Para Michael Löwy, ascensão da esquerda latino-americana a não é homogênea, mas é mais positiva do que atual cenário europeu, marcado pelo extrema-direita.
Patrícia Dichtchekenian, via Opera Mundi em 18/5/2015
“Cuba fez uma série de reformas que abrem mais espaço para o mercado. Algumas discutíveis, na minha opinião, e outras inevitáveis. Mas digamos que Cuba mantém, no essencial, um modelo não capitalista”, afirmou o sociólogo marxista Michael Löwy em entrevista a Opera Mundi. Ao repercutir a reaproximação entre Estados Unidos e a ilha liderada pelos irmãos Castro, cujo processo foi deflagrado em dezembro passado, Löwy conclui: “Duvido que Miami vá colonizar Cuba”.
Referência teórica para militantes da América Latina, o intelectual brasileiro radicado na França passou por São Paulo na última semana para promover a reedição do livro “Revolta e melancolia: o romantismo na contracorrente da modernidade” (Ed. Boitempo, R$57,00, 288 páginas), escrito em coautoria com o professor norte-americano Robert Sayre.
Para Löwy, a ascensão da esquerda na maioria dos países latino-americanos foi um dos fenômenos mais positivos da região nos últimos 20 anos, na contracorrente das tendências políticas da Europa, palco de crescimento de grupos de extrema-direita.
Cuba à parte, o sociólogo estima que há dois principais modelos de esquerda no interior do continente latino-americano. O primeiro é o governo caracterizado pelo anti-imperialismo, presente em países como Venezuela, Bolívia e, em parte, o Equador, marcados sobretudo pela rejeição ao liberalismo e ao sistema oligárquico.
Em sua análise, o segundo modelo é o que ele chama de nações social-liberais, como Brasil, Chile e Uruguai. “Esses governos não rompem com o modelo neoliberal, mas têm uma preocupação social de promover políticas democráticas que favorecem setores mais pobres, sem deixar de lado o quadro econômico”, explica.
Apesar de assumir que a esquerda não é homogênea na América Latina, Löwy acredita que, ela se apresenta como uma saída política muito mais favorável em relação a outros continentes.
“Comparada à Europa, a América Latina possui ganhos positivos: aqui você não tem uma extrema-direita potente e racista como a europeia. Claro, você tem um conservadorismo, em ascensão inclusive no Brasil, mas não é do mesmo tipo nazista e fascista”, pondera o sociólogo, que também é diretor emérito do CNRS (Centro National de la Recherche Scientifique).
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