Folha, 12/10/2003: São Paulo só atende demanda por água até 2010

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Aos que acham que é culpa de São Pedro. E tem mais: a “mídia isenta” se esqueceu disso?

Mariana Viveiros e Simone Iwasso, via Folha de S.Paulo

A crise de água que a Grande São Paulo vive hoje não é a primeira nem será a última. Por causa de limites naturais na disponibilidade hídrica, da poluição de rios e represas, da ocupação desordenada de mananciais, do descaso no uso e da falta de políticas eficientes para reeducar o consumo e reduzir perdas, a região só tem água garantida até 2010.

Se o quadro atual não mudar, a partir daí, para acompanhar o aumento da demanda, será preciso ir longe, gastar muito, enfrentar disputas com outros estados e causar impactos ambientais.

Com obras e mudanças no processo de produção, até 2006 os mananciais poderão aumentar seu potencial de geração de água em 8.700 l/s, passando de 65 mil para 73,7 mil l/s. O incremento segue o aumento anual médio no consumo até 2010, no máximo.

A cada ano, são necessários mais 2.000 l/s para abastecer a Grande São Paulo – sobretudo por causa da entrada de novos consumidores, com o crescimento populacional na periferia.

Já prevendo escassez, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) cogita quatro alternativas de abastecimento, das quais as mais viáveis são o represamento do rio Capivari-Monos, na área de proteção ambiental municipal de mesmo nome, em Parelheiros (extremo sul da capital), e a captação no rio Juquiá, em Juquitiba (Grande São Paulo).

As outras duas opções são – da mais para a menos exequível – trazer água do conjunto de represas de Paraibuna (a cerca de 120 quilômetros de São Paulo); e reverter o rio São Lourenço (que nasce em São Lourenço da Serra, na Grande São Paulo).

Todas as alternativas têm prós e contras, mas as dificuldades ambientais, econômicas ou institucionais parecem ser maiores que os benefícios de sua exploração. Isso leva ambientalistas e especialistas a afirmar que seria melhor investir na recuperação e conservação dos mananciais existentes e em medidas eficientes para forçar a população a economizar água e a Sabesp a reduzir as perdas na rede. Antônio Marsiglia, diretor de Produção e Tecnologia da empresa concorda, mas não totalmente.

Inevitável
Estimando em cerca de 24 milhões a população da região metropolitana em 2020, Marsiglia entende que é possível retardar ao máximo o uso de novos mananciais, mas que isso seria inevitável.

A Grande São Paulo está na nascente dos rios que formam a bacia do Alto Tietê, por isso a disponibilidade de água per capita é baixa – 200 mil litros por habitante por ano. A ONU recomenda 2 milhões de litros anuais por pessoa.

As obras que aumentarão a produção dos sistemas em funcionamento – investimento que beira os R$600 milhões – já seriam uma forma de adiar o gasto maior e o desgaste por trás dos projetos de médio e longo prazo.

Elas se concentrarão no Alto Tietê, em Guarapiranga e no Rio Grande. Outra alternativa seria aumentar o aproveitamento da represa Billings para o abastecimento. Ela serve 1,3 milhão de moradores, mas tem potencial para atender quatro vezes essa população, segundo estudo feito em 2002 pelo ISA (Instituto Socioambiental).

Mas há dois problemas: ocupações ilegais e o uso para gerar energia. Por isso a Sabesp tem planos de médio e longo prazo.

O rio Capivari-Monos poderia ajudar o abastecimento com mais 4.000 l/s. Para tanto, seria preciso represá-lo – atualmente, a Sabesp capta 1.000 l/s no local. A proposta original da obra teve o estudo de impacto ambiental rejeitado no início dos anos 90 e foi alterada – a área alagada foi reduzida, e o bombeamento, reforçado. Mas não há unanimidade em torno da ideia.

Enquanto especialistas como Ivanildo Hespanhol, titular e chefe do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Poli/USP, não têm restrições, ambientalistas.

Os motivos, além das terras indígenas na região, são a necessidade de desmatar áreas de mata atlântica e seus possíveis impactos, diz Marussia Whately, do ISA.

Já a proposta do Juquiá, que poderia aumentar a produção em 4.700 l/s, é mais bem vista pelos ambientalistas, mas seu custo a deixou na gaveta até agora.

As outras duas opções não são cogitadas num médio prazo. Tirar água de Paraibuna envolveria uma disputa com o Rio de Janeiro e Minas Gerais, além disso, a oferta é limitada. Já o rio São Lourenço tem água de sobra e poderia fornecer até 20 mil litros. Os problemas são ambientais – a região também é de mata atlântica – e econômicos (a obra é caríssima).

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