A justiça poética de ver Eduardo Cunha no pântano da Lava-Jato
Paulo Nogueira, via DCM
Há uma espécie de justiça poética no vendaval que arrastou o deputado Eduardo Cunha para o pântano da Lava-Jato. Pouco antes de ganhar o noticiário, ele se apressara em avisar, pelo Twitter, que era terminantemente contra qualquer espécie de regulação de mídia.
Provavelmente ele imaginara estar ganhando blindagem – e louvação – das grandes empresas de jornalismo ao adotar uma postura tão servil a elas e tão contrária à sociedade.
A reportagem da Folha que o colocou na Lava-Jato deve ter sido, para ele, um choque extraordinário.
Você pode imaginá-lo dizendo: “Ei, amigos, eu estou do lado de vocês!”
Mas onde mais se percebe a justiça poética do caso é na argumentação de Cunha também no Twitter sobre o mérito jornalístico da Folha.
Num português manco de quem ou não sabe escrever ou está terrivelmente ansioso, Cunha produziu, sem querer, uma vigorosa defesa da tese de que as regras e a legislação do jornalismo devem ser revistas.
Ele criticou o fato de a Folha ter dado uma manchete com base numa declaração – sem prova. Alguém vazou para a Folha que um participante da roubalheira – um certo “Careca” – dissera ter entregado a Cunha R$1 milhão desviados da Petrobras.
Jornalisticamente, Cunha tem um ponto.
Num mundo menos imperfeito, a imprensa não publicaria uma acusação daquelas sem provas. Por uma razão básica: pode ser mentira, e você está destruindo uma reputação.
Um editor nos Estados Unidos ou na Inglaterra não publicaria este tipo de coisa, não só por razões jornalísticas – mas porque haveria fatalmente problemas na Justiça, e a perspectiva de indenização pesada caso não fossem apresentadas provas.
Mas no Brasil as coisas são bem diferentes.
A imprensa, certa da impunidade jurídica, se acostumou a publicar acusações pesadíssimas contra aqueles de que não gosta – particularmente, contra os líderes do PT.
O momento supremo disso foi uma capa da Veja que trazia um dossiê – fajuto, se soube logo depois – segundo o qual Lula tinha contas no exterior.
Mesmo admitindo no texto não ter conseguido provar nada, a Veja foi adiante e publicou o dossiê – uma contribuição a mais para criar em seus leitores a imagem de um Lula corrupto e riquíssimo.
A Justiça nunca foi uma barreira contra este tipo de delinquência jornalística. A profusão de fotos em que aparecem juízes da Suprema Corte com jornalistas e donos das grandes empresas de mídia é reveladora da amizade cúmplice que une partes que deveriam se vigiar.
Como o alvo da mídia sempre foram líderes e partidos de esquerda, os políticos conservadores jamais se incomodaram com nada dos sucessivos “escândalos” sem prova. Na verdade, sempre gostaram.
Eles só começaram a achar esquisito agora, quando o noticiário trouxe outros nomes que não os suspeitos de sempre. Logo depois de Eduardo Cunha, apareceu na mesma situação, sob idêntica acusação, Anastasia, invenção de Aécio Neves.
Chega a ser engraçado ver Aécio dizer que é uma “covardia” publicar acusações sem prova contra Anastasia, ele que jamais tomou nenhum cuidado antes de usar contra adversários denúncias não comprovadas.
Toda sociedade avançada tem regras claras e rígidas que impedem que sejam publicadas acusações sem provas. O Brasil, não.
Qualquer tentativa de discussão é cinicamente rechaçada, por pessoas como Eduardo Cunha, como uma “ameaça de censura”. Talvez Cunha, agora, pense melhor a respeito da necessidade de debater os limites da mídia.
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Em depoimento, policial cita Antônio Anastásia, senador eleito pelo PSDB
À PF, homem que levava dinheiro para doleiro diz ter entregue R$1 milhão ao ex-governador Antônio Anastásia. Tucano negou com veemência ter recebido a verba e classificou a acusação de “fora da realidade”.
Andreia Sadide
O depoimento que faz menção ao deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ) na apuração da Operação Lava-Jato traz um novo político para o rol de citados no caso: o senador eleito Antônio Anastasia (PSDB), ex-governador de Minas Gerais.
A citação está sob análise na Justiça Federal do Paraná. Não foi encaminhada à Procuradoria Geral da República até agora porque Anastasia só recuperou o chamado foro privilegiado às vésperas do recesso judicial, quando foi diplomado senador.
Já a citação a Cunha está com a Procuradoria, pois ele já era deputado à época do depoimento. A acusação foi apurada por investigadores, que concluíram ser necessário abrir um inquérito para detalhar se há de fato algo concreto contra o peemedebista.
Políticos têm foro privilegiado e, por isso, só podem ser processados na área criminal por tribunais superiores.
No depoimento de 18 de novembro passado, o policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, disse que entregou R$1 milhão ao então candidato a governador Anastasia a mando do doleiro Alberto Youssef em 2010.
O tucano negou com veemência o teor do depoimento e disse desconhecer o policial e o doleiro. “É totalmente fora da realidade. Meu único patrimônio é moral, tenho toda uma reputação de honestidade. Qual seria o propósito disso? Fica até difícil comentar algo tão absurdo”, disse.
Na declaração, o policial afirma que levou o dinheiro a uma casa em Belo Horizonte e que Youssef tinha dito que o destinatário era o então candidato tucano, que se elegeu governador.
“Tempos mais tarde, vendo os resultados eleitorais, identifiquei que o candidato que ganhou a eleição em Minas era a pessoa para quem eu levei o dinheiro”.
A polícia mostrou então uma foto do tucano. “A pessoa que aparece na fotografia é muito parecida com a que recebeu a mala enviada por Youssef, contendo dinheiro”, disse ele.
Youssef triangulava as operações investigadas envolvendo funcionários da Petrobras, empreiteiras contratadas pela estatal e políticos. Careca, diz a PF, era responsável por entregar dinheiro em espécie a pessoas indicadas pelo doleiro.
Outras menções
O policial cita também outro parlamentar, Luiz Argôlo (SD/BA), cujo nome já havia sido mencionado no curso da investigação e que nega ter cometido irregularidades.
Também há uma menção a Tiago Cedraz, filho do presidente do TCU (Tribunal de Contas da União), Aroldo Cedraz. Careca disse ter levado dinheiro “duas vezes” no escritório de Cedraz, que, segundo ele, “fica numa casa no lago, no final de uma rua sem saída em Brasília”.
A assessoria de Cedraz disse que ele não conhece e nunca esteve com Careca ou com o doleiro Youssef e que coloca à disposição das autoridades o acervo de imagens da casa no Lago Sul de Brasília e o sigilo bancário.
13 de janeiro de 2015 às 8:26
Se fosse depositar o dinheiro sujo na conta, não precisaria receber em dinheiro. Fariam uma transferência eletrônica. Acervo de imagens também não significa nada, pois pode haver ponto cego ou imagens manipuladas. Quero ver se oferecer para quebrar o sigilo fiscal e telemático.
12 de janeiro de 2015 às 22:51
Sigilo bancário, só se for dos laranjas, alguém oferece sigilo bancário dos laranjas? Outra coisa, essa investigação da Petrobras já bateu em quase todos os partidos, imagine se as investigações do Banestado fossem adiante, a república literalmente cairia, por isso todos os partidos, inclusive o PT, na pessoa do Professor Luizinho, enterraram a CPI do Banestado e o Judiciário a ação criminal. Realmente, por muito menos em outros países foram feitas revoluções, aqui vira papo de botequim. A grande questão aqui nesse país é a justiça, enquanto for essa que está aí, não haverá nenhuma chance de mudanças.