Líder do PMDB na Câmara se diz vítima de grampo forjado, mas já foi processado por usar documentos falsos em defesa contra denúncia de corrupção.
André Barracal, via CartaCapital
O deputado Eduardo Cunha, líder do PMDB, acredita ter tido seu nome envolvido no esquema do doleiro Alberto Youssef graças a uma armação destinada a impedi-lo de conquistar a Presidência da Câmara em fevereiro. Na terça-feira, dia 20/1, ele mandou ao Ministério da Justiça cópia de um áudio a indicar uma tentativa de chantagem contra ele e pediu que se investigue a origem do grampo. A gravação mostra a conversa entre o que parecem ser um assessor de Cunha e um achacador. O parlamentar diz ter recebido o material das mãos de um policial federal junto com a informação de que era uma fraude planejada na cúpula da Polícia Federal para prejudicar o parlamentar.
A boa qualidade do áudio de uma suposta conversa telefônica e a artificialidade do diálogo – o áudio está disponível na internet – levantam a suspeita de que se trata realmente de algo forjado. Mas haveria de fato uma perseguição contra o peemedebista nos altos escalões da PF, para evitar a chegada ao comando da Câmara de um nome indesejado pelo Palácio do Planalto? Ou a explicação seria outra? Quem sabe não teria sido o próprio deputado o responsável pelo áudio, montado com o objetivo de salvar sua candidatura e de tentar safar-se das apurações do esquema de Youssef?
A desconfiança é alimentada pelo currículo do parlamentar. Em 2010, Cunha foi denunciado à Justiça pelo Ministério Público Federal por uso de documentos falsos. O material fajuto foi utilizado em 2002, quando ele se defendia, perante o Tribunal de Contas do Estado (TCE) do Rio de Janeiro, da acusação de ter cometido irregularidades à frente da companhia estadual de habitação, a Cehab. O deputado teria fraudado licitações para favorecer a construtora de um colega de partido (na ocasião, Cunha era do PPB, hoje PP). A acusação provocou a demissão de Cunha da Cehab.
A falsidade dos documentos foi atestada pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli em 2008. O autor da farsa foi o subprocurador de Justiça do Rio no ano 2002, Elio Fischberg. Ele forjou a assinatura de colegas procuradores em alguns documentos e inventou um outro documento, atribuído ao Conselho Superior do Ministério Público. Com base em toda esta papelada, Fischberg emitiu uma certidão posteriormente usada por Cunha para ser inocentado no TCE.
O Ministério Público Federal viu conluio entre Fischberg, Cunha e o advogado deste na época, Jaime Cukier. Os três viraram réus na Justiça. O primeiro foi condenado em agosto de 2012, expulso do MP, multado em R$300 mil e obrigado a prestar serviços comunitários. Cukier foi absolvido por falta de provas.
Como Cunha é deputado, seu processo foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em outubro de 2013, a Corte abriu a Ação Penal 858 contra ele. A Procuradoria Geral da República (PGR) sustentou que Fischberg produziu os papéis falsos a pedido de Cunha, como mostrariam petições assinadas pelo deputado a solicitar a certidão emitida pelo ex-subprocurador.
Para a PGR, não haveria razão para Fischberg ter cometido a fraude por conta própria. “É verdade que não há como formar certeza absoluta de que o acusado entrou em conluio com Elio Fischberg para a produção dos documentos falsos”, diz a PGR na ação. “Mas é ainda mais verdade que, de acordo com as provas dos autos, o grau de probabilidade de ele ter entrado é altíssimo e que qualquer alternativa de configuração dos fatos simplesmente não faz sentido, caindo na chave de uma possibilidade frívola, de uma conjectura fantasiosa.”
Em agosto do ano passado, o STF arquivou o caso, por entender que não havia prova de que o parlamentar soubesse da falsidade dos documentos.
Por causa das investigações do esquema de Youssef, a PGR colocou de novo a mira em Cunha. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o procurador-geral, Rodrigo Janot planeja pedir a abertura de um inquérito contra o deputado assim que o STF voltar do recesso, em fevereiro. O inquérito serviria para aprofundar a apuração de uma informação de que o parlamentar teria recebido dinheiro de Youssef por meio do policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, conhecido como Careca. Seria deste policial a voz chantagista gravada no áudio entregue por Cunha ao Ministério da Justiça.
A pedido do ministério, a PF abriu um inquérito para investigar o grampo. Em nota pública, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal diz repudiar “veementemente a mera suposição” de que “alguém da cúpula da Polícia Federal tenha, a mando do governo, forjado gravação com o objetivo de prejudicar uma das candidaturas à presidência da Câmara dos Deputados”.
Ex-líder do PT na Câmara, o deputado Paulo Teixeira (SP) lançou dúvidas sobre a motivação por trás da iniciativa de Eduardo Cunha. “Sentindo a derrota para a presidência da Câmara, inventa um factoide e atira-se na área para cavar um pênalti. Cartão amarelo!”, escreveu no Twitter na terça-feira, dia 20/1.
Leia também:
● Em 2014, Lauro Jardim, “colonista” da Veja, já achava que Eduardo Cunha era meio esquecido
● Recordar é viver: Furnas pagou R$73 milhões a mais por ações vendidas a empresários ligados a Eduardo Cunha
● Lobista descreveu o caminho do dinheiro até Eduardo Cunha
● Deputado pede afastamento imediato de Cunha: “Não tem condições morais.”
● Sob “barulhaço”, Eduardo Cunha vai a tevê exaltar “independência” e não cita corrupção
● Eduardo Cunha é como cão bravo: Sob pressão, parte para o ataque
● Em defesa do banditismo, da corrupção e da família cristã tradicional
● Chega ao fim a presidência de Eduardo Cunha
● Vídeo mostra como Eduardo Cunha exigiu os US$5 milhões
● Eduardo Cunha e os Três Poderes
● Emenda de Eduardo Cunha livra Soares e Malafaia de dívida milionária
● O que Eduardo Cunha quer com sua proposta de parlamentarismo?
● O Globo começa a “apertar” Cunha. E a lembrá-lo que seu papel é de coadjuvante, não de líder
● Guilherme Boulos: Assim dissolve-se a democracia brasileira
● “Padrão Fifa” elegeu Congresso “padrão Blatter”. Não eram só R$0,20. Era o pré-sal…
● Jornal O Globo acusa Eduardo Cunha de corrupção
● Eduardo Cunha diz que OAB é cartel e não tem credibilidade
● Cada preso é um cliente: O que se esconde por detrás da redução da maioridade penal
● Quando vão bater panelas contra Eduardo Cunha?
● Luciano Martins Costa: O que há por trás desse empenho em aprovar a redução da maioridade penal?
● Gilson Caroni Filho: Além de reduzir a maioridade penal, Cunha reduziu a democracia
● As máquinas de vender intolerância e preconceito
● Maioridade penal: A lista de deputados vira-casacas
● #CunhaGolpista: Em menos de 24 horas, 20 deputados mudam voto e redução da maioridade é aprovada
● Derrota de Eduardo Cunha: Câmara rejeita redução da maioridade penal
● Financiamento público: Deputados são office-boys de empresas na hora de apresentar emenda parlamentar
● Brizola previu: O aparelhamento do estado pelos evangélicos e a ascensão de Cunha
● As falcatruas de Eduardo Cunha na Telerj e na Cehab/RJ
● O Congresso Nacional tem dono. E, definitivamente, não é o povo
● Reforma política do Eduardo Cunha é um deboche com o povo brasileiro
● Eduardo Cunha desengaveta projeto que legaliza o jogo do bicho
● A reforma política de Eduardo Cunha
● A dobradinha Gilmar Mendes-Eduardo Cunha
● Paulo Moreira Leite: A síndrome de Pelé
● Paulo Moreira Leite: Marco Aurélio Mello deu uma aula de Constituição e democracia
● Fifa: Saiba por que o silêncio de Ronaldo e Pelé está ligado a J.Hawilla e aos EUA
● Financiamento privado: Um caso claro de violação da Constituição
● “Assisti, mas deletei”, diz deputado que viu vídeo pornô no plenário da Câmara
● Shopping do Eduardo Cunha: Saiba o nome dos deputados que foram comprados para aprovar financiamento empresarial
● Golpe: Eduardo Cunha consegue a aprovação do financiamento privado
● Financiamento de campanha e distritão: Numa só noite, Eduardo Cunha teve duas derrotas
● A trama de Eduardo Cunha para privatizar o SUS
● Terceirizada, mulher de Eduardo Cunha ganhou ação contra Globo e foi contratada
● Eduardo Cunha, o falsificador
● A ficha de Eduardo Cunha, o homem que falta para “moralizar a política”
● Cavalo não desce escada: PMDB não sai do governo
● A rica biografia de Eduardo Cunha, o herói da oposição
● Eduardo Cunha, o sabotador da República
● Na lata do lixo da História, há um lugar especial para o PMDB atual
● Entenda como funciona a oposição “extraoficial” de Eduardo Cunha
● Presidência da Câmara: As diferenças entre Arlindo Chinaglia e Eduardo Cunha
● Chinaglia avança após novo indício de cumplicidade entre Eduardo Cunha e doleiro
● Cinismo não tem limite: Eduardo Cunha e Antônio Anastasia se queixam de vazamentos sem provas
● Jornal Nacional atua como assessor de imprensa de Eduardo Cunha
● Terceirizada, mulher de Eduardo Cunha ganhou ação contra Globo e foi contratada
● Eduardo Cunha vendeu aos empresários o compromisso de aprovar a terceirização
● Terceirização: Como ficará seu emprego se Eduardo Cunha cumprir a promessa que fez aos empresários
● STF autoriza buscas em gabinete de Eduardo Cunha
● Mesmo envolvido no escândalo da Petrobras, Cunha continuará o queridinho da mídia?
● Depoimento de ex-diretor complica ainda mais a situação de Eduardo Cunha
● Doleiro diz que Eduardo Cunha era “destinatário final” de propina
● Eduardo Cunha e Renan Calheiros são a cara do Brasil
● Eduardo Cunha, o senhor do caos
● R$1 bilhão: Eduardo Cunha consegue a aprovação de shopping para deputados
● Quem se atreverá a dar um “rolezinho” no shopping de Eduardo Cunha?
● A democracia, o financiamento empresarial e a corrupção
● Financiamento público de campanha: #PanelaçoGilmarDevolva
● Operação Lava-Jato confirma que financiamento privado nas eleições faz mal à democracia
● Miguel Rossetto: “Financiamento empresarial corrói a transparência dos partidos.”
● “O financiamento privado de campanha nada mais é que um empréstimo, pago depois com dinheiro público.”
● Gilmar Mendes justifica por que engavetou ação do financiamento de campanha
● O engavetador tucano Gilmar Mendes acusa OAB de ser laranja do PT
1 de fevereiro de 2015 às 2:50
Se esse bandido travestido de deputado federal for eleito pelo colegas para presidir a câmara de deputados, estamos muito pior que pensávamos. Antes haviam 300 picaretas no congresso, mas se Cunha conseguir eleger-se, a picaretagem é geral. Podem fechar o congresso..
29 de janeiro de 2015 às 22:15
Como poderiam nós Brasileiros/as acreditar em pessoa “acusada de falsificação de documentos”? Ainda depositar nele/a a confiança para Presidir uma casa de LEIS?