falou nada sobre a escolha do Brasil em 2014.
Além de Marin, também foram detidos Jeffrey Webb (Ilhas Cayman), presidente da Concacaf; Eugenio Figueredo (Uruguai), que também integra o comitê da vice-presidência executiva e até recentemente era presidente da Conmebol; Julio Rocha (Nicarágua), presidente da Federação Nicaraguense; Costas Takkas, braço-direito do presidente da Concacaf; Rafael Esquivel, presidente da federação da Venezuela e membro do Comitê Executivo da Conmebol; e Eduardo Li, presidente da Federação da Costa Rica.
Compra de resultados
O que há de mais explorado no mundo do futebol e as falcatruas que o cercam é a compra de resultados de jogos. Até mesmo atletas que jogavam na seleção italiana já foram acusados. E não é de hoje.
No Brasil, onde o ambiente é sabidamente propício à corrupção, apenas um caso mereceu maior destaque. O que denunciava como único envolvido no esquema o árbitro de futebol Edilson Pereira de Carvalho, no campeonato brasileiro de 2005. Na ocasião, quando um mafioso da bola passou a trabalhar com o Corinthians, e altos investimentos foram feitos, o juiz revelou o pagamento de propina para favorecer alguns times e, ao obrigarem a realização de novas partidas, o Corinthians acabou se favorecendo. O estranho é que pouca gente estranhou aquela operação com fantasia de futebol. Teria sido ingenuidade?
Assista ao vídeo: O roubo da medalha por Marin
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Da esquerda para a direita, começando pela linha superior: Rafael Esquivel, Nicolas Leoz, Jeffrey Webb, Jack Warner, Eduardo Li, Eugenio Figueredo e José Maria Marin.
Sete tópicos para você entender o que está acontecendo na Fifa
O futebol mundial amanheceu na quarta-feira, dia 27/5, em meio a uma grande polêmica envolvendo dirigentes do alto escalação do esporte. Em Zurique, na Suíça, onde a Fifa se prepara para eleição presidencial da entidade, uma operação policial que teve base em investigações do FBI prendeu sete cartolas, incluindo José Maria Marin, ex-presidente da CBF. Confira os principais fatos e o desdobramento das prisões dos dirigentes na Suíça.
1 – FBI prende Marin e mais seis dirigentes: Uma operação liderada pela polícia norte-americana prendeu logo no começo desta quarta sete dirigentes do alto escalão do futebol mundial, entre eles José Maria Marin, ex-presidente da CBF, em Zurique, na Suíça.
2 – Blatter é inocente, diz Fifa: Fifa, pela manhã ainda, diz que os dirigentes presos são da Concacaf e Conmebol e isenta o presidente da entidade que concorre à reeleição, Joseph Blatter.
3 – Fifa bane os presos da entidade: Quase noite na Suíça e a Fifa envia um comunicado avisando que o ex-presidente da CBF e outros dez acusados de corrupção pelo FBI não fazem mais parte da entidade.
4 – As autoridades norte-americanas dão cartão vermelho para Fifa: A procuradora-geral dos EUA, Loretta Lynch, e outras autoridades norte-americanas dão uma coletiva de imprensa para explicar mais do caso. Entre outras denúncias, acusam a Copa de 2010 de ter tido votos comprados e dizem que ainda não foi encontra nada ilícito sobre a Copa de 2014, mas que as investigações continuarão.
5 – Quanto vale a propina no total?: A investigação aponta possível suborno de US$150 milhões em questões referentes à transmissão de jogos e direitos de marketing do futebol na América do Sul e Estados Unidos.
6 – Nike, CBF e os R$47 milhões: Os documentos da investigação de órgãos dos EUA sobre contratos da CBF mostram que só o acordo da Nike gerou R$47 milhões em propinas para o ex-presidente Ricardo Teixeira.
7 – Marin dividiria mais de R$300 milhões: Marin, ex-presidente da CBF e do Comitê Organizador da Copa de 2014, tinha R$346 milhões [na cotação de quarta-feira, dia 27/5] para dividir em propinas para acordos de direitos de tevê.
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28 de maio de 2015 às 0:17
Republicou isso em O jornaleiroe comentado:
Comenta o jornalista Marcos Simões: “Marin já era um ladrão conhecido, quando assumiu a CBF, passando o bastão para seu cúmplice Del Nero (se investigar direitinho, chega por aqui também). E o Ricardo “sujeira” Teixeira?
No Brasil ladrão de direita assume qualquer cargo, com o endosso da (in)Justiça: os bandidos togados.
Não coloco muita fé no que diz os EUA. Vamos ver.
Para o jornalista Ricardo Antunes: “A diferença é que lá é muito mais rápido. E qualquer roubalheira é de 15 anos pra cima. Aqui, a rapaziada pega 5 ou 6 no máximo. E vai gastar o que sobrou, claro.”
Vinte anos para o direitista Marín, eu acho é pouco.