Acusada de praticar um desenvolvimento predatório, presidente encerra primeiro mandato com os melhores índices de desmatamento da história.
Depois de assombrar a campanha de Dilma Rousseff durante a campanha presencial, os números oficiais sobre o desmatamento da Amazônia, divulgados na quarta-feira, dia 26/11, tornaram-se um dos troféus do governo após a disputa eleitoral.
De acordo com os dados do Prodes, entre agosto de 2013 e julho de 2014 o país assistiu ao segundo menor desmatamento de sua história: 4.848km2. O menor índice, também registrado no governo Dilma, ocorreu em 2012. Foram 4.571km2.
Com os números de 2014, a presidente Dilma Rousseff cravou um resultado surpreendente para quem é frequentemente acusada por ambientalistas de ser adepta de um desenvolvimento econômico predatório, sem respeito pelo meio ambiente. Nos quatro anos do primeiro mandato, seu governo tem a menor média de desmatamento desde que o Inpe começou a fazer esse tipo de estimativa, em 1988: são 5.432km2/ano.
Em seu segundo mandato, Lula ficou com a média de 9.757. No primeiro, a média de Lula foi de 21.617km2, até um pouco maior que o segundo mandato de 18.825km2 obtido por Fernando Henrique Cardoso – fato que um bom número de estudiosos atribui ao receio da política ambiental de seu governo, onde Marina Silva pontificou como estrela principal durante seis anos. Entre 2003 e 2008, período em que Marina Silva foi ministra do Meio Ambiente, a média de desmatamento foi de 18.505km2.
Ministra do Meio Ambiente por cinco anos – já estava no posto no último ano do mandato de Lula – Isabella Teixeira acumulou a melhor média em cinco anos.
Basta fazer as contas dos dados de Marina para começar a ouvir os risos de satisfação que os números do Prodes produziram entre auxiliares da ministra Izabella Teixeira.
Durante a campanha presidencial, Marina Silva fez uma advertência aos eleitores que hoje parece comédia:
– Temos uma cortina de fumaça na Amazônia. A presidente Dilma pegou o desmatamento em queda e vai entregar para o futuro governo em alta.
Convencida do que dizia, a candidata foi além na denúncia e atribuiu os números ruins “à incompetência, ineficiência e falta de compromisso com a proteção da Amazônia”.
A verdade é que os dados de desmatamento – e a maioria dos números que refletem uma atividade humana – não caminham em linha reta. Se 2012 registrou o volume mais baixo da história, em 2013 ocorreu um salto superior a 29% para 5.891km2. Mesmo assim, era um dos mais baixos de todos os tempos.
Havia, obviamente, um debate político-eleitoral. A oposição sustentava que essa elevação sugeria uma tendência. Para o governo, era um ponto fora da curva. Mas a visão pessimista era tão grande que o governo foi acusado de ter atrasado a divulgação dos dados sobre para não perder votos na campanha eleitoral. Vê-se, agora, que os dados eram bons demais para serem escondidos.
“Não trabalho com especulação. Trabalho com trabalho,” disse a ministra Izabella Teixeira, na entrevista coletiva onde anunciou os dados.
Os números do desmatamento refletem um crescimento da preocupação das autoridades e dos brasileiros em relação a questão ambiental. Um processo de anos e que se combinou com a pressão de entidades ambientais, interessadas em monitorar a Amazônia como um espaço supranacional.
Mas também são produto de um empenho especial e pouco conhecido de Dilma Rousseff. Já como ministra-chefe da Casa Civil, ela assumiu diretamente a coordenação dos trabalhos contra o desmatamento. Como presidente, estruturou um grupo de trabalho, o CGI, formado pelo ministério do Meio Ambiente, com participação das Forças Armadas, da Polícia Federal e outros grupos de intervenção dedicados a reprimir o desmatamento ilegal, em operações que “muitas vezes parecem um filme de guerra,” relata um civil que já participou dessas ações. Auxiliado por equipamentos de boa tecnologia, inclusive radares sensíveis ao calor, o CGI produz resultados que garantem as atenções presidenciais – em toda sua existência, nunca foi vítima de cortes de orçamento que costumam desfazer tantos projetos bem intencionados em todos os governos.
Para estimular a agricultura de baixo carbono na Amazônia, destinada áreas de pastagens destinadas ao gado, o Planalto investiu R$4 bilhões.
Os dados do desmatamento coincidem com um novo papel que o Brasil começa a desempenhar em encontros internacionais sobre o meio ambiente. Os bons resultados permitem assumir ao país a postura de quem não é apenas objeto de críticas – injustas ou não – mas possui estatura para tornar-se sujeito de um debate no qual a geografia lhe garante uma posição muito especial. Etapa intermediária da Conferência de Paris, no ano que vem, uma reunião diplomática em Lima pode servirá como teste para uma proposta para redistribuir responsabilidades entre países ricos, em desenvolvimento e países pobres na questão ambiental, chamada de Círculos Concêntricos, conforme revelou Daniela Chiaretti no Valor Econômico.
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