
Robert Dall, que então trabalhava para a Salomon Brothers, foi o criador das securities nos anos 70.
Conheça a história da invenção dos securities, pacotes de dívidas vendidos como títulos nos mercados internacionais e que levaram à crise de 2008.
Max Seitz, via BBC Mundo
“Há ansiedade no sistema financeiro global”, admite, em seu site, o Fórum Econômico Mundial, que reúne, esta semana, em Davos, Suíça, líderes políticos, econômicos e de negócios de todo o planeta para discutir o estado da economia global.
Sabe-se que: o preço do petróleo despenca, mas o do gás desviou do abismo; que o euro se desvaloriza, mas o dólar se fortalece; que o crescimento estanca em muitos países emergentes como a China, mas não em outros que ainda enfrentam crise financeira, como os Estados Unidos.
Sabe-se, ainda, que a riqueza do mundo aumenta, mas a desigualdade também; que o nível de emprego melhora, mas as condições de trabalho pioram; que o consumo se intensifica, enquanto o endividamento se aprofunda.
Enfim, há aparentemente muitas realidades díspares ao mesmo tempo, e neste panorama é difícil achar um sentido no que ocorre, achar um fio condutor que esclareça tudo.
Por isso, os guias de jornalismo – o da BBC inclusive – recomendam a análise de antecedentes históricos.
Uma das coisas que ajudam muito à compreensão do que ocorre é a História. Sim, a História com H maiúsculo: o estudo dos eventos, seus protagonistas, suas causas e suas consequências a partir de uma perspectiva temporal mais ampla.
Gênese de uma crise
Este é justamente um dos aspectos explorados pelo novo documentário da BBC Os super-ricos e nós. No vídeo, afirma-se que a origem da atual instabilidade econômica, nos mercados e especialmente em nossas vidas, remonta à invenção, em 1977, de um instrumento financeiro poderoso que acabou usado de forma inescrupulosa, a “securitização”. O criador, Robert Dall, então um operador em Wall Street, é hoje um idoso frágil e com alguns arrependimentos.
Em uma breve definição, a “securitização” consiste em formar pacotes com dívidas contraídas pelas pessoas – sejam hipotecas, créditos para comprar um carro ou mesmo a fatura do cartão de crédito – para vendê-las a investidores do mercado internacional em forma de títulos conhecidos como securities.
Em outras palavras, empacotam-se os riscos – que são atrativos, porque o endividamento pressupõe pagamentos mensais, regulares – para convertê-los em ativo financeiro que paga boas taxas de juros.
“A ideia tinha potencial, mas nunca havia imaginado que se propagaria tão rápido”, confessa Dall à BBC.
Este esquema fez com que, nos anos 80 e 90, um grupo de financistas ficasse rico, com salários e bônus descomunais.
“Em pouco tempo, havia gente que se aproximava de mim em restaurantes e me dizia coisas como ‘Muito obrigado pela ideia’”, recorda Dall.
Créditos de má qualidade
No entanto, o conceito começou a se degenerar no início da década de 2000, quando foram misturados em um mesmo pacote empréstimos cobráveis e outros incobráveis.
Foi precisamente isso que levou à crise dos subprimes (créditos de “segunda oportunidade”) nos Estados Unidos.
Os pacotes acabaram contendo elementos tóxicos demais: hipotecas concedidas de forma irresponsável, sem muito controle, a pessoas que poderiam ter dificuldade de manter o pagamento em dia.
A bolha dos empréstimos hipotecários nos EUA explodiu em 2007-2008, quando uma grande quantidade de indivíduos não pode cumprir com suas obrigações, o que desembocou na crise internacional sobre a qual ainda falamos.
“O problema é que as pessoas que tomavam hipotecas ignoravam que estes créditos eram diferentes”, lamenta Dall. “Não se sabia que havia hipotecas que eram reais e outras, falsas”.
Insegurança como modo de vida
Pode-se afirmar que a “securitização” conduziu à “insecuritização” de nossa existência. A revolução financeira iniciada por Dall, pela qual tomar riscos não só era bem visto como também aplicável a nossas dívidas, teve profundas consequências na vida cotidiana de muita gente, afirma-se no documentário Os super-ricos e nós.
O reinado do risco não só contribuiu para aumentar a brecha entre os super-ricos e o resto da humanidade, como – fundamentalmente – injetou uma grande sensação de insegurança, incerteza e precariedade em nossas vidas.
Foi assim que se criou um mundo em permanente desequilíbrio e no qual é difícil sair da crise. Um mundo com um nível de imprevisibilidade econômica que causa grande ansiedade a todos.
Por exemplo, é quase impossível saber o que ocorrerá com nosso emprego, com nosso país e com o mundo em um futuro imediato.
Esse é precisamente o fio condutor do que ocorre hoje: a economia se tornou vacilante, inconsistente, sem rumo claro. No momento, não nos resta outra opção a não ser entendê-la como tal e conviver com ela, conclui o documentário da BBC.
E não podemos repetir a surrada frase de que o resto é história, porque a história da crise segue sendo escrita.
Nem sequer os economistas mais lúcidos vislumbram um fim e isso é algo que “os mantêm acordados à noite”, segundo reconhece o próprio Fórum Econômico Mundial.
27 de janeiro de 2015 às 10:26
Penso que só o criador de algo é capaz de “descriá-lo”. Isto porque somente o criador tem a chave de sua criação. È uma questão lógica, eu penso.
Já que este Senhor está tão velho, está na hora de ele fazer um ato meritório pela humanidade. Destruir o monstro que criou. A grande questão é:que sistema deveria substituí-lo e quem se habilitaria para criá-lo?